Soja: Preços no Brasil acumulam baixas de até 4% e voltam aos patamares pré-crise política

Publicado em 26/05/2017 18:18

Acumulando uma tensão pré-feriado nos Estados Unidos (a Bolsa de Chicago não opera na próxima segunda-feira em razão do Memorial Day) os futuros da soja intensificaram sua baixas na sessão desta sexta-feira, tornando o saldo semanal ainda mais negativo depois de as posições mais negociadas perderam mais de 11 pontos. 

Os recuos acumulados ficaram entre 2,36% e 2,78% e com as quatro das principais referências deste momento - julho, agosto, setembro e novembro - abaixo dos US$ 9,30 por bushel. O mais negociado - julho/17 - testou suas mínimas em 13 meses depois dessas perdas.

A pressão decorre frente ao gigantesco volume de oferta da oleaginosa mundial. As produções recordes da safra 2016/17 elevam os estoques mundiais da commodity para 90 MTs, o que deixa a especulação do mercado com dificuldades de entrar comprando no atual momento de incertezas climáticas na safra que está sendo apenas plantada nos Estados Unidos.

 A recente desvalorização do Real tem acelerado a campanha de exportação brasileira com o adicional de vendas no mercado físico, com ofertas no porto ainda mais competitivas e alto poder de barganha, adicionando perdas nas cotações em Chicago.  

Como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mercado aproveitou o momento para uma realização de lucros, com os fundos liquidando boa parte de sua posições já em uma preparação para o início da próxima semana, a qual promete ser bastante volátil. 

Nesta quinta-feira (25), o julho perdeu o suporte dos US$ 9,40 e desencadeou um movimento mais intenso de baixas, fazendo o contrato perder os US$ 9,30, na sequência. "Mas, nestes patamares, o mercado já se mostra bastante comprador", diz Brandalizze. 

Afinal, uma série de fatores se junta para influenciar o andamento e a formação dos preços da oleaginosa daqui em diante, com o clima nos Estados Unidos ainda no centro dos negócios, mas ao lado da relação dólar x real e da movimentação dos produtores no Brasil.

Diante disso, o que esperar das cotações na próxima semana?

Clima nos EUA e nova safra de grãos

O mercado está bastante atento neste momento às condições de clima nos Estados Unidos, principalmente a partir de junho, quando começa o desenvolvimento mais efetivo das lavouras norte-americanas. E é nesse período que as previsões indicam, a partir do dia 5, uma volta das temperaturas e das chuvas à normalidade, segundo as últimas previsões da AgResource Brasil. 

"Um período com intempéries ainda é observado para os primeiros 4 dias de junho, com temperaturas mais frias e chuvas generalizadas por grande parte dos Estados Unidos. Apesar de um padrão climático “atípico” no período, as temperaturas e precipitações voltam a normalidade a partir do dia 5 de junho. O mês de junho se mostra com um clima regular, até o momento", informa a consultoria em seu reporte diário.

Enquanto isso, e apesar de alguns problemas pontuais em decorrência do excesso de chuvas e do frio que vem sendo registrado no Corn Belt, o plantio da soja se desenvolve bem no país e até o último domingo (21) já chegava a 53% da área. Novos números atualizados chegam na próxima terça-feira, 30 de maio, às 17h (Brasília), após o fechamento do mercado. 

Para o consultor de mercado Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, sem relatos de problemas graves na nova safra americana, a pressão da temporada 2017/18 dos EUA deve continuar sobre as cotações. 

"Se o clima seguir 'normal', a safra 2017/18 já será, evidentemente, muito maior do que a 2016/17, que já foi recorde e que influenciou os preços, colocando-os em patamares mais baixos", explica. Ainda de acordo com o consultor, nesse cenário favorável, os preços da oleaginosa podem seguir pressionados até o estágio de floração, quando o se trata de um novo momento em que as condições de clima têm forte influência no andamento do mercado. 

Os traders seguem atentos ainda a como os produtores americanos irão tratar a possibilidade de uma migração da área de milho para a soja diante do clima e de uma janela ideal praticamente encerrada para o cereal. Segundo o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, "esse é um momento mais especulativo do que certeiro" sobre essa possível transferência. Novos números de área chegam em 30 de junho e esse movimento pode ou não ser confirmado. 

O mercado internacional de grãos entra agora, para Motter, em um período de intensa volatilidade e com uma tendência ainda nebulosa, difícil de ser traçada.

Dólar e Preços no Brasil

Após a disparada da última semana, o dólar devolveu boa parte dos ganhos e fechou com uma alta semanal de apenas 0,25%, valendo R$ 3,2654. Na sessão desta sexta-feira, a moeda americana subiu 0,54%. E essa movimentação também deverá estar em voga na próxima semana, novamente, já que irá direcionar o comportamento dos produtores brasileiros em relação à comercialização. 

"O mercado está oscilando pontualmente entre 3,25 e 3,30 reais. O investidor está de olho no Congresso, esperando o desfecho da crise e não está montando novas posições", afirmou o operador da corretora Spinelli Corretora José Carlos Amado à agência de notícias Reuters.

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>> Dólar tem leve queda ante real, com cautela diante do quadro político

Do meio da semana passada até o final desta, o Brasil vendeu, segundo relata Vlamir Brandalizze, cerca de 3 milhões de toneladas de soja em grão. O ritmo das vendas, embora já mais ameno nestes últimos dias, melhorou diante de um dólar mais alto - e, consequentemente de uma maior competitividade da soja brasileira e de melhores preços em reais - e também pesou sobre os preços no mercado futuro norte-americano. No mês de maio, a divisa já acumula alta de 3,55%. 

E a recente perda de ritmo, mais uma vez, chegou com a acomodação das cotações no Brasil depois da euforia na última semana no momento pós-delações dos irmãos Batista, donos da JBS, que abalou as estruturas do governo federal em Brasília. No interior do Brasil, as perdas ficaram entre 0,83% e 3,31% no acumulado da semana. As referências voltaram a atuar entre R$ 54,00 e R$ 62,00 por saca nas principais praças de comercialização. 

Nos portos, os indicativos chegaram a 4,86% - como no disponível em Rio Grande, onde o último preço foi de R$ 68,50, contra os R$ 72,00 da sexta-feira anterior (19). Em Rio Grande, o preço foi, em uma semana, de R$ 70,00 para R$ 68,50 por saca, com uma perda de 2,14%. 

"Se pegarmos os preços em vigor hoje, eles voltam ao período anterior à essa nova turbulência política que estamos vivendo, quando o câmbio chegou a bater em R$ 3,40, e nesta semana ele se postou em um estreito patamar de R$ 3,25 a R$ 3,30. Ainda em relação ao período pré-crise, temos um dólar melhor remunerador, porém, tivemos uma pressão sobre os preços internacionais", explica Camilo Motter.

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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