Lula cobra na ONU recursos de países ricos para conter crise climática em mundo "cada vez mais desigual"

Publicado em 19/09/2023 12:19 e atualizado em 19/09/2023 15:53

Por Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões

(Reuters) -Ao abrir a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou o mundo rico pelo investimento prometido para combater as mudanças climáticas, alertando que a crise afeta sobretudo os mais pobres, em um mundo que está cada vez mais desigual.

"Agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas. Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado", disse Lula a uma plateia de líderes mundiais.

"Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas. São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo".

Em sua fala sobre meio ambiente durante o discurso, o presidente lembrou os avanços que o Brasil já fez nos quase nove primeiros meses de seu governo, com a queda de 48% no desmatamento da Amazônia desde o início do ano. Ele também celebrou a matriz energética limpa do Brasil e o potencial da região, no que foi aplaudido.

Lula deixou claro que os países detentores de florestas tropicais, em especial a Amazônia, quer falar por si.

"O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si", disse, citando a realização da Cúpula de Belém em agosto e lembrando que a região tem 50 milhões de habitantes, além de ressaltar o diálogo com outros países, como Indonésia e Congo.

"Queremos chegar à COP 28 em Dubai com uma visão conjunta que reflita, sem qualquer tutela, as prioridades de preservação das bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong a partir das nossas necessidades", afirmou.

Mais uma vez, Lula cobrou os países mais ricos pelos investimentos necessários para políticas de mitigação e adaptação nos países mais pobres, uma fala que vem sendo recorrente nos discursos do presidente em fóruns internacionais.

A promessa no Acordo de Paris seria de um investimento de 100 bilhões de dólares por ano até 2025, o que não foi cumprido.

"Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade. A promessa de destinar 100 bilhões de dólares -- anualmente -- para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa. Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares", afirmou.

Lula começou sua fala prestando solidariedade às populações de Líbia e Marrocos por recentes tragédias (uma tempestade e um terremoto) que mataram milhares de pessoas, e também citou os efeitos do ciclone no sul do Brasil.

Em seu oitavo discurso nas Nações Unidas, o primeiro do terceiro mandato, o presidente lembrou que há 20 anos abria pela primeira vez a Assembleia Geral, em seu primeiro ano como presidente. Ele lembrou que, na época, as mudanças climáticas ainda não eram a emergência que são hoje.

"Hoje, ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres", alertou, acrescentando que o "mundo está cada vez mais desigual".

(Por Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Eduardo Simões, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)

Fonte: Reuters

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