'Dirceu encarna as propostas do PT', e é um dos "camaradas de Dilma", diz Serra

Publicado em 16/09/2010 07:32


O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, considerou "óbvias" as declarações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a sindicalistas, na segunda-feira, nas quais ele argumentou que o excesso de liberdade de imprensa é um dos problemas do Brasil e que a eleição de Dilma é mais importante que a de Lula porque Lula é maior que o PT.

Cacalos Garrastazu/Obritonews
Apoio. Serra fez campanha ao lado de Tasso Jereissati, candidato à reeleição ao Senado, em Juazeiro do Norte (CE)

"O José Dirceu é um dos camaradas da campanha da Dilma, ele encarna as grandes propostas do PT para o Brasil e uma delas é a censura à imprensa. É o que ele prega nessa fala: o controle da grande imprensa pelo partido (o PT). Não tem nenhuma novidade. A grande novidade é ele dizendo novamente isso", afirmou o presidenciável ao desembarcar ontem no aeroporto do Cariri, em Juazeiro do Norte. O tucano chegou à cidade, a 530 quilômetros de Fortaleza, para acompanhar a procissão de Nossa Senhora das Dores, padroeira da cidade.

"Que o Lula é mais forte do que o PT é óbvio", complementou Serra quando acompanhava a procissão, que encerrou uma romaria iniciada dia 29 de agosto. "Logo o PT vai mandar de verdade", concluiu. "Isso é uma constatação meio óbvia. Só é interessante porque saiu da boca dele (José Dirceu)".

O senador Tasso Jereissati, candidato à reeleição , foi mais contundente: "José Dirceu acredita que há excesso de oposição, excesso de liberdade de imprensa. Ele acredita que o Parlamento e o Senado devem ficar calados e que os partidos de oposição devem ficar extirpados", afirmou. "E assim se tem a república sindicalista chavista lulista do Brasil."

Popularidade. Tasso demonstrou gozar de grande popularidade, ao ser reconhecido, abraçado e afagado por romeiros que o chamavam de "galeguinho dos olhos azuis".

Segundo ele, "todo regime totalitarista tem a característica de querer extirpar qualquer oposição". Citou Hitler, Mussolini e Stroessner que comandaram ditaduras na Alemanha nazista, na Itália e no Paraguai).

Serra foi beneficiado pela popularidade de Tasso, ao acompanhar o roteiro dos romeiros por mais de duas horas - antes de assistir à celebração religiosa na praça da Matriz, em meio a discussões entre serristas e governistas que gritavam os nomes de Dilma e Lula.

Contra a imprensa. No Rio, o ex-prefeito e candidato do DEM ao Senado, Cesar Maia, também criticou as declarações de Dirceu. Segundo ele, elas mostram que o PT pretende atentar contra a liberdade de imprensa, o direito de propriedade e os valores cristãos. Em vídeo gravado por sua equipe de campanha e veiculado na internet, Maia ainda diz que os petistas querem acabar com a oposição e controlar o Senado, a fim de mudar a Constituição. "O que eles querem, como máxima prioridade, é acabar com a oposição. Principalmente, no Senado. Porque no Senado, eles com 50 senadores - os deles, que podem ser 17, 18, 19, mais aqueles que eles levam na mala - eles mudam a Constituição", disse o ex-prefeito. "E aí vem o projeto do PT, contra a liberdade de imprensa, direito de propriedade, valores cristãos."

Maia disse ainda que não aconteceu uma suposta reunião, no fim de 2003 e início de 2004, entre correntes do PT contrárias à manutenção da política econômica e José Dirceu, que exercia então a chefia da Casa Civil da Presidência.

Segundo ele, o que teria de fato acontecido era que o líder petista pediu calma aos militantes, argumentando que aquilo se tratava de "uma etapa para acalmar a burguesia". "O PT disse isso seis anos atrás e está fazendo agora", afirmou. 

Os arreganhos do lulismo, editorial do Estadão

Dois meses depois de rebentar o escândalo do mensalão, em junho de 2005, um relutante presidente Lula gravou um pronunciamento para se dizer "traído" e cobrar do PT um pedido de desculpas. Foi o mais perto a que chegou de reconhecer que tinha procedência a denúncia da compra sistemática de apoios ao seu governo na Câmara dos Deputados. Logo adiante, virou o fio: considerou a investigação parlamentar das acusações uma tentativa golpista das elites e ameaçou enfrentá-las nas ruas. 

A história se repete. Diante da revelação do tráfico de influência praticado pelo filho da titular da Casa Civil, Erenice Guerra, Israel - o que levou à descoberta de que dois irmãos e uma irmã dela ocuparam uma penca de funções no governo, onde cuidavam com desvelo dos interesses da família -, Lula fez saber que exigira da ministra uma "reação rápida". Indicou, dessa maneira, que não desqualificava liminarmente o noticiário que poderia respingar na candidatura de sua escolhida, Dilma Rousseff, responsável pela ascensão da fiel assessora Erenice na hierarquia do poder. 

Mas isso foi no domingo. Passados dois dias, a política de contenção de danos virou um arreganho. Ao mesmo tempo que fazia expressão corporal de apurar os fatos - acionando a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União para investigar as ações do filho da ministra, mas não as dela -, Lula estimulou ou deu carta branca a Erenice para culpar o candidato tucano José Serra pela nova crise que chamusca o entorno do gabinete presidencial, a pouco mais de duas semanas do primeiro turno. Desse modo, Lula deu o enésimo passo na sua trajetória de abusos eleitorais. 

Estado e governo se amalgamaram com a campanha de Dilma com uma desfaçatez sem precedentes nessa matéria. Presidente e "chefe de uma facção política", nas palavras do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, já se haviam mostrado mais unos e inseparáveis do que nunca quando Lula escolheu o horário de propaganda de sua afilhada, no 7 de Setembro, para desancar o candidato do PSDB porque ousou vincular à disputa eleitoral as violações do sigilo fiscal de familiares e correligionários. Dias depois, disse o que o Brasil jamais ouviu da boca de um presidente - que era preciso "extirpar" da política nacional o DEM, aliado de Serra. 

É o estilo mussoliniano de quem, numa apoteose mental, acha que é tudo e tudo pode, apontou Fernando Henrique, a única figura política de peso no Brasil a advertir consistentemente para a intensificação do comportamento autocrático de Lula. Serra abdicou de fazer oposição ao presidente aprovado por 80% da população, como se os sucessivos ocupantes da Casa Civil contra quem a sua propaganda investe - José Dirceu, Dilma Rousseff e Erenice Guerra - não tivessem nenhum parentesco político com o Primeiro Companheiro que os instalou no centro do poder. Isso nem impediu a disparada da petista nas pesquisas nem poupou o seu adversário das piores invectivas. 

Acertada com o chefe, Erenice mandou distribuir uma nota, em papel timbrado da Presidência, em que se refere a Serra como "candidato aético e já derrotado", mentor do que seria uma "impressionante e indisfarçável campanha de difamação" contra si e os seus. É típico do lulismo, além da usurpação dos recursos de poder do Estado, culpar os críticos pelos malfeitos da sua patota. Como no caso do mensalão, passado o momento inicial de desconcerto, a ordem é execrar os denunciantes. Quer-se reduzir a um "factoide" eleitoralmente motivado, como disse Dilma, a exposição dos enlaces da família Guerra com o patrimônio público. 

De outra parte, levanta-se uma nuvem de poeira para abafar o escândalo da véspera, o da Receita Federal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma providência que cria uma categoria privilegiada de contribuintes - a das "pessoas politicamente expostas". Os dados cadastrais e declarações de renda de autoridades e ex-autoridades passarão a ter a proteção especial com que os mortais comuns apenas podem sonhar. A medida desacata o princípio da igualdade de todos perante a lei. Mas isso é um detalhe no modus operandi do lulismo, que ameaça deitar raiz no terreno baldio da política nacional. 

Fonte: O Estado de S. Paulo

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