Vejam quem são os novos opressores do Brasil segundo o onguismo milionário e vigarista — com o aplauso do governo!
Vejam quem são os novos opressores do Brasil segundo o onguismo milionário e vigarista — com o aplauso do governo!
Perto de 6 mil pessoas serão expulsas de uma área considerada pela Funai como pertencente aos índios awá-guajá. Pois é… Consta que “awá” quer dizer “gente, pessoa”. Os agricultores pobres que não têm para onde ir, má sorte deles, não são “awás”, entendem? Não são gente, não são pessoas. Vejam este vídeo. Eis os pobres coitados que estão sendo tratados como “intrusos” pelas joint ventures que hoje unem ONGs, jornalistas e farto financiamento internacional. Volto em seguida.
Voltei
O juiz federal José Carlos do Vale Madeira resolveu agir com um pouco de bom senso ao menos, depois de ter decidido expulsar os não índios da área, e determinou que o governo dê garantias de que eles serão realmente reassentados pelo Incra. Segundo o juiz, o governo tem até o dia 27 para definir onde as famílias serão alojadas. A decisão foi comunicada ao Incra, ao Ministério do Desenvolvimento Agrário é à Secretaria-Geral da Presidência. Todos esses entes integram o grupo de trabalho que trata da tal “desintrusão”, essa palavrinha absurda.
Quem protestou em defesa dos pobres coitados que estavam sendo jogados ao relento não foi a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, mas a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) — vejam lá no alto as expressões do “agronegócio” que estão levando um pé do traseiro…
Segundo Paulo Maldos, braço-direito de Gilberto Carvalho, que só tem braços esquerdos, aquela gente estava lá para plantar maconha e extrair madeira. Depois ele se desculpou. Dadas as bobagens que costuma dizer e sua trajetória, foi desculpa da boca pra fora. Os moradores, como se vê, já começaram a ser notificados. Tão logo recebam o papel, têm 40 dias para deixar a área por livre e espontânea vontade. Ou é isso, ou saem debaixo de metralhadora…
Leio no site http: Questão Indígena:
“A região compreende os municípios de Centro Novo do Maranhão, Governador Newton Bello, Zé Doca e São João do Caru. Madeira teme que o Incra não consiga cumprir a decisão judicial no que diz respeito ao reassentamento dos pequenos produtores. Na semana passada, o Incra criou grupo de trabalho para dialogar com sindicatos de trabalhadores rurais sobre o andamento do processo”.
Nunca é demais lembrar: o país tem quase 14% do seu território ocupado por reservas indígenas — boa parte delas, como todo mundo sabe, infiltrada pelo garimpo e pela exploração ilegal de madeira. Se for com a concordância dos índios, aí o governo faz vista grossa. Como fazia no Amazonas, onde os tenharins resolveram ganhar dinheiro cobrando pedágio na Transamazônica, uma estrada federal.
Voltem lá ao vídeo. Vejam aqueles rostos. Há quem queira nos convencer de que eles são os novos opressores do Brasil.
Por Reinaldo Azevedo
Crise sem fim: mais um preso é morto em Pedrinhas
Na VEJA.om:
Um dia depois de o governo do Maranhão iniciar a transferência de detentos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas (MA) para presídios federais, mais um preso foi encontrado morto nesta terça-feira na cadeia mais violenta do Brasil. Foi a terceira morte registrada em janeiro, a 63ª desde o início do ano passado.
Segundo a Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap), o detento Jô de Souza Nojosa foi encontrado enforcado com uma “teresa” (corda improvisada feita pelos presidiários). Em nota, o governo maranhense afirmou que investiga as circunstâncias da morte – a hipótese mais provável é que tenha sido retaliação à remoção de nove detentos nesta segunda-feira para Campos Grande (MS). “Somente após a perícia será possível apontar as circunstâncias da morte. Mais informações serão repassadas após o fim do trabalho da equipe do Instituto de Criminalística (Icrim)”, disse o governo, em nota.
A crise no sistema penitenciário maranhense chocou o país no final do ano passado pelas cenas de selvageria – decapitações, esquartejamentos e, agora, enforcamento – provocadas pelo confronto de facções inimigas dentro do presídio. Para tentar conter a guerra de criminosos, o governo estadual enviou homens da Polícia Militar e recebeu o apoio da Força Nacional para reforçar a segurança e vistoriar as celas. Centenas de armas improvisadas, uma pistola e dezenas de celulares foram encontrados.
A presença da PM no presídio irritou líderes das facções criminosas, que deram ordem para bandidos atacarem ônibus e delegacias nas ruas de São Luís. Uma criança de 6 anos morreu queimada após um ônibus ser incendiado. Veja o vídeo. O Ministério Público Estadual denunciou sete acusados pela morte da menina.
A governadora Roseana Sarney (PMDB) também recebeu apoio do governo Dilma Rousseff, preocupado com o desgaste do clã Sarney no Estado, aliado estratégico em ano eleitoral. No entanto, nem mesmo o reforço policial e a transferência de detentos parecem ter apaziguado os ânimos em Pedrinhas: na semana passada, os policiais tiveram de agir para conter dois princípios de rebelião no complexo.
Por Reinaldo Azevedo
Assim não, “Jornal Nacional”! Ou: O coitadismo criminoso num posto de gasolina ou numa fazenda em Minas…
Vejam isto.
Já me acusaram de ser um defensor incondicional da TV Globo. Deve ser porque me oponho àquilo que os pterodáctilos chamam “controle social da mídia”, que é o outro nome da censura. Outro dia me enviaram um texto de um Zé Mané me acusando de tentar, calculem, levar a Globo para a direita. Quem sou eu?! E que se note: seja para elogiar, seja para criticar, não escrevo imaginando se este ou aquele vão me ler. Eu escrevo apenas para dois leitores, plagiando Gil Vicente: um leitor chamado “Ninguém” e outro leitor chamado “Todo Mundo”. Mas volto ao ponto: nem elogio nem critico a Globo por princípio. Quando gosto, aplaudo; quando não gosto, critico. Oponho-me ao controle social da mídia não por causa dos Marinhos. Eu me oponho ao controle social da mídia por causa dos Azevedos — uma gente bem mais mixuruca e vira-lata, mas em cujo cérebro também se realizam algumas sinapses. Adiante.
Hoje é crítica. O Jornal Nacional precisa tomar mais cuidado. Vi duas notícias, em sequência, editadas ambas de maneira um tanto perigosa. “Segundo qual critério, Reinaldo Azevedo?” Serve o do Estado de Direito?
Na primeira, um bando de vândalos, de bandidos, de vagabundos — assim os chamo eu, não a Globo —, é flagrado por câmeras depredando, saqueando e assaltando hipermercado e um posto de gasolina e espancando funcionários. O vídeo acima, como está claro, não é o da reportagem do JN. Na saída, um deles, acreditem!, aciona a bomba de gasolina, derrama combustível no chão e risca um palito de fósforo. Felizmente, não acendeu. Imaginem quantas vítimas poderia ter feito se tivesse sido bem-sucedido. Ele só tentou porque sabia das consequências. É um monstro! É um canalha! É um assassino em massa em potencial.
Até aí, bem. Não havia sinais de simpatia do JN com os marginais, é claro! Mas aí começa a trilha perigosa. O JN informou: “Segundo a Polícia Militar, os jovens estavam revoltados com a suspensão de um baile que promoviam na rua”.
Bem, aqui vai a minha primeira observação, dirigida ao governo de São Paulo, muito especialmente ao comando da Polícia Militar. Quem quer que tenha passado essa suposta informação à reportagem da Globo tem de ser severamente advertido. TRATA-DE SE UMA MENTIRA. GENTE QUE FAZ O QUE SE VÊ NA REPORTAGEM É BANDIDA. Ninguém assalta porque está revoltado. Assalta porque é assaltante. Ninguém tenta explodir um posto de gasolina porque quer fazer baile. Quem age desse modo quer matar pessoas, além de causar um grande dano.
Em seguida, o JN gruda a seguinte informação à notícia:
“O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse hoje que vai fornecer mais espaços para o lazer dos jovens em São Paulo. Ele quer levar iluminação pública para os 300 clubes de comunidades que funcionariam como praças públicas e que poderiam receber festas à noite, desde que não atrapalhem a vizinhança”.
Como é bacana este Haddad. Além da iluminação, espero que ele dote também os clubes de tratamento acústico. Ou o prefeito imagina um batidão de funk sem… “atrapalhar a vizinhança”? Pois é… Ainda que, de modo explícito, o JN não tenha justificado a ação dos criminosos, na sublinha fica a suspeita de que, NÃO FOSSE A PROIBIÇÃO DO BAILE, TALVEZ ELES NÃO HOUVESSEM ATACADO O POSTO. Não dá!
Imaginem, agora, se todos os funkeiros — ou que outro gosto tenham — que forem contrariados resolverem, digamos, reagir… Ao associar a fala de Haddad a uma notícia como essa, o JN, queira ou não, cria uma correlação entre os fatos, e fica parecendo que mandar um posto de gasolina para os ares é uma das consequências possíveis quando se proíbe um baile ou quando existem as tais “opções de lazer”. Aqueles canalhas precisam é de cadeia, não de lazer.
O segundo caso
Vamos lá. Um grupo de 18 pessoas que se dizem quilombolas invadiu uma fazenda no norte de Minas, entre os municípios de Verdelândia e São João da Ponte. No domingo, outro grupo, este de 11 pessoas encapuzadas, entrou na fazenda, agrediu e expulsou os invasores. Consta que dois deles foram feridos a bala.
É óbvio, é ululante, é claro como a luz de um dia ensolarado que eu não apoio reações dessas natureza. Mas é preciso comentar certos aspectos tortos da reportagem do JN. O grupo que atacou os ditos “quilombolas” foi chamado de “bando” e de “criminosos”‘. Ok. Nada a opor. Era um bando. Eram criminosos. Mas pergunto ao JN: e os invasores eram o quê? Pombas da paz? Destaco um trecho da fala da repórter:
“No sábado, um grupo de quilombolas de comunidades vizinhas entrou na fazenda. Eles dizem que era uma ação para reivindicar a desapropriação da área. Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que pode entrar em processo de reforma agrária”.
Um dos invasores da fazenda, o quilombola branco, tratado pelo JN só como vítima
Ualá! Então vamos ver. Eu adorei o emprego do verbo “entrar”. Observem, então, que os sedizentes quilombolas “entraram” na fazenda, tá? Não foi invasão. Durante os protestos de junho, por exemplo, alguns black blocs e outros dinossauros também queriam “entrar” na Globo do Rio e de São Paulo, entenderam? A segurança foi reforçada. E se eles forçassem a “entrada”? Vai saber… Tenho certas ortodoxias: uma delas é achar que propriedade, rural ou urbana — seja uma fazenda ou uma emissora de TV —, não pode ser invadida… Ooops! Corrijo-me: o proprietário deve ter o direito de impedir a “entrada” de quem não foi convidado.
Volto ao texto. A “entrada”, então, segundo os quilombolas era “uma ação para reivindicar a desapropriação da área”. Ah, entendi. Informa mais a repórter:“Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que podem entrar em processo de reforma agrária”. Certo! Trata-se de propriedade privada, e o Incra acha que a terra deva servir à reforma agrária. Mas fica claro que não há nem mesmo uma ação de desapropriação em curso, nada!
Vale dizer: um bando resolveu tirar outro bando de uma fazenda. Foi isso o que aconteceu. E o fez da pior maneira. Sim, ações dessa natureza devem ser vivamente desestimuladas e punidas. Mas é preciso que também os invasores arquem com as consequências legais de seus atos, não é mesmo?
Ao fim da reportagem, há o depoimento de um dos “quilombolas” agredidos. O homem é mais branco do que eu antes das três semanas de sol do fim de dezembro e início de janeiro — e olhem que isso não é assim tão fácil, hehe… Tenho certas ortodoxias, que me desculpe a neoantropologia… Quilombola, creio, tem de ser negro, não? A ideia não é tomá-los como uma chamada “comunidade tradicional” — hoje em dia, isso costuma ser pura mistificação —, formada por descendentes de negros que foram escravizados? Para que essa “tradicionalidade” (sim, a palavra existe!) se mantenha, entendo, os descendentes de escravos teriam de ter conservado vínculos, tradições etc. Se não é assim, Tio Rei é índio e vai invadir todo o Litoral Norte de São Paulo…
Não! Definitivamente, eu não apoio a ação daqueles que entraram na fazenda para retirar de lá os invasores — e não os “entrantes”. Mas eu também não apoio a invasão e acho que as coisas têm de ser chamadas pelo nome que elas têm.
Sei, sei… Hoje em dia, para não cair na boca de sapo da difamação das redes sociais, a gente tem de ser simpático a invasores de terra, do MST ou quilombolas, ou de compreender que, em certas circunstâncias, certas comunidades acabam reagindo mal à falta de opções de lazer e saem por aí explodindo postos de gasolina. Ainda que reverente a essas canalhices, a imprensa segue sendo alvo da bandidagem ideológica.
Não! Não é a minha praia. Não vou fazer isso. Não condescendo com isso. E, adicionalmente, acho que quilombola tem de ser negro. #prontofalei.
Texto publicado originalmente às 22h42 desta segunda
Por Reinaldo Azevedo
Ainda os incendiários do posto de gasolina, os quilombolas, o “negro subjetivo” e o Jornal Nacional
Canalha tenta riscar um fósforo para explodir o posto, depois de derramar combustível no chão. Felizmente, não conseguiu
Um leitor, que se identifica como Paulo César, aponta o que considera os meus “equívocos” no post em que critico a abordagem que o Jornal Nacional fez de dois assuntos ontem: o arrastão promovido por supostos funkeiros e o caso da invasão, e posterior conflito, de uma fazenda no norte de Minas. O post está aqui. Segundo ele, não há nada de errado na forma como as notícias foram dadas, e minha crítica teria apenas “viés ideológico”. Ele me recomenda ainda que tome cuidado para não ser o “outro extremo do JEG”. JEG, como devem saber quase todos os leitores, é a sigla que criei para definir o “Jornalismo da Esgotosfera Governista”, aquela gente financiada por estatais para exaltar o governo e o PT e atacar as lideranças de oposição e a imprensa independente. Não corro o risco. Escrevo o que penso, não o que pensa uma “legião”. Adiante.
Acho que fui bastante claro no post que escrevi, mas não me incomodo de voltar ao assunto. Noto, de saída, que critiquei, em primeiro lugar, o discurso da PM — não a ação de repressão, deixo claro. Ainda que os atos criminosos tenham se seguido à proibição de um baile funk, é preciso que se tome cuidado para que ações daquela natureza não sejam consideradas uma reação possível de descontentes. Evidentemente, não é. Aquilo é banditismo em estado puro. A questão, para mim, toca num dos pontos centrais do combate à violência.
Quem espanca funcionários e clientes de um posto de gasolina, derrama combustível no chão de forma deliberada e tenta explodir o lugar age deliberadamente de forma criminosa. Pobre ou rico, ele é apenas um bandido. Não há condição social que explique isso — a menos que se invista no preconceito habitual de associar a pobreza a delitos. Essa, como se sabe, é uma das farsas mais influentes no debate sobre a violência, desmentida de forma peremptória pelos fatos. São tantos os pobres no Brasil que, fosse verdadeira a relação, seria impossível andar nas ruas. A verdade é bem outra: a esmagadora maioria dos pobres tem o senso de moralidade de todos nós: peca aqui e ali, mas, no geral, segue as leis. Algumas psicopatias à parte, o criminoso o é porque quer, não porque foi empurrado para o crime.
E acho, sim, hoje mais do que ontem, que o JN fez muito mal em associar ao caso a promessa do prefeito Fernando Haddad de que vai levar iluminação para os tais clubes comunitários — ou algo assim. Qual é a relação óbvia que se estabelece? Com os clubes, não seria preciso fazer o baile funk no meio da rua, a polícia não teria interferido, e aqueles rapazes não teriam praticado aquelas barbaridades. Essa explicação pertence à mesma família moral daquela que sustenta que, não fossem as pesadas penas impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, não teria havido nazismo no país. Há uma diferença entre explicitar circunstâncias e estabelecer relações de causa e efeito que, no fim das contas, acabam responsabilizando as vítimas pela ações dos criminosos e facínoras.
Se cada crime cometido por pobres — frequentemente contra outros pobres, que não despertam a compaixão nem excitam a compreensão dos politicamente corretos — merecer um rabicho explicativo de sociologismo barato (falta de “opções de lazer”, por exemplo), estará criada a justificativa para a violência. Mas será preciso, por coerência intelectual, atuar também na outra ponta: o criminoso do colarinho branco terá igualmente de ser visto como alguém, sei lá, “vítima da sua classe”, certo? Ou a riqueza, a seu modo, também não tolhe a liberdade de escolha? Sigamos.
A invasão da fazenda
Paulo César me acusa ainda de tentar negar o que considera um fato “óbvio”, assim definido por ele: “a violência promovida pelos proprietários rurais”. E pergunta, em tom de desafio: “Você não reconhece?” Não! Eu não reconheço! Não, ao menos, como ação deliberada de um grupo social ou de uma área da economia. Ao contrário: eu reconheço, isto sim, é que o setor agropecuário brasileiro há muitos anos tem livrado o país do buraco. Há bandidos entre os proprietários de terra? Há sim! Mas também os há na indústria, no comércio, nos serviços, na imprensa…
Estou igualmente mais convencido do que ontem dos equívocos da reportagem do Jornal Nacional. Em nenhum momento ficou claro que a invasão da fazenda, promovida por supostos quilombolas, era um ato ilegal. Nota: a violência com que foram retirados não se justifica; nem eu a justifiquei; escrevi isso Na verdade, a palavra “invasão” nem foi pronunciada pela reportagem ou pela locução do JN. Falou-se, candidamente, que eles “entraram” na propriedade. De modo oblíquo, informa-se que o Incra inclui a terra entre aquelas que poderão ser passíveis, um dia, quem sabe?, de reforma agrária. Fica clara a sugestão de que a invasão — ooops, “a entrada” — era justificada.
Eu reconheço, sim, que existe uma indústria da invasão de terras no país. Eu reconheço, sim, que existe uma escandalosa manipulação do conceito de “comunidades tradicionais”, seja para definir índios, seja para definir quilombolas. Paulo César aponta a minha “ignorância” por estranhar o que o dito “quilombola” entrevistado seja.,. branco! Segundo ele, cor de pele não é critério para definir quem pertence e quem não pertence a essa comunidade.
Ah, entendi: cor de pele serve para conquistar vaga na universidade pelo regime de cotas e, em breve, uma vaga no serviço público. Na hora da “quilombonlice”, aí não, Ai, parece, o que conta é o negro que cada um tem dentro de si, o negro subjetivo. Diz ele que aquele rapaz pode ser um descendente. Claro que pode! Mas é evidente que ele é fruto do cruzamento de cores de pele, de culturas, de correntes migratórias, sei lá eu. Ele é, em suma, uma brasileiro como a larga maioria de nós: está todo misturado. Seja para definir reservas indígenas, seja para definir áreas de quilombolas, não dá para fazer de conta que a história brasileira não existiu. Mas que se note: esse é o aspecto menos importante da minha restrição.
Inaceitável mesmo é que uma invasão não seja tratada como tal e que se condene apenas um dos atos criminosos. O simples silêncio sobre a primeira transgressão legal já comprometeria a isenção da reportagem. Mas há mais do que silêncio: a história é contada segundo um ponto de vista: o dos invasores — tratados como simples “entrantes”.
Lamento! Está tudo errado, e minhas observações, de resto, são técnicas. Não têm nada a ver com ideologia, se sou de direita ou de esquerda, comunista ou liberal. O país tem uma ordem jurídica, democraticamente instituída, e seus fundamentos têm de ser respeitados. Abordagem ideológica — no sentido de que se apela a um conjunto de valores abstratos para alterar e corrigir os fatos — foi a empregada pelo Jornal Nacional.
PS: No vídeo que publiquei, do SPTV, falta o momento em que um dos bandidos tenta riscar um fósforo para explodir o posto. Por que no do JN aparece aquele instante e não no outro? Não sei.
Por Reinaldo Azevedo
Kaíque, 17 – Atenção, dona Maria do Rosário: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”
Vejam a foto deste adolescente. Ele tinha 17 anos.
No dia 18, escrevi aqui um texto sobre a morte trágica de Kaíque Augusto, o rapaz da foto, que era negro e gay — pronto, portanto, para ser “consumido” por movimentos militantes. Faço questão de reproduzir o primeiro parágrafo daquele post:
“Todas as profissões têm seus momentos desagradáveis, indesejados pelos profissionais. Eis um deles. Preferiria não escrever nada do que virá, seja em razão do que há de drama humano, de sofrimento mesmo, seja em razão da pulhice política que acompanha o episódio. Raramente tantos oportunistas se aproveitaram com tamanha determinação da dor alheia como nestes tempos.”
Meu desconforto continua neste segundo texto. Kaíque, agora a família também reconhece depois de mais um monte de indícios, se suicidou. Jogou-se do alto de um viaduto no Centro de São Paulo. A polícia encontrou seu corpo no dia 11, desfigurado em razão da queda. Dado o estado do cadáver, que, adicionalmente, passou três dias sem refrigeração, a família suspeitou de espancamento e tortura e sustentou que o garoto teria sido morto num ataque homofóbico.
Penso no sofrimento do rapaz, na dor de sua mãe, de seu pai, da sua família, enfim. Nesta terça, o advogado da família reconheceu que o rapaz se suicidou — em seu diário, há até um texto de despedida — e que a Polícia atuou com correção na investigação do caso. Na sexta-feira, militantes gays promoveram um protesto no Centro de São Paulo “exigindo” que a polícia apurasse direito o caso. Na verdade, a exigência era outra: que se concluísse que a morte do rapaz era consequência da homofobia. Kaíque, como observei, havia deixado de ser uma pessoa — com todos os seus sofrimentos — e passara a ser uma bandeira.
E agora? Bem, agora Kaíque foi rebaixado à condição de cadáver comum, e ninguém mais vai se interessar pelo seu caso. Deixo claro, meus caros: eu até compreendo, embora lamente, que lideranças de movimentos gays chamem de “crimes de homofobia” também àqueles que não são. Lamento porque isso distorce a verdade e, por óbvio, distorce também a solução. Mas vá lá… Digamos que essas lideranças tenham adotado uma postura política: “Faremos sempre o máximo de barulho para que nossa causa fique em evidência”. Acho um erro, sim, mas é muito próprio do caráter sindical que assumiram esses movimentos.
Mas e Maria do Rosário? A ministra dos Direitos Humanos, com a (ir)responsabilidade de quem é a voz da Presidência da República na área, emitiu na sexta-feira uma nota indecorosa, asquerosa mesmo, a respeito.Ela decidiu pegar carona na morte de Kaíque e na terrível tragédia que acometeu sua família e emitiu uma nota publica em que:
a: deu como certo e fato consumado que Kaíque fora assassinado;
b: deu como inquetionável que se tratava de um crime praticado pela “homofobia”;
c: fez propaganda de seu ministério;
d: fez propaganda do governo Dilma;
e: sugeriu que, não fosse a pressão da sua pasta, a Polícia de São Paulo não faria a devida investigação;
f: defendeu a aprovação da tal lei anti-homofobia.
Reproduzo uma vez mais a sua nota e volto em seguida.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado (11/01). Seu corpo foi encontrado pela Polícia Militar de São Paulo próximo a um viaduto na região da Bela Vista, na Avenida 9 de Julho.
As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia.
De acordo com dados do Relatório de Violência Homofóbica, produzido pela Secretaria de Direitos Humanos, em 2012, houve um aumento de 11% dos assassinatos motivados por homofobia no Brasil em comparação a 2011. Diante desse grave cenário, assim como faz em outros casos que nos são denunciados, a SDH/PR está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade.
A ministra da SDH/PR, Maria do Rosário, designou o coordenador-geral de Promoção dos Direitos deLGBT e presidente do Conselho Nacional de Combate a Discriminação LGBT, Gustavo Bernardes, para acompanhar o caso pessoalmente. O servidor da SDH/PR desembarcou no início na tarde desta sexta-feira (17) na capital paulista, onde deverá conversar com a família e acompanhar o processo investigativo em curso.
Informamos ainda que a Secretaria de Direitos Humanos está investindo recursos para a ampliação dos serviços do Centro de Combate à Homofobia da Prefeitura Municipal de São Paulo, fortalecendo a rede de enfrentamento à homofobia.
Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso Nacional aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e intolerância motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento dessas violações de Direitos Humanos.
O Governo Federal reitera seu compromisso com o enfrentamento aos crimes de ódio e com a promoção dos direitos das minorias, em especial, com a população LGBT.
Retomo
É um hábito desta senhora disparar primeiro e ponderar depois. É assim desde os tempos em que ela defendia a proibição da venda legal de armas, embora tivesse aceitado doação de campanha da Taurus… Notem: a doação foi legal. Imoral era a pregação de Maria de Rosário. Sim, é preciso combater os crimes de ódio — necessariamente sem fazer escolhas que possam provocar… ainda mais ódio. E assim pode ser caso, nos termos em que está, se aprove a tal lei anti-homofobia. Mas nem vou entrar agora nessa questão.
Qual história é mais trágica, mais triste, mais dura? Para a família de Kaíque, suspeito, a versão que se comprovou falsa talvez machucasse menos. Os militantes gays deixarão o garoto de lado. Ele não pode mais ser consumido pela causa. Ele já não serve mais como bandeira. Maria do Rosário não vai se desculpar, e seus caçadores de causas ficarão atentos à espera de um próximo cadáver que possa ser exibido em praça pública.
Recorri a Renato Russo no título — quando percebi que tinha qualidades genuínas, ele já havia morrido —, um verso de índole cristã (e pouco me importa saber o que autor pensava sobre religião.
Se Maria do Rosário seguisse aquele princípio, não seria tão oportunista. E emitiria, então, 140 notas de pesar por dia, que é média de assassinatos diários no país que mais mata no mundo, incluindo os que estão em guerra. Ocorre que Maria do Rosário pertence a uma escola de pensamento que transforma um morto na bandeira com a qual esconde os outros 51 mil para os quais o governo que ela integra não dá a menor bola.
Solidarizo-me com a família de Kaíque. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Por Reinaldo Azevedo
FMI faz novo corte na previsão do PIB do Brasil, para 2,3%
Na VEJA.com:
O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a reduzir as previsões de crescimento econômico do Brasil. Para este ano, a projeção é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,3%, abaixo dos 2,5% previstos em outubro. Com a revisão, a expectativa se igualou à expansão estimada para 2013. Para 2015, o FMI projeta avanço de 2,8%, também menor que os 3,2% divulgados no relatório anterior.
O Brasil deve ter este ano um dos menores crescimentos entre os países emergentes com previsões divulgadas no relatório desta terça-feira. O México, por exemplo, deve crescer 3% este ano e 3,5% no próximo. A África do Sul deve crescer 2,8% e 3,3% nos mesmos períodos. Entre os grandes mercados emergentes, só a Rússia deve ter desempenho pior que o Brasil, crescendo 2% este ano e 2,5% no próximo. Os emergentes devem crescer 5,1% este ano, mesma previsão do relatório de outubro. Em 2015, o crescimento deve ficar em 5,4%, pouco acima dos 5,3% previstos anteriormente. Já a economia global deve avançar 3,7% em 2014 e 3,9%em 2015.
O Fundo divulgou nesta terça-feira um relatório em Washington atualizando as estimativas feitas durante sua reunião anual na capital americana em outubro, quando apresentou o documento “Perspectiva Econômica Global”. As projeções anuais para a economia brasileira vêm sendo rebaixadas a cada novo relatório do FMI desde meados de 2012.
No documento, o Fundo alerta que países emergentes com contas externas mais fragilizadas e fraquezas internas, como o Brasil, estão “particularmente expostos” ao risco de fugas de capital por causa da mudança da política monetária dos Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A recomendação do Fundo é que os governos deixem as moedas desvalorizarem e fiquem atentos para gerenciar fuga de recursos.
A crescente volatilidade no mercado financeiro e nos fluxos internacionais de capital está entre os principais riscos que os mercados emergentes enfrentarão em 2014, destaca o relatório. “A combinação de mudanças nas carteiras dos agentes e fraquezas domésticas pode resultar em fugas mais acentuadas de capital e ajustes nas taxas de câmbio”, alerta o documento.
Por Reinaldo Azevedo
Delúbio Soares, sorridente, volta à CUT. Sim, foi na central sindical que ele começou a ser… ele!
Primeiro dia: o presidiário chega à CUT com o status de chefe e especialista…
Vejam ali. É Delúbio Soares chegando à CUT do Distrito Federal para o seu primeiro dia de “trabalho”. Oficialmente ao menos, vai receber R$ 4,5 por mês para produzir “relatórios”. De quê? Não tenho a menor ideia. Na foto de André Coelho (O Globo), vê-se um homem sorridente, bem-disposto, só de bigode, sem a barba com a qual se tornou célebre.
Representantes da CUT foram buscá-lo no Centro de Progressão Penitenciária — coisa de reverência ao chefe mesmo. Ao chegar à central, também foi recebido pela direção. No ramo em que operam os cutistas, Delúbio é um especialista, entendem? Uma autoridade.
De volta à CUT? É onde tudo começou. Em 2005, em entrevista à Folha, Cesar Benjamin fez algumas revelações interessantes. Militante do PT de 1980 a 1995, o hoje em dia editor de livros situa no início dos anos 90, com a atuação de Delúbio no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o início da mudança que levou o partido ao escândalo do mensalão. De acordo com Benjamin, com repasses do FAT para sindicatos Delúbio Soares fortaleceu a tendência Articulação, do PT, da qual faziam parte Lula e José Dirceu. É a turma que comanda o partido ainda hoje, embora com outro nome. Leiam trecho daquela entrevista.
O senhor acha que as previsões que fez ao sair do o PT se cumpriram?
Vamos situar a saída. Na campanha de 1994, eu era da direção e da coordenação da campanha. E depois ficou claro que tinha havido uma série de financiamentos que desconhecíamos. De bancos e empreiteiras, para a campanha do Lula.
Eram financiamentos ilegais?
Do ponto de vista partidário não eram legais. Porque tanto a direção quanto a militância nunca souberam disso. Tentei discutir na direção nacional, não houve possibilidade, e resolvi levar ao Encontro Nacional do PT de 1995, que era o primeiro na seqüência da eleição. E aí ficou claro para mim que já estava havendo no PT o início do esquema que agora vem à luz, inclusive com os mesmos personagens. Eu tive a percepção de que isso continha um perigo extraordinário, que era a entrada no PT, pesadamente, de esquemas de financiamento que teriam um impacto grande na vida interna do partido. O Dirceu foi eleito para a presidência, esse grupo que agora está nas manchetes assume cargos-chave, e fica claro que o partido tinha tido uma inflexão para pior. Ser direção passava a ser gerenciar interesses. E saí, eu me lembro que no meu pronunciamento no Encontro Nacional disse que estávamos diante do ovo da serpente que ia nos devorar. Então, quando vejo essa situação atual, tenho consciência de que não começou agora e é a expressão de uma prática continuada e sistêmica, que foi introduzida através do Lula e do Zé Dirceu.
Pode-se dizer que o processo de corrupção começou em 1994?
Talvez tenha começado antes.
Quando?
Há notícias de processos semelhantes no Fundo de Amparo ao Trabalhador. Não por coincidência o representante da CUT no FAT chamava-se Delúbio Soares e se multiplicaram notícias de esquemas de financiamento heterodoxos.
O que houve?
Até essa época, a Articulação, que é o grupo do Lula e do Dirceu, ainda disputava a hegemonia no PT cabeça com cabeça. A minha interpretação é a de que esse grupo usou esquemas de financiamento heterodoxos para fortalecer a Articulação. Porque o FAT faz convênios com sindicatos. E assim fortaleceu as finanças da Articulação, que passa a manejar poder financeiro que é uma arma nova na luta. Passa a ter capacidade de financiar candidaturas, trazer pessoas, estabelecer pontes. Delúbio se tornou figura paradigmática. Foi tesoureiro da CUT, foi para o PT como tesoureiro. E esse grupo começa a ser conhecido como “os operadores”.
Quem eram Delúbio, Sílvio?
Silvio Pereira, depois Marcelo Sereno… Esse grupo estabelece influência crescente no PT e na CUT. Ser da Articulação significava fazer campanhas muito caras. E se combina com o esvaziamento da militância. Então esse grupo consolida a hegemonia. Passa a operar em vários esquemas. Santo André é um deles. Passa a procurar maneiras de levantar dinheiro. E com a chegada ao governo federal as práticas ganham escala e um potencial de crescimento e visibilidade muito maior.
E o presidente Lula nisso tudo?
O Lula garante que foi traído, que não sabia. Mas eu não acredito nisso. Foram práticas sistemáticas durante mais de dez anos, do grupo que era mais próximo do próprio Lula. Me parece completamente inverossímil que ele fosse o único a não saber. Todos sabíamos. Eu, que já estava fora do PT, sabia. Como o Lula poderia não saber?
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Agora Dirceu, o rico, Delúbio e João Paulo também vão recorrer à esmola militante para pagar multas
Comentei aqui nesta manhã que a arrecadação de dinheiro pela Internet para pagar a multa aplicada pelo STF a José Genoino era uma questão política e nada tinha a ver com a sua condição financeira. A prova veio nesta segunda. Agora José Dirceu, João Paulo Cunha e Delúbio Soares também recorrerão ao expediente, anunciam os petistas.
Que graça! Dirceu é um dos “consultores” mais bem-sucedidos do país. Tem dinheiro. Antes de ser preso, vivia andando de jatinho para lá e pra cá. Então ele não dispõe de R$ 697 mil? Quem acredita? A multa de Delúbio é de R$ 325 mil, e João Paulo recebeu a mais baixa: R$ 250 mil.
É claro que o PT tem como arcar com esse “custo”. Ocorre que recorrer à esmola militante — ainda que o próprio partido possa fazer boa parte da doação — é uma questão de afirmação política e uma forma de afrontar a Justiça.
Por Reinaldo Azevedo
Mercadante vai para a Casa Civil; pasta se tornará mais política. Decisão de Dilma é emblema de como se faz política no Brasil
Mercadante em companhia de Lula e Mariza: nas gestões do ex-presidente, ele nunca ficou em primeiro plano
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), vai disputar o governo do Paraná. Esta deixando a pasta. Em seu lugar, entrará Aloizio Mercadante, que está na Educação. Segundo informa a Folha, a transição começa já no próximo fim de semana, quando Gleisi retorna das férias.
Vamos ver. Em princípio ao menos, também a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, vai tentar, mais uma vez, o governo de Santa Catarina. Está meio enrolada com o uso heterodoxo de helicóptero oficial. Há ainda um papagaio de R$ 6 milhões da campanha anterior, que o PT de Santa Catarina não pagou. Mas dinheiro nunca chega a ser um problema para os petistas.
“Relações Institucionais” sempre foi uma pasta em busca de sentido. No governo Dilma, em tese ao menos, a coordenação política e a relação com o Congresso estavam sob a sua guarda. Nunca funcionou. Ideli jamais foi vista pelos políticos como uma interlocutora autorizada. O governo Dilma sempre foi meio bagunçado nessa área — apesar de contar, formalmente, com a maior bancada da história, superior à de Lula. Mesmo assim, sofreu reveses importantes.
A ida de Mercadante para a Casa Civil dará à pasta mais peso na articulação política do que tem hoje. Sob Gleisi Hoffmann, a pasta ficou mais restrita à área técnica, de acompanhamento dos programas de governo, função dividida com Miriam Belchior, do Planejamento. A gestão Dilma padece desses bifrontismos. Sabem como é: cachorro com dois donos corre o risco de morrer de fome.
Mesmo na pasta da Educação, Aloizio Mercadante se transformou numa espécie de voz política de Dilma. Vai funcionar? Ninguém sabe. Em princípio, sua tarefa termina no dia 31 de dezembro. Se a presidente for reeleita, ele continua como homem forte do governo. Nunca foi conhecido por sua habilidade política. Tem uma certa e reconhecida vocação para ser professor de Deus. Sua gigantesca vaidade sempre o precede. Em política, costuma dar errado.
Observem que Lula jamais o levou para a Esplanada dos Ministérios. Em 2003, lembre-se sempre, com o governo enfrentando ainda uma crise de confiança e com Antonio Palocci sendo apresentado como a âncora da estabilidade, Mercadante enchia os ouvidos da imprensa com um certo “Plano B” para a economia. No passado mais remoto, foi o homem que convenceu Lula, em companhia de Maria da Conceição Tavares, de que o Plano Real seria um fracasso.
Com ele, dado o seu perfil, a Casa Civil se tornará mais política do que é hoje. E, podem apostar, caso Dilma se reeleja, sua sombra também se projetará sobre a economia, com ou sem — torça-se para que seja sem… — Guido Mantega. Tanto Dilma como seu futuro ministro da Casa Civil têm a ambição de entender de economia. A sua “tese” de doutorado foi uma espécie de chacrinha apresentada na Unicamp exaltando as glórias de Lula.
A sua ascensão à Casa Civil não deixa de ser um emblema da política brasileira e explica muita coisa. Todos se lembram do escândalo dos aloprados em 2006 — aquela tramoia urdida por petistas para tentar atingir o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Quem carregava a mala com R$ 1,7 milhão — cujo dono nunca apareceu!!! — para pagar os bandidos que assumiriam o falso dossiê era Hamilton Lacerda. E Hamilton Lacerda era braço-direito de… Mercadante, então candidato ao governo de São Paulo. Se a safadeza tivesse sido bem-sucedida, o agora futuro chefe da Casa Civil teria sido o principal beneficiado. O STF, no entanto, não viu sinais de seu envolvimento com o rolo e rejeitou a abertura de processo. Em democracias respeitáveis, sua carreira política teria terminado ali.
No Brasil, o homem vai assumir a condução política do governo e será, agora oficialmente, o homem forte de Dilma.
Por Reinaldo Azevedo
SP dará bônus a policiais por cumprimento de metas. É o correto. País precisa de mais meritocracia e menos corporativismo
Alckmin: projeto concede bônus a policiais por cumprimento de metas
O governo de São Paulo decidiu implementar um sistema de cumprimento de metas para as polícias civil e militar. Se atingidas integralmente, cada policial poderá ganhar bônus de até R$ 2 mil por trimestre. O governador Geraldo Alckmin já enviou a proposta à Assembleia. Informa a Folha: “As metas serão estabelecidas trimestralmente, com base na comparação com o mesmo período do ano anterior, e valerão para três grupos de crimes: vítimas de mortes violentas (homicídios e latrocínios), número de roubos em geral e número de furtos e roubos de veículos”.
No do caso dos homicídios, por exemplo, o objetivo é reduzir o número de ocorrências em 7% neste trimestre, no cotejo com os números de igual período de 2013. Em casos assim, o leitor tem o direito de perguntar: “Mas como é que o incentivo interfere na disposição de uma pessoa matar outra?”. Em princípio, parece-me que se trata de um incentivo — e de um bom incentivo — para que as polícias e os policiais trabalhem realmente em conjunto. Pode melhorar, por exemplo, o trabalho de policiamento preventivo.
O Brasil é um país que ainda engatinha na meritocracia. A nossa cultura, infelizmente, é de outra cepa — no caso, de má cepa: é corporativista e coletivista no pior sentido da palavra. O resultado é sempre catastrófico — para quem depende do serviço público.
Tomem o exemplo da Educação. É um vexame continuado. Sindicatos de professores Brasil afora rejeitam como o diabo foge da cruz qualquer programa relacionado ao mérito e ao desempenho dos profissionais da educação. Tendem a recusar, o que é um escândalo, até mesmo cursos de especialização e reciclagem profissional. Ficam naquela: “Ou dá aumento para todo mundo, e esses ganhos são incorporados ao salário, ou nada feito!”. Trata-se de um sindicalismo, em regra, atrasado e burro, que existe para alimentar a existência da própria máquina sindical. Os estudantes são os mais prejudicados; em seguida, os próprios professores.
Por que é assim? Porque boa parte dos nossos sindicalistas são, ora vejam!, “socialistas”, sabem? Eles se apoderam da máquina sindical não para melhorar as condições de vida e de trabalho dos seus associados, mas para, um dia, quem sabe, fazer a revolução. Bem, a revolução jamais chegará, e eles jamais abandonarão a boquinha sindical. Afinal, tomar conta daquela máquina corresponderá a ganhar salário sem trabalhar.
Mas volto ao ponto: São Paulo, segundo o Mapa da Violência e o Anuário de Segurança Pública (de onde colho os números seguintes), está entre os dois estados com a menor taxa de assassinatos (Crimes Violentos Letais Intencionais) do país: 12,4 por 100 mil. É menos da metade da taxa brasileira (25,8) e praticamente a metade da do Rio (24,5). Está abaixo de um terço da taxa da Bahia (40,7). Em 12 anos, essa taxa caiu mais de 70% no Estado.
Mas é óbvio que ela é ainda alta e mais precisa ser feito. O programa de metas é uma boa saída, e os benefícios são consideráveis.
Por Reinaldo Azevedo
Shoppings querem atuação federal contra rolezinhos. Ou: Se Dilma NÃO manda sua turma se calar, que então resolva, ora! Ou ainda: PT perde o pelo, mas não o vício
Lojistas de shopping pedem a atuação da Dilma do “coraçãozinho”. Seus ministros não param de falar bobagem
A associação que reúne os lojistas de todos os shoppings do país, a Alshop, decidiu cobrar ajuda federal para que os tais “rolezinhos” sejam coibidos. Não há exagero nenhum nisso. Ao contrário: a Alshop está, sim, se dirigindo à pessoa certa. Até porque, em parceria com setores da imprensa, o PT é responsável pela politização do que não não passava de um “movimento em favor do beijo na boca”. Ocorre que em um dos shoppings, o evento chegou a reunir seis mil pessoas. Não é possível.
E por que a presidente Dilma é a pessoa certa? Ora, porque ela chegou a convocar uma reunião com ministros para tratar do assunto, emprestando ao caso uma gravidade que não tinha. A partir dali, passou a ser assunto federal.
Ministros seus, como Gilberto Carvalho, que é secretário-geral da Presidência, e Maria do Rosário, a equivocada permanente que comanda a Secretaria de Direitos Humanos, vieram a público para criticar, direta ou indiretamente, a polícia, os shoppings e a Justiça. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad, também petista, pediu a seu secretário da Igualdade Racial que iniciasse conversações com supostos líderes de rolezinhos. Ao fazê-lo, passou a emprestar à coisa um caráter que nunca teve: discriminação da cor da pele. Isso é uma fantasia.
As Polícias Militares estão, como vimos, mais ou menos de mãos atadas. Caso se mexam, lá vem pancadaria da imprensa. Vão intervir, sim, sempre que eventuais manifestações se transformarem em vandalismo e coisa e tal, mas já perceberam que a máquina das esquerdas para desqualificar a ordem e exaltar a bagunça opera com força total. O que restou aos lojistas?
Eu mesmo já sugeri aqui que Dilma deveria dar uma ordem a seus ministros: que calassem a boca a respeito do assunto. Como se percebe, ela não fez isso.
Neste fim de semana, militantes políticos — e não jovens da periferia — decidiram promover protestos, e não rolezinhos, em shoppings ditos de luxo de São Paulo, Rio e Porto Alegre. Esses eventos já não guardam nenhuma relação com as manifestações originais. São, reitero, promovidos por entidades de esquerda e extrema esquerda que confundem seu próprio rancor e, acima de tudo, a sua ignorância com a causa popular.
A coisa é tão patética que, no Shopping Leblon, no Rio, que estava fechado — enquanto alguns bananas promoviam gritaria do lado de fora —, um grupo de cinco moradores da Rocinha apareceu para fazer seu rolezinho — aquele outro, o passeio… Eram dois maiores e três menores. Ricardo Israel, de 22 anos, comentou, informa a Folha: “Eu vim para dar um rolé com a minha gata no shopping, conhecer gente nova, mas pelo visto é manifestação. Vou dar rolé na praia de skate mesmo”. Ele se mandou, e os esquerdistas da Zona Sul que, em tese, falam em nome de Israel ficaram lá se esgoelando.
Olhem que o Brasil, em matéria de bobagem, parece ser um manancial inesgotável. Como essa, acho que nunca vi. E não estou me referindo aos rolezinhos originais, não, que tinham, sim, de ser coibidos porque põem em risco a segurança de milhares de pessoas — inclusive a dos próprios rolezeiros.
Eu me refiro é ao rolezinho ideológico de grupelhos de extrema esquerda, de subintelectuais do miolo mole, de setores da imprensa e, agora dos petistas, que resolveram adotar o movimento. Como alertei aqui, esses irresponsáveis acharam que a coisa ficaria restrita a São Paulo — e toda a bagunça que puderem fazer no estado lhes parece boa porque estão de olho nas urnas. Pois é… Nunca é assim! A petezada resolveu apoiar o quebra-quebra do Passe Livre, e a gente viu aonde a coisa foi dar.
Mas não tem jeito. Como os lobos, os petistas podem até perder o pelo, mas não perdem o vício.
Por Reinaldo Azevedo
Juízos atordoados sobre rolezinho, manifestações de junho, a sociedade democrática e o estado de direito
Suzana Singer, ombudsman da Folha, escreveu neste domingo sobre a cobertura que o jornal dispensa aos rolezinhos, elogiando-o por ter condenado a ação da polícia e do Judiciário ao tentar coibir as manifestações. Não é, com sabem os leitores deste blog e da Folha, a minha opinião. Os centros comerciais têm compromissos legais firmados com os frequentadores e com os lojistas, e a atividade requer precondições para que possa ser exercida — a exemplo de qualquer outra, inclusive o jornalismo. Com rolezinhos, na forma como se deram, é impossível. Quando um grupo agrava direitos de terceiros, a Justiça tem de ser acionada. É assim que funciona nas democracias. Mas seu erro mais feio está relacionado às manifestações de junho, o que atordoa, embora menos, o seu entendimento dos eventos nos shoppings. Já chego lá. Antes, terei de fazer outras considerações, uma digressão apenas aparente, que nos aproximam da questão.
Começo da digressão
Nunca caí no “Conto de Kehl” (ver post na home) de considerar que os rolezinhos são, na verdade, protestos que ainda não têm plena consciência de si mesmos. Isso é restolho dos escombros do marxismo aprendido de orelhada. O Shopping Campo Limpo é frequentado pelos moradores de… Campo Limpo e adjacências. Muita gente é pobre. Heliópolis, em São Paulo, está entre as dez maiores favelas do Brasil — hoje, os próprios moradores preferem chamá-la de bairro, mas, tecnicamente, é uma favela. Segundo o Censo de 2010, contava com 41.118 moradores. Creio que esteja hoje beirando os 45 mil. Eles frequentam em massa o Central Plaza Shopping, que fica bem perto.
Falo o que sei, falo o que conheço, falo o que vi. Já fui lá várias vezes — duvido que Maria Rita Kehl ou Suzana Singer tenham ideia de onde fica sem o auxílio do Google Maps. Pobres, pretos, mestiços — ou que outra categoria queiram criar para brandir a bandeira da discriminação — jamais foram discriminados por ali porque isso significaria, na prática, expulsar boa parte dos… consumidores. A praça de alimentação, nos fins de semana, recebe a população pobre ou remediada que quer “jantar fora”. Os bairros contíguos abrigam moradores de classe media e classe média baixa. Atenção! É um shopping gigantesco, vive apinhado, o ambiente é asseado, e os consumidores e visitantes não se comportam de modo distinto dos que frequentam o Iguatemi, o JK, o Villa-Lobos ou o Higienópolis.
Shoppings — assim como o metrô (já explico!) — são experiências que criam um padrão aceitável de civilização que acaba por mitigar particularismos de classe (e outros) em nome de alguns denominadores comuns de convivência. É assim que se constroem as sociedades. Os comportamentos que ficam à margem — ou porque muito requintados ou porque muito grosseiros — acabam não encontrando lugar para se expressar. Isso é um sinal de avanço das sociedades. Concorre para a elevação do padrão médio. O shopping center constrói um superego com muito mais eficiência do que um pai — se for um pai relapso, então, nem se fale… Sim, é preciso proibir que se toque e se dance funk nos corredores. Mas se deve vetar igualmente que alguém saque o seu aparelho de som para ouvir “A Flauta Mágica” no último volume. Posso achar o funk um lixo, e acho. Posso achar Mozart uma maravilha, e acho. Em locais públicos, o que conta é uma média dos “achares” e dos “quereres”.
Explico a alusão ao metrô. Em 1980, para chegar à USP, eu recorria, nesta ordem, aos seguintes meios: ônibus-trem-metrô-ônibus. E depois havia os quatro para o caminho de volta. Saía às 5h45, voltava às 16h. Começava a dar aula às 19h e ia até as 23h05. Retornava do trabalho 23h45 — dez conduções por dia. Dormia um pouco e lá ia de volta… É, amigo!, a vida era dura. Aprendi a ler mesmo com solavancos, em pé, meio esmagado. Em vez de despertar a piedade da Maria Rita Kehl, preferi cuidar dos meus assuntos. Viver da boa vontade de estranhos nunca foi o meu forte, e, se fosse obrigado a escolher (nunca fui!) entre provocar piedade ou rancor, vocês já adivinharam a resposta. Mas prefiro, como toda gente, que me amem, hehe… Só não escreverei um maldito adjetivo para isso, entendem? Adiante. Em 1980, o único desses meios com padrão civilizado era o metrô — já frequentado por todas as classes (só havia as linhas azul e laranja). Percebi rapidamente por quê. Era um papel de bala cair no chão, e aparecia um funcionário para limpar. Os vagões e as estações estavam sempre impecáveis — ainda hoje é assim. Em Roma ou em Nova York, o metrô, com frequência, fede. Num dia de sorte, o cheiro de alguma coisa entre a creolina e a naftalina pode se sobrepor ao do xixi… Sigo.
Mantenha um ambiente de uso coletivo em ordem, pouco importa se público ou privado, e a esmagadora maioria dos frequentadores, independentemente a origem social, se esforçará para conservá-lo. A deterioração de espaços públicos decorre de falhas de zeladoria. Quando um prefeito deixa a cidade emporcalhada, por exemplo, como sabe Fernando Haddad, a tendência é que se a emporcalhe ainda mais. A sujeira torna sujos os limpos; a limpeza, limpos os sujos. Vale para o JK ou para o Central Plaza.
Assim, à diferença do que andou sugerindo a má consciência militante — dos petistas aos ditos movimentos negros que tentaram pegar carona no rolezinho da molecada que só queria, e quer, beijar na boca (viva o beijo na boca!) —, os tais eventos não nasceram da exclusão, do preconceito, do apartheid social, do arranca-rabo de classes, da frustração com isso ou com aquilo. Não! Eles eram apenas manifestações indesejáveis — porque perigosas — de jovens num espaço que, a rigor, já era deles, frequentado por suas famílias. Como demonstrei na coluna de sexta na Folha, “jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas”.
Fim da digressão. De volta a Suzana Singer
Suzana preferiu abrir seu texto com um clichezaço para comentar o que chamou de “cautela” da imprensa com os rolezinhos. Sem medo de ser feliz, mandou ver:“Gato escaldado tem medo de água fria”. Nota: todo gato tem medo de água — fria ou quente. Eis uma frase que, por ser clichê, não diz mais nada; se dissesse, informaria um erro. Depois de elogiar a crítica que a Folha fez à polícia e ao Judiciário no caso dos rolezinhos — com a qual não concordo —, Suzana escreveu: “É um tom completamente diferente do adotado no editorial ‘Retomar a Paulista’, de junho de 2013, quando os ativistas foram definidos como ‘jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária’”.
Obviamente, eu concordo com o editorial de junho — justamente aquele de que a ombudsman não gostou. E terei de recorrer à própria Folha para dizer por quê — já publiquei essas evidências em post de outubro do ano passado. Vejam. Volto em seguida.
No dia 6 de junho do ano passado, durante a baderna organizada pelo Movimento Passe Livre, não houve a chamada “violência policial”. Só os manifestantes botaram para, literalmente, quebrar e queimar. No dia 7, informava a Folha:
“Em protesto contra a elevação da tarifa de ônibus, metrô e trens em São Paulo, manifestantes entraram em confronto com a Polícia Militar, interditaram vias e provocaram cenas de vandalismo ontem à noite na região central. O ato levou à interdição de vias como 23 de Maio, Nove de Julho e Paulista na hora de pico. Estações de metrô foram depredadas e fecharam. No centro e na Paulista, quebraram placas, picharam muros e ônibus, atearam fogo, provocaram danos a um shopping e ao Masp. Os manifestantes são ligados ao Movimento Passe Livre, liderado por estudantes e alas radicais de partidos.”
O Passe Livre não deu trégua. No dia 7, promoveu outro quebra-quebra, também notavelmente violento. Mais uma vez, a Polícia Militar evitou o confronto. Novas depredações, incêndios, quebra-quebras, aí com o fechamento das marginais, causando um colapso na cidade. Os mascarados já estavam lá, atuando junto com o Passe Livre. Os jornais do dia 8 de junho traziam o devido registro.
Estava na cara que havia algo estranho no ar. Muito bem! No dia 9 de junho, o Estadão de domingo chega às bancas com uma estranha entrevista de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, tornada manchete. O alvo principal: o governador Geraldo Alckmin, em particular a política de segurança pública. Era um domingo.
Na terça-feira, dia 11 de junho, o Passe Livre e os black blocs voltaram às ruas. A violência chegava ao paroxismo. Coquetéis Molotov foram lançados contra a polícia. Um policial foi linchado. Assim evidenciavam os jornais no dia 12.
Estão acompanhando?
Até aqui, três de seis dias dedicados à depredação e à violência, com a Polícia Militar fazendo um trabalho praticamente de contenção. Entre esses dias, uma entrevista do ministro da Justiça atacando o governador. Observem que estou documentando tudo.
Aí veio a tragédia do dia 13. O Passe Livre voltou às ruas ainda mais disposto ao confronto e à pauleira. Aqui e ali já se colhiam na imprensa sinais de simpatia pelos vândalos. Mas como endossar as práticas terroristas? Era preciso que um valor mais alto se alevantasse. Jornalistas, no geral, têm mais ódio da polícia do que de bandidos com uma “boa causa”. Sei que frases como essa não me rendem uma boa fama. Escrevo o que quero. Não devo satisfações a aiatolás do pensamento. Pois bem: nesse dia, a tropa de choque combinou com “os meninos” (como diria um repórter de TV…) que eles não romperiam o cordão de policiais rumo à Avenida Paulista. Não adiantou. Eles romperam. E o pau comeu. A Polícia Militar reagiu com bombas de gás e de efeito moral e balas de borracha. Jornalistas foram alvejados. Aí a coisa toda mudou de figura, como se via no dia 14.
Uma imprensa que já estava doida para aderir encontrou ali o pretexto de que precisava. E que se note: não estou endossando a ação da PM naquele dia. Foi exagerada, atabalhoada, desorganizada. Mas não muda a moral da história.
A PM passava a ser a vilã. E os protagonistas da truculência dos dias 6, 7 e 11 eram tratados como heróis que estivessem lutando contra um estado autoritário. As TVs, em especial, passaram a dar aos trogloditas a grandeza de resistência civil. A GloboNews, por exemplo, entrou em rimo de AL Jazeera cobrindo a Primavera Árabe. A diferença nada ligeira é que o Brasil é um estado democrático.
CARDOZO DE NOVO!
Naquele mesmo dia 13, com a cidade tomada pelo caos — eu voltava de uma palestra no Rio e fiquei quase cinco horas preso no Aeroporto de Congonhas porque meu bairro estava sitiado por vândalos —, Cardozo concedeu uma entrevista aos portais oferecendo “ajuda” ao governador Geraldo Alckmin. Não telefonou, não conversou, não procurou nem foi procurado. Falava pela imprensa. Tirava uma casquinha. Fazia de conta que o problema era de São Paulo.
No dia 17, marca-se outra manifestação em São Paulo. A Polícia aceita as condições dos trogloditas que haviam vandalizado a cidade no dias 6, 7, 11 e 13: nada de tropa de choque, nada de bala de borracha, nada de bombas e nada de restrição a áreas de protesto. Qualquer lugar é lugar. Tudo pode e tudo vale. Os petistas aderiram ao protesto. Já não era mais pelos 20 centavos, dizia-se, mas por cidadania, sei lá o quê. Algo começava a sair do planejado: em São Paulo, a convocação reuniu 65 mil pessoas. A do Rio, que seria apenas em solidariedade, juntou mais de 100 mil… Epa!!!
No dia 18 de junho, aí era a Folha que trazia outra entrevista de José Eduardo Cardozo, também contra o governo de São Paulo, com ataques diretos à polícia.
Concedida no dia 17, antes do término das manifestações, este gênio usou como exemplo bem-sucedidos as polícias do Rio e do Distrito Federal:
“O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes”.
Patético! Naquele dia 17, não houve violência em São Paulo. Alguns bananas tentaram invadir os jardins do Palácio dos Bandeirantes, mas nada muito grave. No Rio, no entanto, um dos bons exemplos de Cardozo, assistiu-se ao caos, como isto aqui:
Brasília
O ministro da Justiça que “ofereceu” ajuda a Alckmin no dia 13, que já o havia atacado no dia 9 e que censurou a polícia de São Paulo no dia 17, tinha tudo para organizar, então, com o seu aliado Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, uma ação preventiva exemplar quando o protesto chegou ao Distrito Federal, certo?
Pois bem! No dia 20, o caos se instalou em Brasília. Meteram fogo no Itamaraty. E ninguém ouviu a voz de Cardozo, o chefe da Polícia Federal e o homem que pode acionar a Força Nacional de Segurança. Vejam.
Setores importantes da imprensa, as esquerdas de modo geral e o governo federal promoveram a demonização da Polícia Militar de São Paulo, que logo virou a demonização de qualquer polícia. Também se inventou a mentira estúpida de que manifestantes eram uma coisa, e baderneiros, outra. Chegou a ser por um brevíssimo período. Logo, os chefes dos protestos deixaram claro que os mascarados eram a sua tropa de choque e que eles estavam juntos.
Retomo
Não havia, pois, nada de errado com aquele editorial da Folha sobre as manifestações de junho. Certo estavam o jornal e QUASE toda a imprensa até ali. Erraram depois, quando passaram a condescender com a agressão aos mais comezinhos fundamentos da democracia e do estado de direito.
Ao comentar os rolezinhos, Suzana, reconheça-se, põe em dúvida a sociologice oca que tenta atribuir caráter de contestação às manifestações ou relacioná-la à falta de espaços de lazer na periferia — afinal, ela é capaz de reconhecer que a garotada andou se reunindo em shoppings da periferia, justamente em seu espaço de lazer, e não numa galeria de arte dos Jardins ou num museu… Depois o texto segue com perguntas, dúvidas, sugestões, coisa e tal, mas insistindo no que seria o caráter enigmático dos rolezinhos… Onde está o enigma? A meninada já falou por que faz, o que quer, qual é o objetivo — e passa muito distante da apropriação vigarista que as esquerdas tentaram operar depois. Sobre isso, Suzana nada escreveu.
Notem, a propósito, que, nos descalabros de junho, uma figura sobressai: José Eduardo Cardozo. Enquanto o caos parecia restrito a São Paulo, ele ficou tirando suas casquinhas. Agora, no caso dos rolezinhos, os petistas, mais uma vez, foram os primeiros a tentar emprestar um “caráter” político à coisa — Fernando Haddad quer os rolezeiros até como interlocutores…
Ou por outra: nas manifestações violentas de junho — que acabaram se voltando até contra o PT — ou nos rolezinhos de agora, há uma constante: a exploração política promovida por vigaristas, e o encantamento basbaque de supostos bem-pensantes que confundem depredação de ônibus com ímpeto revolucionário e rolezinho em shopping com a tomada do Palácio de Inverno.
Por Reinaldo Azevedo