As fotos e o jornalismo!
1. A comunicação é comandada pelas imagens. A TV é por isso mesmo, a mídia
mais importante. Nos jornais, o fotojornalismo passou a ter tanta ou mais
importância que as manchetes, e muito mais que os textos. Em geral, as
pessoas "lêem" as fotos e o pequeno texto que as acompanha. E passam uma
vista pelas manchetes, chamadas e boxes. Isso é a matéria para mais de 90%
dos que a "leram".
2. Se há uma contradição entre as chamadas (leads) e as fotos, prevalece na
memória a mensagem dada pelas fotos. Há exemplos todos os dias.
3. Na terça-feira dia 28 de outubro, o prefeito eleito pediu audiência ao
prefeito do Rio. Na reunião estiveram presentes além desses, os três membros
da comissão de transição da prefeitura, o líder do governo na câmara
municipal, o futuro vice-prefeito e o coordenador da transição representando
o novo prefeito.
4. A reunião foi extremamente cordial, solta, e prática em relação à
transição, com pedidos e sugestões. As câmeras de TV e fotografia só tiveram
acesso após a reunião encerrada. As fotos clássicas foram feitas, de aperto
de mão, etc.. Centenas de fotos em série, quando se pega as pessoas alegres,
piscando, sérias, olhando para aqui e para acolá.
5. Na hora de editar as fotos, se dá a seleção o caráter que se quer dar da
reunião. As fotos escolhidas criaram a sensação de uma reunião tensa, e
mesmo que as chamadas não tenham dito isso, as fotos e seus pequenos textos
disseram.
6. No dia seguinte, os levantamentos feitos pela manhã sobre leitura dos
jornais deram como versão da reunião o constrangimento, a circunspecção, o
afastamento... enfim, uma reunião tensa. O conteúdo da reunião foi mudado
pelas fotos editadas. Para este Ex-Blog, retratou nada mais do que nos
ensina a teoria e investigações sobre comunicação e jornalismo hoje,
fartamente documentadas. Como este Ex-Blog já explicou, factóide é um fato
carregado de imagem. É diferente de pseudo-fato, que é a impressão que um
fato dá ao ser transmitido com imagens inversas.
7. Por coincidência, nessa semana o jornal espanhol El País publicou uma
matéria sobre o gestual em política e as imagens que produz e a tradução que
se dá a elas pelo público.
8. Em seguida, na nota abaixo, conheça o resumo dessa matéria sobre gestual.
A LINGUAGEM GESTUAL É FUNDAMENTAL NA POLÍTICA!
Trechos da matéria "Um abraço é uma mensagem política" no El País de
28/10/2008.
1. Para os peritos em comunicação é certo que a gesticulação e o não-verbal
transmitem diariamente mensagens em nada depreciáveis na vida política. Por
exemplo, esses modos paternalistas tendem a estar ligados, segundo Rubiales,
a uma cultura da "direita". Na opinião de Roberto Izurieta, docente de
organização política da Universidade George Washington e assessor de
campanhas, “no âmbito das relações internacionais, as relações pessoais
desempenham um papel importantíssimo”.
2. Numa reunião de cúpula, num jantar, numa reunião entre representantes de
diferentes países ou num debate transmitido pela televisão, o uso do corpo,
a postura, o movimento das mãos, um sorriso e inclusive um beijo podem
resultar em aspectos decisivos. Tudo está relacionado, segundo peritos, com
o caráter, o gênero, a cultura ou a origem de cada um.
3. As investigações do antropólogo britânico Desmond Morris demonstraram,
por exemplo, que os árabes, os países mediterrâneos e africanos pertencem a
culturas "de contato", e, por outro lado, os norte americanos, escandinavos,
anglo-saxãos e asiáticos pertencem a culturas de "não contato".
4. A comunicação não-verbal pode inclusive transcender uma ofensa, quando
falamos dos círculos do poder. Porque, entre os políticos, a gesticulação é
um traço de caráter que está muito relacionado com o carisma e com uma
imagem vencedora. De que depende então esse êxito visual? "O carisma não é
de uma só classe”, indica Ricardo Izurieta, que acompanhou de perto a
campanha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos da América. “Porque
o carisma é a emoção de quem está contente consigo mesmo”. E, para estar
contente, o desejável consistiria em adaptar o protocolo, ao caráter de cada
um.
5. “Nas campanhas eleitorais, as expressões corporais e os gestos constituem
aspectos fundamentais. Não se pode esquecer que o ato do voto é,
definitivamente, um ato de confiança, e a confiança é um sentimento, é algo
que pertence à esfera emocional. Num debate, por exemplo, encontramos
posturas, expressões, caras que ultrapassam muitos conhecimentos racionais e
institucionais, explica Izurieta.
6. Mas como conseguir que um candidato projete essa confiança? Além do
olhar, são necessários abraços, sorrisos, um choro e uma clara efusão?
Depende.
7. "Os bons treinadores de políticos em campanhas eleitorais conhecem uma
das regras básicas da comunicação institucional", prossegue Izurieta. "Antes
de mais nada, não se deve mudar a forma de ser dos candidatos. É importante
levar em conta que os debates, os encontros e as relações internacionais e
institucionais se realizam em cenários antinaturais e incômodos por
definição. Pois bem, deve-se procurar que o candidato se sinta cômodo. E
para sentir-se cômodo, devem-se desenvolver certas habilidades de cada um.
Além disso, existem técnicas para desenvolver esse tipo de carisma diante de
um público moderno, que percebe cada vez mais a comunicação da imagem como
algo decisivo. Aqui se encontra a importância da comunicação corporal".
8. Por esta razão, nas palavras de García Huete, um personagem da esfera
pública deveria estar consciente da necessidade de coerência entre as
linguagens verbal e não-verbal. Porque tem de haver coerência? Coloquemos um
exemplo. “Se alguém, diante de um auditório, diz que ‘vai para a esquerda’
e, ao mesmo tempo, levanta a mão direita, a maioria dos que escutam e
observam assumirá esta mensagem: esse senhor caminha para a direita". Por
isso, é importante que as palavras sejam acompanhadas de gestos coerentes.
Começando pelo olhar.
9. "E é que o contato visual é o fundamental. Se um interlocutor baixa os
olhos ou não mantém o olhar, por exemplo, pode-se chegar a acreditar que
está mentindo”, acrescenta esse psicólogo acostumado ao treinamento de
personagens públicos em questão de comunicação não-verbal. A distância
física entre pessoas também desempenha um papel muito importante. “Se, por
exemplo, alguém entra em nosso campo de movimento e recuamos, pode-se
produzir um ruído capaz de provocar a interrupção da comunicação que
estávamos mantendo”.
10. De todas formas, embora sejam evidentes as diferenças culturais e de
gênero, também existem algumas exceções à regras. São as expressões do
rosto. Em particular, a manifestação pública de alegria pode constituir a
chave do êxito de uma mensagem política. Por quê? “Diz-se que em torno de
60% das emoções e do que sentimos podem ser lidos nos gestos e nas
expressões dos rostos”, comenta García Huete. "E a gente, por vezes de forma
inconsciente, prestará muita atenção nesses aspectos, assim como nos
movimentos das mãos”.
ONDE ESTAVAM OS PREFEITOS ELEITOS NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES?
Fogaça, eleito em Porto Alegre, estava no PPS. Paes, eleito no Rio, estava
no PSDB. João Henrique, eleito em Salvador, estava no PDT. Hoje os três no
PMDB!
Reforce a lista enviando seu e-mail a este Ex-Blog.
Fonte: Blog do Cesar Maia