Caras e caros,
Este é um dos momentos de que mais gosto neste blog; eu o defino como “matar a cobra e mostrar a cobra”, naquele sentido, obviamente, não-sexista, sem ambigüidades, recomendado pelo Departamento Ira-ny de Censura. Vocês vão ver como os próprios mistificadores podem, sem querer, contribuir para revelar a verdade. Acompanhem. Garanto que, ao fim da trajetória, todos estaremos mais lúcidos. Vamos lá.
Uma coisa deixa certo ambientalismo muito revoltado, furioso mesmo: a afirmação de que a legislação ambiental brasileira é uma jabuticaba, sem paralelo ou similar no mundo inteiro. As restrições hoje em curso e as contidas mesmo no texto de Aldo Rebelo - acusado por esse ecologismo rancoroso de promover o desmatamento (é falso!!!) - têm um rigor único. Mesmo se aprovado o texto (vamos ver as mudanças a serem feitas no Senado) de Aldo, NÃO HAVERÁ PAÍS NO MUNDO COM O PERCENTUAL QUE TEM O BRASIL DE VEGETAÇÃO NATIVA E COM UMA LEI AMBIENTAL TÃO DURA! Ou ainda: o Brasil está escolhendo para si uma legislação que nenhuma nação, mesmo aquelas que já têm a sua superfície quase escalpelada, aceitaria.
Muito bem, meus caros. Um dos meus prazeres é pegar vigarista intelectual no pulo. Estão a dar aquele salto argumentativo bailarino, e eu pimba!, acuso o truque, e eles se esborracham no chão. Queriam ser Nijinski e caem como os Três Patetas. Ninguém é mais saliente na defesa das nossas florestas do que o Greenpeace, que tem sede mundial em Amsterdã, na Holanda. Daqui a pouco vocês entenderão por que eles decidiram preservar florestas mundo afora. Na Holanda, seria difícil. Quase não há mato a preservar. Eles costumam é queimá-lo… nos coffeeshops! Pois bem, esses patriotas sem pátria decidiram promover um estudo para saber se, de fato, o Código Florestal brasileiro era uma jabuticaba. O objetivo dos valentes era provar que essa era uma afirmação dos reacionários, dos ruralistas e das pessoas malvadas, como eu. Não omito nada dos leitores, como sempre. Clicando aqui, vocês têm acesso à integra do texto. Reproduzo a introdução que os próprios promotores do levantamento escreveram. Nada depõe mais contra esses caras do que aquilo que eles próprios produzem. Leiam o que segue em vermelho. Volto depois.
“Numa tarde de fim de junho deste ano, durante reunião da Campanha Amazônia do Greenpeace, o tema da exclusividade nacional do Código Florestal voltou à mesa. O assunto tinha assumido grande relevância durante o processo de votação do projeto de lei que altera o código na Câmara Federal. Havia dados e informações sobre a questão, mas em volume insuficiente para concluir se o nosso código era de fato uma peça única de legislação florestal. E quem poderia produzir um estudo mais definitivo sobre o tema? O nome que se ouvia, quase sempre, era o mesmo: Proforest. O Greenpeace correu atrás.
O Proforest, afiliado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, é uma autoridade global em florestas e uma fonte inesgotável de estudos sobre o tema. Sua equipe topou o desafio de examinar a questão. E alistou na empreitada o Imazon, um dos mais respeitados centros de produção de conhecimento sobre a Amazônia brasileira. Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon, ajudou na especificação e convocou sua equipe para revisar o estudo final. O resultado do trabalho traz informações relevantes para o debate sobre as mudanças no Código Florestal, que está agora sendo examinado pelo Senado.
Ele conclui que o nosso código está longe de ser uma jabuticaba. Há muitas outras nações com leis igualmente rígidas de proteção florestal.Além de desmistificar a exclusividade do “protecionismo” nacional no tema florestal, o estudo também cumpre o relevante serviço de demonstrar que, desde o século passado, é o fim do desmatamento - e não a terra arrasada - que virou sinal de desenvolvimento.”
Voltei
Leiam o estudo enquanto está no ar. Tão logo percebam o que fizeram, eles devem tirá-lo. Já providenciei uma cópia pra mim. O que vai acima é uma mentira grotesca. O levantamento indica que o Código Florestal é, sim, uma jabuticaba. Não existe nada tão restritivo no mundo - e, reitero, isso inclui o texto de Aldo Rebelo. O levantamento feito pelo Proforest e pelo Imazon compreende 11 países, com economias e graus de desenvolvimento os mais diversos. O objetivo é provar que todos são muito severos com o meio ambiente. São mesmo? Pois eu proponho trocar o nosso Código, o que está em vigência e o que vai ser votado pela legislação, pela lei de qualquer um deles. Os proprietários rurais brasileiros certamente topariam. Só que não haveria um só daqueles países que aceitasse a legislação brasileira. Seus respectivos governo diriam: “Vocês enlouqueceram?” Pois eu, agora, começo uma campanha: vamos trocar o nosso Código com o da Holanda, o da Suécia ou o da Alemanha… Eu quero as mesmas leis vigentes nos países dessas ONGs bacanas e de seus financiadores.
Por que digo isso?
Se vocês acessarem o documento, verão que há uma síntese da legislação dos locais estudados. ATENÇÃO: NÃO EXISTE ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE em lugar nenhum! Não há local no Globo terrestre em que a atividade econômica seja proibida em lei - o Brasil é a exceção! O máximo que fazem esses países é exigir precondições, reservando-se o direito de dar ou não autorização. PROIBIÇÃO PRÉVIA??? Não! Nunca!
O Brasilzão véio de guerra tem apenas 27,7% do seu território ocupados por agricultura, pecuária e afins - produção de comida, em suma, e derivados da agricultura. São dados do IBGE. Outros 11,3% abrigam cidades - que hoje concentram mais de 80% de uma população de quase 200 milhjões - e obras de infra-estrutura. O resto é composto de vegetação nativa, rios, praias, mangues etc e tal, tudo intocado ou quase: 61¨%. Não há no mundo nada parecido! Vejam, no caso dos 11 países estudados, o quadro com a porcentagem do solo ocupado por florestas (não é bem isso; já digo por quê) e a caracterização do que é “floresta primária” (aquela original, intocada ou recomposta) e o que é “floresta plantada”. Atenção para a realidade da Holanda, terra do Greenpeace, e do Reino Unido, um verdadeiro ninhal de ONGs que querem decidir o destino do Brasil ou da Indonésia…
País | % do territ. c/ floresta | Floresta original | Floresta replantada | Tem APP? |
Holanda | 11% | 0% | 100% | Não |
R.Unido | 12% | 23% | 77% | Não |
Índia | 23% | 85% | 15% | Não |
Polônia | 30% | 05% | 95% | Não |
EUA | 33% | 92% | 08% | Não |
Japão | 69% | 49% | 41% | Não |
Suécia | 69% | 87% | 13% | Não |
China | 22% | 63% | 37% | Não |
França | 29% | 90% | 10% | Não |
Alemanha | 32% | 52% | 48% | Não |
Indonésia | 52% | 96% | 04% | Não |
Vejam que espetáculo! Na Holanda, não sobrou da mata original um miserável graveto. Dos 11% do território do que seriam a cobertura vegetal nativa, 100% são florestas replantadas! Eles haviam acabado com literalmente tudo. O Reino Unido, que também gosta de dar conselhos, é muito eloqüente: apenas 23% dos 12% com cobertura florestal são mata original; todo o resto (77%) é floresta plantada. Mas atenção! Nada menos de 64% desses 77% são compostos de espécies introduzidas, que não são nativas da região.
Não se deixem impressionar pela grande cobertura vegetal de Suécia e Japão. São áreas impróprias para a agricultura, pecuária ou qualquer outra atividade. A geografia e o clima não permitem outra coisa.
Da pilantragem à canalhice intelectual
Falei de pilantragem intelectual. Mas ela pode subir alguns graus e virar canalhice. Ora, áreas de exploração de madeira, no Brasil, não são consideradas cobertura florestal. Se fossem, então o país teria menos de 27,7% de seu território economicamente explorado! Os proprietários brasileiros são obrigados a manter áreas de preservação dentro de suas propriedades, ONDE NENHUMA ATIVIDADE É PERMITIDA. Na hora, no entanto, de apontar a cobertura florestal daqueles 11 países, usaram um critério diferente. Leiam o que segue; vejam se os proprietários brasileiros não gostariam de uma legislação assim (segue trecho em vermelho do documento):
“Embora existam poucas possibilidades para a conversão de florestas em áreas privadas nos países analisados, seus donos têm o direito de administrar áreas florestais para a extração de madeira ou de outros produtos florestais não-madeireiros. Em alguns países, os proprietários são obrigados inclusive a se envolver no manejo ativo da floresta, definindo um plano para sua gestão e realizando regularmente sua manutenção e a colheita de produtos florestais. O tipo de exploração permitida varia entre os países, dependendo da ecologia das suas respectivas florestas. A derrubada de árvores é mais frequentemente usada em florestas boreais. O corte em grupo ou o seletivo são mais comuns em florestas temperadas e tropicais. A regeneração das áreas manejadas também varia entre a regeneração natural e o replantio.”
Conservação financiada
Em todos os países analisados - até mesmo na pobre Indonésia -, há incentivo em dinheiro para quem mantém a cobertura vegetal de sua propriedade. O Brasil começa a debater esse assunto com o código de Aldo Rebelo. Por aqui, essas mesmas ONGs que elogiam esse expediente querem é punir os proprietários com multas ou, na prática, promover uma verdadeira expropriação, proibindo a continuidade de culturas centenárias em áreas que passaram a ser consideradas de preservação permanente.
Para eles, elogios; para o Brasil, críticas. Ou: estômago forte
É preciso ter estômago forte para ler determinadas coisas. As ONGs tratam o Brasil, com 61% do território intocado ou quase (seria mais do que isso caso se empregassem os critérios com os quais se analisa a Europa), como um desmatador compulsivo. E vejam para quem sobram elogios:
“Outros países analisados tais como França, Alemanha e Japão foram muito mais bem-sucedidos na manutenção de suas coberturas florestais, indicando que eles passaram pela fase de estabilização da transição florestal com uma proporção muito maior de florestas. Isto é, esses países sempre mantiveram grande proporção de seus territórios com cobertura florestal. Esses países têm, normalmente, uma cobertura florestal total superior, equivalente a um a dois terços da área de floresta original, e também uma maior proporção de florestas naturais ou seminaturais.”
Mas vejam o que eles mesmos dizem sobre a elogiada França:
“Os principais regulamentos que regem a silvicultura na França são o Código Florestal (1979) e a Lei de Orientação Florestal (2001). Ambos os regulamentos afirmam que “ninguém tem o direito de converter suas florestas sem primeiramente obter uma autorização administrativa”26. Proprietários florestais necessitam fazer um estudo de impacto ambiental (EIA) quando buscam permissão para converter as florestas, especialmente se a área for maior a 25 hectares. Caso a área tenha menos do que 25 hectares é exigido um estudo de impacto ambiental menosrigoroso. Florestas públicas ou florestas privadas não podem ser convertidas sem uma autorização administrativa rigorosa e especial e todos os proprietários de florestas com áreas maiores de 25 hectares necessitam apresentar um plano de manejo, o que inclui um sistema de corte e replantio. Esses planos precisam promover reflorestamento, planejamento e conservação das áreas. Proprietários florestais com uma área de pelo menos 4 hectares são obrigados a reflorestar dentro de um período de 5 anos após o corte raso ou quando não há possibilidade de regeneração natural adequada.”
Ou por outra: proprietários de até quatro hectares não têm obrigação nenhuma; os de 4,1 a 25 hectares têm condições muito brandas, e só acima de 25 hectares ficam submetidos a uma controle mais rígido. Mas atenção; É CONTROLE RÍGIDO PARA PODER MEXER NA FLORESTA, NÃO PARA TORNÁ-LA UM SANTUÁRIO! Essas áreas manejáveis, de onde se extrai madeira, é considerada “floresta” na França…
Outro momento muito ilustrativo do texto admite, de modo quase vexado:
“Alguns países incluídos no estudo como Reino Unido, Holanda e China já tinham perdido uma proporção muito elevada de suas florestas no início do século XX. Como resultado, todos eles embarcaram em amplos programas de reflorestamento. Até agora têm obtido algum grau de sucesso, especialmente a China, mas a área total de cobertura florestal continua a ser limitada e a proporção de florestas naturais ainda é pequena.”
Ó, não me diga! Ninguém torra a paciência da China porque não se mexe com quem dá as cartas. E o país ignoraria mesmo, como ignora, qualquer pressão. Quanto à Holanda e ao Reino Unido, dizer o quê? Não é fabuloso que se pregue REFLORESTAMENTO em um país que tem dois terços de seu território desocupados e que não se faça o mesmo naqueles que têm, respectivamente, 89% e 88% de ocupação?
O Greenpeace encomendou um estudo, como eles mesmos deixaram claro, para provar uma tese e conseguiram provar o contrário: a legislação ambiental brasileira é uma jabuticaba que não seria aceita em nenhum país do mundo. O Brasil, mesmo com o código de Aldo Rebelo, segue sendo a ÚNICA REGIÃO do Globo que comporta áreas em que é proibido produzir. Coisa igual só em Chernobil.
Pois é… Às vezes se paga um tanto por enxergar um pouco além da bruma - inclusive das brumas da esperança… Mas se paga mesmo um alto preço por ir além da espessa nuvem da tolice. Assim é com a dita “Primavera Árabe”, aquele movimento que Arnaldo Jabor colou outro dia a Steve Jobs, por arte daquele mecanismo de pensamento em que uma coisa leva à outra, sem que precise haver entre elas nexo lógico: tudo se resolve com uma metáfora, um joguinho de palavras qualquer, um chiste metafísico. Pois é.
A polícia matou ontem no Egito 23 pessoas num conflito entre cristãos coptas - que compõem 10% da população do país - e as forças de segurança. Era a velho método Mubarak, só que, desta feita, matando gente sem muita importância: eram… apenas cristãos! Milhares de pessoas protestavam contra um ataque ocorrido contra uma igreja - um entre centenas.
Desde o início da badalada “revolução egípcia”, casas e templos dos cristãos têm sido incendiados por milícias radicais árabes. O novo governo é, para dizer pouco, tolerante. Os cristão decidiram demonstrar sua insatisfação - com protestos um tanto violentos, parece. Seja como for, a junta que governa o país - os iluministas do Jabor - deram uma de Bashar Al Assad. O que são 23 cristãos massacrados diante da democracia árabe, não é mesmo? Morressem 23 palestinos um conflito com Israel, o mundo viria abaixo. O caso é o seguinte: palestinos tem pedigree humanista; cristãos do Egito não têm…
Isso estava escrito nas estrelas - ou, se quiserem, no Crescente Verde. No fim de março, Duda Teixeira, de VEJA, entrevistou Esam El-Erian, porta-voz da Irmandade Muçulmana no Egito, e ele deixou claro que seu grupo tem como objetivo assumir o poder no país no prazo de cinco anos e que tem uma agenda pronta para quando isso ocorrer. A entrevista foi feita no escritório de El-Erian na capital egípcia, próximo a um hospital popular sustentado pela Irmandade. E-Erian eviodencia ter o controle de milícias, acusa os partidários de Mubarak de incendiar as igrejas e censura as próprias vítimas!!! Leiam a entrevista. Volto em seguida.
A irmandade pretende construir um estado islâmico no Egito, a exemplo do que ocorreu no Irã após a revolução de 1979? Criará leis para proibir o consumo de álcool ou saias curtas, por exemplo?
O Egito não é o Irã. Não é a Arábia Saudita. Não é a Turquia.
Então, qual é o objetivo político da Irmandade Muçulmana?
Isso depende da atmosfera e do contexto em que nos encontrarmos. Atualmente, nossa meta é conseguir a unidade nacional e instituir uma nova ordem no Egito. Isso significa uma nova Constituição, leis melhores e a retomada da economia, o que será muito importante nos próximos cinco anos.
Por que cinco anos?
Alguns políticos dizem que a transição vai durar seis meses. Outros falam em um ano. Nós achamos que essas estimativas estão equivocadas. A transição vai demorar cinco anos.
Por que a Irmandade declara que não almeja mais do que um terço das cadeiras no próximo Parlamento, cuja eleição deve ocorrer neste ano?
Nós não queremos a maioria no Congresso.
Por que não?
Porque, como eu disse, este é um momento de união, não de competição.
Será sempre assim? A Irmandade nunca vai querer mais do que um terço do Congresso?
Esta é a nossa estratégia há 25 anos. Estamos em um momento de transição, preparando o país para nossa próxima estratégia, a qual será iniciada após cinco anos. Só então haverá competição. Agora não há tempo para isso. O momento atual é de união.
Qual é o projeto de país da Irmandade Muçulmana para daqui a cinco anos, quando acabar o período que o senhor considera de união entre as forcas políticas?
Por favor, pare de fazer essas perguntas. Volte daqui a cinco anos e faça essa mesma indagação. Daí, sim, eu responderei (EI-Erian dá uma risada).
Como será o Egito daqui a cinco anos?
Por favor…
Que opinião o senhor tem a respeito das brigas recentes entre muçulmanos e cristãos coptas?
Isso é a contrarrevolução.
O Egito conseguirá manter-se estável durante essa transição, mesmo com esses conflitos religiosos?
Se conseguirmos evitar as intervenções de americanos e de israelenses, será muito bom. São eles os grandes perdedores dessa revolução, e não Hosni Mubarak.
O senhor está dizendo que americanos e israelenses incentivam as disputas religiosas?
Claro! Mubarak era um parceiro estratégico para eles.
Se é assim, por que americanos e israelenses não agem para permitir que Mubarak volte ao poder?
Se ele fizer isso, será morto.
Morto?
Depois de um julgamento, claro.
Eu e meu fotógrafo viajamos até Soul, onde uma igreja e casas de cristãos foram incendiadas. Os moradores muçulmanos nos impediram de entrar na vila, acusaram-nos de ser espiões estrangeiros e nos ameaçaram… Parece-me improvável que estivessem a serviço de americanos e israelenses.
Se quiser, posso dar o telefone de uma pessoa na vila de Soul para acompanhá-los em segurança.
Quem está ateando fogo às igrejas?
O pessoal do Partido Nacional Democrático (de Mubarak), os agentes da segurança de estado e os criminosos. Estou triste porque bispos e o papa Shenouda III (da Igreja Ortodoxa Copia) apareceram em público para reclamar dos ataques apresentando-se como cristãos. Isso não é bom.
Eles não podem declarar abertamente sua fé?
Os cristãos devem se defender como civis, não em nome de um setor da sociedade. Somos todos egípcios.
O clérigo muçulmano Yusuf al Qaradawi, apresentador de um programa na rede Al Jazira, do Catar e membro da Irmandade Muçulmana, diz que o marido tem o direito de bater na mulher, defende os atentados suicidas e acredita que os países islâmicos devem ter armas nucleares para aterrorizar inimigos. Qual será o papel de Qaradawi no novo Egito?
Ele visitou nosso país, ficou por três dias e voltou ao Catar. Aqui, é apenas uma voz entre muitas outras. Qaradawi apresentou um islamismo moderado, tolerante e pacífico para muitas pessoas. Por isso, muita gente confia nele. É um sábio.
Voltei
Eis aí. Os cretinos acreditam que uma “revolução” feita com alguma (não mais do que isso) influência do Facebook ou do Twitter será necessariamente progressista, como se esses canais não facilitassem também a divulgação de coisas estúpidas. No irã pré-revolucionário, as mensagens do aiatolá Khomeini, o fascissta islãmico, eram passadas em fitas-cassete, a modernidade possível. A chamada “Primavera Árabe”, já comentei aqui, tem muito de inverno da esperança. Por enquanto, quem está vencendo a parada são os sectários.
Então vamos aborrecer dizendo tudo. O sanguinário Bashar Al Assad mata na Síria para conservar o poder. Está enfrentando milícias armadas. EUA, França e Reino Unido estão chocadíssimos. A Junta Militar que governa o Egito massacra - e não é a primeira vez - cristãos desarmados. E haverá, no máximo, um muxoxo. Se houver.
O cristianismo, a religião mais perseguida no mundo hoje, pode ceder mais alguns mortos à causa islâmica diante dos bananas do Ocidente, não é? Convenham… Não será a primeira vez.
Por Reinaldo AzevedoCerto, a coisa toda serve à hagiografia da “primeira presidenta” do Brasil, e o tom laudatório que acompanha as reportagens sobre Dilma Rousseff na Europa beira o constrangedor. Abre-se mão até mesmo da tarefa óbvia de perguntar se é o Brasil quem tem de pagar para que ela vá se “emocionar e se “engasgar” na escola em que estudou o extremoso pai, que largou uma família na Bulgária e construiu outra no Brasil. Ponto parágrafo. Melhor pra Dilma. No Brasil, esta terra de oportunidades — onde a filha pretendia implantar uma ditadura comunista que fabricou o fabuloso atraso da Bulgária —, o pai enricou. Vamos seguir.
Dilma visitou a Turquia. Ela segue cumprindo na ponta do lápis a máxima estabelecida pelo jornalista H. L. Mencken: para cada problema difícil, há sempre uma solução simples e errada. E, como não poderia deixar de ser, a presidente brasileira voltou a insultar Israel, ainda que de modo um tanto oblíquo. Já explico por quê. Leiam o que informa a Reuters. Volto depois.
*
Na Turquia, Dilma apoia Estado palestino e pede fim da crise na Europa
A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta sexta-feira, 7, que a Europa saia da atual crise econômica assegurando o crescimento econômico e a retomada do emprego. Em declaração à imprensa após assinatura de atos durante visita à Turquia, Dilma também falou de política internacional e voltou a defender uma solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos. “Desejamos à Europa uma saída rápida da crise por meio da busca por maior estabilidade macroeconômica, mas também - e sobretudo - assegurando a retomada do crescimento, da proteção ao emprego e dos segmentos mais vulneráveis das diferentes populações”, disse Dilma, segundo áudio divulgado pela Presidência da República
A presidente exaltou a aproximação recente entre Brasil e Turquia e assinalou que sua visita ao país “reflete uma nova geopolítica do mundo”. Dilma considerou que “poucos assuntos são mais importantes” que a busca por uma solução para o conflito no Oriente Médio entre israelenses e palestinos. “Sem uma solução para o povo da Palestina, também não haverá uma solução de segurança para o povo de Israel. Essa é uma questão crucial”, defendeu.
O Brasil já se declarou favorável à criação de um Estado palestino nas fronteiras anteriores às da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Em seu discurso durante a abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em setembro, Dilma lamentou “não poder dar as boas-vindas à Palestina como um Estado reconhecido plenamente” pela entidade. A Autoridade Palestina busca no Conselho de Segurança da ONU o reconhecimento de um Estado palestino, atitude que tem a oposição de Israel e dos Estados Unidos. Washington é um dos cinco membros com poder de veto no Conselho.
Voltei
Dilma Rousseff comete dois atos tolos para quem é presidente de um país que pretende ser visto como um dos grandes no cenário internacional. Comecemos pelo tom dos discursos da presidente nessa jornada. Não, meus caros!, líder nenhum do mundo, podem pesquisar, dá “conselhos” e pitos como faz Dilma, propondo “soluções” a partir de sua própria experiência — eventualmente, experiência apenas suposta. Como bem apontou um texto recente, a que o Financial Times deu destaque, ela criticou o protecionismo dos ricos em discurso da Bélgica dias depois de ter elevado o IPI dos carros importados. Quase ao mesmo tempo, o governo decidia que as empresas nacionais terão prioridade nas compras governamentais. O que o Brasil quer? Licença para praticar “protecionismo de pobre”?
Uma coisa é o Brasil endurecer nas negociações bilaterais ou pressionar organismos multilaterais por meio de sua diplomacia; outra, diferente, é sair por aí como se fosse um Catão da nova era, como se tivesse descoberto o ovo de Colombo da economia. Tenham paciência! Dê-se um tombo feio no preço das commodities para ver aonde vai parar esse nosso “orgulho”. A inflação em 12 meses está em 7,31%, a mais alta desde 2005, num cenário de crescimento, por enquanto, apenas médio — 3,5% —, num processo óbvio de desindustrialização.
Está dado, pela natureza do processo, que a crise não atinge hoje igualmente os países ricos e os ditos emergentes. A resposta aceitável para estes pode não ser boa para aqueles. Mas Dilma tem a solução: retomada do crescimento, proteção do emprego, atendimento aos mais vulneráveis… Sei. Medidas protecionistas, num primeiro momento, protegem o emprego, por exemplo. A Soberana recomenda esse remédio aos companheiros europeus? Seria ruim para o Brasil acho.
Dilma repete, nesse particular, o seu antecessor, com aquela arrogância de quem descobriu a pólvora. Lembram-se quando Lula vivia demonizando o FMI porque o órgão sairia por aí dando o seu receituário? O Brasil faz algo diferente? “Mas os conselhos de Dilma são bacanas”. Ah, bom, se é assim…
Israel
A Turquia está numa rota óbvia de colisão com Israel. Recep Tayyip Erdogan, o primeiro-ministro, está esticando a corda ao máximo, anunciando até manobras militares. Reduziu ao mínimo as relações diplomáticas com seu ex-aliado e foi um dos promotores do pedido de reconhecimento encaminhado à ONU pela Autoridade Nacional Palestina. Também deu suporte à tal flotilha, de trágico desfecho. Dilma, no discurso de abertura da Assembléia Geral, já havia expressado seu ponto de vista.
Era, pois, absolutamente desnecessário ter voltado ao assunto justamente na Turquia, dado o status das relações deste país com Israel. Ao fazê-lo, é claro que Dilma endossa a estridência de Erdogan e se comporta como se ela também estivesse disputando a liderança dos… países islâmicos!!!
Uma comédia de erros.
Por Reinaldo Azevedo