O
presidente do EUA, Barack Obama, rejeitou um convite do “Cara” para
visitar o Brasil antes das eleições de 3 de outubro. Sinal de que o bom
senso falou mais alto. Afinal, Obama, a esta altura, já tem alguma
experiência nesse negócio de eleições… e de Brasil. E conta com uma
secretária de Estado, Hillary Clinton, ainda mais experiente do que ele.
Não
fosse o calendário, há também uma questão de agenda. Por que Obama
visitaria o Brasil agora? Para incensar Lula pelo comportamento
estúpido da política externa brasileira em relação a temas que podem
ir, literalmente, de A a Z, de Ahmadinejad a Zelaya, passando pelo B,
de Bolívia; C, de Colômbia; D, de desarmamento nuclear; E, de Equador…
e por aí afora? É claro que a Casa Branca sentiu o cheiro da exploração
eleitoreira no ar, mas há também um contencioso que não faz senão
aumentar.
A
recusa de Obama em visitar o Brasil neste momento é, na verdade, uma
sinal de desagrado com a política externa brasileira, que preferiu, já
não há mais dúvidas a esta altura, alinhar-se com os inimigos dos EUA.
Não que isso possa nos trazer alguma vantagem. Não traz nenhuma! Mas o
antiamericanismo continua a embalar o sonho dos nossos esquerdistas de
gabinete.
Como
Lula não pode arcar com essa recusa, tem de atribuir a responsabilidade
a alguém. E quem fica bem no papel de culpado? Ora, FHC!!! Se essa
versão precisa circular, ninguém mais adequado para a tarefa do que
Kennedy Alencar, que ouviu uma daquelas suas fontes com acesso ao
círculo íntimo do poder, vocês sabem. Segue trecho de seu texto, em
vermelho:
Segundo
um ministro, o governo brasileiro acredita que o bom relacionamento do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-presidente dos EUA
Bill Clinton e com a atual secretária de Estado, Hillary Clinton,
frearam uma aproximação maior de Lula com Obama.
Na versão desse ministro, houve gestões do PSDB com os Clinton para
evitar o encontro antes das eleições e, por extensão, um benefício
eleitoral a Dilma.
A recusa provocou decepção no governo brasileiro, que via na
oportunidade uma forma de demonstrar o prestígio de Lula no mundo e na
América Latina.
Estou
tão confuso! Quem seria esse ministro? Celso Amorim? Não! Não é. Seria
admitir que FHC é mais influente na política externa brasileira do que
ele próprio. Não combina com o megalonaniquismo. Acho que é coisa mesmo
do megalogigantismo. Deve ter sido Franklin Martins. Falta agora Lula
fazer a segunda parte: acusar o antecessor de se alinhar com os
americanos para prejudicar o Brasil.
O ridículo é de tal ordem que o texto de Kennedy aponta um segundo motivo, além da influência de FHC junto aos Clintons:
Também foi entendida como um
recado do presidente americano de que, se o Brasil vai se contrapor aos
EUA em assuntos como o Irã, o país deverá arcar com alguma retaliação
política da maior potência do planeta.
A
qualquer pessoa dotada de um mínimo de lógica e de bom senso vai
ocorrer que o segundo motivo seria forte o bastante para dispensar o
primeiro. Ainda que aquela outra situação fosse verdadeira, ela não
seria nada além de uma circunstância associada a uma causa. Afinal, as
coisas têm ordem de grandeza. Imaginem se o presidente do EUA deixaria
de visitar um país a pedido de um antecessor, que teria sido mobilizado
por um ex-presidente do país em questão… O jornal do futuro deve fazer,
de vez em quanto, algumas indagações no futuro do pretérito para testar
algumas hipóteses e, assim, mergulhar um pouco no terreno da lógica. Ou
a lógica é menos confiável do que a OPINIÃO de uma fonte secreta?
-
Qual é a evidência que tem a fonte de Kennedy, que fala em off, de que
FHC interferiu para impedir a visita de Obama? A “reportagem” não diz.
Qual a diferença entre um off nessas condições, uma invenção e uma
mentira? Se alguém souber a resposta, publicarei com gosto.
- Qual é o sentido de pôr para circular uma opinião de alguém sem nome,
sem se ocupar, por exemplo, de ouvir FHC? “Ah, o texto está só dando a
versão do ministro”. É? Então basta alguém em off dar uma versão para
que ela ganhe lugar na reportagem?
A historinha de Lula como secretário-geral da ONU era mais bacana…
Tenham paciência! Não há nada com mais cara de passado do que o “Jornalismo Franklinstein“.
PS:
É claro que conto com a possibilidade de ser tudo verdade. Mesmo
afastado do poder há oito anos, FHC continuaria, então, mais influente
junto ao governo americano do que Lula. Faz sentido. Lula é muito
influente em Teerã, Caracas, Quito, Manágua…
Da Agência Brasil. Volto em seguida:
As rodovias brasileiras necessitam de R$ 183,5 bilhões em investimentos
para dar conta das demandas atuais. Deste total, apenas 13% estão
contemplados pela primeira versão do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), segundo o estudo Rodovias Brasileiras: Gargalos,
Investimentos, Concessões e Preocupações com o Futuro, divulgado nesta
segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
-
Identificamos três categorias de gargalos. A primeira, relacionada ao
campo de recuperação, adequação e duplicação, é a que mais demanda
recursos: R$ 144,18 bilhões. Para construção e pavimentação serão
necessários outros R$ 38,5 bilhões. E a terceira categoria está
relacionada com o que chamamos, do ponto de vista da engenharia, de
obras de arte. Estas, que envolvem obras como pontes e viadutos,
carecem de R$ 830 milhões - explica o coordenador de Infraestrutura
Econômica do Ipea, Carlos Campos.
- O
PAC cobre aproximadamente 13% das demandas identificadas, e apenas 7%
no que se refere a recuperação e duplicação de vias - avalia Campos.
- O
programa é um grande avanço em relação ao que vinha sendo feito, que
era praticamente nada. Mas ainda é insuficiente em relação à degradação
que houve na malha rodoviária brasileira, em consequência de 25 anos
sem investimentos - acrescenta.
Segundo o pesquisador, 70% das obras do programa ligadas a rodovias estão com o cronograma atrasado.
-
Parte dos atrasos da execução física dessas obras é justificada pelas
paralisações do TCU (Tribunal de Contas da União) - acrescenta.
Campos
explica que o estudo do Ipea só leva em consideração o PAC 1, que prevê
investimentos de R$ 23,3 bilhões entre 2007 e 2010. A segunda versão do
programa prevê investimentos de R$ 50,4 bilhões entre 2011 e 2014.
O
economista também chama a atenção para a necessidade de ampliação e
duplicação das estradas prevista para os próximos anos, em decorrência
do crescimento da economia. Isso, segundo ele, implica aperfeiçoar o
modelo de concessão de rodovias.
- Há
inclusive problemas no sistema de contratos de concessão, que têm
prazos de 25 anos e não preveem a ampliação da malha brasileira
prevista para o período - avalia. Ele sugere que, para amenizar esse
tipo de problema, o país adote um sistema similar ao do Chile.
- No
modelo chileno, a empresa diz qual é o total de receita necessária para
cobrir os investimentos e a manutenção, além, é claro, do lucro. Ganha
quem apresentar a menor receita, e o contrato se encerra no momento em
que a receita se iguala ao total previsto de custos e de lucro. Ou
seja: o aumento da receita, após a concessão, faria com que o contrato
termine antes - explica.
-
Como sempre, as rodovias continuarão dependendo dos investimentos
públicos, que, reforçados pelo PAC, tiveram crescimento superior a 500%
entre 1999 e 2008 - disse o pesquisador.
Ele acrescenta que apenas 15% das rodovias interessam ao setor privado.
- Se
considerarmos que 9% da malha já está com eles, vemos claramente que há
um teto (de investimentos privados) muito próximo ao quadro atual.
De
acordo com o Ipea, há no Brasil 170 mil quilômetros de rodovias
pavimentadas. Deste total, 61 mil quilômetros são de vias federais.
Segundo
o estudo, os recursos destinados ao setor de transporte subiram, em
termos proporcionais ao Produto Interno Bruto, de 0,38% em 1999 para
1,15% em 2008. Em termos de valor, isso equivale a um aumento de R$ 1,7
bilhão para R$ 33 bilhões. No caso específico do transporte rodoviário,
o aumento médio foi de 70%, passando de R$ 1,1 bilhão para R$ 26,6
bilhões.
O
estudo diz, ainda, que mais de 65% das estradas federais estão em um
estado entre deficiente e péssimo e que apenas 12% estão pavimentadas.
Um retrato que, segundo Campos, não condiz com a importância desse tipo
de transporte, que é responsável pelo deslocamento de cerca de 60% das
cargas transportadas nacionalmente.
Comento
Os números são do próprio governo, mais propriamente do Ipea,
daí a tentativa, a despeito do rigor técnico, de atacar governos
passados. O fato é que Lula está em seu oitavo ano de governo. E o PAC,
para o setor, como se nota, é irrelevante. O estado de 65% dos 61 mil
km de estradas federais é considerado “deficiente” ou “péssimo”.
Se vocês clicarem aqui, encontrarão
alguns links de textos deste blog sobre a questão das rodovias
federais. Creio que todos se lembram do anúncio estrepitoso feito pelo
governo, em 2007, quando a então ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, anunciou o seu próprio “modelo” de privatização das estradas.
Houve colunista que chegou a escrever que ela dava uma espécie de
“aula” aos tucanos sobre como fazer. O resultado do “modelo Dilma” é um
desastre.
Dez
das dez melhores estradas do país são estaduais e estão em São Paulo,
onde vigora o tal “modelo tucano” que os petistas tanto detestam.
Aloizio Mercadante pretende fazer do valor do pedágio nas estradas
paulistas uma das peças de resistência de sua campanha. Bom mesmo é o
sistema que vigora na federal Régis Bittencourt, por exemplo, que
continua a ser a “estrada da morte”… Mas, ao menos, morre-se por ali
pagando muito pouco, entenderam? O pedágio para o céu, sem querer ser
macabro, é bem barato no “modelo Dilma”.
Só
para registro: quase 70% das estradas paulistas, segundo pesquisa da
Confederação Nacional dos Transportes, são consideradas “ótimas ou
boas”.
Jorge
Castañeda, ex-ministro de Relações Exteriores do México e professor de
Estudos Latino-Americanos da Universidade de Nova York, escreve no
jornal espanhol El País de hoje um artigo educadamente
devastador sobre a política externa brasileira. Enquanto, por aqui, os
mistificadores continuam a converter os desastres de Lula num sucesso
formidável, que o habilitaria a se candidatar a secretário-geral da
ONU, o mundo começa a perceber que, para ser líder mundial, é preciso
um pouco mais do que papo furado.
Castañeda,
um intelectual bastante respeitado, afirma que, um formidável “trabalho
de relações públicas” e “16 anos de bom governo (Cardoso e Lula),
aliados a um crescimento econômico mediano, porém sustentado”, escondem
várias aventuras diplomáticas malsucedidas”, pautadas pela
“superficialidade” e “inércia midiáticas”. Para ele, o caso do Irã faz
aproximar-se a hora da verdade, “seja para confirmar o surgimento de um
novo ator global, seja para provar uma obviedade: não basta vontade
para ser uma potência mundial”. Qual será a sua aposta? Vamos ver.
O
autor lembra que a Turquia tem bons motivos para tentar manter a
cordialidade com o Irã: os dois países mantêm um intenso comércio;
ambos contam com uma população curda significativa; os iranianos
exportam petróleo e gás para o vizinho, e parte da população do Irã
fala turco. Mais ainda: a política externa turca está mais voltada hoje
a uma aproximação com o mundo islâmico, ainda que o país seja um dos
fundadores da Otan. Já a lógica brasileira, sustenta ele, é “menos
evidente”: Lula teria se aproveitado da crise para firmar seu lugar no
cenário internacional.
Segundo
Castañeda, tudo indica que os Estados Unidos já tinham os nove votos
necessários no Conselho de Segurança para impor novas sanções ao Irã —
ainda que Rússia e China venham a se abster (para evitar o veto). Para
o autor, caso prospere a iniciativa dos Estados Unidos, França e Reino
Unidos, e o Conselho vote as sanções contra o Irã, o Brasil fica no
pior de dois mundos: terá de tomar partido claramente, o que procurou
evitar ao propor o tal acordo.
Acordo que, segundo Castañeda, padecia de um mal congênito: os EUA
nunca o apoiaram de verdade. E ele então considera: “Se o Brasil vota a
favor das sanções no Conselho de Segurança da ONU, estará se
desdizendo; se vota contra, terá a companhia, na melhor das hipóteses,
da Turquia e do Líbano. Caso se abstenha, confirmará o que muitos
analistas têm reiterado: Lula quer jogar na primeira divisão, mas sem
se comprometer”. E Castañeda avança, então, para uma análise um pouco
mais ampla da política externa brasileira.
Afirma
que o Brasil tem conquistado muito pouco no cenário internacional.
Escreve: “O objetivo diplomático número um de Lula — conquistar um
lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU — é, ao fim de oito
anos, menos viável do que nunca”. E lista outros insucessos, como a
restituição, que não houve, de Manuel Zelaya ao poder e o naufrágio da
rodada Doha. Outras iniciativas do Brasil, de mãos dadas com Hugo
Chávez, tampouco resultaram produtivas. E Castañeda chega, então, ao
que parece ser a parte mais importante de seu artigo:
“O tamanho de uma economia (Japão) ou de uma população (Índia) não garantem a ninguém, ipso facto, o papel de ator mundial.” Mais
importantes do que isso para alçar um país ao estrelato internacional
são a clareza de propósitos, os valores que os animam e a eficácia de
um país na política regional. Ele lembra que o Brasil faz fronteira com
nove países, “e todos eles padecem de sérios conflitos internos
(Colômbia, Bolívia e Venezuela) ou com seus vizinhos (a Argentina com o
Uruguai; a Colômbia com a Venezuela e com o Equador; o Peru com o
Equador e com o Chile; a Bolívia com o Chile).” E lembra:
“Mas Lula não quis se meter nesse pântano: mantém-se numa prudente
passividade antiintervencionista ou dá franco respaldo às posições
bolivarianas de Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, Daniel Ortega (na
Nicarágua) e dos Irmãos Castro, em Havana”.
Para
Castañeda, Lula se nega a ser relevante em seu próprio quintal.
Escreve o autor com ironia que não chega a ser sutil: “Talvez seja
mais fácil mediar conflitos entre Teerã e Washington (ainda que ninguém
tenha sido bem-sucedido desde 1979) do que entre Caracas e Bogotá ou
entre Buenos Aires e Montevidéu”. Sigamos com a conclusão do artigo:
“Apesar
de sua óbvia irritação, talvez Barack Obama e Hillary Clinton prefiram
dar o benefício da dúvida ao projeto turco-brasileiro antes de ceder à
impaciência de Israel e da França. Lula pode sair bem das planícies
persas ou acabar mal com todo mundo.”
E aí o arremate: “Lula
deveria ter-se dado por satisfeito com as capas das revistas, sem
procurar preenchê-las com conteúdo efetivo. Isso costuma ser mais
difícil”.
A íntegra do artigo, em espanhol, estáaqui.
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com)