Petróleo brasileiro seguiria competitivo com tarifas de Trump, dizem especialistas
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil tem flexibilidade logística e comercial para preservar a competitividade do seu petróleo no mercado internacional, caso a commodity brasileira não seja isenta das novas tarifas anunciadas na véspera pelos Estados Unidos, na avaliação de especialistas.
O petróleo é o principal produto da pauta de exportação do Brasil aos Estados Unidos e até então estava isento da tarifa de 10% aplicada neste ano para as exportações brasileiras ao país norte-americano. Mas não está claro se a commodity permanecerá isenta com a nova tarifa de 50% que será imposta sobre as exportações do Brasil a partir de agosto.
"A imposição dessas tarifas pode gerar ruídos de curto prazo nos fluxos comerciais e impactar as margens em contratos spot, mas não representa um risco estrutural para o escoamento da produção do Brasil", disseram os analistas do BTG Pactual Luiz Carvalho e Gustavo Cunha, em relatório a clientes.
"O Brasil possui flexibilidade logística e comercial para preservar a competitividade de seus barris no mercado global."
Em 2024, o Brasil exportou um total de 1,78 milhão de barris por dia (bpd), sendo que 243 mil bpd foram destinados aos EUA, segundo dados do governo compilados pela consultoria StoneX. Em termos de receita, as vendas de petróleo do Brasil ao exterior somaram US$44,96 bilhões, sendo US$5,83 bilhões ao país norte-americano.
Os analistas do BTG ressaltaram não acreditar que a Petrobras, principal produtora do Brasil, seja "impactada de forma significativa pelas tarifas". No primeiro trimestre do ano, apenas 4% das exportações da estatal brasileira foram destinadas aos EUA, segundo dados da companhia.
Já em relação aos derivados, a participação das exportações da Petrobras para os EUA foi de 37% de um total de 209 mil barris por dia (ou cerca de 77 mil barris por dia).
"Embora os EUA tenham uma participação considerável nas exportações de derivados, quando olhamos em termos absolutos, acreditamos que esse é um volume pequeno e que a Petrobras deve conseguir redirecionar esse fluxo de exportação para outro país com facilidade", afirmaram os analistas do BTG.
Em nota, a Petrobras afirmou que está avaliando o impacto da tarifa anunciada na véspera e mantém sua estratégia de buscar sempre "a melhor alternativa para a empresa em qualquer cenário".
Nesta quinta-feira, as ações preferenciais da Petrobras operavam estáveis.
"O posicionamento comercial e a atuação global da Petrobras permitem monitorar permanentemente os movimentos do mercado internacional e observar as opções mais econômicas", afirmou a estatal.
Embora o petróleo do Brasil represente uma pequena parcela das importações norte-americanas do produto, a tarifação de 50% poderá levar a uma mudança no perfil de compradores de petróleo, se confirmada, com uma possível maior participação de países asiáticos em detrimento dos Estados Unidos, na avaliação da analista de Inteligência de Mercado da StoneX Isabela Garcia.
Em um cenário mais pessimista, Garcia afirmou em nota que "impactos de curto prazo... podem envolver um recuo nas exportações de petróleo enquanto essas alterações se concretizam".
O especialista no setor de energia, óleo e gás do Instituto de Economia da UFRJ Aldren Vernersbach ponderou à Reuters que ainda existe um período para articulação e negociação entre os governos, pois a taxa entrará supostamente em vigor somente em agosto.
"Em face da relação comercial estável e longeva entre Brasil-EUA e da qualificada estruturação da corrente de comércio internacional do país, uma consistente negociação deve ser realizada, pautada nas boas práticas econômicas e comerciais", afirmou o especialista.
Vernersbach comentou, no entanto, que a China lidera atualmente a compra de petróleo brasileiro, com participação de 44,4%, considerando dados de 2024.
"Na hipótese do cenário da sobretaxa se consolidar, as empresas brasileiras têm a possibilidade de ampliar as exportações... para outras nações", disse Vernersbach. "O setor de óleo e gás brasileiro é robusto e eficiente, se insere facilmente nos mercados globais."
(Por Marta Nogueira; reportagem adicional de Fabio Teixeira)