Após retirada das tarifas, Cecafé trabalha para retomada dos blends e para isenção também do solúvel

Publicado em 21/11/2025 07:06 e atualizado em 21/11/2025 08:15
Decisão foi celebrada pelo setor, porém, sem baixar a guarda para a retomada dos contatos comerciais

A lista da isenção tarifária anunciada pelo governo dos Estados Unidos na noite desta quinta-feira (20) inclui cerca de 200 produtos e um dos mais aguardados era o café. A decisão foi comemorada pelo setor e pelas instituições que estiveram a frente das negociações desde o início do tarifaço de Donald Trump. 

O presidente do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), Márcio Candido, celebrou a retirada da tarifa de 40% sobre o café verde, que vinha minando a competitividade do país frente a seus concorrentes, inclusive fazendo com que, nos últimos meses, o consumidor americano já estivesse tomando café sem o blend brasileiro. 

"Os EUA representam de US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões das exportações de café o Brasil e nossa queda vinha na ordem de 50% nos últimos três meses. E com o acontecimento da semana passada, quando a tarifa ficou zerada para os demais países, nossas estimativas eram de que perdêssemos mais 30%", detalha. 

Candido afirma ainda que acredita que o encontro entre o presidente americano e o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na Malásia,  nos últimos meses foi um momento importante para que tais decisões dos EUA se firmassem. "Ali foi colocado que as questões políticas seriam colocadas a parte, sendo tratadas apenas as questões comerciais", disse em comunicado.

O diretor geral do Cecafé, Marcos Matos, afirmou que o 20 de novembro foi, portanto, um dia histórico para a cafeicultura brasileira. 

"Dia em que houve modificação na ordem executiva 14323, retirando a traifa de 40% sobre os cafés brasileiros. Temos uma questão ainda do café solúvel em aberto, mas todos os demais cafés foram isentos. Isso devolve pra nós a isonomia, as condições de competir. O Brasil que tem sua sustentabilidade, transparência, organização da cadeia produtiva, investimento em tecnologia e inovação, aumento de produtividade com preservação ambiental, carbono negativo - tendo tanto contribuído o café para os debates de alto nível na COP em Belém", disse.

Matos afirma ainda que, com a isonomia recuperada, o trabalho é agora para a retomada do espaço nos blends, e de todos os contatos comerciais com os importadores americanos de café brasileiro. "Temos todas as condições de reduzir todos os impactos, impactos estes que poderiam ser incalculáveis e irreparáveis, e em breve estaremos retomando toda a nossa participação nos principais blends". 
 
O diretor do Conselho, bem como o presidente, destacaram o importante papel da NCA (National Coffee Association) nas negociações, em especial nestas duas últimas semanas, e também do vice-presidente Geraldo Alckmin, dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Agricultura Carlos Fávaro, além do chanceler Mauro Vieira. 

"Tanto que a modificação da ordem executiva 14323 faz referêcnia ao processo de negociação como bem sucedido. Então, isso abre a janela para produtos que ainda não foram contempladas, alguns específicos que não aparecem no anexo I, então tudo isso será trabalhado para seguir contemplando. Hoje existe sim um ambiente de negociação e O Brasil deve avançar para seguir gerando progresso e riqueza econômica", conclui Matos. 

OS PREJUÍZOS REGISTRADOS, E OS QUE PODERIAM TER SIDO REGISTRADOS

Em Brasília, as negociações foram intensas nos últimos dias com o Cecafé, Abics (Associação Brasileira das Indústrias de Café Solúvel) e mais a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais) junto de Geraldo Alckmin, mostrando o cenário de prejuízos já registrados e mais os que poderiam ser caso as tarifas fossem mantidas. 

"O Brasil, para se manter permanente nas exportações para os outros países, vem sofrendo com uma pressão muito grande em relação aos diferenciais aplicados para café brasileiro que, inclusive com uma safra menor, estes diferenciais - que a gente chama de desconto sobre a bolsa - se alargaram bastante. E em função disso, nós estimávamos que no espaço de 12 meses poderíamos perder mais US$ 1 bilhão sobre o restante das exportações. Então, estamos falando de algo na ordem de US$ 3 bilhões de queda na balança comercial no espaço de um ano", detalha Marcio Candido, presidente do Cecafé. 

Ele lembra ainda que os estoques de café brasileiro nos Estados Unidos chegaram a zero, o que fez com que os consumdidores já estivessem tomando café sem o blend do Brasil, como adiantou em entrevista ao Notícias Agrícolas nas últimas semanas. "Isso é extremamente preocupante". 

Sobre o café solúvel, Candido destacou que é ele quem representa 10% das exportações brasileiras de tudo o que é embarcado aos Estados Unidos. "O solúvel, não só para o Brasil, mas também para outros países, continua tarifado. E seguimos trabalhando para isso, e existe um consenso entre as nossas instituições aqui de um approach junto ao governo americano para que também sejam retiradas as tarifas sobre o café solúvel, que inclusive é gerador de emprego. A cada emprego gerado pelo café em grão, de três a quatro são gerados pelo café solúvel, já que se trata de produto de maior valor agregado por ser produto final acabado". 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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