REINALDO AZEVEDO (na FOLHA): “Deposição de Dilma marcará o fim da última tentação autoritária”

Publicado em 05/08/2016 06:40
Eu mal podia crer que lia aquele texto num iPhone; eu voltei ao século 19 e me dei conta de que Eleonora reescrevia Marx. Aplauda-se a ousadia

A deposição de Dilma Rousseff marcará o fim da última tentação autoritária com lastro social no Brasil. Malucos a sonhar com tiranos virtuosos sempre haverá. Sim, também o petismo deixará corações contritos e mentes saudosas.

Na semana passada, andava eu “longes terras”, como o poeta, quando meu bolso foi surpreendido por um choque de tempos. Uma amiga me enviou um artigo de Eleonora de Lucena, repórter especial desta Folha, intitulado “Escracho”.

Referindo-se ao impeachment de Dilma, escreveu a autora: “A elite brasileira está dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país”.
(…)
Eu mal podia crer que lia aquele texto num iPhone. Quando ela arremata seu artigo anunciando a “velha luta de classes escrachada nas esquinas” –uma decorrência, entende-se, da “elevação da extração da mais valia” e do corte de benefícios sociais (que não aconteceu)–, eu voltei ao século 19 e me dei conta de que Eleonora reescrevia Marx. Aplauda-se a ousadia.
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Para ler a íntegra, clique aqui

Segundo Washington Post, “petralha” é uma das seis palavras para entender o Brasil de hoje

Eita!

O jornal americano “Washington Post” resolveu listar seis palavras cujo significado um estrangeiro precisa saber para entender o Brasil de hoje. E, ora vejam, “petralha” está entre elas — sim, a já imortal criação deste escriba, rsss! As outras são “crise”, “gourmetização”, “coxinha”, “jeitinho” e “zoeira”. Convenham: trata-se de uma escolha e tanto.

A íntegra da matéria, em inglês, está aqui.

Compreendo, em parte, a fúria dos petistas comigo em razão do que escrevo e, sobretudo, daquilo que eles acham que escrevo… Mas bravos mesmo eles ficam porque o termo pegou, ficou colado neles. Todo mundo, hoje em dia, sabe o que é um petralha.

O jornal define assim o termo:
“Petralha é uma gíria negativa, empregada por brasileiros favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, para se referir aos apoiadores de seu esquerdista Partido dos Trabalhadores (conhecido por PT — a raiz do termo) e do patriarca da legenda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Um petralha pensa que o recente afastamento de Dilma do cargo foi um golpe). A imagem estereotipada e negativa de um petralha compreende um preguiçoso beneficiário de programas sociais, um sindicalista em greve e estudantes barbudos e maconheiros, especialmente de sociologia. Nos protestos, os petralhas vestem vermelho e gritam “Fora Temer”, referindo-se ao presidente interino, Michel Temer, que substituiu Dilma”.

Não é bem assim
Bem, fui eu que criei o termo e, portanto, sei o que ele designava originalmente, ainda que o falar das ruas lhe tenha ampliado o significado.

De fato, a sigla “PT” está na origem do termo, mas a outra palavra que entrou na formação do neologismo foi “metralha” — uma referência aos Irmãos Metralhas, que vivam tentando roubar o Tio Patinhas: são bandidos, são ladrões.

Um “petralha”, originalmente, é aquele que justifica o roubo de dinheiro público em nome da construção do partido, supostamente interessado no bem coletivo.

Assim, há beneficiários de programas sociais e, claro!, consumidores de maconha, barbudos e estudantes de sociologia que não são petralhas. Isso é uma criação do Washington Post.

O termo já está dicionarizado no Brasil. É um dos verbetes do “Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa”. A definição está bem mais de acordo com a origem da palavra.

A lição do Brasil à Venezuela bolivariana reiterou que não há lugar no Mercosul para assassinos da democracia (por AUGUSTO NUNES)

Na sexta-feira passada, Nicolás Maduro anunciou que havia assumido a presidência temporária do Mercosul. Dois dias depois, em carta enviada aos integrantes do bloco, o chanceler José Serra comunicou que o governo brasileiro não aceita a Venezuela bolivariana no comando. A decisão, avalizada pela Argentina e pelo Paraguai, confirma que o Itamaraty redescobriu a altivez perdida há mais de 13 anos. E consuma o sepultamento da política externa da cafajestagem, que entre a chegada de Lula ao Planalto e o afastamento de Dilma Rousseff submeteu o país aos caprichos e vontades do vizinho arrogante.

Com Lula no poder, Chávez rebaixou o Brasil a uma espécie de província bolivariana que miava améns às ordens emanadas de Caracas. Foi assim, por exemplo, quando o Congresso de Honduras ─ amparado na Constituição e com o endosso da Corte Suprema ─ destituiu da presidência da República um comparsa de Chávez chamado Manuel Zelaya. Colérico, o reinventor do socialismo escalou o cúmplice brasileiro para juntar-se à trama que pretendia devolver ao palácio um chapéu sem cabeça. O canastrão hondurenho achou mais sensato refugiar-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa e transformá-la na Pensão do Zelaya. Foi-se embora semanas depois sem pagar a conta.

O fiasco internacional animou a dupla a agir em sociedade no ramo do petróleo, e construir em Pernambuco a refinaria Abreu e Lima. Dois anos depois, Chávez desistiu da ideia de jerico e aplicou no parceiro um calote colossal. O que seria uma refinaria virou uma usina de negociatas e propinas devassadas pela Operação Lava Jato. Deveria custar 2,5 bilhões de reais. Já consumiu mais de 20 e não tem prazo para terminar. Nada disso afetou o servilismo do Planalto ao farsante prepotente. Antes de tornar-se um passarinho que aconselha o sucessor, Chávez fez a comadre Dilma unir-se à conspiração que infiltrou a Venezuela no Mercosul.

Já nas primeiras horas do governo Temer, ao intrometer-se em assuntos internos do Brasil, Nicolás Maduro colidiu com a reação de Serra ─ e descobriu que fora revogada a vassalagem vergonhosa imposta por Chávez. Nesta semana, começou a aprender que não há lugar no Mercosul para países chefiados por inimigos da democracia e assassinos da liberdade.

Uma chance para Dilma (editorial do Estadão)

A Comissão Especial do Senado aprovou na quinta-feira passada, pela ampla maioria de 14 a 5 votos, o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG) favorável ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República. Na próxima terça-feira, os 81 senadores decidirão, por maioria simples, se deve ser iniciada, no plenário da Casa, a fase final do julgamento do impeachment. Mais uma vez, confirma-se a sintonia do Senado com o inquestionável desejo da maioria dos brasileiros de ver encerrado o catastrófico ciclo de mais de 13 anos de poder do lulopetismo. Mais uma vez se manifesta o anseio de que o País passe a dispor com urgência de um governo definitivo capaz de avançar com segurança nos campos em que, em menos de três meses, começa a apresentar resultados positivos: a pacificação política para acabar com a cizânia imposta pelo lulopetismo e as medidas de natureza fiscal e econômica capazes de estimular a retomada do crescimento e o consequente desafogo das dificuldades cada vez maiores que enfrentam hoje os brasileiros, principalmente os de menor poder aquisitivo. Quanto mais rápido se encerrar a agonia desse processo, melhor para o País.

Com toda certeza, na votação da próxima semana os senadores deixarão mais uma vez claro que Dilma Rousseff será afastada de uma vez por todas da Presidência da República, com a decretação do impeachment. Para tanto serão necessários, nessa votação final, os votos de uma maioria qualificada de 54 senadores. Essa maioria já foi superada quando, em maio, o Senado decretou o afastamento provisório de Dilma por 55 votos. Hoje, calcula-se que votariam pelo impeachment pelo menos 63 parlamentares. Os próprios petistas, intramuros, consideram a batalha perdida. A prioridade agora é evitar que o partido sofra uma derrota acachapante no pleito municipal de outubro.

Mas, se depender da própria Dilma e da tropa de choque que a defendeu na Comissão Especial, o processo de impeachment se estenderá pelo tempo que for possível, por meio de recursos regimentais de obstrução dos trabalhos e outras iniciativas procrastinatórias. E é fácil compreender as razões desse comportamento.

Dilma Rousseff não tem mais nada a perder e pode se dedicar a alimentar o próprio ego – e eventualmente a acertar algumas diferenças com adversários e, por que não?, com “aliados –, manifestando-se independente de um partido que já a considera carta fora do baralho. Mas também pode ser que a presidente afastada esteja sob o peso de mais carga do que pode suportar. Haja vista que chegou ao absurdo de declarar que só comparecerá ao Senado para se defender se receber a garantia de que não será interpelada. Essa atitude pode ser típica de sua mentalidade autoritária. Mas também pode ser um sinal de pouco contato com a realidade.

Quanto à tropa de choque que passou meses repetindo slogans e frases feitas, protestando indignadamente contra o “golpe” na primeira fila da sala de sessões da Comissão Especial, não há nada menos verdadeiro do que a ideia de que possa estar se sentindo derrotada. Ao contrário, jamais tiveram os ruidosos defensores da tese de que “não há crime” no processo de impeachment oportunidade igual de exibir-se com tanta visibilidade diante das câmeras de televisão.

Não é impossível, portanto, embora seja improvável, que a votação final do impeachment no Senado só venha a ocorrer em setembro. Mas já na próxima terça-feira os senadores estarão votando a favor do início do julgamento no plenário da Casa. E mais uma vez a decisão será tomada por ampla maioria.

Seria uma excelente oportunidade para que, num raro lampejo de lucidez e genuína altivez, Dilma Rousseff decidisse poupar os brasileiros, e a si mesma, do prolongamento de uma agonia da qual ela se declara cansada, renunciando à Presidência. Seria o seu gesto mais apreciado, em mais de cinco anos de governo.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (veja.com)

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