A cerca pode fazer diferença na recomposição de áreas de conservação, dizem cientistas, agrônomos e ambientalistas
De acordo com o texto, que tem entre seus autores o professor Gerd Sparovek, que atua na área de conservação do solo e planejamento do uso da terra na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), rever a estratégia de manejo das pastagens pode garantir mais eficiência nas fazendas e ainda tornar possível a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) e até mesmo a compensação dessas áreas fora da propriedade, com ganhos financeiros e ambientais para o produtor, pela melhoria nos procedimentos de manejo e diversificação de atividade econômica. Segundo as entidades que assinam o artigo, cerca de 80% dos passivos em APPs ocorrem sobre pastagens. Estas, por sua vez, equivalem a 77% das terras em uso pela agropecuária no Brasil, e garantem o posicionamento do país como o primeiro produtor e exportador mundial de carnes.
Os especialistas defendem que, para recompor áreas de florestas em pastagens situadas na Mata Atlântica, no Cerrado e na Floresta Amazônica, tudo o que se precisa é deixar de fazer nelas qualquer tipo de roçagem, química ou mecânica, cercá-las e, em um primeiro momento, colocar nelas o gado bovino. Este comeria o capim tenro, deixando de lado a vegetação mais dura (lenhosa) da mata em restauração, que cresceria sem a competição voraz do capim. Com o crescimento dos arbustos e árvores típicos do bioma, o conseqüente sombreamento do pasto acabaria com o capim. Neste momento, sai de cena o gado, e tem-se uma área de conservação.
O problema, explica André Nassar, coordenador da RedeAgro, é que cercar áreas representa altos custos para o produtor. “A cerca elétrica não sai por menos de R$ 2,6 mil o quilômetro, e a fixa pode chegar a R$ 7 mil por quilômetro. A manutenção fica mais cara também, mais gente e material para aceiros e consertos”, diz Nassar. Embora o resultante ganho de produtividade nas fazendas ajude a pagar em parte esta conta, os consultores alertam para a necessidade de disponibilização de crédito para este fim, preferencialmente, fácil e sem burocracia.
“Mais do que nunca, devemos pensar em soluções para o campo, de maneira a equilibrar o Agro e o Eco. Somos sete bilhões de pessoas no mundo, precisamos de alimentos e de fibras têxteis, mas não podemos descuidar dos nossos recursos naturais. Para produzir mais, utilizando áreas menores, e menos recursos, como a água, são necessários tecnologia e manejo eficiente. Isso tem custo”, diz o coordenador.