Soja: Dificuldade de armazenagem e comercialização nos EUA pesam sobre preços

Publicado em 04/12/2018 15:47

Os números que se acumulam desde o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos até este momento impressionam e contribuem para que os mercados agrícolas, principalmente a soja, sintam a pressão que exercem. A última estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe a safra de soja em 125,19 milhões de toneladas e os estoques finais norte-americanos em 25,99 milhões de toneladas. 

E com um ano "sem outono", como tem classificado analistas e produtores por lá, devido à chegada antecipada do frio intenso e da neve, a colheita mostrou algum atraso em relação a anos anteriores e ainda há um volume considerável da oleaginosa e de milho nos campos americanos que estão sob risco. 

Segundo o analista de mercado Mark Gold, em entrevista ao portal internacional AgWeb, há cerca de 8,16 milhões de toneladas de soja (300 milhões de bushels) e 17,8 milhões de toneladas de milho (700 milhões de bushels) sob risco nos EUA. 

"As perdas não serão na mesma proporção, mas haverá danos, e piores na soja, que deverá ser a cultura a sentir mais", diz Gold. "Estamos vendo na soja perda de qualidade, de peso, grãos danificados e isso vai fazer diferença nos estoques dos Estados Unidos", completou. 

O analista chamou a atenção, porém, ao fato de que o novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA, que chega na próxima semana, poderia não trazer reduções reais em seus números. Gold afirma que os índices de produtividade podem vir mais baixos do que os do reporte de novembro, mas não na medida adequada. Ainda assim, acredita que essas mudanças, caso venham, podem mexer com o andamento dos preços na Bolsa de Chicago. 

E no caso da soja, já é sabido pelo mercado que parte que os elevados estoques norte-americanos são reflexo da paralisação das compras chinesas de soja no mercado americano por conta da disputa comercial. E relatos de produtores em sites internacionais dão conta de grandes dificuldades de armazenar toda essa soja colhida no Corn Belt. 

"Os produtores estão se esforçando muito para encontrar espaço para todos esses grãos", diz o gerente de uma cooperativa no Nebraska, Kent Weems. Os produtores norte-americanos viram sua comercialização antecipada se atrasar muito e a soja ficar represada nos EUA sem a China adquirindo boa parte desse volume, mesmo ampliando sua participação em outros mercados, especialmente os da União Europeia. 

Produtor de Iowa observa carregamento de caminhão com soja - Foto: Charlie Neibergall, AP

Há também muito milho para ser estocado, mas os agricultores americanos têm dado preferência para a soja nos armazéns, já que são grãos mais delicados. A principal alternativa para o cereal tem sido os silo bags. "Não é uma imagem bonita. Há um vizinho nosso usando um par dos nossos silos", diz um produtor também do Nebraska. 

Ainda nas análises internacionais, é possível identificar os produtores americanos, apesar de todo esse transtorno na armazenagem e na comercialização - além de verem suas margens muito ajustadas -, ainda muito "pacientes" com o presidente Donald Trump. "Finalmente temos um presidente disposto a manter sua posição. Sentimos a dor no curto prazo, para termos resultados no longo", diz Roric Paulman, outro produtor de Nebraska. 

Em alguns estados, os sojicultores tiveram de vender sua produção abaixo dos custos de produção para darem conta de armazenar tudo o que precisam. Na Dakota do Norte, por exemplo, produtores fizeram vendas no mercado disponível a níveis de US$ 7,20, contra US$ 8,50 de seus custos de produção. 

Há cerca de cinco anos, os produtores americanos já vêm sofrendo com altos preços dos fertilizantes, sementes agroquímicos e o elevado custo da terra. Aqueles que produzem em terras arrendadas tem altas dívidas acumuladas, o que poderia forçá-los a deixar a atividade em função da crise. 

E todo esse cenário deverá ser refletido na formação dos preços em 2019 e, portanto, nas decisões para a temporada nova, na qual já se espera uma redução considerável da área destinda à soja no Meio-Oeste americano. 

"A pressão real deverá vir entre fevereiro e março, quando os produtores americanos, na necessidade de fazer caixa, forem às vendas, podendo pesar ainda mais sobre os preços", diz Josh Gackle, produtor na Dakota do Norte.

Por enquanto, o produtor americano resiste firme e evita novas vendas. Há pouco movimento de comercialização nos principais pontos do Corn Belt, tanto nos terminais de embarques de grãos, quanto nos elevators e unidades de recebimento, segundo noticia o portal Farm Futures. 

O gráfico a seguir, também do Farm Futures, mostra mostra o expressivo recuo dos prêmios pagos pela soja norte-americana e os compara à media dos últimos anos. O valor atual é negativo para a oleaginosa americana. 

"Essa necessidade de desembolso em razão da disponibilidade do grão é que vai acabar pesando nas liquidações forçadas dos produtores americanos", explica Eduardo Lima Porto, diretor da LucrodoAgro. "E o hábito do produtor americano é diferente do nosso, nem sempre ele conjuga a operação financeira com a física. Eu acredito que, nessa conjuntura, eles vão esperar", completa. 

E essa espera irá passar também pelo período da trégua na guerra comercial entre China e Estados Unidos de três meses, quando as condições climáticas serão mais favoráveis para a logística norte-americana e quando os próximos movimentos dos presidentes ficará mais claro, mas também no mesmo momento em que a nova safra brasileira estará quase toda colhida. 

Com informações da AgWeb, The Lewiston Tribune, Wisconsin State Farmer, e Farm Futures

Bolsas europeias caem com dúvidas sobre trégua comercial EUA/China

LONDRES (Reuters) - Os mercados acionários europeus fecharam em queda nesta terça-feira, pressionados por ações de montadoras, com investidores se questionando se uma trégua entre Estados Unidos e China numa disputa comercial levará a um acordo de longo prazo.

Após um rali na véspera, o índice alemão DAX, mais sensível a temores sobre a guerra comercial, caiu 1,1 por cento, enquanto o pan-europeu STOXX 600 recuou 0,8 por cento.

"O principal driver para o sentimento de risco global são as negociações comerciais EUA-China, que já não parecem tão promissoras quanto pareciam durante o final de semana", escreveu o estrategista de juros do Commerzbank, Christoph Rieger.

O setor automotivo europeu, o mais sensível aos temores sobre a guerra comercial, teve a maior queda setorial, com recuo de 1,7 por cento. Ações das montadoras alemãs Volkswagen, Daimler e BMW caíram entre 1,6 e 3 por cento.

O setor de tecnologia também foi um grande perdedor, com queda de 1,4 por cento. Fabricantes de chip, que também são fortemente expostos a comércio e à China, sustentaram fortes perdas com a AMS recuando 5,1 por cento e a Siltronic 8,1 por cento no vermelho.

Contribuindo com o sentimento fraco, a curva de rendimentos entre os Treasuries de três e cinco anos e entre as notas de dois e cinco anos se inverteram na véspera, pela primeira vez desde a crise financeira, excluindo dívida de curto prazo.

O índice FTSEurofirst 300 fechou em queda de 0,7 por cento, a 1.414 pontos.

Em LONDRES, o índice Financial Times recuou 0,56 por cento, a 7.022 pontos.

Em FRANKFURT, o índice DAX caiu 1,14 por cento, a 11.335 pontos.

Em PARIS, o índice CAC-40 perdeu 0,82 por cento, a 5.012 pontos.

Em MILÃO, o índice Ftse/Mib teve desvalorização de 1,37 por cento, a 19.353 pontos.

Em MADRI, o índice Ibex-35 registrou baixa de 1,28 por cento, a 9.061 pontos.

Em LISBOA, o índice PSI20 desvalorizou-se 1,01 por cento, a 4.938 pontos.

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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