Dólar salta mais de 1% com percepção de piora nas relações Brasil-EUA

Publicado em 19/08/2025 17:08 e atualizado em 19/08/2025 19:40

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista disparou mais de 1% contra o real nesta terça-feira, cravando o patamar de R$5,50 no fechamento, conforme os investidores se desfizeram da moeda brasileira diante da percepção de agravamento das tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

O dólar à vista fechou em alta de 1,19%, a R$5,50, a maior cotação em duas semanas.

Às 17h13, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,06%, a R$5,516 na venda.

Com uma agenda vazia no exterior, o mercado doméstico permaneceu com as atenções voltadas para as tentativas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negociar a tarifa de 50% imposta pelos EUA no início do mês sobre produtos brasileiros.

A avaliação dos agentes financeiros é que as dificuldades do governo em abrir diálogo com Washington sobre as tarifas aumentaram a partir de decisão judicial emitida pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dino determinou, na segunda-feira, que cidadãos brasileiros não podem ser afetados em território nacional por leis ou decisões estrangeiras aplicadas sobre atos cometidos no Brasil.

A decisão indicou que o ministro Alexandre de Moraes, também do STF, não poderá sofrer no Brasil as consequências das sanções impostas a ele pelo governo dos EUA no mês passado, com base na Lei Magnitsky --ainda que Dino não tenha citado essa determinação de Washington.

O governo do presidente Donald Trump impôs as sanções a Moraes sob o argumento de que ele autoriza prisões arbitrárias antes de julgamentos e suprime a liberdade de expressão. O ministro é relator do processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu, acusado de tramar um golpe de Estado.

Trump tem vinculado a imposição da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, entre outros pontos, à "caça às bruxas" que Bolsonaro viria sofrendo pela Justiça do Brasil.

Ao longo do dia, cresceu entre agentes financeiros a percepção de que a decisão de Dino dificulta as negociações e cria a possibilidade de uma resposta do lado norte-americano, que poderia incluir sanções a instituições financeiras que não cumprem as sanções dos EUA.

"Vejo a questão tarifária pegando muito forte. O STF parece estar tentando enfrentar as sanções da Lei Magnitsky. Quando esse tipo de coisa acontece, acaba pegando para o mercado no Brasil", disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

"Isso dificulta a negociação das tarifas, que deixou de ser uma questão comercial há muito tempo", completou.

O dólar atingiu a cotação máxima do dia, a R$5,5051 (+1,29%), já na última hora de negociação. A mínima da sessão foi de R$5,4339 (-0,02%), alcançada logo após a abertura.

No cenário externo, os investidores operavam com cautela neste pregão, à medida que aguardam o discurso do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira, durante o simpósio econômico anual de Jackson Hole, do Fed.

Operadores têm precificado uma chance elevada de o Fed cortar a taxa de juros em setembro, segundo dados da LSEG, com mais uma redução precificada até o fim do ano. Um discurso de Powell com postura agressiva contra a inflação poderia impactar essas projeções.

O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,15%, a 98,277.

Pela manhã, o Banco Central vendeu 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Preços mundiais dos alimentos caem pelo terceiro mês em novembro, diz FAO
Minério de ferro encerra semana em baixa devido à melhora na oferta e demanda fraca da China
Comércio dos EUA com a China provavelmente precisa ser menor, diz Greer
Ações da China interrompem três dias de quedas com otimismo sobre chips domésticos
Índices de Wall Street fecham quase estáveis com impulso de apostas de corte do Fed, mas pressionados pela Amazon
Amcham: novembro registra 4ª queda seguida nas exportações aos EUA e reforça necessidade de acordo bilateral