Milho: Com seca, preços no BR já acumulam de mais de 20% no ano

Publicado em 02/05/2018 08:38

Milho safrinha em Brasilândia do Sul/PR

Com o cenário climático ameaçando a segunda safra brasileira de milho, os preços do cereal já começam a reagir de forma bastante expressiva no mercado nacional. Somente no pregão da última  segunda-feira (30), os futuros do milho negociados na BM&F subiram de 1,5%- apesar da leve baixa do dólar -, com os ganhos mais intensos sendo registrados nos contratos referentes à safrinha. 

Ao se comparar com 30 de janeiro, o vencimento maio/18, que tem a última referência em R$ 40,08 por saca, acumula uma alta de 22,20% e, em relação a 23 de março, de 6,17%. Ao considerar o julho, o ganho em relação ao mês passado é de 7,36% e o último preço é de R$ 39,40. Já ao analisar o setembro, que fechou o último pregão com R$ 39,00,  é possível ver um saldo positivo mensal de 12,72% e uma alta acumulada nos últimos quatro meses de 22,26%. 

E essa deve ser a tendência para os preços do grão, ao menos por enquanto, como explicam analistas e consultores de mercado. 

Os preços vêm se recuperando das baixas recentes, quando o mercado sentiu a pressão de uma oferta ainda com os compradores ligeiramente mais retraídos e com os vendedores vindo a mercado com um pouco mais de frequência. 

"No entanto, algumas praças, especialmente as consumidoras, registraram reações nos últimos dias, impulsionadas por especulações quanto ao desenvolvimento das lavouras de segunda safra e pela valorização do dólar frente ao Real. Produtores também se retraíram na última semana do mês, firmes quanto aos valores de venda, atentos ao desenvolvimento das lavouras e no aguardo de melhores oportunidade de negócios, principalmente para exportação", diz o Cepea em seu boletim diário desta segunda.

O atual cenário muda também o ritmo da comercialização no Brasil, especialmente entre as vendas a futuro. A incerteza sobre o potencial efetivo das lavouras faz com que os produtores evitem novas operações de hedge, mas, ao mesmo tempo, traz os compradores ao mercado na tentativa se defenderem de novas altas e para garantirem sua oferta, como explica o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. 

"As projeções climáticas trazem enormes preocupações à cadeia produtiva do milho. Demandadores e origens com foco no clima", diz Fernandes. "É importante lembrar que cerca de 35% da segunda safra de milho foi plantada fora da janela ideal. Então, o risco é muito grande", completa o consultor.

Mapa do Inmet mostra os baixos acumulados de chuvas nos últmos 5 dias - Fonte: Inmet

Para Fernandes, ainda é cedo quantificar a perda total da safrinha de milho, porém, afirma que é necessário que as lavouras do Centro-Sul do Brasil, que é a região onde a situação é mais crítica, precisam de chuvas consideráveis pelos próximos 10 ou 12 dias. "E os mapas não indicam essas chuvas", diz. 

Milho safrinha em Brasilândia do Sul/PR

O mesmo diz a consultoria AgRural, citando como as áreas mais preocupantes no Paraná e Mato Grosso do Sul. 

"Ainda não é possível, entretanto, mensurar o impacto da estiagem na produtividade (no oeste). O tempo também está seco no norte do Paraná, mas a situação ainda não preocupa tanto porque a região tem plantio mais tardio", afirmou a empresa à agência de notícias Reuters. 

Acumulados de chuvas nos últmos 15 dias - Fonte: Inmet

O Paraná, segundo maior produtor de milho na safrinha, é um dos mais atingidos pelo clima adverso e em algumas localidades os produtores já destacam que as plantações registram perdas. Esse é o caso de Maringá, onde as lavouras estão sem chuvas há mais de 30 dias e as previsões não indicam volumes significativos nos próximos 10 dias. Diante desse quadro, o presidente do sindicato rural do município, José Antônio Borghi, reforça que a perda está próxima de 40% até o momento, mas pode se agravar caso as precipitações não se confirmem nos próximos dias.

Em Itambé (PR), as lavouras de milho estão há 30 dias sem chuvas. "De agora em diante, a cada dia que se passa o índice de perdas do potencial produtivo aumenta significativamente", disse o produtor rural da região, Valdir Fries. Além do estado paranaense, algumas regiões como Laguna Carapã, Sete Quedas e Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul, as lavouras de milho safrinha também estão sendo afetadas pela ausência de chuvas.

Vídeo das lavouras de milho safrinha em Itambé (PR)

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Lavoura de milho safrinha em Itambé (PR). Envio de Valdir Fries

Veja mais:

>> Com mais de 30 dias sem chuvas, lavouras de milho safrinha registram perdas de até 40% em Maringá (PR)

Como relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, os negócios no mercado interno, diante desse cenário, se mostram bastante pontuais e escassos nas principais regiões produtoras do país. Os vendedores estão retraídos e acreditam que podem encontrar a frente oportunidades ainda melhores de venda, principalmlente na exportação. 

No entanto, lembra ainda que uma demanda interna mais tímida em função do mau momento no setor de proteínas animais - por conta dos problemas com a União Europeia - também deverá ser considerada e observada. 

"Com menor alojamento de pintos, vamos para consumo menor de ração e, desta forma, a saída do milho será a exportação, que seguirá compradora e pagando R$ 10,00 acima do que pagava no ano passado", diz o consultor. 

Antes do feriado do dia do trabalho comemorado nesta terça-feira, 1º de maio, e que deixou o mercado parado no Brasil, o último preço do milho no porto de Rio Grande era de R$ 38,50 por saca, referência da segunda-feira (30). Ao se comparar com 30 de janeiro, a alta acumulada é de 26,23% e de 13,24% ao se comparar a 29 de março.  

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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