Este blog alcança neste outubro, deve estar acontecendo agora, se é que já não aconteceu, a marca de cinco milhões de páginas visitadas — no mês! Não se chega aí referendando o senso comum (numa ponta) ou o que eu poderia chamar “percepções de exceção” (na outra ponta). Talvez esse dado revele algo parecido com apreço por uma certa originalidade nos dias que correm: clareza! Este blog é claramente, indubitavelmente, sem qualquer sombra de ambigüidade, favorável à democracia e ao estado de direito. Por isso mesmo, acredita, sim, que a eleição de José Serra é o melhor para o Brasil. E sustenta isso, mesmo quando todas as pesquisas de opinião dos ditos “institutos” apontam uma diferença em favor de Dilma Rousseff que pode variar de 10 pontos (Datafolha) a 14,4 pontos (Sensus).
Este blog, pois, como se nota, não quer ganhar eleições. Também não ambiciona ser “campeão moral” de coisa nenhuma. Não disputa votos. Não disputa nada com ninguém. Não disputa nem leitores com outros blogueiros. Os mais de cinco milhões de páginas visitadas num mês indicam só a escolha de alguns valores. E a esses valores a página continuará fiel, pouco importa o vencedor. MAS ATENÇÃO PARA O PRINCIPAL: ESTE BLOG CONTINUARÁ A AFIRMAR QUE A ELEIÇÃO DE JOSÉ SERRA TERIA SIDO O MELHOR PARA O BRASIL AINDA QUE DILMA VENÇA. Porque este blog prefere a verdade ao poder. Demagógico? A esta altura, eu poderia estar buscando alguma acomodação. Prefiro parodiar um querido poeta: “Final força é pisar com convicção”.
Conhecido o resultado, certamente escreverei bastante a respeito, o que se repetirá nos dias, meses e anos seguintes. Há muitos jornalistas que declaram, sobranceiros, não ter um agenda. Há outros tantos que a escondem. Pois eu declaro a minha, já tantas vezes anunciada e enunciada aqui: democracia representativa, liberdades individuais, economia de mercado, livre expressão do pensamento. Elogio tudo o que concorre para fortalecer esse que considero ser um bom mundo e dou porrada em tudo o que — ou “todos aqueles” que — considero obstáculo à sua plena realização. Pode haver algo mais transparente, mais, como eu disse, “claro”? Creio que não!
Perdem o seu tempo, de um lado, os que tentam me convencer de que a democracia não é um bom caminho porque acabou resultando em Lula, eventualmente em Dilma. Perdem o seu tempo, de outro, os que tentam me convencer de que a democracia não é um bom caminho porque pode pôr termo às conquistas, reais ou supostas, de Lula. A minha democracia — aquela dos valores universais — não tem, em suma, qualquer intimidade com os que pretendem usar as urnas para a imposição de valores que, se revelados à luz do dia, com clareza e com verdade, seriam rejeitados pela maioria. Eu não tenho uma agenda secreta. Eu, de fato, combato aqueles que a têm.
Sem essa!
Todos sabem o que penso. Acho, sim, que a atual oposição cometeu alguns erros importantes nessa disputa — cuidei deles em muitos textos e falarei mais a respeito, pouco importa o resultado das urnas. Mas afastem de mim o “empatismo”; o “igualzismo” do “todo mundo está errado”; a afirmação vigarista, “outro-ladista”, covarde, segundo a qual as estratégias de ambos os lados — de Dilma e Serra — se igualaram moralmente. Uma ova! Ninguém me pegará nessa por uma razão simples: não pretendo entrar na fila do gargarejo na hipótese de a petista vencer a disputa. Os valores que ela põe para circular não me interessam e, creio, não são do interesse do país, ainda que milhões possam escolhê-la.
Eu sou aquele que pode, num dado momento do presente, do passado e do futuro, discordar dos “milhões”. Eu não acho que a verdade dependa do assentimento da maioria. Eu sou o ser esquisito que chega a ter certa simpatia pelos rejeitados. EU SOU UM DEMOCRATA MENOS PELO VALOR AFIRMATIVO DA DEMOCRACIA — O “SIM” À VONTADE DA MAIORIA — DO QUE POR SEU VALOR NEGATIVO: O RESPEITO ÀQUELES QUE DIZEM “NÃO”. Fossem realmente apenas 3% os que refugam o assédio de Lula — ele quer saber quem é essa gente, a exemplo daquele blogueiro pançudo —, eu faria questão de estar entre esses deserdados.
Não! Não me venham com essa conversa vagabunda de que a “baixaria tomou conta da política”. Eu desprezo mais essa postura do que a do petista cegado por suas verdades, que acredita sinceramente, coitado! — o que até Lula sabe ser falso — que os tucanos representam todos os males do mundo. Como na Epístola à Igreja de Laudicéia, no Apocalipse de São João, declaro: ”Porque tu és morno; nem és quente, nem és frio, começar-te-ei a vomitar de minha boca”. É preferível ser um petralha a ser um equilibrista. Estar no meio não é prova de virtude; pode ser apenas sinal de confusão mental.
Como assim?
“Baixaria dos dois lados”? Por quê? Então agora os crimes de estado cometidos por petistas, que violaram direitos resguardados pela Constituição, deverão ser equiparados — notem o escândalo! — à reação das vítimas? Até Marina Silva, a candidata a Heroína Sem Mácula da Política, resolveu censurar José Serra quando ele denunciou a maquinaria de dossiês que se tinha criado; denúncia plenamente comprovada pelas investigações, com todas as digitais do petismo presentes. Não me venha o outro-ladista com “mornidão”! Ou ainda: “O PT mentiu ao atribuir ao PSDB a intenção de privatizar a Petrobras, mas a oposição fez mal ao acusar Dilma de ser favorável à legalização do aborto”. Errado! Coisa de gente morna! Coisa que se expulsa porque nem quente nem fria.
O PT mentiu, sim, ao atribuir a intenção privatizante aos tucanos. E mentiu de novo quando culpou a oposição de orquestrar a reação contra a opinião de Dilma sobre o aborto. Era a voz de amplos setores da sociedade identificados com valores cristãos. O PSDB foi, isto sim, surpreendido pela indignação coletiva. Como denunciei aqui desde a primeira hora, os petistas é que deram um jeito de satanizar a reação dos cristãos, acusando uma espécie de conspiração. Era só um jeito de inflamar a sua militância . Ademais, se é absolutamente mentirosa a acusação de que tucanos pretendem, se eleitos, privatizar a Petrobras, é absolutamente verdadeira a defesa que Dilma fez da descriminação e da legalização do aborto. Desculpo-me com meus leitores pela tautologia, mas a tanto sou obrigado: a mentira não pode ser igual à verdade. Se elas se igualam, a verdade perde, e a mentira triunfa.
Não sei se Serra ganha ou perde a eleição. A se dar crédito aos institutos de pesquisa e considerando os números do primeiro turno, a chance de perder é grande. Se acontecer, à diferença do que dizem os mornos — que são só aquilo que se deve expelir —, terá sido mais pelo receio de dizer todas as verdades do que pela coragem de ter dito algumas delas — mal que, diga-se, acomete a oposição há pelo menos oito anos, mesmerizada que está por pesquisas de opinião que transformaram Lula num ser intocável, ignorando-se o fato óbvio de que a eventual aprovação do governo não deve se confundir com carta branca para falcatruas.
Hoje, ao raiar do dia 31 de outubro de 2010, quando se realiza o segundo turno das eleições presidenciais, renovo o compromisso com milhares de leitores: pouco importa quem vença a disputa, vocês me encontrarão aqui amanhã, daqui a pouco, nos dias vindouros: ou quente ou frio — morno nunca! Eu tenho lado — e jamais ignorei que o “outro lado” pode ser mais vantajoso, como “eles” sabem muito bem.
A nossa vitória é a clareza.