O discurso de Che na ONU e a renitente tara pelo inventor do lema do Viagra… Ou: Pervertidos morais na Cuba de 1964 ou na Venezu

Publicado em 17/03/2014 17:04 e atualizado em 07/03/2020 18:13
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

O discurso de Che na ONU e a renitente tara pelo inventor do lema do Viagra… Ou: Pervertidos morais na Cuba de 1964 ou na Venezuela de 2014

Guevara no detalhe da foto que virou ícone: assassino, fedorento e amado

Há tipos que me dão uma preguiça monumental, gigantesca mesmo! E, quando fico com preguiça, posso endurecer e perder a ternura.

Admiradores de Che Guevara, por exemplo, me deixam com preguiça! Admiram por quê? Deve ser alguma fixação de fundo sexual, sei lá eu. Sabem como é… Aqueles olhos ternos da foto de Alberto Korda… E olhem que a imagem que entrou para a história é só um pedaço da foto original. Alguém foi lá e reparou no moçoilo, pinçou o rosto do bruto e o transformou num ícone. Há na fixação em Che, com todo respeito, uma espécie de boiolagem ideológica (se alguém achou a expressão grosseira, fique com “amor viril ideológico), uma vez que mais os, digamos, “moços revolucionários” do que as moças admiram o “Porco Fedorento”, que odiava com igual fervor duas categorias: banhos e seres humanos. O inventor “avant la lettre” (ou “avant la chose”) do lema perfeito para remédio contra impotência (“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”) continua a despertar paixões. Ao ponto.

Publiquei neste domingo um post em que chamava a atenção para um texto de apoio publicado na VEJA, junto com a reportagem que informa os privilégios de que José Dirceu e seus amigos petistas gozam na cadeia.

Esse texto de apoio dá destaque a um trecho do discurso que Che Guevara fez na ONU em 1964, em que exalta os fuzilamentos em Cuba. Mais do que isso: o “revolucionário” trata do assunto com orgulho e tenta explicar por que os assassinatos que ele pratica são diferentes dos praticados por outros. Junto com o post, publiquei um vídeo.

Ora, ora, ora… Até parece ser essa a primeira vez que trato do assunto. Já escrevi a respeito num post do dia 17 de abril do ano passado. Já publiquei neste blog A ÍNTEGRA DESSE DISCURSO DE GUEVARA.

Há, sim, um pequeno engano: no vídeo que foi ao ar neste post de domingo, não há o trecho sobre o fuzilamento. Alguns leitores apontaram isso. Outros, ora vejam!, acharam que ali estava a prova de que tanto a VEJA como eu próprio havíamos fraudado a verdade e atribuído a Guevara algo que não dissera. Santo Deus! Ninguém precisa piorar Guevara, nem no cheiro nem na moral. Sua alma não fedia menos do que seu corpo. Imaginem se, CINQUENTA ANOS DEPOIS, eu me atreveria a inventar um discurso que não existiu.

Um leitor, achando que me engana, escreve:
“Talvez eu seja um dos mais ferrenhos antipetistas, mas devemos ser fieis à verdade. Ou estou surdo, ou meu portunhol é tão ruim que em momento algum, neste tempo de discurso, ouvi de Che Guevara que eles fusilavam continuariam fusilando. Penso, que apesar de tudo, devemos ser amantes da verdade. Sou seu fã, meu caro Ricardo Azevedo, mas nessa eu realmente discordo, por não ter ouvido, nestes 6mins20segs. a declaração que está no texto acima. Respeitosamente.”

Bem, vamos lá. Em primeiro lugar, em português, os fuziladores “fuzilam” com “z”, não com “s”. Em segundo, o “Ricardo Azevedo” talvez seja seu “caro”, o “Reinaldo”, certamente, não; em terceiro, estou me lixando se você é antipetista ou não. Não penso nisso quando escrevo. Eu não penso que “devemos ser amantes da verdade, apesar de tudo”. A única coisa decente a fazer é ser amante da verdade ANTES DE TUDO”.

Bem, aqui está a fala do Porco Fedorento exaltando os fuzilamentos. Ele trata do assunto quando responde ao discurso do representante da Venezuela na ONU.

Já expliquei o contexto e explico de novo. Em 1964, a Venezuela era uma democracia, governada por Raúl Leoni, que havia sido eleito em 1963. Sucedia outro governo igualmente sufragado pelo povo, em 1958. Até esse ano, o país havia conhecido apenas nove meses de um governo saído das urnas, entre fevereiro e novembro de 1948.

Muito bem! O governo democrático da Venezuela enfrentava a luta armada de vários grupos terroristas, que se inspiravam em Cuba. E o que fez a ditadura cubana? Acusou, ora vejam!, o governo venezuelano de praticar genocídio… Houve excessos das forças de segurança, admitidos pelo próprio governo, que os condenou. Mas, obviamente, não havia morticínio em massa. Tratava-se apenas de uma das muitas fraudes históricas perpetradas pelas esquerdas.

Pois bem: o governo democrático da Venezuela reagiu à acusação, lembrando que o governo cubano era notório, ele sim, por fuzilar seus adversários. E é então que o Porco Fedorento, o “Chancho”, o poeta do homicídio, aquele que descreveu com incrível prazer o movimento de uma bala que penetra de um lado do crânio e sai do outro (e ele era médico); aquele que confessou ter roubado um relógio de um homem que acabara de matar; aquele que acreditava que o homem deveria se transformar “numa fria e implacável máquina de matar”, motivado pelo ódio, eis que um vagabundo desse naipe afirma o seguinte na ONU (a partir do 36º segundo):

“Nós temos que dizer aqui o que é uma verdade conhecida, que temos expressado sempre diante do mundo: fuzilamentos, sim! Fuzilamos, estamos fuzilando e seguiremos fuzilando até que seja necessário. Nossa luta é uma luta até a morte. Nós sabemos qual seria o resultado de uma batalha perdida e os vermes também têm de saber qual é o resultado da batalha perdida hoje em Cuba. E vivemos nessas condições por imposição do imperialismo norte-americano. Isso, sim, mas assassinatos não cometemos, como comete neste momento a polícia política venezuelana que, creio, recebe o nome de Digepol se não estou mal informado. Essa polícia cometeu uma série de atos de barbárie, de fuzilamentos, ou melhor, de assassinatos, e depois atirou os cadáveres em alguns lugares (…)”

A íntegra do discurso do vagabundo, em espanhol, está aqui. Na sequência, acreditem, ele critica o governo da Venezuela por aquilo que chama censura à imprensa. Em 1964, não só não havia imprensa livre em Cuba como os adversários do regime eram fuzilados, o que ele confessa.

Poucas falas retratam com tanta precisão o horror moral da esquerda armada, e de seus herdeiros intelectuais, como essa. Notem que Che Guevara não acredita na existência de adversários, mas de “vermes”. Ora, se vermes são, então podem e devem ser eliminados. Seus fuzilamentos são parte da luta; os dos outros, crimes. Mais: ele diz que mata porque venceu e proclama que o outro lado faria a mesma coisa se tivesse vencido; logo, sua fala legitima tanto a própria brutalidade como a alheia. E pensar que os partidários desses pulhas ficam hoje, por aí, a arrotar a sua moral vitimista, cobrando reparações. Tivessem ganhado aqui a batalha, Che Guevara informa o que teriam feito com os adversários — e não haveria, por certo, “Comissão da Verdade”. Antes que algum cretino se assanhe a dizer que estou defendendo tortura, digo: “Uma ova!”. Defendem a tortura, o assassinato e o fuzilamento os que perfilam com Che Guevara, não eu. Só estou evidenciando o que queriam aqueles anjos da morte.

Cinquenta anos depois, Nicolás Maduro, em nome de ideais derivados daquele Porco Fedorento, continua a fuzilar pessoas nas ruas. E, herança do mesmo chiqueiro moral, diz que o faz em nome da “revolução bolivariana”, que ele ameaça radicalizar. Luiz Inácio Apedeuta da Silva lhe dá integral apoio. Dilma também. Vale dizer: ambos legitimam a morte de pessoas que só estavam protestando contra uma fraude eleitoral escancarada.

Assim, quando vejo as Dilmas, os Lulas e alguns fantasmas morais do passado a se levantar e a pedir justiça e reparação, indago: em nome de quais valores? “Ah, mas e o deputado Rubens Paiva?” O que tem ele? Foi vítima da brutalidade do regime, tem de ter a sua história contada, e o Estado tem de assumir a sua culpa, como, aliás, aconteceu. Mas nem ele nem ninguém mudam a história de um tempo, mudam os valores que estavam em conflito. E que, atenção!, ainda estão!

Cadê os nossos cultores da verdade, os nossos heróis da reparação, para enviar uma mensagem de solidariedade ao povo venezuelano e seus mortos? Estão calados em seu túmulo moral. Sabem por quê? Porque boa parte dessa gente acha que Maduro tem mais é de fuzilar mesmo. Porque boa parte dessa gente acha que Che Guevara estava certo. Porque boa parte dessa gente acha que humanos são os seus companheiros. Os adversários são apenas “vermes” que merecem morrer.

Encerro
Sobrou alguma dúvida?

Por Reinaldo Azevedo

 

Afirmar que Dirceu está em regime fechado é coisa de gente ignorante e de má-fé. Não é matéria de opinião. É só uma mentira!

Reportagem da revista VEJA desta semana informa que José Dirceu e os mensaleiros petistas têm alguns privilégios na cadeia. Vai acontecer o quê? Há gente dizendo que Dirceu está em regime fechado e que isso é ilegal.

Vamos à primeira questão: só se a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal e o Ministério Público tomarem alguma providência. O governo do DF, liderado pelo petista Agnelo Queiroz, não vai fazer nada. Até porque o próprio governador foi visitar Dirceu secretamente. Depois disso esperar o quê?

Quando à afirmação de uns e outros de que Dirceu estaria em regime fechado, trata-se de uma rematada bobagem, de uma estupidez sem limites, de ignorância mesmo ou de má-fé. É coisa de gente que escreve a primeira bobagem que lhe dá na telha, no intuito de servir à causa, sem nem fazer uma pesquisa.

O que caracteriza o regime fechado ou semiaberto não é poder trabalhar ou não, mas a natureza da instituição prisional, que tem menos vigilância, que é menos rigorosa. São alas distintas. Dirceu está na ala reservada aos presos do semiaberto, que tem esse nome, mas é um regime também fechado.

De fato, no regime semiaberto, o preso pode ter — pode, não quer dizer que deva — algumas licenças que não se concedem a quem está no regime fechado: uma delas é trabalhar fora. Mas essa é uma licença que a Vara de Execuções Penais concede se achar pertinente. O juiz não é obrigado a aceitar o pedido. Mais: a concessão pode ser suspensa ou revogada se ficar provado que o preso desrespeitou regras e normas. Aconteceu com Delúbio Soares.

A reportagem da VEJA, que traz imagens dos mensaleiros presos, informa que Dirceu fez da biblioteca do presídio uma espécie de escritório privado, ao qual bem poucos presos têm acesso; que ele e os outros petistas recebem visitas em horários diferenciados; que não comem as quentinhas servidas aos demais, mas uma comida especialmente feita por dois detentos, que cuidam de um cardápio especial. Mais: os petistas usam uma sala adaptada como refeitório, distinguindo-se dos outros abrigados na Papuda. Têm acesso a perfumes importados e a lanches do McDonald’s. Dirceu já foi atendido até por seu podólogo.

A Vara de Execuções Penais, não custa lembrar, ainda apura se o ex-ministro usou um celular no presídio, o que é proibido. Ele nega. Quem disse ter conversado com ele ao telefone foi ninguém menos do que o secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia, subordinado do governador petista Jaques Wagner. Atenção! James é amigo pessoal de Dirceu.

Para quem já foi o segundo homem mais poderoso do país, esses privilégios nem parecem grande coisa. Ocorre que eles são vedados aos demais presos. E o Brasil, até que não seja revogada ao menos, é uma República. É evidente que se trata de concessões inaceitáveis.

E reitero: a acusação de que ele está preso ilegalmente, em regime frechado, é só uma boçalidade. Ou é coisa de quem não sabe do que está falando ou de quem sabe e está fazendo militância partidária.

Por Reinaldo Azevedo

 

A tática de Eduardo Campos, a crítica a Dilma e a pergunta: dá para ser lulista e oposicionista ao mesmo tempo?

Parece que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB à Presidência, resolveu mesmo bater de frente com a presidente  Dilma Rousseff.  Neste domingo, voltou a criticar duramente  a petista, em viagem ao interior de Pernambuco. Durante um ato político em Surubim, afirmou que ela distribui cargos entre aliados como quem divide bananas e laranjas e disse ser preciso evitar que o país derreta na inflação e no populismo.

A estratégia de Campos, nessa pré-campanha eleitoral é, sim eficaz. Até a página 13. A partir da 14, não se sustenta e, no limite, joga água no moinho do lulismo, do petismo e do continuísmo. Se, por um lado, ele representa uma novidade em relação a pleitos passados porque é alguém que se descolou na nave-mãe, por outro lado, caso fosse cem por cento eficaz na sua pregação, acabaria trazendo Lula de volta.

Com acerto, o peessebista percebeu que existe no ar certa sensação de enfaro, de saco cheio. São poucos os que acham o governo muito ruim. Mas não são tantos os que o consideram muito bom. Tudo vai ficando ali, pela linha da mediocridade. Desta vez, o clima não é hostil a mudanças. Quando o pré-candidato do PSB afirma que ninguém aguenta outros quatro anos de Dilma, vocaliza uma percepção muito viva em alguns setores da sociedade, especialmente os ligados à economia real, à área produtiva. É, sem dúvida, um bom achado para essa fase inicial. Não mais do que isso.

A crítica, progressivamente mais dura e aberta, que o governador faz a Dilma convive, não obstante, com elogios rasgados ao governo Lula, de quem foi aliado incondicional e ministro. Em 2010, ele dinamitou as pretensões presidenciais de seu então aliado Ciro Gomes em favor da candidata do PT, essa tal “que ninguém aguenta mais”. Hoje, curiosamente, os irmãos Gomes, Cid e Ciro, estão fechados incondicionalmente com a presidente, e Campos foi para a oposição.

E cabe, então, a pergunta: a gestão Lula foi mesmo tão boa como diz Campos? As dificuldades essenciais do governo Dilma foram meticulosamente construídas, organizadas e planejadas por seu antecessor. A presidente pode, sim, tê-las extremado em razão de traços de comportamento e de temperamento e de incompetência específica, mas nem inventou nada nem destruiu nada. O que mudou substancialmente foi a conjuntura internacional.

Onde estava Campos quando Lula, com uma das mãos, demonizava as privatizações e, com a outra, ia abrindo o caixa para alguns potentados do capitalismo sem risco? Na boca de Campos, Dilma surge como aquela que dilapidou uma herança bendita. Nessa perspectiva, o pré-candidato do PSB se oferece como o nome que reúne as melhores condições para ser o verdadeiro continuador de Lula. Ao se negar a enfrentar o lulo-petismo e se colocar como seu caudatário e herdeiro competente, Campos intenta uma operação que me parece impossível. Basta que Lula venha a público e diga: “Ok, o Eduardo diz que fiz um grande governo. Quero dizer que minha continuadora é Dilma”

E poderia ser ainda pior: se o pré-candidato do PSB conseguisse destroçar a reputação de Dilma a ponto de inviabilizá-la como candidata, Lula e parte substancial do PT dariam graças a Deus: aí seria ele o candidato! Não vejo como Campos possa ser lulista e oposicionista ao mesmo tempo.

É evidente que os petistas prefeririam que Campos não estivesse na disputa, o que contribui para empurrar a eleição para o segundo turno. Mas não vejo muitas virtudes nesse discurso. Até porque inexiste, como todo mundo sabe, a transferência automática de votos. O eleitorado, no fim das contas, vota em quem bem entender. E Campos vai para a urna com a informação de que Lula fez um governo impecável. Como transferir, depois, essa turma para o lado oposicionista caso ele não esteja, como não deve estar, como o adversário final de Dilma?

Por Reinaldo Azevedo

 

Mesmo que Putin acabe anexando a Crimeia, ele perdeu, mas a inépcia de Obama e dos líderes europeus pode fazer dele um vencedor

Apurados 75% dos votos até esta madrugada, consta que nada menos de 95,7% dos que votaram optaram por anexar a Crimeia à Federação Russa. Assim, a república continuaria a ser autônoma, podendo legislar por conta própria sobre muitos assuntos, como hoje, mas subordinada à Rússia, não mais à Ucrânia. Os números são dignos de uma eleição na Coreia do Norte, onde o ditador Kim Jung-Un vence tudo com 100% de adesão.

Seriam os números verdadeiros? Não há por que duvidar de que a anexação à Rússia conta, sim, com a aprovação da maioria — afinal, a península conta com 58% de pessoas de origem russa. Cerca de 25% são ucranianos, e estimam-se em 12% os tártaros. Os tais 95,7% fazem sentido?

Façamos uma conta elementar. A imprensa russa afirma que 82% das pessoas aptas a votar compareceram. Sendo verdade, 18% não quiserem participar do pleito. É de supor que sejam pessoas contrárias à anexação. Assim, de cada 100 moradores da Crimeia que poderiam votar, só 82 teriam comparecido. Dada a percentagem oficial, o que se está a afirmar é que 78,5 de cada grupo de 82 deram um voto pró-Rússia. É evidente que a adesão parece um tanto exagerada. Vamos ver: ainda faltam os outros 25% dos votos.

Vladimir Putin preparou o terreno. Tanto o Parlamento da Rússia como o Parlamento local da Crimeia aprovaram a anexação, esperando apenas o referendo legitimador. Uma comissão de representantes da república autônoma já se prepara para levar o resultado a Moscou. O presidente russo pode agora, sem disfarce, enviar tropas à Crimeia, consolidando, então, a anexação. Se o fizer, é possível que não encontre resistência.

Estados Unidos e União Europeia dizem não reconhecer a consulta como legal — e, pois, não reconhecem também seu resultado. Prometem severas sanções à Rússia. Mas quais? De saída, descartem-se as armas. É improvável que a Crimeia provoque um confronto militar entre, de um lado, a Rússia e, de outro, as potências ocidentais.

A verdade lastimável em tudo isso é que nem a Europa nem os Estados Unidos contavam com a agressividade de Putin nessa questão. Imaginaram que ele protestaria, sim, mas que, na hora “h”, não iria às últimas consequências. E ele foi. A Rússia não é o Irã. Não se trata de um país que possa ser marginalizado no concerto das nações, até porque tem lá o seu assento no Conselho de Segurança da ONU.

A verdade é que a situação jamais deveria ter chegado a esse ponto. Adianta pouco agora chorar sobre o leite derramado. Viktor Yanukovich já era carta fora do baralho quando foi deposto pelo Parlamento da Ucrânia. As eleições regulares certamente levariam para o poder um governante pró-Ocidente. Nessa hipótese, a perda para Putin teria sido total. Deram-lhe a chance de exercitar o nacionalismo russo, posar de grande herói e ainda sair com a Crimeia de troco. Mesmo que acabe anexando a república, ele perdeu. Mas a inépcia de Obama e dos líderes europeus tende a fazer dele um vencedor.

Por Reinaldo Azevedo

 

Sentença judicial diz que Maluf tratou pessoalmente de dinheiro em conta no exterior que ele sempre negou ser sua

Por Flávio Ferreira e Mário Cesar Carvalho, na Folha:
Pressionado pelo Deutsche Bank a revelar a origem de US$ 200 milhões que movimentou no exterior, o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) tratou pessoalmente com advogados encarregados de dar explicações ao banco e admitiu que controlava uma das empresas que administraram os recursos, segundo documentos obtidos pelas autoridades da Ilha de Jersey. Desde que a existência desse dinheiro foi revelada, há quase 13 anos, Maluf nunca reconheceu publicamente ser o proprietário dos recursos. Em todas as manifestações sobre o caso, sua defesa insiste que ele “não tem e nunca teve contas no exterior”.

Mas a sentença da corte da Ilha de Jersey, que no ano passado condenou empresas da família Maluf a devolver à Prefeitura de São Paulo US$ 32 milhões (equivalentes a R$ 75 milhões), descreve em detalhes tratativas dele e de seus advogados com o Deutsche Bank e não deixa dúvidas sobre sua ligação com os recursos encontrados em Jersey. As autoridades da ilha concluíram que o dinheiro foi desviado de obras construídas quando Maluf foi prefeito de São Paulo, de 1993 a 1996. O Deutsche Bank começou a fazer questionamentos sobre a origem dos recursos de Maluf em 1999, quando uma nova lei contra a lavagem de dinheiro em Jersey obrigou os bancos a se informar melhor sobre os seus clientes.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

A Venezuela, Dilma, Mujica, o “Porco Fedorento” e um fundamento moral dos esquerdistas: pode matar pessoas nas ruas, desde que sejam as pessoas certas…

A artista gráfica venezuelana Calavera teve um ideia simples, objetiva, clara e eficiente: confeccionou cartazes que lembram o que diziam ontem alguns líderes latino-americanos e o que dizem hoje; o que chamavam, no passado, de “ditadura” e o que chamam, no presente, de democracia. Ainda que haja alguma imperfeição na análise (já explico por quê), as peças são poderosas. Expõem, de maneira desconcertante, a duplicidade moral das esquerdas. As estrelas dos cartazes são os presidentes Dilma Rousseff (Brasil), José “Pepe” Mujica (Uruguai) e Cristina Kirchner (Argentina). Vejam as imagens. Volto em seguida.

Dilma e Mujica são ex-presos políticos. Na sua biografia oficial, consta que combateram a ditadura militar de seus respectivos países. É o passado que aparece em preto e branco, na metade à esquerda da montagem. Vemos ali forças de segurança reprimindo manifestações de rua. O tempo passou, os dois abandonaram a luta armada e se tornaram presidentes da República por intermédio do voto direto. E, ora vejam, são apoiadores incondicionais de uma ditadura, não exatamente militar, mas militaresca.

Que se note: mesmo os regimes militasres mais discricionários da América Latina não contaram com milícias civis armadas em larga escala, como as que atuam hoje na Venezuela. Havia, sim, grupos paramilitares assassinos — e isso é lixo político e moral, como sabe qualquer pessoa razoável. Mas tinham um alcance menor do que o esquema montado pelo chavismo na Venezuela. Em 21 anos, a ditadura militar brasileira fez, em números superestimados, 424 vítimas — incluindo os guerrilheiros do Araguaia. Por razões comprovadamente políticas, são 293 as vítimas. Houve tortura, assassinatos, desaparecimentos. Não se trata de dizer se é muito ou pouco. É só absurdo! Quem, já rendido, morreu nas mãos do estado foi vítima de um crime. Mas sigamos. Em pouco mais de um mês — os protestos na Venezuela começaram no dia 4 de fevereiro —, o próprio governo admite que já morreram 28 pessoas.

Não me surpreende: a esquerda sempre soube ser mais letal. Ora, como ignorar que os grupelhos extremistas no Brasil, meia dúzia de gatos pingados, mataram pelo menos 120 pessoas — nessa lista, não estão mortos em combate, não! Essas 120 pereceram em ataques terroristas. E aqui lembro a única imperfeição da arte de Calavera, embora isso não diminua a pertinência do seu trabalho: os que hoje protestam na Venezuela estão, de fato, pedindo democracia. Não era o caso de Dilma. Não era o caso de Mujica. Eles eram terroristas e pretendiam implementar em seus respectivos países uma ditadura comunista.

Assim, a luta do povo venezuelano, hoje, é muito mais moral do que eram a de Dilma e a de Mujica. Eles queriam ditaduras com sinal trocado. A população da Venezuela quer um regime democrático. No passado, era possível repudiar a “luta” da dupla também por bons motivos, Tratava-se do confronto de forças opostas em si, mas combinadas na malignidade. No caso venezuelano, no entanto, não: opor-se às reivindicações da população corresponde a renegar o regime de liberdades públicas. Ou por outra: Dilma e Mujica continuam a se alinhar com a ditadura.

A VEJA desta semana traz uma excelente reportagem sobre a Venezuela. Um dos textos, sobre Che Guevara, o “Porco Fedorento”, vai ao ponto. Ilustra de modo inequívoco, a farsa moral esquerdista. Observem como a linha de, vá lá, raciocínio de Che é a que orienta hoje a escolha de Dilma, Mujica, Cristina e outros “líderes” latino-americanos. Reproduzo o texto, publico um vídeo e volto para encerrar.
*
Imagine qual seria a reação se, em 1974, o general presidente do Brasil Emílio Garrastazu Médici ocupasse a tribuna diante da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, e afirmasse: “Temos que dizer aqui o que é uma verdade conhecida. Torturas, sim! Temos torturado: torturamos e vamos continuar torturando enquanto for necessário”.

Médici seria, justamente, execrado como um ditador. Em dezembro de 1964, porém, o argentino Ernesto Guevara, que, com o apelido de “Che”, ajudou Fidel Castro no triunfo do golpe comunista em Cuba, foi à ONU e confessou: “Nosotros tenemos que decir aquí lo que es una verdad conocida: fusilamientos, sí, hemos fusilado; fusilamos y seguiremos fusilando mientras sea necesario”.

Já se passavam seis anos da tomada do poder pelos comunistas em Cuba, e Guevara confessava que continuava em plena operação e sem data para arrefecer sua máquina de assassinatos políticos na prisão de La Cabaña. Seis anos de execuções sumárias de vítimas que chegavam ao paredão exauridas, pois delas se tirava até parte do sangue para transfusões.

Seis anos, e dissidentes continuavam a ser fuzilados. Guevara foi o único guerrilheiro a matar muito mais gente de mãos atadas e olhos vendados do que em combate — que, ao contrário da lenda, ele evitava ainda mais do que o banho. Qual foi a reação naquele instante em que permaneciam na audiência uma maioria de representantes de países “não-alinhados”, eufemismo para “pró-soviético”? Guevara foi aplaudido por 36 segundos.

No New York Times do dia seguinte, o redator, mesmerizado, fingiu que não ouviu a confissão de assassinato de Guevara, descrito como “versátil”, “economista autodidata” e “revolucionário completo”. A duplicidade ética não é uma exclusividade das esquerdas. Apenas elas são inexcedíveis nesse truque que, apesar de velho, ainda funciona. O ensurdecedor silêncio enquanto jovens mártires venezuelanos são torturados e mortos nas ruas é prova disso.

Para encerrar
Vejam esta foto.

Este que está pondo a venda nos olhos do rapaz que vai ser executado é Raúl Castro quando jovem. O tarado moral é hoje presidente de Cuba. Era um dos mais eloquentes na solenidade que marcava um ano da morte de Chávez, há alguns dias. Foi nesse evento que Nicolás Maduro convocou as milícias armadas a sair às ruas.

Com o apoio de Dilma.
Com o apoio de Mujica.
Com o apoio de Cristina, entre outros.

Não é que esses gênios morais sejam contra matar gente. Eles se opõem a que se matem apenas as pessoas erradas, entenderam?

Por Reinaldo Azevedo

 

O Mané Garrincha, de Brasília, estádio mais caro do país, tem indícios de superfaturamento de R$ 431 milhões

Por Felipe Coutinho, na Folha:
A reforma do estádio Mané Garrincha, a arena mais cara da Copa do Mundo, tem indícios de superfaturamento de R$ 431 milhões, segundo análise do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Segundo levantamento feito por técnicos do tribunal, o superfaturamento é resultado de uma série de irregularidades, como compra indevida de material, cálculo equivocado no custo de transporte, além de abono de multa pelo atraso na entrega da obra e atraso na solicitação de descontos na cobrança de impostos prevista em lei.

Os contratos analisados pela área técnica do tribunal dão pistas de como o custo do estádio dobrou desde o início da obra, passando de R$ 700 milhões, em 2010, para os atuais R$ 1,4 bilhão. Um dos exemplos para entender o gasto excessivo “sem mais esforços”, segundo os técnicos, é o cálculo de transporte de materiais pré-moldados no canteiro de obras. A fábrica dessas peças fica a 1,5 km do estádio, na capital federal, mas o custo de transporte foi calculado como se tivessem sido transportados de Goiânia a Brasília, uma distância de 240 km.

O custo de transporte cobrado do governo do DF foi de R$ 592 por metro cúbico desses materiais, quando para os auditores deveria ser de apenas R$ 3,70. Somente neste caso, o prejuízo estimado foi de R$ 879 mil. ”Sem mais esforços, percebe-se que os custos foram superestimados, pois o transporte de pré-moldados ocorre dentro do próprio canteiro de obras. A utilização de custo de transporte Brasília-Goiânia’ é totalmente inadequada para o serviço, não merecendo comentários adicionais para a reprovação do método”, diz o relatório. O superfaturamento de R$ 431 milhões em discussão pelo tribunal é o somatório das irregularidades apuradas em cinco processos. Os valores apontados na auditoria ainda podem aumentar porque o cálculo foi feito com base em análise de julho de 2013.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Despesa para conter luz e combustível já é igual a gastos sociais

Por Raquel Landim, na Folha:
Os gastos para evitar reajustes na conta de luz, na gasolina e no diesel às vésperas das eleições presidenciais podem chegar a R$ 63 bilhões neste ano, conforme cálculo feito pelo CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) a pedido da Folha. O valor disparou em proporção do PIB (Produto Interno Bruto) no governo da presidente Dilma Rousseff, saindo de 0,29% em 2011 para 1,19% neste ano.

Para especialistas, os subsídios drenam o caixa da Petrobras, derrubando os investimentos e o preço das ações da estatal, prejudicam o setor de etanol com a concorrência desleal entre álcool e gasolina e estimulam o consumo de eletricidade em época de risco de racionamento. A Petrobras não comenta. O Ministério de Minas e Energia sustenta que o socorro ao setor elétrico é um empréstimo, já que o Tesouro será ressarcido nos próximos cinco anos.

Os desembolsos desses subsídios serão feitos, direta ou indiretamente, pela Petrobras (R$ 42 bilhões), que banca a diferença entre os preços dos combustíveis praticados no exterior e no Brasil, pelo Tesouro (R$ 13 bilhões), que vai cobrir parte do rombo das distribuidoras de energia, e pelos bancos (R$ 8 bilhões) que financiarem a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

A câmara, que pertence às empresas e atua na regulação do mercado, vai captar recursos para ajudar as distribuidoras, com o compromisso de que as tarifas de luz serão reajustadas a partir de 2015 para pagar os empréstimos. “O rombo no setor de energia seria suficiente para dobrar os investimentos públicos, uma das grandes frustrações do país”, diz Mansueto de Almeida, especialista em finanças públicas. No ano passado, o governo investiu R$ 63,2 bilhões, incluindo o Minha Casa, Minha Vida.

Os gastos para evitar o encarecimento da energia são quase iguais aos da assistência social, incluindo o Bolsa Família (R$ 62,5 bilhões), e superam os desembolsos com seguro desemprego e abono salarial (R$ 46,4 bilhões).
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma camiseta em defesa do “encino”!!!

Por Bianca Bibiano, na VEJA.com:
Na última sexta-feira, Taynara Santos, moradora de Brazlândia, publicou em seu Facebook uma foto da camiseta de uniforme recebida por seu irmão, que estuda no Centro de Ensino Médio 01, mantido pelo governo do Distrito Federal. Na camiseta, a palavra “ensino” aparece grafada como “c” — “encino”: a imagem virou motivo de piada na rede social, com quase 10.000 compartilhamentos. “Olha só o nível da camiseta distribuída pelo GDF às escolas públicas. Estão ‘ENCINANDO’ direitinho”, brincou.

Procurada pelo site de VEJA, a Secretaria de Educação do Distrito Federal admitiu que as camisetas foram distribuídas aos estudantes em suas escolas. Ainda assim, o órgão tentou se eximir de responsabilidade, afirmando que os uniformes são produzidos pela Fábrica Social, centro de capacitação profissional vinculado ao governo.

Em sua página do Facebook, porém, a Fábrica Social afirma, por meio de nota, que as 2.800 camisetas produzidas por ela e entregues ao Centro de Ensino Médio 01 não contêm erros ortográficos. A rede escolar do Distrito Federal atende cerca de 445.000 estudantes, segundo o Censo Escolar de 2013.

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça suspende licitação bilionária de ônibus do DF, talvez a mais cheia de vícios e ilegalidades da história. Agnelo Queiroz atingiu o estado da arte!

Agnelo Queiroz: talvez a licitação mais absurda história republicana

Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
A Justiça Federal acatou pedido do Ministério Público e suspendeu, em decisão liminar, uma licitação bilionária conduzida pelo governo do petista Agnelo Queiroz para substituir as empresas de ônibus que controlam todo o transporte do Distrito Federal (DF). O juiz Antônio Cláudio Macedo da Silva, titular da 8ª Vara, suspendeu os repasses de recursos do BNDES e do Finame – Agência Especial de Financiamento Industrial – a contratos que beneficiaram a Viação Piracicabana e a Viação Marechal. As ações serviam para favorecer o fundador da companhia aérea Gol e dono de grupo de transportes coletivos, Nenê Constantino. A sentença foi proferida na última sexta-feira. Ao todo, foram licitadas cinco bacias, com a previsão de troca de toda a frota de ônibus. O negócio renderia aos empresários do setor quase 10 bilhões de reais em dez anos.

A suspensão foi baseada na participação do escritório dos advogados Guilherme Gonçalves e Sacha Reck no processo, responsáveis por elaborar os julgamentos de habilitação e classificação em nome da Comissão de Licitação ao mesmo tempo em que advogavam para empresas participantes – e vitoriosas – do edital. A Justiça Federal acatou denúncia que afirmava que a atividade de consultoria do escritório na licitação “ultrapassou a função de mera consultoria, atuando como efetivos julgadores dos atos relacionados ao processo licitatório” e concluiu que o advogado Sacha Reck participou na elaboração da ata de apresentação dos envelopes.

Além disso, a empresa que iniciou os trabalhos de elaboração do edital, a Logitrans, tem entre seus diretores o pai do advogado Sacha Reck, Garrone Reck. A atuação dos dois já era conhecida: por ato idêntico ao praticado no DF, os dois tiveram os bens bloqueados a pedido do Tribunal de Justiça do Paraná e estão sendo investigados no Estado por improbidade administrativa e fraudes em licitação.

Além do direcionamento do edital, ficou constatado o superfaturamento das tarifas em razão da ausência de competitividade. O parecer aponta ainda que documentos essenciais para o processo licitatório foram sonegados dos órgãos fiscalizadores. Na contestação, o governo do Distrito Federal alegou que as propostas vencedoras eram vantajosas e considerou irrelevantes as ações contra Sacha e Garrone Reck.

Na decisão, o juiz Antônio Cláudio da Silva fez duras críticas à condução da licitação. “Com efeito, são inúmeras irregularidades que comparecem no processo licitatório. E a primeira pergunta que se impõe é: qual tipo de administração pública queremos? Transparente ou patrimonialista?”, disse em seu parecer. “No Brasil que já promoveu o impeachment de um presidente da República sem abalar as instituições políticas do Estado Democrático de Direito na carta de 1988; que já trocou de padrão monetário diversas vezes, mas alcançou a dignidade da cidadania monetária, venho repetindo o absurdo de um processo licitatório que não pode ocorrer no coração da República”, continuou.

O conflito de interesses está demonstrado e só vem a confirmar a fragilidade dessa licitação. O pior de tudo é que a promessa de melhoria de transporte não acontece. O edital beneficia os empresários, mas não a população”, afirmou a deputada distrital Celina Leão (PDT-DF), autora da ação civil pública contra o processo licitatório.

Por Reinaldo Azevedo

 

CADEIA DE GENTE DIFERENCIADA – Dirceu, na Papuda, tem até podólogo à disposição

DENTRO DA PAPUDA – Condenado a sete anos e onze meses de prisão por crime de corrupção, o ex-ministro José Dirceu passa a maior parte do tempo na biblioteca do presídio

José Dirceu está na cadeia. Mas não tem muito do que reclamar. Reportagem publicada na revista VEJA desta semana, com fotos exclusivas que retratam a rotina do presidiário mais ilustre da Papuda, informa que o ex-ministro tem direito a alimentação especial, horários diferenciado de visitas e, vejam só!, podólogo!. Leiam trecho da reportagem de Rodrigo Rangel.
*
Ninguém em sã consciência pode imaginar que um criminoso condenado, privado temporariamente da liberdade, cumprindo pena em uma cadeia povoada por milhares de outros tipos de bandidos, leve uma boa vida. No máximo, a vida pode ser um pouco menos amarga. O homem que aparece acima foi um dos mais influentes parlamentares do Congresso, o ministro mais poderoso do governo Lula e um dia alimentou o sonho de substituir o chefe no Palácio do Planalto. Na foto, José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-pre­sidente do PT, ex-chefe da Casa Civil e condenado por liderar um dos maiores esquemas de corrupção da história política do Brasil, é apenas o preso número 95?413 em uma cena que agora faz parte da rotina dele e de outros mensaleiros.

Num país em que a impunidade de gente poderosa sempre foi uma tradição, a imagem tem um magnífico valor simbólico. Reforça que é possível colocar e manter corruptos influentes na cadeia. Reforça que os ladrões de dinheiro público não estão acima da lei. Reforça que as instituições democráticas funcionam apesar da pressão e da tentativa recorrente de sabotá-las. A imagem, porém, também serve para advertir que, apesar de tudo isso, a vigilância tem de ser permanente.

É a primeira vez que o ex-ministro é mostrado dentro da penitenciária, num ambiente que foi cuidadosamente preparado para recebê-lo. Para fugir da rotina lúgubre do cárcere, José Dirceu, visivelmente mais magro, com os cabelos aparados e usando roupa branca, como determina o regulamento do presídio, passa a maior parte do dia no interior de uma biblioteca onde poucos detentos têm autorização para entrar. Lá, ele gasta o tempo em animadas conversas, especialmente com seus companheiros do mensalão, e lê em ritmo frenético para transformar os livros em redações, o que lhe pode garantir dias a menos na cadeia.

O ex-ministro só interrompe as sessões de leitura para receber visitas, muitas delas fora do horário regulamentar e sem registro oficial algum, e para fazer suas refeições, especialmente preparadas para ele e os comparsas. Os 10?326 presos da Papuda recebem marmitas produzidas em escala industrial por uma empresa prestadora de serviços. Já os mensaleiros têm direito a um cardápio próprio. O Brasil, como se sabe, também é a terra dos privilégios.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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