Marcelo Odebrecht foi preso contrariado com Dilma, informa MONICA BERGAMO, da FOLHA

Publicado em 20/06/2015 13:52
NA FOLHA DESTE SÁBADO

A pergunta recorrente na sexta (19) entre advogados e políticos era: qual a chance de Marcelo Odebrecht fazer delação premiada? "Zero", diz um dos advogados da equipe do empreiteiro.

ÁGUA BENTA
Pouco antes de ser preso, Marcelo Odebrecht não escondia sua contrariedade com Dilma Rousseff. Ele afirmou a mais de um interlocutor que a presidente, acreditando que ao juiz Sergio Moro só interessaria punir as empreiteiras, poupando o governo, teria, digamos, se desinteressado do caso.

A VÍTIMA
Na visão de Odebrecht, Moro evita aprofundar o envolvimento de políticos para que o caso não saia de suas mãos -quando alguma pessoa com cargo público é citada, a investigação tem que ser encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ao juiz restaria condenar as empreiteiras por cartel, em que o governo é vítima.

FORA DE CONTROLE
Neste raciocínio, só um fio estaria até então "desencapado": o do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, que fez acordo de delação premiada em Brasília. Ele, sim, poderia envolver políticos do mais alto escalão do governo no escândalo da Lava-Jato.

VERSÃO DA VERSÃO
A tensão no governo Dilma, por sinal, já vinha aumentando nos últimos dias justamente por causa da delação premiada de Pessoa. De acordo com versões que circulam no alto escalão do governo, ele teria citado ministros da cota pessoal da presidente. A informação não é confirmada.

VERSÃO DA VERSÃO 2
No STJ (Superior Tribunal de Justiça) circulava também a informação de que Pessoa teria envolvido novos governadores e ex-governadores na Lava-Jato.

TODAS AS TURMAS
Ainda Marcelo Odebrecht: muito próximo de Lula e do PT, o empreiteiro foi também estrela de eventos que reuniram a nata do PSDB nos últimos meses. Num jantar oferecido a Fernando Henrique Cardoso em maio, ele se sentou na mesa principal, ao lado do ex-presidente e do governador Geraldo Alckmin, de SP. Houve discursos mas, por educação, ninguém tocou no tema de corrupção nem citou a Lava-Jato.

TODAS AS TURMAS 2
Dias depois, o mesmo Odebrecht foi convidado para jantar reservado oferecido por Alckmin no Palácio dos Bandeirantes. Mais uma vez, o homenageado foi Fernando Henrique Cardoso.

NOTA FISCAL
E notas fiscais da Polis Digital, encontradas na contabilidade da Odebrecht, chamaram a atenção de investigadores. Eles imaginavam ter encontrado pagamentos ao marqueteiro de Dilma, João Santana. Na verdade, a empresa é da enteada dele, que presta serviços de internet. Os valores, em dois anos, somaram R$ 98 mil.

 

Alta tensão, por Igor GielowIgigorr Gielow

BRASÍLIA - Um dos mais argutos políticos em atividade definiu a nova fase da Lava Jato como ponto de inflexão. Repassando os rumores de que a apuração sobre a Odebrecht levaria à campanha de Dilma em 2014, ele vê pela primeira vez desde a eclosão do caso risco real de o governo ser fulminado.

Não se sabe ainda se é para tanto, mas Planalto e PT estão preocupados. No mínimo, considerando que os rumores sejam apenas isso, porque a operação atingiu a Odebrecht.

Não se trata só da maior empreiteira brasileira, o que em si enseja preocupações legítimas para uma economia já em depressão e com desemprego em alta, mas também de uma das empresas mais próximas não só do governo, mas também de Lula.

Virtual candidato em 2018, o petista vê o corredor estreitar-se a cada uma das estações da cruz da Lava Jato. As relações do instituto que leva seu nome com empreiteiras já estavam na mira; agora o pesadelo atende pelo nome de delação premiada.

Não só governistas têm com que se preocupar, como o "Para Todos" que dá nome à etapa indica. O chefão da Andrade ora alojado na PF de Curitiba é unha e carne com o tucanato.

Palacianos bateram bumbo sobre o fato, talvez porque miséria goste de companhia. Mas são eles que têm mais a perder, ainda mais com impopularidade de Dilma e a ameaça de uma rejeição de contas virar mote de processo de impeachment.

Com esse cenário carregado, os olhos se voltam para o trabalho da investigação. Um deslize agora pode significar o fim da Lava Jato, já que todas as acusadas estão no mesmo balaio e procurando agulhas envenenadas no palheiro da apuração. A carta do risco sistêmico de contágio a bancos credores reaparecerá.

Um objetivo central da Lava Jato sempre foi chegar aos donos do dinheiro. Apenas uma apuração rápida, objetiva e serena garantirá que seu zênite neste particular não seja também a véspera do epílogo. 

Fonte: Folha de S. Paulo

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