Crise do Covid-19 na Europa, principal importador de frutas brasileiras, preocupa setor produtivo

Publicado em 24/03/2020 08:02
Volume de exportação de frutas costuma ser maior no segundo semestre, mas ainda há incerteza se o consumo externo retomará normalidade; dificuldades na economia interna também é preocupação do setor de fruticultura

Com vários países da Europa atravessando a fase aguda da pandemia do Covid-19, o setor frutícola brasileiro se preocupa, uma vez que o bloco concentra a maior parte das exportações de frutas. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, o período atual é, tradicionalmente, de baixa estação para exportação de frutas, mas a  questão é o segundo semestre, com dúvidas se haverá normalidade no mercado externo.

"Estamos em um momento de 'entressafra' nas frutas que mais se exportam, como melão, melancia, uva, manga. Isso de certa forma, é uma sorte, porque a gente estaria sofrendo muito mais se fossem volumes maiores", disse.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, houve queda nas negociações com mercado externo de frutas e nozes não oleaginosas, frescas ou secas no primeiro bimestre deste ano. Os números mostram que neste primeiro bimestre de 2020 o faturamento no mercado externo foi de US$ 120,38 milhões uma redução de 19,5%  em comparação com o período em 2019. O volume embarcado nos dois primeiros meses deste ano foi de 155.476,5 toneladas, queda de 12,3% em comparação com o período no ano passado. 

No caso da Holanda, principal importador de frutas brasileiras e que representa 31% da fatia, houve uma queda de faturamenro de US$ 18 milhões no primeiro bimestre deste ano em comparação com o período de 2019. 

Em relação aos estados exportadores, o Rio Grande do Norte, líder no ranking, faturou US$ 38,2 milhões neste primeiro bimestre, 36,2% a menos do que na mesma época em 2019.

Segundo Barcelos, nesta queda já há efeitos da pandemia de Covid-19, mas não é possível afirmar que a redução seja somente por causa da doença. "Essa queda já mostra algum reflexo, em fevereiro a Europa já estava com o coronavírus 'na porta', inclusive com diminuição de público nas feiras setoriais que acontecem lá", disse.

Ele explica que, inicialmente, houve uma corrida em países europeus para o consumo de frutas, mas depois, veio uma retração, já que agora a população opta por estocar alimentos não-perecíveis. 

SITUAÇÃO NO CURTO PRAZO

Segundo Marcela Barbieri, pesquisadora Hortifruti/Cepea, as exportações de frutas provavelmente serão reduzidas nas próximas semanas. "Tem menos navios, menos aviões indo e voltando, e já sentimos o impacto para frutas que têm mais dificuldade em relação à logística, como mamão, transportado majoritariamente por via aérea". 

"Algumas frutas que se destacam nas exportações no primeiro semestre são a maçã, lima ácida tahiti, e a gente já viu que já está afetando". 

Para a pesquisadora, algumas frutas, como uva, melão, melancia e manga, as exportações são maiores no segundo semestre, então ainda há uma incerteza sobre como a doença irá progredir e como os mercados vão reagir. 

"Com essa questão da redução de aviões e navios disponíveis para transporte de exportação, pode ser que o frete fique mais caro, e isso é mais um desafio a ser enfrentado pelo setor".

PRECAUÇÕES COM O TRABALHO NA CADEIA PRODUTIVA

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, a entidade já trabalha na prevenção da contaminação por Covid-19 entre os trabalhadores.

Ele explica que está sendo distribuído para os funcionários um kit com máscaras e álcool, o número de pessoas dentro dos ônibus de transporte para as fazendas foi diminuído, assim como dentro das propriedades. Além disso, a temperatura dos colaboradores é monitorada, e nos 'packing houses', o espaço entre os trabalhadores foi ampliado, e há pausas periódicas para higienização. 

Por: Letícia Guimarães
Fonte: Notícias Agrícolas

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