Agronegócio apoia campanha de Aldo pela reforma do Código Florestal

Publicado em 13/11/2010 02:48


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Deputados Rebelo (PCdoB) e Moacir Micheletto (PMDB)

Setores interessados em flexibilizar o Código Florestal financiaram a campanha de 11 dos 13 deputados que votaram a favor do relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), aprovado em 6 de julho por comissão especial da Câmara.

O próprio Rebelo foi um dos beneficiários ao receber neste ano verbas de empresas ligadas ao campo.
Só de cooperativas de produtores de café, cana e laranja, Rebelo recebeu R$ 130 mil. O comitê financeiro de seu partido também recebeu doações de cooperativas do setor, além de R$ 70 mil da Bunge Fertilizantes, mesma quantia doada a deputados ruralistas que integraram a comissão especial.
Os cafeicultores têm interesse direto na alteração da lei sobre florestas. Grande parte do café plantado no sul de Minas e no Paraná está em encostas, áreas de preservação permanente (APPs).
Se o código fosse cumprido à risca, como determina o decreto de 2008 que o regulamentou, a maior parte do café estaria ilegal, e os produtores, sujeitos a multa. O parecer de Rebelo tira encostas e topos de morro da categoria de APP e anistia de multa os desmates até julho de 2008.
Questionado sobre se sua atuação sobre o código influenciou no perfil de seus doadores em 2010, Rebelo primeiro afirmou "não crer" que seu relatório atraiu financiadores. Disse que a arrecadação ficou por conta do tesoureiro da campanha.
Num segundo momento, admitiu que pode ter sido procurado por representantes do setor. "Também doaram para outras campanhas", disse. "Doaram mais para a da Marina [Silva] do que para a minha."
A Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé (MG), porém, sabe muito bem por que doou R$ 50 mil para a campanha do deputado. Foi "justamente" por causa do parecer, disse o seu presidente, Carlos Paulino da Costa.

"CERTAS ONGS"
"Havia uma campanha de certas ONGs que queriam impedir a eleição dele. Como o Código Florestal defende os nosso interesses, era hora de fazermos o contra-ataque."
A Bunge também estreou como doadora do PCdoB.
A multinacional nega que tenha sido motivada pelo projeto do código. "As contribuições são baseadas em posturas amplas de busca permanente da promoção do desenvolvimento sustentável", afirmou am nota.
Apenas Marcos Montes (DEM-MG) admitiu ter procurado representantes do setor para pedir doação. "Precisamos nos mobilizar para a sociedade entender a importância do produtor rural."
Luis Carlos Heinze (PP-RS), Paulo Piau (PMDB-MG), Homero Pereira (PR-MT), Reinhold Stephanes (PMDB-PR) e Duarte Nogueira (PSDB-SP) não condicionam as doações à atuação na comissão. Dizem receber tradicionalmente doações do agronegócio por terem uma atuação ligada à agricultura.
Dos que foram a favor das mudanças, só Ancelmo de Jesus (PT-RO) não recebeu dinheiro. Não consta a prestação das contas de Ernandes Amorim (PTB-RO), barrado na Lei da Ficha Limpa. Procurados por meio dos gabinetes na Câmara, os demais deputados não retornaram.

Falta de terras não atrapalha agricultura

É a falta de crédito agrícola, não de terras para o plantio, que limita a produção de alimentos no Brasil.

A conclusão é de um novo estudo de pesquisadores da USP, da Unicamp e do Inpe, que usa dados do IBGE e das Nações Unidas para afirmar que não é o Código Florestal que impede que o brasileiro tenha mais comida na mesa.
A pesquisa, publicada no periódico brasileiro "Biota Neotropica", mostra que a área colhida de feijão e de arroz no país tem caído, de 6 milhões de hectares nos anos 1980 para menos de 5 milhões de hectares em 2007.
Por outro lado, culturas de exportação, como cana e soja, têm crescido de forma acelerada -a última saltou de 10 milhões de hectares em 1985 para quase 25 milhões no começo desta década.
A grande "engolidora" de terras é a pecuária, que ocupa 200 milhões de hectares dos 250 milhões hoje destinados à produção no país.
Os pesquisadores afirmam que, se a produtividade média fosse elevada a 1,5 cabeça por hectare e o desfrute (número de animais que podem ser abatidos num rebanho) subisse dos atuais 22% para 30%, mais 70 milhões de hectares poderiam ser liberados para a produção.
"Só fazer cercas para manejar o gado já aumentaria a produtividade", diz o agrônomo Luiz Martinelli, da USP de Piracicaba, autor principal do estudo. Segundo ele, o trabalho pretende ser uma "resposta técnica" a um artigo escrito por Aldo Rebelo, que afirmava ser a mudança na lei necessária porque os 190 milhões de brasileiros "precisam produzir comida".
"A área para o arroz e o feijão tem diminuído, e não é por causa do código, é por problemas de mercado", diz Martinelli. "A infraestrutura de produção e escoamento é ruim, os pequenos e os médios produtores vivem pendurados nos bancos, há insegurança fundiária." 

Fonte: Folha de S. Paulo

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