A entrevista de hoje à noite com a candidata que fala dilmês dirá se o Jornal Nacional merece respeito

Publicado em 13/08/2014 06:26 e atualizado em 13/08/2014 14:04
nos blogs de Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, de veja.com.br (+ José Neumanne Pinto, Dora Kramer e editorial do Estadão, e Merval Pereira de O Globo)

A entrevista com a candidata que fala dilmês dirá se o Jornal Nacional merece respeito

O desempenho de William Bonner e Patrícia Poeta na entrevista com Aécio Neves não registrou nenhum pecado mortal. Abstraídas a exumação de cadáveres já devidamente autopsiados e a insistência em revisitar denúncias sem fundamento, ambos agiram como devem agir os jornalistas. Escolheram temas que interessavarelevantes para os espectadores, dando preferência aos que poderiam incomodar o entrevistado, e exigiram respostas claras. Incisivos o tempo todo, não ultrapassaram a fronteira da civilidade nem incorreram em grosserias. Ao contrário do que se verá nos debates eleitorais transmitidos pela TV, não fizeram acusações. Fizeram perguntas.

Amparado em argumentos consistentes e contra-ataques oportunos, o senador do PSDB, Neves sobreviveu sem ferimentos à sabatina cuja taxa de risco se tornou extraordinariamente superior à dos debates entre candidatos. O tiroteio verbal transforma minutos em horas. Uma frase infeliz, uma resposta desastrada, uma gafe bisonha demais ─ quaisquer palavras, gestos ou mensagens fisionômicas que produzam manchetes negativas nos jornais do dia seguinte decretam a derrota de consequências desastrosas. As edições desta terça-feira atestam que, na pior das hipóteses, o Aécio empatou. Não é pouca coisa: nesse caso, empate é vitória.

Em vez de lastimar a postura da dupla de jornalistas, a oposição deve exigir que a performance seja reprisada com Dilma Rousseff no papel de entrevistada. Aécio, por exemplo, teve de voltar ao caso do aeroporto de R$ 13 milhões devassado pela imprensa sem que aparecesse uma única e escassa irregularidade. A presidente em campanha tem de ser localizar no mapa do Brasil pelo menos um dos 800 aeroportos que prometeu concluir até o fim do mandato. Também é hora de esclarecer por que o único porto inaugurado em seu mandato foi construído em Cuba, já engoliu quase 1 bilhão de dólares e virou segredo de Estado.

O candidato tucano foi interrogado sobre o “mensalão mineiro”, com o qual nada tem a ver. Dilma precisa justificar a nomeação de dois ministros que absolveram mensaleiros condenados pelos juristas que substituíram. Se não faltaram temas  para fustigar Aécio, durante 15 minutos, nem a anexação ao JN será suficiente para a exposição de todos os casos de polícia, vigarices bilionárias e histórias muito mal contadas que tiveram a chefe de governo como protagonista ou coadjuvante.

Ao topar com entrevistadores sem medo, Dilma perde o rumo, o norte e o que resta de juízo. Acuada por verdades, recorre a álibis mambembes, cifras falsificadas, desculpas esfarrapadas e mentiras de pernas curtíssimas para que prolongar a farsa encenada há 12 anos. Contestado ou corrigido, o neurônio solitário entra em pane e sucumbe a outro chilique. Foi o que aconteceu nesta segunda-feira, durante uma entrevista à RBS no Palácio da Alvorada. Leia a reportagem de Gabriel Castro no site de VEJA. E ouça o áudio que reafirma o espantoso despreparo da governante à caça de um segundo mandato.

“O senhor não respondeu à minha pergunta”, replicou William Bonner já no começo do interrogatório de segunda-feira. Se  for tratada como os adversários, Dilma ouvirá a cada resposta a mesma cobrança. Além do acervo de mentiras, a candidata vai ampliar o oceano de palavrórios sem pé nem cabeça. Assim que ecoar a primeira maluquice em dilmês, Bonner está obrigado a usar a bela voz para formular a réplica que Dilma merece ouvir desde o comício de estreia: “Não entendi a resposta. A senhora pode explicar direito o que está querendo dizer?”

 

Lula não se conforma: A imprensa que vende não se vende e a que se vende não vende. Ou: As bobagens do dia do Babalorixá de Banânia ao lado da governanta

Mais uma obra de Franklin Martins está no ar: o site “O Brasil da Mudança”, que pertence ao Instituto Lula. Vai fazer, como já está claro, proselitismo eleitoral. Até porque Franklin é o homem escalado para cuidar da comunicação da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. A página foi lançada pelo próprio Lula, em companhia da presidente, nesta terça. Com aquela sua ligeireza de sempre, afirmou o chefão petista que a iniciativa era um “exemplo de competição com setores da imprensa que, quando comunicam, comunicam da forma inversa ao que é a verdade”.

Trata-se de uma vigarice escandalosa, que o Franklin Martins dos tempos da TV Globo não endossaria. Ele só recuperou o seu ódio à imprensa livre, herdado dos tempos do MR-8, depois que foi demitido. Isso é apenas um fato. Lula disse ainda: “Hoje eu fico pensando que eles — referia-se aos veículos de comunicação — me tratavam bem se comparado ao tratamento que eles dão à nossa presidente”.

É bem possível que sim. Vai ver isso acontecia porque, como é sabido, o governo Lula exibia números melhores do que o governo Dilma. Aliás, a verdade é bem outra: parte da imprensa deixou de cumprir a sua função durante a gestão do ex-presidente. Criticou muito pouco as suas escolhas. Algumas dificuldades presentes são heranças de escolhas feitas por Lula. Certos desastres cometidos pela Petrobras, por exemplo, são de inteira responsabilidade do antecessor de Dilma.

Lula chegou a citar um texto do site que acusa, o que é uma mentira descarada, o Jornal Nacional de ser usado como “instrumento de oposição ao governo”. Não adianta… Franklin não vai se recuperar nunca do trauma. A afirmação se sustenta num suposto estudo feito por um instituto de pesquisa da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o “Manchetômetro”. Segundo essa bobagem, Dilma teve uma hora e 22 minutos de noticiário desfavorável no “Jornal Nacional” e cerca de três minutos de noticiário favorável durante todo o ano de 2014.

É trabalho de canalhas intelectuais infiltrados na universidade, disfarçados de pesquisadores isentos. Se fizerem a medição sobre o noticiário a respeito do governador Geraldo Alckmin, por exemplo, é possível que aconteça o mesmo. Imaginem se o objeto de estudo, então, for Sério Cabral. Nos dois casos, a proporção deve ser até pior. Só haverá um tempo menor de notícia, positiva e negativa, porque os dois têm importância em pedaços do país. Dilma governa o Brasil inteiro.

A governanta ainda pode ser a favorita, mas está em desespero. Daí o factoide do dia. Com o estilo bravateiro de sempre, afirmou o ex-presidente: “Desafio se alguém lembra de uma obra de infraestrutura do governo FHC. Qual era a obra de infraestrutura antes de a gente chegar no governo? A gente tem dificuldade de lembrar”.

É conversa de palanqueiro vulgar. Imaginem como estaria a telefonia brasileira se tivesse triunfado a tese do PT, contra a privatização. De toda sorte, a grande obra de infraestrutura de FHC foi o Plano Real, que Lula sabotou e em cujas águas navegou depois. Outra importante foi o Proer, que também foi fundamental quando estourou a crise das hipotecas nos EUA. Lula até se ofereceu para ensinar a Obama como se fazia… o Proer.

Há dezenas de entrevistas de Lula, basta procurar, em que ele afirma que ele é, em parte, uma criação da imprensa. Antes de chegar ao poder, quando era oposição, os petistas chamavam jornalistas de “companheiros” — e muitos deles eram e são, de fato, “companheiros”. Alguns, notórios críticos do PT no passado, se converteram à causa à custa de muito anúncio da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, da Petrobras e da administração direta. Os que não são fiéis à causa ou não se venderam passaram a ser considerados “inimigos”. E o partido, como sabem, faz listas negras e pede suas respectivas cabeças — sonham transformar a imprensa num imenso Santander.

Com todo o respeito, isso é conversa de vigaristas intelectuais. O diabo é que tem gente que se deixa patrulhar, sim, e sente aquela comichão incontrolável de dar um “pau nos tucanos” sempre que há uma notícia negativa sobre os petistas para demonstrar que é isento — mereçam os tucanos o pau ou não. Passa a vigorar uma perversa lei de compensação, e seu fundamento passa a ser o seguinte: “Se nem petistas prestam, então ninguém presta”.

Não caio nessa, como sabem. Não deixo o PT ser meu juiz. Até porque, como sabem, no que me diz respeito, eles já fizeram o julgamento sumário e já me condenaram. Que se danem! O novo site de Lula mente quando afirma que a imprensa é antipetista. Querem uma dica? Peguem a totalidade dos colunistas da grande imprensa brasileira, e sou um deles, e vejam quantos rezam segundo o catecismo do PT — ou, mais amplamente, da esquerda — e quantos podem ser considerados liberais, conservadores ou, se quiserem, da direita democrática.

Lula deveria ter a honestidade de declarar que, na sua opinião, crítica boa é crítica nenhuma e que, para ele, exemplo de imprensa independente é aquela que o governo petista pode comprar.

A única coisa chata para essa gente é que a imprensa que se vende não vende e a que vende não se vende.

“Só vou falar sobre o que posso provar. E posso provar muita coisa”, diz ex-contadora de Youssef

Por Robson Bonin, na VEJA.com:
O Congresso Nacional deverá ter uma quarta-feira agitada. A contadora Meire Bonfim Poza, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef, cabeça de um grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro desviado de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos – e corromper outros – será ouvida, às 10 horas, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. ‘Só vou falar sobre o que posso provar. E posso provar muita coisa’, afirmou Meire Poza ao site de VEJA nesta terça.

Em entrevista a VEJA desta semana, Meire Poza revelou que parlamentares do PT, PMDB e PP participavam das tramas criminosas. Na sessão de amanhã do colegiado, comparecerá como testemunha do processo de cassação do mandato do deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), convocada pelo relator do caso, Marcos Rogério (PDT-RO). No depoimento à Polícia Federal, ela forneceu cópias de documentos e identificou contratos públicos simulados envolvendo grandes empreiteiras. No caso de Argôlo, afirmou que o deputado era sócio de Alberto Youssef.

Meire Poza é considerada uma testemunha-chave da Operação Lava-Jato. Além de Argôlo, ela apontou nomes de outros parlamentares que mantinham negócios clandestinos com Youssef, como os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), André Vargas (ex-PT-PR) e o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL).

Se relatar tudo o que viu, ouviu e fez, Meire Poza dará uma grande contribuição nesta quarta-feira para a identificação de políticos corruptos.

‘Desfigurando a verdade’, editorial do Estadão

Publicado no Estadão desta terça-feira

Contra fatos não há argumentos, mas em desespero de causa sempre se pode tentar desqualificá-los, na expectativa de que outro dito se confirme – o que diz que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando verdade. O primeiro fato, no caso, foi a revelação sustentada em evidências irrefutáveis de que, não bastasse a presidente da Petrobrás, Graça Foster, o seu antecessor José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró conhecerem de antemão as perguntas que lhes seriam feitas na CPI no Senado que focaliza notadamente o escândalo da compra de Pasadena, elas foram escolhidas a dedo para produzir respostas convenientes – também elas, aliás, combinadas com os depoentes.

O segundo fato inconteste foi a identificação do coordenador da armação que mobilizou dirigentes da estatal, assessores parlamentares petistas e a liderança do Planalto no Congresso, cujo titular, o senador José Pimentel, do PT, é nada menos do que o relator da CPI. (Dez de seus 13 membros, por sinal, integram a base governista na Casa.) O principal operador da farsa – veio a se saber, como tudo o mais, pela imprensa – chama-se Luiz Azevedo e exerce a função de secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Ricardo Berzoini, calejado quadro petista. As primeiras pistas não chegavam tão longe, fixando-se no assessor especial da Secretaria, Paulo Argenta. Ele havia sido citado numa comprometedora conversa cuja gravação um dos presentes passou adiante.

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‘Em casa de enforcado’, de Dora Kramer

Publicado no Estadão desta terça-feira

O que é um factoide? Um pseudofato criado para chamar atenção para alguma coisa ou alguém ou para amenizar o efeito de outros atos.

Nessa definição se enquadra a entrevista convocada pela presidente Dilma Rousseff, neste domingo, em que qualificou como “factoides políticos” as denúncias envolvendo negócios, diretores e ex-dirigentes da Petrobrás.

O pseudofato foi a entrevista da presidente, que nada tinha de importante a dizer. Emitiu juízo de valor sobre o que o Tribunal de Contas da União pode ou não pode fazer. Segundo Dilma, “não pode” submeter uma pessoa “íntegra, correta” como a presidente da Petrobrás, Graça Foster, “a esse tipo de julgamento”.

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‘Aloprados fazem o diabo’, de Merval Pereira

Publicado no Globo

O hábito de enviar mensagens por meio de robôs com ataques a jornalistas independentes, e invadir sites ou usar os que são abertos, como o Wikipedia, para denegrir a imagem dos que consideram seus inimigos políticos, é um expediente comum dos militantes petistas aloprados.

Em 29 de outubro de 2011 esses marginais entraram na minha página na Wikipedia para incluir uma suposta notícia de que eu havia sido identificado pelo Wikileaks como “informante” do governo dos Estados Unidos, juntamente com outros jornalistas. Na verdade, o Wikileaks havia divulgado uma série de telegramas do embaixador dos Estados Unidos, entre os quais relatos de encontros que mantivera comigo e com outros jornalistas, onde conversamos sobre diversos assuntos, inclusive as eleições presidenciais de 2010. Nada do que disse naquele encontro diferia do que escrevi nas minhas colunas naquela ocasião, nenhum segredo havia para ser informado.

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A rede mundial dos computadores é a ágora eletrônica do boato não confirmado e iniciativas tidas como exaltação à liberdade de expressão, caso da enciclopédia virtual Wikipédia, o paraíso achado de biógrafos não autorizados. Em seus verbetes, poder, prestígio, fama e glória viram cinzas nas mãos de qualquer caluniador com um ratinho ao seu alcance.

Em 2012, a revista CartaCapital fez reportagem de capa acusando o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes de “sonegação fiscal, de ter viajado em aviões cedidos pelo ex-senador Demóstenes Torres, de intervir em julgamentos em favor de José Serra, de nepotismo e testemunho falso ao relatar uma chantagem do ex-presidente Lula para que adiasse o processo do mensalão para depois das eleições municipais de 2012”. Segundo a “enciclopédia livre” relata em seu verbete até hoje, “a revista repercute acusações de certos movimentos sociais (quais?) de ele ser o ‘líder da oposição’, de estar destruindo o judiciário e de servir a interesses de grandes proprietários”. E faz uma concessão: “Mendes porém (sic)  volta a afirmar não ser o líder da oposição”. Dois anos depois, sem que nada tenha sido provado, Mendes atua no STF, mas o registro permanece.

A liberdade de que a enciclopédia virtual se jacta em seu lema e slogan dá ensejo à disseminação da maldade e serve de pretexto à impunidade de quem, por qualquer motivo, seja ódio pessoal, seja interesse político, resolver atirar na lama a reputação de qualquer desafeto. O fato de a imagem de um poderosíssimo dirigente do poder judicante da República se tornar impotente diante da aceitação generalizada de que prevalece o direito da liberdade de divulgar também mentiras é prova irrefutável de que na prática nada há a fazer para evitar que o veneno da maldade comprometa a fama de qualquer um. No reino da futrica cibernética, ninguém tem como defender a própria intimidade.

Na semana passada, contudo, surgiu um fato novo que pode esclarecer a origem de certas calúnias e levar à descoberta de caluniadores que devem, enfim, ser levados às barras dos tribunais e julgados por ofensas criminosas graves contra a honra alheia. Na sexta-feira 8 de agosto, o jornal O Globo, do Rio, noticiou que Miriam Leitão, sua colunista de economia, e Carlos Alberto Sardenberg, comentarista da rede de emissoras de televisão da empresa, tiveram seus perfis na Wikipédia alterados por mensagem transmitida pelo IP 200.181.15.10, da Presidência da República. Miriam teve análises desqualificadas como “desastrosas” e foi acusada de defender em sua coluna os interesses do milionário baiano Daniel Dantas, do grupo Opportunity. No mesmo IP do computador instalado no Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff despacha, Sardenberg foi “incriminado” por ser irmão do economista Rubens Sardenberg, funcionário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o que contraria o solerte autor das emendas aos perfis da Wikipédia. “A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico”, escreveu. “Uma canalhice”, disse-o bem o ofendido.

Ao tomar conhecimento da lambança, a presidente Dilma Rousseff considerou “inadmissível” a intervenção do usuário do computador na sede do poder republicano e informou que abriu sindicância para descobrir e punir o autor da “baixaria” (apud novamente Sardenberg). “Esse tipo de ação é abominável. Faremos de tudo para punir duramente”, ecoou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A Nação espera que a aparente indignação de dois dos mais poderosos usuários dos computadores instalados no Planalto resulte na identificação e exemplar punição do “aloprado” revisor de perfis de jornalistas independentes que desagradam a companheiros de partido de ambos.

O episódio não se circunscreve ao disparo a esmo de injúrias contra inimigos, abusando da “vulgaridade prazerosa” a que se refere o especialista Luiz Flávio Gomes ao debater o dilema da intimidade invadida e da “extimidade” procurada na internet e nas redes sociais. O intruso que feriu a honra dos dois jornalistas não pode sequer alegar o surrado pretexto de estar exercendo o seu direito de se expressar na “enciclopédia livre”. Nada disso: possivelmente se aproveitando do acesso ao computador a ser usado por funcionários públicos na sede do poder republicano, ele se arvora em censor da opinião de dois profissionais respeitados pelo público que lê a coluna ou vê o comentário. Cabe ao leitor e ao telespectador dar ou não crédito às opiniões que ambos enunciam. E cabe ao governo federal tratar o caso como crime.

Mas não basta limpar a sujeira debaixo do tapete e seguir pisando nele como se fosse um caso isolado. Não é. A disputa eleitoral é o cenário ideal para a disseminação desse delito. A covardia da solidão diante da máquina não pode usufruir a garantia da impunidade, não só porque o direito da liberdade de interferir assim na biografia de alguém termina onde começa o direito de este atuar livremente. Mas também porque isso configura canalha violação do direito de opinião.

Jornalista, poeta e escritor (Publicado na Pag.A2 do Estado de S. Paulo de quarta-feira 13 de agosto de 2014)

Guerra da Água: nos corredores do governo Dilma, fala-se até em intervenção federal em SP! Uau! Com o voto, eles não tomam o Estado; quem sabem com tanques…

O governo Federal decidiu deflagrar a “Guerra da água contra São Paulo”. Com a ajuda de setores da imprensa, está promovendo uma lambança dos diabos, fazendo baixa exploração política da crise hídrica e mobilizando órgãos federais para fazer política eleitoral. Vamos lá. A crise hídrica que afeta o Estado — pela qual, segundo a presidente Dilma, Alexandre Padilha e Paulo Skaf, o culpado é o governador Geraldo Alckmin — também afeta a produção de energia elétrica. E, nesse caso, todos esses valentes dizem que o culpado é Deus.

Há uma verdadeira torcida, muito mal disfarçada, pelo colapso de abastecimento de água em São Paulo. A ideia é ver se saem votos contra Alckmin das torneiras secas. Mas, até agora, o colapso não veio. E isso está deixando muita gente nervosa. Mas há, sim, o risco de uma outra crise: a de energia elétrica. Dilma está começando a vislumbrar o fantasma do apagão. Entendam: as chuvas que faltam para encher os reservatórios de São Paulo também faltam para as hidrelétricas. E como fica a promessa da governanta? Pois é…

Agora vamos aos fatos… político-hídricos. A água liberada pela usina do Rio Jaguari para o rio Paraíba do Sul sempre foi de 10m³/s. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) mandou elevar esse volume primeiro para 42m³/s. Depois, baixou para 30m³/s. Seguindo ordens do governo do Estado, a CESP não obedeceu a determinação. E por que não? Há o risco de desabastecer cidades de São Paulo que dependem dessa água.

Mas por que é preciso elevar a vazão? Porque Dilma quer gerar energia elétrica com ela; quer mais água para a Light — sim, leitores, é o medo do apagão; aquele que ela sempre tratou como se fosse coisa de lunáticos ou de sabotadores. Vale dizer: a presidente não quer rolo para o seu lado e resolveu jogar a batata quente no colo alheio. Ocorre que, para crise de abastecimento de energia, existem as termelétricas; para a de abastecimento de água, não.

É incrível a máquina mobilizada para demonizar o Estado de São Paulo. Ela começa ignorando a lei e termina na franca utilização do aparelho de Estado em favor da baixa política. Existe a Lei 9.433, de 1997, que é claríssima, a saber:
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público;
II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

Fim de papo. Mas estamos na era dos leitores criativos de leis. Na Folha, o professor da Unicamp Antonio Carlos Zuffo afirma o seguinte. “Isso depende de cada município decretar estado de emergência. Enquanto eles não fazem isso, a situação é tida como normal”. Segundo o raciocínio, parece, não caberia, então, aplicar a lei. Ora, o texto legal está aqui. Procurem aí onde está escrito que a lei só se aplica mediante uma “decretação oficial de escassez” — seja lá o que isso signifique. Tenham paciência! De resto, que os municípios que hoje dependem da água do Jaguari decretem, então, a emergência, ora bolas!

Nos corredores do governo Dilma, fala-se até em uma intervenção do governo federal, já que os rios são propriedades da União. Uau! Convenham: há gente doidinha para botar a mão em São Paulo, não é mesmo? Como é difícil fazê-lo pelo voto, com a concordância do eleitor, quem sabe com tropas… Os petistas, afinal, gostam de mimetizar Getúlio Vargas…

Sim, é preciso parar com a exploração e com a vigarice política em torno dessa questão. Dilma não quer apagão, e Alckmin não quer desabastecimento de água. Como ele não está explorando o risco de parte do país ficar às escuras, ela deveria recomendar a seus companheiros que parem de fazer proselitismo sobre a crise hídrica. Afinal, não fica bem à presidente da República tentar punir São Paulo porque ela está com medo dos efeitos eleitorais de uma possível falta de energia elétrica.

Sem dúvida, os rios são federais. Mas os paulistas pertencem a um dos entes federados, governanta!

Por Reinaldo Azevedo

O detestado Agnelo, do DF, jura estar vendo uma luz no fim do túnel. Quem sabe seja a candidatura de Rollemberg vindo em sentido contrário…

Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal (PT) e candidato à reeleição, pode achar que está vendo uma luz no fim do túnel. Talvez seja a candidatura do hoje senador Rodrigo Rollemberg, do PSB… Explico. O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal impugnou, por 5 votos a 2, o nome de José Roberto Arruda, do PR. Segundo a mais recente pesquisa Ibope, o ex-governador e ex-presidiário tem 32% das intenções de voto; o atual governador vem em segundo, com 17%, seguido por Rollemberg, com 15%.

A candidatura de Arruda foi impugnada com, base na Lei da Ficha Limpa. Ele foi condenado no dia 9 de julho, em segundo instância, por improbidade administrativa, o que implica perda dos direitos políticos por oito anos. Terá ainda de ressarcir R$ 300 mil aos cofres públicos. Seus advogados vão recorrer ao TSE alegando que o prazo para avaliar a inelegibilidade esgotou-se no dia 5 de julho, limite para o registro das candidaturas. Como, até ali, não havia essa condenação em segunda instância, seu nome não poderia ser impugnado por algo que aconteceu depois.

Não entro no mérito de quem é Arruda e do que ele fez — já escrevi aqui que, por meu gosto, ele estaria na Papuda, mas acho que o argumento faz sentido. É preciso haver um marco temporal. Mas a decisão caberá aos sete ministros do TSE. Até lá, ele pode continuar a fazer campanha.

Também já escrevi aqui que Agnelo Queiroz faz um governo de tal sorte mal avaliado que até um ex-presidiário é considerado favorito. Se Arruda ficar mesmo fora da disputa, crescem enormemente as chances de Rollemberg se eleger governador. Nem tanto pelos votos que ele têm, mas sobretudo pelos votos que Agnelo não têm. Segundo a pesquisa Ibope, registrada no TSE sob o número 267/2014, divulgada no dia 30 de julho, nada menos de 48% dizem que não votariam no petista de jeito nenhum. A rejeição a Arruda é de 32%, e a Rollemberg, de apenas 7%. Vale dizer: qualquer adversário tem uma chance enorme de se eleger se disputar o segundo turno com Agnelo.

O PT está mal no Distrito Federal. Seu candidato ao Senado. Gerado Magela, está com 16% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Gim Argello, do PTB, com 13%. Em primeiro, com 31%, está Reguffe, do PDT.

Para registro: o TRE-DF também impugnou a candidatura de Jaqueline Roriz (PMN), filha de Joaquim Roriz, à Câmara Federal. Ela foi igualomente condenada por improbidade administrativa.

Por Reinaldo Azevedo

 

 

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Fonte: Blogs de veja.com.br

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