NA VEJA: Metroviários mantêm greve, e São Paulo recebe a seleção com trânsito caótico
Os metroviários de São Paulo decidiram estender a greve para esta sexta-feira. Em reunião na sede do sindicato, a categoria rejeitou a proposta de reajuste de 8,7% feita pelo governo paulista e manterá a paralisação das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. Na noite desta quinta, 22 das 63 estações do metrô permanecem fechadas.
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A exemplo desta quinta, a capital paulista deverá amanhecer com trânsito complicado amanhã – nesta quinta, foi registrado recorde de filas no ano para o horário. Às 16h, a cidade será palco do último amistoso da seleção brasileira antes da abertura da Copa do Mundo, contra a Sérvia, no estádio do Morumbi.
O governo de São Paulo acionou o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) por considerar a greve abusiva. O Tribunal de Justiça de São Paulo marcou para sábado o julgamento da liminar que obriga os funcionários a manter 100% da frota funcionando em horário de pico, e 70% no restante do dia. Mais cedo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) criticou os grevistas: "Não tem o menor sentido uma greve que prejudica a população, [feita por] um pequeno grupo muito político [que visa] levar a consequências [como] paralisação, caos, bagunça, sem a menor razão de ser".
Na assembleia desta sexta, os metroviários prometeram intensificar os piquetes nas estações Jabaquara e Ana Rosa e programaram uma passeata no bairro do Tatuapé, na Zona Leste, para as 17h, horário em que foi agendada nova reunião da categoria na sede do sindicato.
O dia em que trabalhadores arrombaram o portão do Metrô para trabalhar e gritaram palavras de ordem contra a greve. Ou: Os pançudos que recebem mais de um salário mínimo só em benefícios — às vezes, mais de dois!
Na estação Itaquera, trabalhadores arrombam o portão para ter acesso à plataforma de trens da CPTM (Peter Leone/futura Press/Futura Press/Folhapress)
O Brasil está se tornando um país tão exótico, tão fora do eixo — não aquele de Pablo Capilé, o contestador chapa-branca, financiado por estatais —, tão perdido que trabalhadores são obrigados a praticar atos de vandalismo para poder trabalhar. Como sabem os leitores de São Paulo e de todo o Brasil, os funcionários do metrô, sob a liderança de Altino Prazeres, um sindicalista ligado ao PSTU, estão em greve. Como sempre acontece nesses casos, instala-se o caos na cidade.
Na estação Itaquera, aconteceu um fato espetacular. Os portões amanheceram trancados. Acontece que eles dão acesso também à estação da CPTM, dos trens. Impedir o usuário de entrar na estação significa deixá-lo também sem o trem. Pois bem: aqueles que queriam trabalhar não tiveram dúvida: arrebentaram o portão e entraram.
Vocês sabem o que penso sobre vândalos: o lugar deles é a cadeia. Ocorre que não vejo, nesse caso, um ato de vandalismo, mas de resistência. “Queremos trabalhar, queremos trabalhar”, gritavam esses usuários. A linha chegou a ser invadida, exigindo que as composições parassem.
Trata-se de uma greve vergonhosa, escancaradamente política, oportunista! O governo concedeu aos metroviários um reajuste de 8,7% para uma inflação, no período, de 5,2%. Isso significa aumento real de salário. Mas não só isso: o vale-alimentação passou de R$ 247 para R$ 290. O valor é pago também no 13º, como cesta de Natal. O vale-refeição, que é outra coisa, passou de R$ 615 para R$ 670, e isso é pago integralmente pelo metrô. Há ainda a creche para crianças de até sete anos, que pode ser reivindicada também pelos pais, não só pelas mães: o desembolso com esse serviço passou de R$ 532 para R$ 579. De 2011 até agora, considerada a data-base dos funcionários do metrô, a inflação foi de 21,11%, e o reajuste dos salários, de 30,87%, sem contar esses benefícios sociais.
A soma do vale-refeição com o vale-alimentação chega a R$ 960. O salário mínimo no país é de R$ 724. No caso dos quem têm um filho em creche, o valor do desembolso do Metrô alcança R$ 1.492, mais do que dois salários mínimos. Trata-se de uma greve moralmente criminosa e escancaradamente ilegal porque não está sendo cumprida a determinação da Justiça de manter 100% do serviço nos horários de pico.
É preciso pensar em formas permanentes de a população não se tornar refém de sindicalistas celerados e oportunistas. Ando cá tendo algumas ideias. Tratarei disso nos próximos dias. E só para arrematar: o cotidiano dos usuários do metrô e o seu próprio cotidiano, leitor, ainda que você não use esse serviço, só se transformaram num inferno porque o sindicalismo e os ditos movimentos sociais não reconhecem os limites da democracia. E só não os reconhecem porque os poderosos de plantão têm essa mesma origem. Ou a presidente Dilma não baixou um decreto que faz essa gente ser sócia do poder sem nem precisar disputar eleições?
(por Reinaldo Azevedo)