Grãos: Mudança no padrão de chuvas pode comprometer safra brasileira

Publicado em 19/10/2012 16:35
Expectativas de que uma produção recorde de grãos na América do Sul poderia amenizar a situação dos estoques globais estaria  ameaçada depois da previsão de algumas agências de meteorologia sobre as condições climáticas para o Brasil. Nesta semana, foi registrada uma importante e preocupante mudança no padrão de chuvas na região central do país, atingindo o Centro-Oeste, Sudeste e também a Bahia, além do Rio Grande do Sul. 

Caso se confirmem essas condições, a projeções como a do presidente do conglomerado agrícola da Argentina Los Grobo, Gustavo Grobocopatel, de que uma produção recorde de soja e de milho no Brasil e na Argentina iria favorecer as reservas mundias poderia ser frustrada. Para o executivo, safras recordes de soja e milho esperadas para o Brasil e para a Argentina têm deixado o setor mais otimista nesta temporada. Colheitas volumosas na América do Sul chegam depois de uma severa estiagem ter prejudicado seriamente a produção de ambas as culturas.  

No entanto, segundo o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, as águas do oceano Atlântico estão se resfriando e, com isso, as frentes frias não conseguem e não conseguirão avançar da forma como deveriam nas regiões citadas. Com isso, a região central brasileira deverá sofrer com a falta de chuvas enquanto a produção no Sul do país pode ser comprometida com o excesso de precipitações. 

A previsão para os próximos dias, portanto, é de chuvas esparsas e localizadas, como as que já vêm ocorrendo. "Precisamos de uma frente fria para 'organizar' todas as áreas de instabilidade e provocar chuvas generalizadas e em grandes volumes", disse o especialista. 

Por outro lado, no sul do Brasil os estados sofrem com o excesso de chuvas, já que as frentes frias estão estacionadas na região. Em alguns locais pode chover mais de 100 mm e isso poderá inviabilizar os trabalhos de campo na região, principalmente de soja e milho.

Segundo Santos, essas condições climáticas, principalmente no Noroeste do Rio Grande do Sul, deverá afetar não só a produtividade das lavouras, como também a qualidade dos grãos. 

Para os próximos dias, não há perspectivas de uma alteração dessa padrão. Para estados como Mato Grosso e Goiás, as chuvas deverão ser de aproximadamente 10, 20mm para um período de cinco dias, insuficientes para o bom desenvolvimento das plantas. 

Em cidades como Primavera do Leste/MT, há a previsão de chuvas nos próximos dias, porém, de baixos volumes e esparsas. No entanto, abre-se um grande espaço de estiagem, e deve voltar a chover somente na segunda metade de novembro. 

Tais mudanças nesse padrão climático, e que não devem ser alteradas nos próximos 10 a 12 dias, já refletem no mercado internacional de Chicago. Depois de alguns dias de queda e de falta de direcionamento, o mercado registrou altas de mais de 30 pontos, tendo como combustível essa preocupação com o clima adverso aqui no Brasil.

Os preços da oleaginosa bateram em patamares recordes nos últimos meses em função, principalmente, da seca que castigou a produção dos Estados Unidos. Agora, segundo analistas, os investidores já voltam suas atenções para o desenvolvimento da safra 2012/13 na América do Sul e qualquer problema climático, em tempos em que a oferta global de soja está bastante ajustada, pode ser refletido no mercado. 

Estas condições climáticas previstas para o Centro-Oeste brasileiro já podem ser identificadas em cidades como Diamantino, no Mato Grosso. O clima mais seco e as chuvas irregulares atrasam o plantio da soja no estado.  De acordo com o delegado da Aprosoja da cidade, Altemar Kroling, a situação é preocupante, pois o plantio está muito atrasado na região. Em algumas localidades não chove há mais de 15 dias, o que pode prejudicar a resistência dos grãos já semeados.

“Os produtores até podem plantar a soja em novembro, mas o problema é que o período prolongado do plantio pode ocasionar um avanço da ferrugem nas lavouras. E por outro lado, o atraso reduz a possibilidade de fazer a safrinha”, afirmou o delegado.  

Segundo dados divulgados pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, o Imea, até o dia 11 de outubro a área plantada de soja prevista para a safra 2012/13 atingiu o percentual de 17,3% no estado, em anos anteriores o número era de 21,8%.

A meteorologista da Somar Meteorologia, Olívia Nunes, explica que no Centro-Oeste as chuvas serão mais irregulares e o tempo deve permanecer mais seco. E a previsão é que em novembro haja uma mudança no padrão climático na região. Não será um mês seco, mas de menores acumulados, justamente porque as chuvas ficam presas no RS, explicou.

“Os produtores do Sul devem ter problemas em função do excesso de chuvas, enquanto os produtores do Centro-Oeste tendem a ter problemas devido ao tempo um pouco mais seco.”, ratificou a meteorologista.

A safra de soja 2012/13 mato-grossense foi projetada em 24,13 milhões de toneladas um aumento de 12,9% em comparação à safra anterior. E a expectativa é que sejam cultivados 7,89 milhões de hectares da oleaginosa, 11,6% ante a produção 2011/12 na qual o número foi de 7,07 milhões de hectares. 

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Por: Carla Mendes e Fernanda Custódio
Fonte: Notícias Agrícolas

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