Trapalhada mantém ferrovia Norte-Sul inexplorada (editorial do Estadão)

Publicado em 18/11/2014 06:14
...inaugurada em maio e ainda ociosa, por falta de cargas, sofre depredações e desgaste... (em O Estado de S. Paulo).

 

Há algo muito errado no programa ferroviário - e não são construções em andamento ou futuras. Há erros em linhas prontas e custosas, como a que liga Porto Nacional (TO) a Anápolis (GO), da Ferrovia Norte-Sul, inaugurada em maio e ainda ociosa, por falta de cargas. Feita e depois refeita por falhas na construção, está à espera de que a estatal Valec ache interessados em utilizá-la - e até lá sofre depredações e desgaste, diz a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que apurou a existência de dormentes inservíveis e roubo de trilhos, como noticiou o Estado.

Mais do que a ineficiência da Valec, o que prejudica o novo trecho é o modelo de operação imposto pelo governo - e que deveria servir de parâmetro para novas concessões de ferrovias.

Pelo modelo tradicional, a concessionária responde pelo transporte da carga despachada pelos produtores. Mas isso não se aplica às novas ferrovias, para as quais o governo criou a figura do Operador Ferroviário Independente (OFI). Esse operador adquiriria toda a capacidade de carga da linha, que seria depois vendida pela estatal Valec às empresas.

Em agosto, a Valec tentou vender a capacidade de carga do trecho referido, mas só houve uma empresa interessada - cujo nome permanece em sigilo. E ela condicionou a assinatura do contrato com a Valec à garantia de que poderia trafegar em toda a Norte-Sul. É o óbvio. Mas a Valec não tem poder sobre o trecho Porto Nacional-Imperatriz (MA), onde o regime é de concessão - e a concessionária é a mineradora Vale.

Há um conflito entre os dois modelos. Para sair do impasse, a Valec tenta negociar com a Vale a venda do direito de operação da linha, mas até que isso ocorra o trecho pronto permanece inútil. Não importa quanto se gastou nem o tamanho do desgaste pela sua não utilização.

Nem o novo modelo "pegou" nem tende a ser assimilado, temem analistas. O governo queria transformar a Valec em comercializadora de cargas para reduzir riscos e evitar a concentração de linhas. Mas, com o papel atribuído à estatal, além de ter se tornado mais burocrático, o modelo gerou desconfianças.

Sobre as garantias e a repartição de riscos nos leilões, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, disse que quer negociar com o setor privado, mas não pode fixar prazo.

Pior para todos. Em vez da regulação, o governo preferiu o modelo intervencionista, que impõe custos ao Estado e às empresas que precisam de transporte eficiente.

Fonte: O Estado de S. Paulo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Minerva Foods avança em duas frentes estratégicas e alcança categoria de liderança do Carbon Disclosure Project (CDP)
Pesquisador do Instituto Biológico participa da descoberta de novo gênero de nematoide no Brasil
Secretaria de Agricultura de SP atua junto do produtor para garantir proteção e segurança jurídica no manejo do fogo
Manejo do Fogo: Mudanças na legislação podem expor produtores a serem responsabilizados por "omissão" em casos de incêndios
Primeira Turma do STF forma maioria por perda imediata do mandato de Zambelli
Receita com exportação do agro do Brasil sobe 6,2% em novembro e é recorde no ano