Metas do milênio: Crise em três frentes

Publicado em 08/07/2009 13:22
Bruxelas, 08/07/2009 – O Sul em desenvolvimento enfrenta uma crise em três frentes: a economia mundial que se precipita, o encarecimento dos alimentos e a mudança climática que já faz sentir seus prejuízos, alertou na segunda-feira a Organização das Nações Unidas. O Informe sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2009 mostra os avanços conseguidos desde que, há nove anos, 189 países se comprometeram em cumpri-los, até 2015. Definidos em 2000 pela Assembléia Geral da ONU, essas metas incluem reduzir à metade a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome em relação aos índices de 19909; garantir educação primária universal; promover a igualdade de gênero e reduzir a mortalidade infantil e materna. Também figuram na lista combater a Aids, a malária e outras enfermidades; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. O informe deste ano chega em um momento particularmente crucial, segundo Nicola Harrington, diretora do escritório da ONU e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em Bruxelas. Nesta mesma semana, entre hoje e sexta-feira, acontece na Itália a cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos. Enquanto isso, uma grave crise econômica mundial agrava a situação dos mais pobres no Sul em desenvolvimento. O estudo analisa os avanços obtidos em cada um dos oito Objetivos desde 2000. “Este informe, divulgado anualmente, chega duas semanas após a reunião da ONU sobre finanças, em Nova York”, disse Harrington à IPS, recordando que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, estará presente na cúpula do G-8. “Neste momento de crise, tem importância vital a maneira como estes desafios são assumidos pelos países industriais e a maneira como podem ajudar as nações do mundo em desenvolvimento”, acrescentou. Segundo a diretora, esses desafios têm três aspectos: crise financeira, problemas da mudança climática e encarecimento dos alimentos. Os dois primeiros são relativamente bem compreendidos, mas ao terceiro não se dá toda a importância que merece. A carestia alimentar “saiu recentemente do radar, mas, ainda é um problema enorme”, disse Harrington. “No mundo em desenvolvimento as pessoas pagam preços elevados por sua comida, frequentemente alimentos básicos”, acrescentou. Os países pobres também vêm a mudança climática como um “problema de amanhã”, quando, na verdade, se trata de um assunto sério e imediato para os que experimentam de primeira mão e os que não têm os recursos para minimizar seus efeitos. Porém, embora este informe avalie os acontecimentos tal como ocorrem, isto é complicado pelo simples fato de seus dados terem sido amplamente recopilados antes das atuais tendências econômicas começarem a criar raízes, e os conteúdos dos estudos têm de ser vistos nesse contexto, disse a especialista. “Às vésperas da crise avançávamos muito bem em algumas áreas, como a redução da pobreza, a educação, a mortalidade infantil e a redução de novas infecções de HIV/Aids. Mas agora a crise financeira atingiu duramente o mundo em desenvolvimento e nem todos os países, tanto no Norte quanto no Sul, criaram adequadamente um programa de mudança”, disse Harrington. Além do mais, o mundo em desenvolvimento pode ser mais afetado do que se sugere, porque a redução das remessas tem um efeito enorme sobre as economias dessas nações, algo que, segundo a especialista da ONU, os observadores ocidentais tendem a esquecer como um “problema real”. A ONU e o Pnud, junto com muitas organizações não-governamentais européias, exorta o G-8 e a União Européia para que não abandonem a assistência ao desenvolvimento neste momento crucial. “Os atores internacionais com a União Européia, com seu lugar de destaque na diplomacia e economia mundiais, estão bem situados para fazer algo em relação a esta crise”, disse Harrington. Porém, mais do que isso, tanto o mundo industrializado como o em desenvolvimento deveriam ver que seus problemas estão interligados e que a cooperação deve ser a chave para garantir a proteção futura diante de qualquer crise que surja, acrescentou. “Os problemas do mundo em desenvolvimento também são os problemas do mundo industrial. Por exemplo, se a Europa aborda sua própria recuperação da crise financeira, no caso de modificar seu regime comercial, afetará o mundo inteiro”, afirmou Harrington. “A sustentabilidade mundial deve estar de mãos dadas com o desenvolvimento humanos. Temos de evitar o protecionismo e incentivar oportunidades produtivas em áreas como agricultura, indústria e serviços. Temos de construir mercados. Quanto mais países em desenvolvimento se incorporarem ao mercado mundial, mais este mercado se expandirá. Todos têm a responsabilidade de fazer esses mercados voltarem a crescer”, acrescentou.
Fonte: IPS / Envolverde

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