Uma tese une o programa do PSDB na TV: o fim do mandato de Dilma...

Publicado em 29/09/2015 05:06
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

Uma tese une o programa do PSDB na TV: o fim do mandato de Dilma

O PSDB levou ao ar na noite desta segunda um programa político impecável por tudo o que disse e também por aquilo que não disse, mas que está devidamente evidenciado. Segue o vídeo para quem não assistiu. Volto em seguida.

O PSDB não tocou na palavra “impeachment”, mas os quatro líderes da legenda que se pronunciaram deixaram claro que o tempo de Dilma se esgotou. Falaram na sequência: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o senador José Serra (SP); o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves (MG), presidente da legenda.

Depois de eleitores de Dilma, traídos por ela, tirarem uma máscara com a imagem da petista, entra Alckmin (a 1min21s): “O governo do PT escolheu o pior caminho para enfrentar a pior crise de sua história: aumentou os impostos e os juros, piorando ainda mais o drama do desemprego (…). O Brasil não pode ficar parado por mais três anos”.

A 1min55s, fala Serra: “Eu nunca vi o Brasil numa situação tão difícil como esta. Infelizmente. Nós avisamos: ‘Está entrando água no barco’. (…) Mas o PT só pensou em ganhar a reeleição. (…) Está na hora de o PT pagar pelos seus próprios erros”.

Aos 3min02s, é a vez de FHC: “A gestão da Dilma está derretendo. Ela está pagando pela herança maldita que o Lula deixou. E se Dilma abandona o PT? Aí o risco de ela cair aumenta ainda mais. Está na hora de a presidente ter a grandeza e pensar no que é melhor para o Brasil, não para o PT”.

Aos 4min29s, chega Aécio: “É dentro das regras democráticas que nós queremos e vamos lutar. Vocês se lembram: nós já tiramos o Brasil da crise uma vez com o Plano Real. Nós mostramos que sabemos o caminho para recuperar a confiança e a credibilidade perdidas”.

Cada intervenção, a seu modo, trata do cenário pós-Dilma. E agora, não depois. É o que significa a fala de Alckmin ao afirmar que o Brasil não pode esperar mais três anos. É o que quer dizer Serra quando defende que o PT tem de pagar por seus erros. Ao cobrar “grandeza” da presidente, FHC volta a lembrar a perspectiva da renúncia. Aécio arremata lembrando a principal obra pregressa dos tucanos: o Plano Real, que só foi possível porque Collor havia sido defenestrado.

Tão importante quanto as críticas certeiras e inevitáveis — afinal, Dilma derrotou o PSDB há 11 meses acusando a legenda de pretender fazer tudo o que ela próprio vem aplicando — é o fato de o programa nacional da legenda trazer a fala afinada de suas quatro principais lideranças. Parece que os tucanos perceberam que o Brasil não comporta mais a sobreposição de estratégias individuais às urgências que estão postas.

Até porque, insisto no ponto de que há a emergência de atores novos nas ruas. Não custa lembrar — e não há mal nenhum que assim tenha sido, muito pelo contrário — que, antes de os partidos de oposição se passarem a defender o impeachment de Dilma, as ruas o fizeram. Ruas que foram incorporadas à estética do programa com a percussão dos panelaços.

Querem saber? O PSDB assumir a pauta do impedimento de Dilma é uma questão de responsabilidade com o país.

E o PSDB encerrou  seu horário político dando uma resposta simples e didática à cascata do golpe. Vale transcrever a fala de um locutor:
“Se você empresta dinheiro para a uma pessoa, e essa pessoa some, nunca mais aparece para pagar. Você foi vítima de quê? De um golpe, não é? E se você vota em quem promete controlar a inflação, não mexer em direitos trabalhistas e muitas outras maravilhas?… Mas, depois, a inflação sobe sem parar; ela corta o seguro-desemprego e um milhão e meio de vagas do Pronatec; aumenta, e muito, a conta de luz… Pense bem: isso é ou não é um verdadeiro golpe?”

A resposta é óbvia: o eventual impeachment, é claro!, golpe não é porque tem as devidas prescrições legais. Mas o que vai acima é, sim, um golpe: chama-se estelionato.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fundação petista chama Dilma de farsante e de títere de banqueiros

Há alguém que me lê aí com vontade de defender a política econômica de Dilma Rousseff? Pois é… O PT não tem nenhuma! No dia em que a presidente discursa na abertura da Assembleia-Geral da ONU e faz uma defesa candente das medidas adotadas para minorar os desastres que ela própria provocou no primeiro mandato, a Fundação Perseu Abramo, o principal centro de, digamos assim, produção intelectual do petismo, divulgou dois documentos. Um deles — “Mudar para sair da crise” — é explícito, arreganhado, com críticas duríssimas à política econômica. O outro — “O Brasil que queremos” — é um trololó neodesenvolvimentista, que já nasce com cara de pré-programa de partido que vai disputar a eleição. Em comum, os dois nascem da má-fé. E vou explicar por quê. Além da Fundação Perseu Abramo, assinam os estudos as seguintes entidades (ou sei lá o que sejam…): Brasil Debate,  Centro Internacional Celso Furtado de Políticas Para o Desenvolvimento, Fórum 21, Le Monde Diplomatique Brasil, Plataforma Política Social e Rede Desenvolvimentista .

O texto sobre a política econômica, o primeiro a que me refiro acima, não economiza já no primeiro parágrafo. Leiam:
“A lógica que preside a condução do ajuste é a defesa dos interesses dos grandes bancos e fundos de investimento. Eles querem capturar o Estado e submetê-lo a seu estrito controle, privatizar bens públicos, apropriar-se da receita pública, baratear o custo da força de trabalho e fazer regredir o sistema de proteção social. Para alcançar estes objetivos restringem as demandas por direitos e a capacidade de pressão dos trabalhadores.”

Eita! Eu sempre achei que os petistas pensassem essas coisas sobre tucanos, não? Será que Dilma é uma quinta-coluna? Então ela não passa hoje de um pau-mandado de grandes brancos e fundos de investimento? Então ela é o instrumento de malvados que querem capturar o Estado? Por que diabos esse partido apoia Dilma?

O texto é de tal sorte aloprado — e meio analfabeto também — que chega a fazer esta afirmação:
“Este documento sublinha que a opção macroeconômica adotada em 2015 tem sua origem em uma disputa ideológica travada no período pré-eleitoral onde o ‘terrorismo’ econômico (representado pela equivocada interpretação liberal da ‘crise’) foi vitorioso na narrativa dos fatos, promovendo as bases para a adoção de um ajuste recessivo que caminha na direção oposta da construção de um país menos desigual.”

Gente alfabetizada e supostamente “culta” que emprega “onde” como pronome relativo que não indica lugar deveria levar chicotadas. Mas deixo isso pra lá. O trecho acima revela a qualidade intelectual de quem o produziu. Suponho que, na versão dos malucos, o tal “terrorismo econômico” era representado pela candidatura tucana, certo? Ora, mas quem venceu a eleição foi Dilma, que prometeu o contrário do que está fazendo — aliás, Aécio não anunciou nenhuma das medidas em curso; Dilma, ela sim, é que as atribuiu ao adversário.

Não é possível que esses sedizentes intelectuais não se envergonhem nem um pouquinho, especialmente quando escrevem “crise” assim, entre aspas, como se ela não existisse. Bem, a ser assim, quem é, então, Dilma Rousseff? Por que o PT não vai para as ruas pedir o impeachment?

Dilma é tratada no documento como mero títere de banqueiros. Pior do que isso: os petistas a acusam de farsante, embora não empreguem essa palavra. Leiam isto:
“Os defensores do ajuste vendem a ilusão de que ele é parte de uma estratégia de ‘retomada do crescimento econômico’. A recuperação do superávit primário contribuiria para reduzir os juros de longo prazo, promovendo uma retomada da ‘confiança empresarial’, incentivando o investimento e, por consequência, o crescimento. Na verdade, a racionalidade do ajuste é preservar a riqueza financeira e promover mudanças na correlação de forças entre capital e trabalho, em detrimento dos assalariados.”

O texto faz o elenco de medidas que Dilma deveria adotar para sair da crise. Curiosamente, o conjunto delas é justamente aquele que conduziu o país à… crise! Ocorre que os petistas não a reconhecem. Supõe-se, pois, que tudo vinha muito bem. E por que Dilma está a fazer essas escolhas? Ora, ou é doida ou tem um coração neoliberal, não é mesmo?

O texto é um requinte de má-fé porque até seus signatários devem saber que não passa de uma fraude intelectual. Imaginem se Dilma decidisse, como eles querem, retirar os investimentos da meta de superávit primário, estabelecer metas de inflação a cada biênio, calcular a inflação pelo núcleo dos preços e regular o mercado de câmbio… O dólar, no paralelo, iria para a estratosfera, as agências de classificação de risco mandariam o país para o diabo; começaríamos uma nova fase da economia flertando com a Argentina e terminaríamos na Grécia, depois de passar pela Venezuela.

As esquerdas são intrinsecamente imorais. Tivessem um mínimo de decência, fariam a defesa do governo que as representa e não teriam o topete de propor o que sabem que não vai acontecer porque a matemática não deixa.

Por Reinaldo Azevedo

 

PT quer Dilma no poder para manter as tetas, mas decidiu mandá-las às favas e já se ocupar de 2018

Brinquei ontem com um amigo: “Daqui a pouco, vou começar a defender que Dilma fique no poder até 2018. Só para ver o PT contrariado…” É uma ironia, claro! Não sei o que pode acontecer com mais três anos e três meses de governo da “presidenta”. Ou melhor, sei… Até porque vamos pensar: digamos que ela consiga se safar do impeachment: e depois? Já citei aqui algumas vezes o maravilhoso poema À Espera dos Bárbaros, do grego Constantino Kaváfis (1863-1933). Tenho pra mim, sem querer acionar o complicômetro psicanalítico, que até a própria presidente acha que não reúne condições de chegar ao fim do mandato. Daí que ela fale obsessivamente sobre o impeachment. Até na ONU.

Caso ela não caia, vai ficar como os romanos do poema de Kaváfis: eles se prepararam para a chegada dos inimigos, e eles não vieram. O que ela fará, coitada? O poema termina assim:
“Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.”

Pois é…

O PT reuniu seus intelectuais — esse delicioso paradoxo — para elaborar um documento sobre a crise e sobre o futuro. Nesta home, vocês encontram o link para os dois textos. É evidente que a legenda já entregou a presidente às cobras. Nas sugestões de curto prazo, os ditos pensadores, como já demostrei em outro post, sugerem que Dilma recobre o padrão Guido Mantega de gestão da economia, justamente aquele que conduziu o Tesouro à falência. Eles sabem que isso não vai acontecer. Como não vai, estão a defender, Dilma fique ou saia, que o partido passe para a franca oposição.

Nas sugestões de longo prazo, bem…, aí, meus caros, já se trata de um partido elaborando um plano de governo para as próximas eleições, recuperando, é impressionante!, as mesmas cascatas que a agremiação pregava em 2002. O sotaque do documento é “neonacional-desenvolvimentista”, pregando a centralidade do Estado e a defesa contra a cupidez internacional e o capital financeiro. Nem parece que esses mesmos caras venceram uma eleição há parcos 11 meses. Onde estavam os ditos “intelectuais”?

Sim, vocês podem não acreditar, mas os luminares que produziram os dois textos querem agora que o PT se reinvente como partido de… oposição. Mas de oposição a quem? Ah, sei lá: aos banqueiros, aos entreguistas, aos neoliberais, aos conservadores, aos “white walkers”, de Game of Thrones…  O partido quer esquecer que governa o país há 13 anos.

Querem a evidência dessa ousadia? Leiam isto:
“A opção macroeconômica que vem sendo adotada caminha na direção oposta do objetivo maior de construir uma sociedade mais coesa e menos desigual. O ajuste fiscal ortodoxo – justificado pelo diagnóstico liberal equivocado, mas hegemônico na narrativa dos fatos econômicos – está jogando o país numa recessão com consequências sociais inquietantes, deterioração das contas públicas e consequente restrição da capacidade de atuação do Estado em prol do desenvolvimento. Mais grave é a regressão da estrutura social, adequando-se, gradativamente, ao quadro de possibilidades oferecidas pela ortodoxia econômica. Alerta-se para o fato de que se os rumos adotados não forem alterados, o governo cumprirá o roteiro traçado pelos setores conservadores nos antecedentes da campanha eleitoral, agora redesenhado para impedir sua continuidade ou desgastá-lo até 2018.”

Num momento de notável picaretagem, os intelectuais do PT sugerem que Dilma foi abduzida por ETs do neoliberalismo, que, segundo o texto, inventaram uma crise que não existia. Leiam:
“Para a elite econômica nacional e internacional, a derrota da candidata da situação era crucial, pois afastaria a ‘ameaça da perda do controle político sobre a política econômica’, dado que, para esta elite, ‘é inaceitável que a oitava maior economia do mundo, busque um caminho de maior autonomia e, sob vários aspectos, se contraponha a esses interesses’ . Mas, vale acrescentar que, caso ela fosse eleita, cumpria fazer com que a presidenta viesse a alterar seu programa e abandonasse seus compromissos de campanha. O fato grave é que a visão liberal passou a ser hegemônica junto à opinião pública e mesmo dentro das hostes progressistas, onde a necessidade imperativa de ‘ajustes’, em sua maioria de caráter recessivo, foi aceita e passou a pautar os debates. A criação de um clima de crise fiscal e econômica ganhou a batalha, contribuindo, dentre outros fatores, para que o governo alterasse sua rota e produzisse a própria crise que os mercados alegavam existir.”

Parece ter sido redigido no hospício, eu sei, mas não foi, não! Um partido se dá conta da falência do seu modelo. Seus mais caros “pensadores” são desmoralizados pela realidade e pelo resultado da aplicação de suas ideias velhas e mesquinhas. Sendo assim, qual a saída? Reconhecer o erro? Não! Fazer de conta que não estão dando as cartas no país há 13 anos, jogar nas costas de um tal “ajuste conservador” os desatinos que produziram e tentar rearticular as forças progressistas”, como eles dizem, para disputar as eleições em 2018.

E Dilma? Bem, o PT lutará, sim, até o fim para que ela fique no cargo porque a máquina partidária depende vitalmente do Estado para sobreviver. O partido já não vive sem as tetas oficiais. Mas vai falar uma linguagem de oposição e vai ignorar o seu comando.

Que nome isso tem? Mau-caratismo.

Por Reinaldo Azevedo

 

 A última trapalhada do governo Dilma para tentar quebrar a espinha do PMDB

Tudo indica que o Planalto se meteu em mais uma trapalhada, do mesmíssimo feitio daquela que acabou resultando na derrota de Dilma quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se elegeu presidente da Câmara. Só para lembrar: observei, então, parafraseando Marina Silva, que a presidente perderia perdendo e perderia ganhando. Ou por outra: considerando os recursos que o governo moveu para derrotar Cunha, se ele vencesse, como venceu, a mandatária daria com os burros n’água. E deu. Mas, se ele perdesse, ela teria um grupo enorme de descontentes que tornaria sua vida muito difícil.

Por que digo isso? O ministro Gilberto Kassab (Cidades), que comanda o PSD, pediu ao Planalto, segundo informa a Folha, que Dilma adiasse a sanção da reforma política votada pelo Congresso, aguardando um último recurso ao Tribunal Superior Eleitoral do grupo envolvido com a criação do PL (Partido Liberal). Se Dilma sancionasse a reforma, o que deveria ter acontecido na sexta, não haveria mais chance de criar o novo partido, que já teve negado o seu registro em razão da falta das assinaturas necessárias.

Embora negue, todos sabem que Kassab é o cérebro que comanda a criação da legenda, que abrigaria descontentes de partidos de oposição e, sobretudo, do PMDB. O jornal informa que o ministro espera a adesão à nova legenda, caso seja criada, de um grupo entre 25 e 28 deputados. Os porta-vozes do pleito de Kassab para adiar a sanção foram os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Comunicações).

Muito bem: o último recurso do PL pode ser julgado nesta terça. Até onde sei, o pleito deve ser recusado. E restará ao Planalto apenas o sabor amargo de ter sido flagrado tentando quebrar a espinha do PMDB — e não é a primeira vez. Se Kassab — ou quem quer que atue oficialmente — for bem sucedido e se ele conseguir as adesões que anuncia possíveis, a dupla PSD-PL pode chegar a até 62 deputados. O PMDB, sem eventuais defecções, tem hoje 66. No melhor dos mundos para o ex-prefeito de São Paulo, ele passará a ser o comandante de um novo PMDB — no caso, governista.

Assim, se o PL não for criado, ruim para o governo por ter sido pego, de novo, em flagrante. Mas, se for, pergunto: o Planalto se dará bem? Digamos que isso colabore, então, para impedir o impeachment… Cabe a pergunta: e o que vem em seguida? À esteira de um, se me permitem a metáfora, ataque especulativo dessa natureza contra uma legenda, os que resistirem, a despeito de suas divergências, tendem a se unir.

O jogo que está sendo jogado é de tal natureza explícito que tendo a achar que o TSE vai preferir se manter distante da confusão, negando o registro ao PL. Caso faça o contrário, a Babel no governo tende a ser maior.

Outro que estaria envolvido na operação é Ciro Gomes, que tenta voltar ao primeiro plano da política com aquela sua retórica truculenta de sempre. A ele estaria reservado o Ministério da Educação, que já foi ocupado por menos de três meses por Cid, seu irmão, com resultados desastrosos.

Tudo é explícito demais, heterodoxo demais, abusado demais, despudorado demais e atrapalhado demais para dar certo.

E, se der certo, dará errado.

Por Reinaldo Azevedo

 

O discurso caduco de Dilma na ONU. Para o Brasil e para o mundo

A presidente Dilma Rousseff levou uma pauta de duas faces para a Assembleia Geral das Nações Unidas, em cuja abertura discursou nesta segunda. Tratou de questões internas, numa fala que ficaria melhor se enunciada no Congresso brasileiro, e de problemas externos. No que nos diz respeito — ou “no que se refere” a nós, como ela própria diria —, apresentou um diagnóstico conhecido e falso. É lamentável porque isso leva à profilaxia errada e a prognósticos que não se cumprem. Na política externa, lá estava o besteirol habitual do petismo, com uma correção de rumo ao menos: desta feita, ela não cobrou negociação com o Estado Islâmico. Vamos por partes.

Dilma disse com todas as letras que o modelo de crescimento adotado pelo Brasil — leia-se: pelo PT — “chegou ao limite”. Por que isso interessa à ONU? Não interessa. Estava falando para dentro, não para fora. Mais uma vez, mistificou sobre as causas. Atribuiu a crise por que passa o país à conjuntura internacional e ainda tentou o caminho da vanglória: durante seis anos, seu governo teria resistido às pressões externas, mas, agora, não deu mais.

Ela resumiu assim o desastre que ela e Guido Mantega produziram no país:
“A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre o nosso crescimento. A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas”.

Dilma finge, para citar um autor que, consta, ela já leu — refiro-me a Karl Marx —, que tudo caiu na árvore dos acontecimentos. O tal superciclo das commodities terminou em meados de 2012. Em vez de tomar as medidas prudenciais, esta senhora enfiou o pé nos gastos públicos e manteve o modelo ancorado no consumo do tempo das commodities gordas. Para lograr tal intento, aplicou anabolizantes na economia como desonerações, isenções, estímulo ao crédito. Os que anteviam que o “modelo” naufragaria foram tratados como inimigos do Brasil.

Insisto: essa bobajada não tem nenhum interesse ao resto do mundo. Ela fala aos nativos. O que ela não explica — nem teria como fazê-lo — é por que não admitiu, então, em outubro que as dificuldades seriam imensas e não pediu ao povo, com sinceridade, um voto de confiança. Em vez disso, preferiu o estelionato eleitoral.

Ela foi adiante nos recados internos. Referindo-se veladamente à possibilidade do impeachment, falou da importância de se respeitarem as instituições — exceção feita a esquerdistas, aliados dela, quem não respeita? — e emendou: “O Brasil vai continuar trilhando o caminho democrático”. Ora, claro que sim! O impedimento, por exemplo, faz parte do elenco de medidas democráticas.

Dilma falou ainda do combate à corrupção, afirmando que os brasileiros não suportam esse mal. E deu conselhos aos juízes: não “ceder a excessos”, julgando “sem paixões político-partidárias”, alertando que “as sanções da lei devem recair sobre todos os que praticam e praticaram atos ilícitos”. Por quê? Não é assim hoje?

Esse discurso, convenham, não buscava o convencimento de dirigentes de outros países. Dilma estava conversando com os deputados que, primeiro, vão decidir se será ou não instalada a comissão especial que pode analisar a denúncia contra ela. Caso isso aconteça, esse mesmo colégio vai arbitrar se ela será ou não afastada do cargo.

Mundo
A presidente, claro!, deu conselhos ao mundo. A dirigente cujo governo estimula, na prática, o tráfico de haitianos para o Acre e, depois, para São Paulo falou dos refugiados. Como se fosse uma adolescente prestes a entrar em algum grupelho de esquerda, afirmou: “Em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas”.

Não sei se o conselheiro de política externa de Dilma é Marco Aurélio Garcia ou John Lennon. Tenham paciência!

Sim, Dilma atacou, desta feita, o terrorismo do Estado Islâmico, mas não sem culpar os EUA e as potências europeias. Para as ditaduras do Oriente Médio e da África, não sobrou nem uma pancadinha. Atribuiu a crise dos refugiados a “países que tiveram seus estados nacionais desestruturados por ações militares ao arrepio do direito internacional, abrindo espaço para a proliferação do terrorismo”.

Mais uma vez, Israel foi alvo da crítica do governo brasileiro. Discursou a soberana: “Não se pode postergar, por exemplo, a criação de um Estado Palestino, que conviva pacífica e harmonicamente com Israel. Da mesma forma, não é tolerável a expansão de assentamentos nos territórios ocupados”. Certo. A petista silenciou sobre os ataques terroristas praticados por palestinos.

As tolices foram se multiplicando. Referindo-se à América Latina e Caribe e ao avanço das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, disparou: “Nossa região – onde imperam a paz e a democracia – se regozija com o estabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, que põe fim a um contencioso derivado da Guerra Fria. Esperamos que esse processo venha a completar-se com o fim do embargo que pesa sobre Cuba”.

Dilma vê paz e democracia em Cuba.

Dilma vê paz e democracia na Venezuela.

Dilma vê paz e democracia no Equador.

E, claro!, pediu, uma vez mais, a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Encerro assim: um governo que chama ditaduras assassinas de “democracias” está preparado para melhorar o mundo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Na ONU, Dilma admite ‘problemas fiscais’, mas volta a culpar a ‘crise externa’

Na VEJA.com:

Na abertura da Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff admitiu nesta segunda-feira em Nova York, pela primeira vez no exterior, que o país tem problemas fiscais, mas voltou a culpar a “crise externa” pelos problemas econômicos do Brasil. “Estamos em um momento de transição”, disse Dilma sobre a atual crise nacional. A presidente reconheceu a alta do dólar, o aumento da inflação e do desemprego; e disse que o modelo econômico “chegou ao limite”, reconhecendo em seguida que o país tem sim problemas para resolver. Ela, no entanto, afirmou que o Brasil tem problemas conjunturais e não estruturais.

Sobre os casos de corrupção, Dilma afirmou que as investigações em curso no país representam um avanço e mostram que no Brasil há instituições que funcionam. Em uma possível menção aos alegados excessos da Operação Lava-Jato, a presidente afirmou que no Brasil, “o limite é a lei”, indicando que a investigação não deve se sobrepor às leis. Dilma também ressaltou em seu discurso que o Brasil está de portas abertas para receber refugiados. “Somos um país multiétnico e sabemos conviver bem com as diferenças”, disse.

A chefe de Estado brasileira discursou na abertura da 70ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e também aproveitou a oportunidade para enfatizar algumas pautas antigas da diplomacia brasileira: como o pedido de reforma do Conselho de Segurança da ONU e a defesa da sustentabilidade por meio do uso de energias limpas e cortes de emissão de gases de efeito estufa. No plano geopolítico, Dilma voltou a defender a criação de um Estado palestino e saudou tanto a reaproximação dos Estados Unidos com Cuba quanto o acordo com o Teerã para limitar o programa nuclear iraniano.

Secretário-geral cobra ação por refugiados – No discurso inaugural, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a todos os países que assumam responsabilidades para proteger os imigrantes e refugiados e defendeu que em pleno século XXI não deveriam ser construídos “cercas ou muros”. Ban cobrou especificamente da Europa “fazer mais” e lembrou que “após a II Guerra Mundial eram os seus cidadãos que buscavam ajuda do mundo”. “Devemos combater a discriminação. No século XXI, não deveríamos estar construindo cercas ou muros”, disse o diplomata coreano.

O chefe da ONU lembrou que Líbano, Jordânia e Turquia estão “acolhendo generosamente vários milhões de refugiados sírios e iraquianos, e os países em desenvolvimento continuam a receber grandes números de deslocados apesar de seus recursos limitados”. Ban reconheceu que os grandes movimentos de pessoas em diferentes regiões tocam em “assuntos complexos e levantam fortes paixões”, mas ressaltou que todos os países devem se guiar por uns princípios comuns. “Legislação internacional, direitos humanos, compaixão básica”, enumerou o diplomata, que convocou para a próxima quarta-feira uma reunião de alto nível para abordar a crise dos refugiados.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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