Pará mantém liderança na produção de cacau apesar de seca e colheita tardia
A safra de cacau no estado do Pará sofreu alterações no calendário de colheita devido aos impactos climáticos registrados no estado na última safra. As adversidades afetaram cerca de 69% dos municípios da Amazônia, marcados por uma seca severa e temperaturas que ultrapassaram os 39°C, aferição bem acima da média histórica, entre 20°C e 36°C.
De acordo com Maria Goretti, coordenadora de Projetos Estratégicos do Sistema FAEPA/SENAR e presidente da Câmara Setorial do Cacau no Pará, o número de dias com temperaturas acima de 38°C dobrou em comparação com a média da última década.
“Com isso, a colheita foi adiada de março para meados de agosto. Houve abortamento de flores, queda prematura de vagens devido ao calor extremo, além da necessidade de irrigação emergencial com microaspersão”, relatou a coordenadora.
Apesar da desorganização do calendário agrícola, a expectativa é de que haja uma gradual normalização para o ciclo 2025/2026, com o fim do fenômeno El Niño. Segundo Maria Goretti, o setor contará ainda com parte dos R$12 bilhões em crédito rural, que são destinados para apoiar o desenvolvimento da agricultura na região amazônica.
Além dos efeitos climáticos, os produtores enfrentam o temor da monilíase, uma doença fúngica quarentenária já registrada no Acre (2021) e no Amazonas (2022 e 2024). A praga tem potencial de causar perdas de 70% a 100%, com prejuízos que podem atingir até R$1,5 bilhão caso avance para o Pará.
Em resposta, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ) intensificou as ações preventivas, realizando mais de 600 fiscalizações em 61 municípios ao longo de 2023. Até o momento, apenas Vassoura-de-Bruxa e Podridão Parda foram detectadas, doenças que também são fúngicas e que requerem manejo rigoroso.
Bons números, apesar dos desafios
Mesmo diante das adversidades, a safra 2024/2025 cresceu 4%, atingindo 152 mil toneladas, ante 146 mil toneladas em 2023. O Pará mantém, assim, sua liderança nacional, representando 51,8% da produção de cacau no Brasil.
A produtividade média estadual chegou a 847 kg por hectare, a maior do mundo e superando em 75% a média nacional, que é de 483 kg/ha. Além disso, o estado plantou 8.172 novos hectares em 2024, crescimento de 5,1%, e distribuiu 11,5 milhões de sementes híbridas para 5.587 produtores em 69 municípios.
“O Pará demonstra uma resiliência extraordinária. Mesmo diante de desafios climáticos históricos, mantém o crescimento produtivo com políticas públicas integradas que consolidam sua liderança global na cacauicultura sustentável”, conclui Maria Goretti