Lula já não tem motivos para recusar o segundo convite para um debate com FHC

Publicado em 07/10/2010 19:45

Lula já não tem motivos para recusar o segundo convite para um debate com FHC

Na reunião que reduziu a residência oficial do presidente da República a comitê eleitoral, o inquilino prestes a devolver o imóvel ordenou aos presentes que, no segundo turno da campanha, comparassem o atual governo ao de Fernando Henrique Cardoso. A determinação animou a coluna a ressuscitar a grande ideia apresentada em fevereiro pelo comentarista Sebastião Silveira: um debate na televisão entre Lula e FHC. Ao fim de duas ou três horas, o eleitorado brasileiro dirá quem lhe pareceu melhor, mais preparado, mais seguro, mais convincente.

Há oito meses, Fernando Henrique topou de imediato: “Debate é sempre saudável”, disse. “Aceito, pelo Brasil”. Lula demorou uma semana para responder pela voz de Franklin Martins: “O presidente Lula, quando deixar a Presidência e se tornar um ex-presidente, aceitará debater com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”, esquivou-se o ministro da Comunicação Social.

A explicação foi revogada pelo abandono do emprego. Há pelo menos três meses, Lula trocou o gabinete pelo palanque. E acaba de avisar que assim será até o fim do segundo turno. Livre do serviço, tem tempo de sobra para desincumbir-se pessoalmente da missão confiada aos aliados. Como repete de meia em meia hora que nunca antes neste país houve um governante tão iluminado, não devem faltar argumentos para vencer o debate.

Reapresentado o convite, o ex-presidente reiterou que está pronto para o duelo. Se o presidente que virou cabo eleitoral recusar o confronto pela segunda vez, o país inteiro saberá que FHC está para o SuperLula como a kriptonita para o Super-Homem. Melhor não chegar perto.

O milagre da multiplicação dos descontentes deixou grogue o recordista de pesquisa

Ainda atônito com o milagre da multiplicação dos descontentes, que transformou os 4% dos fabricantes de pesquisas em 54% dos votos válidos, o presidente Lula decidiu que, para avançar no segundo turno, o palanque de Dilma Rousseff deve voltar a 2006. “Precisamos tirar o foco do aborto e discutir a questão das privatizações”, ordenou o Mestre a seus devotos. Descobriu que um campeão nocauteado não deve tentar a contra-ofensiva quando ainda está grogue. Antes que alvejasse José Serra com as invencionices forjadas há quatro anos para confundir o eleitorado de Geraldo Alckmin, foi devolvido à lona pela ofensiva da oposição.

Com o ânimo combatente que faltou no primeiro turno, Serra elogiou Fernando Henrique Cardoso, defendeu enfaticamente a abertura das telecomunicações e registrou que Lula, que teve oito anos para estatizar o que não deveria ter sido privatizado, leiloou dois bancos. No mesmo tom, o senador eleito Aécio Neves resumiu o que Dilma ouvirá nos debates do segundo turno caso obedeça à ordem do chefe: “Se eles condenam as privatizações, estão dizendo a cada cidadão brasileiro que pegue o celular e jogue na lata de lixo mais próxima”.

“Temos que mostrar que existem dois projetos, e que um deles representa o passado”, disse Lula para justificar a retomada da lengalenga de 2006. As mudanças ocorridas no governo de Fernando Henrique Cardoso, como atestam os números reproduzidos na seçãoFeira Livre, tornaram o Brasil bem mais moderno. O que lembra o tempo das cavernas é o país das estatais corrompidas, ineptas e aparelhadas que Lula preside. Enquanto discursava contra privatizações, Lula instituiu a política do arrendamento. Os Correios, por exemplo, estão arrendados ao PMDB. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são controlados pelo PT. A Eletrobrás foi anexada à capitania hereditária dos Sarney.

As declarações de Serra e Aécio confirmam que os líderes do PSDB finalmente ajustaram o discurso à partitura composta por milhões de oposicionistas que enfrentam sem hesitações a Era da Mediocridade. Nos duelos com Dilma, Serra tem o dever de atacar primeiro. Em vez de esperar que a adversária lhe atribua a ideia de privatizar a Petrobras, o candidato tucano deve exigir que ela explique o arrendamento da empresa petroleira ao condomínio liderado pelo PT.

Em seguida, é só perguntar a Dilma se é verdade que pretende estatizar a telefonia. Se Dilma disser que não, estará endossando as mudanças implantadas no governo de FHC. Se disser que sim, será condenada ao naufrágio nas urnas.

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Fonte: Blog Augusto Nunes (Revista Veja

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