Farsul: Produtores devem ter margens menores para próxima safra

Publicado em 05/08/2021 14:53 e atualizado em 05/08/2021 15:51

A consolidação dos dados coletados pelos painéis do programa Campo Futuro aponta que as margens de lucro obtidos pelos produtores na safra 2020/2021 foram históricas, mas não devem ser mantidas para a próxima. O levantamento é feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e realiza painéis de levantamento de custos de produção de grãos no Rio Grande do Sul.

O trabalho consiste na análise das informações obtidas a partir da realidade produtiva apresentada pelos produtores. Os painéis aconteceram em Bagé, Camaquã, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, e Uruguaiana para as culturas de soja, milho, trigo e arroz. O economista da Farsul, Ruy Silveira Neto, integra a equipe técnica que realiza o estudo. "A partir dos resultados dos painéis vimos que os custos aumentaram bem mais que a inflação oficial do país. Porém, a trajetória do aumento de preços e a recuperação da produtividade frente a seca do ano passado fez com que a receita bruta fosse alta e as margens fossem bem largas para safra 2020/2021. Atualmente, nós vemos que os custos seguem a trajetória de aumento, principalmente concentrada no ano de 2021, enquanto os preços já apresentam uma tendência de estabilidade. O que pode ocasionar, no futuro, que o custo comece a convergir para perto da receita e as margens fiquem cada vez mais estreitas até a próxima safra de 2022", avalia.

No caso da soja, principal cultura no estado, os custos relativos aos insumos tiveram uma redução na comparação entre as safras 2019/2020 e 2020/2021. Mesmo assim, as sementes registraram um aumento de 38%. Conforme Ruy Silveira Neto, isso aconteceu porque os valores de sementes, especialmente as Intactas, estão relacionados com a taxa cambial. Outros itens também tiveram forte alta como Operação Mecânica (20%); Juros de Capital de Giro (14%); Custo Operacional Total, que também considera a depreciação de equipamentos, por exemplo (13%); Custo Geral, valores relativos à administração da propriedade, contabilidade, energia elétrica, alimentação de funcionários (44%); e Frete (53%). A lavoura sojícola, no total, ficou 13% mais cara na relação entre as duas safras mais recentes. Porém, os custos seguem acelerando. Se na última, para cobrir todos os custos, o saco da soja deveria ser comercializado por, no mínimo R$ 67,00, atualmente esse valor saltou para R$ 85,00.

A safra de milho recuperou a perda da produtividade na comparação com 2019/2020, mas ainda está distante do potencial. "Mesmo não tendo uma produtividade excepcional, é a cultura que melhor responde em relação à margem bruta", comenta Ruy Silveira. A principal razão está na alta de 72% no preço do grão. Entretanto, os custos de produção mantêm o movimento de elevação. Desse modo, o valor mínimo do saco para cobrir os custos que era de R$ 34,87 na última safra, teria que passar para R$ 44,47 atualmente.

O trigo também vem de forte aumento no preço, atingindo 90% na safra 2020/2021. Os custos também tiveram elevação. Nos insumos, sementes (35%) e fungicidas (38%) puxaram a alta, junto com Custo Geral (49%). Mesmo assim, Ruy Silveira destaca o bom momento vivido na última safra e a projeção para a atual. "Foi um resultado histórico, o produtor pagou todos os custos e ainda teve margem bruta confortável. Foi o melhor resultado da última década. A realidade já mudou totalmente. Para empatar os custos, o produtor hoje precisava vender o saco a R$ 70,00, contra R$ 45,00 da safra passada", informa.

O arroz passa por situação semelhante ao trigo. "Enquanto ainda há espaço para lucratividade para soja e milho, para arroz e trigo não tanto", avalia o economista. A safra 2019/2020 já havia registrado bons resultados, mas a 2020/2021 foi bem superior. "Tivemos recorde de produtividade atingindo média de 206 sc/ha no nosso levantamento. Os preços também tiveram mesma trajetória dos demais grãos, garantindo um aumento de receita de 52%", explica.

Os custos também foram reajustados. Os Insumos aumentaram 17%, especialmente Sementes (29%) e Herbicidas (34%); Operação Mecânica, 23%; Custos de Colheita, 19%; Frete, 10%; Custo Geral 29%. O Custo Operacional Total (COT) do arroz foi o que teve maior alta, com 21%. Os valores de Irrigação cresceram 32% fazendo com que os seus custos se aproximem do valor total dos insumos em valores absolutos. "O grande problema do arroz é que ele mudou do vinho para a água. A tendência é que as margens boas não se repitam. Para cobrir os custos, o saco que antes deveria ser vendido por R$ 44,31, agora não pode ficar abaixo de R$ 65,87", analisa.

O projeto Campo Futuro também realizou o levantamento dos custos de pecuária de leite e de corte. Os dados já foram compilados e estão em fase final. O último levantamento de fruticultura havia acontecido em 2017.

 

Fonte: Farsul

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Novas variedades de amendoim são apresentadas aos produtores de amendoim do Oeste Paulista
Demanda por feijão de qualidade sustenta preços do mercado brasileiro
Mercado de arroz permanece pouco ofertado e com preços firmes no Sul do país
Paraná inicia colheita da segunda safra com perspectiva de recorde para a produção de feijão
Ibrafe: Há a chance de recorde de exportação de Feijão-preto