Casos de salmonelose recolocam o ovo na berlinda
Embora estejamos, ainda, no Inverno, a atipicidade da estação faz com que um tema quase que específico do Verão venha à baila: problemas de salmonelose relacionados ao consumo de ovos. Na semana que passou, o assunto esteve em foco no telejornal vespertino da TV Globo, o “Hoje”, e nos sites da Agência Brasil (a agência oficial de notícias do governo federal) e da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Esta, a propósito do assunto, emitiu um “press-release” reproduzido pelo AviSite entre os clippings desta terça-feira (vide “Contaminação por salmonella é mais freqüente em restaurantes e lanchonetes de SP”).
Referindo-se a um estudo ainda inédito, o “release” da Secretaria de Saúde de São Paulo aponta que 64% dos surtos de diarréia aguda por contaminação com bactérias do grupo salmonella no Estado de São Paulo foram ocasionados pela ingestão de ovos crus ou mal cozidos ou de ovoprodutos. No caso dos ovos especificamente – diz a Secretaria – o problema envolve produto oriundo “de granjas comerciais legais, e não de estabelecimentos clandestinos ou criações domésticas”.
Será mesmo? – questiona o setor produtivo, lembrando que boa parte da produção brasileira de ovos que chega ao consumidor não passa por nenhum tipo de inspeção. Ou seja: sob determinadas circunstâncias é impossível detectar a efetiva procedência do produto.
Mas não é só isso: o simples fato de o ovo ser o alimento mais tradicionalmente relacionado com problemas de salmonelose pode estar levando os órgãos incumbidos da vigilância sanitária a falsas conclusões. Ou, como observa um médico veterinário responsável técnico de uma granja do setor, “basta mencionar, no ‘check-list’ de um surto, que entre os pratos servidos havia algum à base de ovos, para se concluir que a causa [do surto] foi ovo”.
Um abalizado integrante do Ministério da Agricultura (que pede para permanecer no anonimato para “não causar dissensões entre dois respeitados órgãos públicos”) concorda, ressaltando que muitos dos casos imputados ao ovo podem resultar de conclusões precipitadas: “na atualidade, há alimentos absolutamente insuspeitos ocasionando contaminações no homem com organismos do grupo salmonella”.
Relembra, a propósito, que três meses atrás milhares de pessoas em pelo menos 36 estados norte-americanos (ou seja, em quase três quartos dos EUA) foram simultaneamente afetadas por um surto de salmonella que também ocasionou duas mortes. A ocorrência - descobriu-se após exaustivos levantamentos – foi ocasionada por tomates. Naturalmente, a bactéria não estava no alimento, mas passou a ser disseminada por ele a partir do manuseio.
É o que pode estar ocorrendo com o ovo. Por isso, melhor do que acusar é ensinar a manusear – desde a produção até o consumo final, pois a contaminação pode estar numa dessas fases, não exatamente no alimento em si.
A propósito - e considerando que, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, um terço das contaminações detectadas ocorreram após o consumo de alimentos em restaurantes, lanchonetes, padarias ou outros estabelecimentos comerciais que servem comida - seria oportuna uma ampla (mas ampla, mesmo) divulgação da “Cartilha [da ANVISA] sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação”.
Fonte: AviSite