Indígenas bloqueiam BR-163 no Pará; PRF pede que caminhões com grãos aguardem

Publicado em 17/08/2020 17:34 e atualizado em 17/08/2020 18:54

Por Lucas Landau e Nayara Figueiredo

NOVO PROGRESSO/SÃO PAULO (Reuters) - Aproximadamente cem kayapós que vivem em terras indígenas no sudoeste do Pará paralisaram nesta segunda-feira a BR-163, importante rota para o escoamento de grãos do Centro-Oeste, causando congestionamentos quilométricos em direção ao porto de Miritituba.

Vestidos para guerra, os indígenas reivindicam a renovação do Plano Básico Ambiental (PBA), pedem mais atenção para a saúde devido à pandemia de Covid-19 e se posicionam contra a construção da ferrovia Ferrogrão sem que eles sejam ouvidos, uma vez que o projeto prevê a construção dos trilhos perto de suas terras, de acordo com uma testemunha da Reuters.

O bloqueio, que teve início por volta das 7h da manhã, ocorre na altura do km 302 da BR-163, em Novo Progresso (PA), informou o chefe da 5ª delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Santarém, Sidmar de Oliveira, responsável pelo gabinete de crise que foi instalado para acompanhar o caso.

A rodovia liga importantes regiões produtoras de soja e milho de Mato Grosso ao porto fluvial de Miritituba, em Itaituba (PA), de onde barcaças levam grãos até os portos do Rio Amazonas para serem exportados.

Durante a manhã, a paralisação causou uma fila de pelo menos três quilômetros de veículos que seguiam de Mato Grosso ao Pará, disse Oliveira.

A PRF do município de Sorriso (MT) recomendou que os caminhoneiros que transportam grãos para Miritituba aguardem em Mato Grosso antes de seguir viagem.

"Temos uma equipe da Polícia Rodoviária Federal no local pegando os pautas dos indígenas para repassar à Brasília e ver qual será o andamento", acrescentou Oliveira.

Segundo o chefe da PRF de Santarém, delegacia mais próxima de Novo Progresso --cerca de 700 quilômetros de distância-- os indígenas também começaram a requerer a presença do governador do Pará, Helder Barbalho, dentre os pleitos.

"Colocaram em um vídeo... começaram a condicionar (o fim dos bloqueios) à presença do governador de Estado. Passamos a solicitação para as polícias militares, tanto de Itaituba quanto Santarém, para que informem ao governo", afirmou.

A presença de Barbalho ou de um representante seria pela negociação de melhores condições de auxílio contra a disseminação do coronavírus.

Os kayapós, que vivem nas reservas indígenas adjacentes Menkragnoti e Baú, afirmam que a estrada trouxe doenças para suas aldeias e também buscam indenização.

AGUARDANDO LIBERAÇÃO

O diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, disse à Reuters ter a informação de que a polícia vai desinterditar a rodovia por volta das 19hs. Ele não revelou como isso poderia acontecer.

Se a rodovia for mesmo desintertidada ainda nesta segunda-feira, a avaliação é de que a duração do protesto não será suficiente para resultar em problemas significativos de oferta de grãos no porto de Miritituba ou no fluxo de produtos para exportação.

"Não vai ocasionar maiores problemas", afirmou.

Ele lembrou que o Brasil está no período de maior exportação de milho, cuja colheita da segunda safra, a maior do país, está em fase final. A maior parte da soja disponível para exportação já foi embarcada.

"Vai desimpedir às 19hs. Acho que na nossa atividade as coisas são resolvidas rapidamente, exatamente pelos volumes, são tão grandes que chamam a atenção", afirmou.

A pavimentação de um trecho da BR-163, inaugurada no início do ano, tem permitido um maior fluxo de grãos pelo chamado Arco Norte, diante de uma redução dos custos do frete pelas melhores condições da rodovia.

Levantamento da Abiove mostrou que, no primeiro semestre do ano, as exportações de soja em grão pelos portos do Arco Norte aumentaram 33% em relação ao mesmo período de 2019, para 18,73 milhões de toneladas.

(Por Lucas Landau e Nayara Figueiredo; com reportagem adicional de Roberto Samora)

Fonte: Reuters

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