Corrida acelerada pelo cultivo de eucalipto no Estado de São Paulo
De cima, é possível avistar também uma imensidão de eucaliptos que ocupam praticamente 80% das áreas com alguma atividade produtiva no município, que se notabilizou por abrigar a nascente do rio Tietê onde as águas permanecem ainda límpidas, enquanto na capital paulista, distante apenas 100 quilômetros, jazem em meio aos detritos urbanos.
Com exceção de um sítio ou outro, já não há mais terra disponível em Salesópolis para expansões. O município já foi o maior produtor de eucalipto do Estado de São Paulo, mas há alguns anos perdeu espaço nas estatísticas oficiais para outras regiões novas, para onde a floresta plantada avançou.
Economistas asseguram que, juntamente com a cana-de-açúcar, a cultura do eucalipto desponta como uma das mais dinâmicas do Estado, com rentabilidade igual e até superior à da cana-de-açúcar. Ocupa mais de 800 mil hectares e avança rapidamente nas áreas de pastagens.
Com baixo investimento inicial e pouca necessidade de manejo, a floresta plantada vem se disseminando nas mãos de pequenos e médios agricultores que, além de vender parte da produção para o mercado tradicional de papel e celulose, têm sido atraídos também pelo crescimento dos mercados de energia e de construção civil.
Estar em áreas montanhosas e com baixa fertilidade ajuda a explicar o porquê de a atividade estar crescendo expressivamente entre pequenos e médios produtores. As áreas são mais baratas e menos disputadas pela agricultura tradicional. As propriedades acidentadas são pouco atrativas até mesmo aos grandes projetos de cultivo de eucalipto das gigantes de papel e celulose, que precisam de terras planas para mecanizar plantio, manejo e colheita, e obterem mais ganhos de eficiência.
Em média, essas áreas acidentadas chegam a ter preços equivalentes a 40% dos valores de terras planas em uma mesma região, segundo levantamento da NAI Commercial Properties, especializada em mercado imobiliário.
Os pequenos e médios já detêm 20% da área total cultivada com eucalipto no Estado, confirmam os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo. Levantamento do órgão feito em 1995 mostrou que haviam 30 mil produtores de eucalipto no Estado - em 2008, já eram 44 mil. A diferença é basicamente explicada pelo avanço dos pequenos e médios, segundo Eduardo Pires Castanho Filho, pesquisador do IEA.
Para produzir eucalipto não é preciso ter na bagagem uma larga experiência em agricultura. Na realidade, quase nenhuma. Renó, diretor-executivo de uma associação que reúne 140 produtores ativos de eucalipto em Salesópolis, a Camat, explica que entre os integrantes do grupo estão profissionais liberais, como médicos, advogados e uma boa parte de aposentados, que veem no pouco investimento e na baixa complexidade do manejo atrativos da atividade.
O próprio Renó, hoje com 67 anos, é militar aposentado. Antes do eucalipto sua maior experiência no campo foi com a criação de suínos e frangos em seu sítio, na época, de 6,5 mil alqueires. Dezessete anos se passaram desde que ele se aposentou. Nesse período, sua área rural cresceu dez vezes, para 70 mil alqueires, principalmente graças à renda do eucalipto. Alguma sorte na venda do primeiro sítio, que lhe rendeu preços acima do esperado, também ajudou.
Suínos, galinhas e um pouco de gado também marcaram a experiência anterior no campo do português da Ilha da Madeira, Francisco Cândido da Silva, de 75 anos. Em sua terra natal, Cândido também compartilhou a experiência da família que produzia banana e açúcar na década de 50. Aos 18 anos, ele se mudou para o Brasil, a alternativa que lhe restou a servir o exército e lutar nas batalhas da guerra colonial portuguesa.
Hoje com 100 alqueires de eucalipto em sociedade com os filhos, área que há 15 anos era cinco vezes menor, Cândido diz que a cultura tem manejo simples e baixa demanda por capital. Segundo ele, o investimento inicial é de R$ 2 por árvore ou R$ 6 para três árvores, que equivalem a um metro estéreo (medida de volume para lenha). O valor inclui a muda, duas aplicações de adubo e uma de herbicida ao longo dos seis primeiros meses, quando a área também passa por limpeza.
O maior investimento é realizado apenas na colheita, cinco a seis anos depois do plantio, quando o custo de produção de três árvores sobe para, em média, R$ 22. "Para colher, é preciso fazer estrada, contratar trabalhadores para cortar, transportar até a encosta e até o local de entrega. Mas é investimento que se faz no corte, ou seja, quando a venda da madeira será feita e a receita internalizada. Não há imobilização de muito capital enquanto a árvore se desenvolve", complementa o português.
Na hora da venda, o valor mínimo que se consegue hoje por um metro estéreo é R$ 50. Ou seja, um custo de R$ 22 distribuído em seis anos para uma receita de R$ 50 - líquido de R$ 28 em seis anos, segundo o produtor.