Unctad quer mercados futuros com melhor regulação

Publicado em 06/06/2011 08:02
A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) publica hoje relatório que aponta que a influência de investidores financeiros nos preços das commodities acentua "comportamentos de rebanho" nos mercados, gera bolhas de ativos e perigosa volatilidade para produtores e consumidores. A entidade, que procura ter o papel de "think thank" para nações em desenvolvimento, defende uma regulação mais estrita nos mercados futuros, incluindo mais taxação. E sugere mecanismos ocasionais de estabilização de preços para minimizar riscos de que a "financeirização" crie bolhas no curto prazo.

"Estamos em uma nova fase de determinação de preços de commodities, provocada pela financeirização que modifica as condutas comerciais e influencia de forma significativa os preços de alimentos e outros produtos", diz o economista-chefe da Unctad, Heiner Flassback. Uma excessiva especulação pode resultar em aumento adicional de 20% no preço do petróleo, por exemplo, e essa alta pode elevar os custos de alimentos e outros produtos básicos.

O estudo, intitulado "Formação de Preços nos Mercados de Matérias-Primas Financeirizados: a importância da informação", mostra que os ativos sob gestão em fundos de commodities passaram do recorde de US$ 410 bilhões em março, quase o dobro do volume do pré-crise de 2007. Para a Unctad, os investidores financeiros que participam do mercado de commodities baseiam seu comportamento em informações relacionadas com poucos fatos observáveis - ou em modelos matemáticos, mais próximos da "adivinhação" do que da realidade física de oferta e demanda. O fluxo de informação fomenta um "comportamento de rebanho".

Nesse cenário, o comportamento dos preços das commodities no ciclo econômico mudou. Um exemplo é o petróleo. O preço disparou no ponto mais baixo do ciclo, antes inclusive que os preços das ações começassem a subir. Em meados dos anos 2000, instaurou-se uma tendência de alta dos preços de matérias-primas, acompanhado de crescente instabilidade. A partir de 2009 e especialmente do verão de 2010, os preços mundiais começaram a subir de novo. O acelerado crescimento de países emergentes e a produção de biocombustíveis, em meio à baixa taxa de crescimento da produção e da produtividade agrícola contribuíram para a pressão altista.

Mas a Unctad salienta que a financeirização dos mercados introduziu novas forças de influência dos preços. E pode provocar a adoção de políticas monetárias mais estritas, apesar de a utilização da capacidade industrial mundial continuar sendo baixa. O estudo vê, também, mais correlações entre diferentes mercados de commodities, de forma que as cotações desses produtos são afetadas por algo que não está relacionado a fatores fundamentais. É o caso do cacau, com improvável relação entre as cifras do emprego nos EUA e o consumo mundial de chocolate.

Para a Unctad, não há dúvida de que investidores, por sua importância financeira, podem influir nas cotações no curto prazo, acentuando a instabilidade nos mercados físicos. "O que a financeirização faz é o preço errado. Alguns argumentam que se os preços são tão altos, uma correção virá depois. Mas isso pode ser atrasado dramaticamente", diz Flassback.

Para a Unctad, a solução é aumentar a transparência dos mercados de commodities físicas, melhorar a circulação da informação, impor limites de posições nos mercados futuros e separar traders comerciais e não comerciais. Além disso, a entidade propõe "possíveis medidas diretas para estabilizar os preços de commodities", algo que a França tentou emplacar no G-20 e sofreu um rechaço duro por parte dos exportadores como o Brasil. Mas Flassback argumenta que não se trata das intervenções tentadas no passado.

Fonte: Valor Econômico

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