A presidenciável do PT, Dilma Rousseff, afirmou ontem que o partido vai entregar uma terceira versão do seu programa de governo ao TSE. Assim, não valeria a primeira, aquela verdadeira, que ela rubricou e deu fé, nem valeria aquela segunda, ajeitada no joelho. E se saiu com uma teoria um tanto esquisita, aderindo ao que eu chamaria de “Paradigma Goleiro Bruno de Argumentação”.
Como sabem, este grande líder moral, ao refletir com os jornalistas, certa feita, sobre alguns petelecos que uma namorada de Adriano teria levado numa favela, resolveu defender seu amigo assim: “Qual de vocês, que é casado e nunca brigou com a mulher, que nunca discutiu e que nunca até saiu na mão com a mulher?”
Eu! Nunca saí na mão com mulher.
A candidata petista resolveu recorrer à mesma perspectiva generalista ao comentar o imbróglio dos documentos:
“O que ocorreu pode ocorrer com qualquer pessoa, com qualquer partido, porque nós não somos perfeitos, nós erramos. Baixaram um documento errado”.
Epa!!! Com qualquer partido, coisa nenhuma! Assim como é preciso reunir as condições morais de Bruno para agir como ele, é preciso ter um documento daquele em arquivo para poder baixá-lo por engano — fazendo de conta, claro, que a desculpa tem algum procedência. Se o PT não tivesse realizado um congresso e, como eles dizem, “tirado aquelas deliberações”, elas não teriam se convertido num programa de governo, certo? Os petistas não precisam gostar do que penso, mas certamente não têm como contestar a minha lógica.
Eu, por exemplo, não tenho programa autoritário nenhum a ser “baixado” porque não há como fazer download de teses esquerdopatas por aqui. “O que ocorre NÃO pode ocorrer com qualquer partido” porque os outros partidos não comungam daquelas mesmas teses — a não ser alguns nanicos ainda mais radicais do que a extrema esquerda petista, que foi quem deu o tom do programa de governo.
Assim, a generalização da candidata, tentando eximir-se de qualquer responsabilidade, é, obviamente, descabida. De resto, é o caso de considerar se a desculpa depõe a seu favor. Se eleita presidente, o que mais Dilma pretende assinar sem ler?
A pergunta é relevante porque uma coisa se pode afirmar, com base na lógica do processo, sobre um eventual governo seu. Seria diferente da gestão Lula. Dois grupos teriam certamente mais força do que têm hoje — forças distintas, mas que se combinariam: o PMDB e o a esquerda do PT. Imaginem uma caneta ligeira e cega com dois conselheiros como esses.
Não! Ainda que tivesse sido um engano — tese falsa —, teria sido um engano que só mesmo o PT pode cometer.