Soja termina semana acumulando altas de mais de 3% no interior do BR, poucos negócios e atenção às importações

Publicado em 17/07/2020 17:37 e atualizado em 18/07/2020 17:40

A semana vai terminando com bons preços para a soja, tanto na Bolsa de Chicago, quanto no mercado brasileiro e acumulando boas altas nos últimos dias para ambas as referências. No mercado internacional, demanda um pouco mais aquecida em foco e, no nacional, a escassez de produto continua sendo o principal pilar de suporte às cotações. 

Ainda assim, poucos negócios. O sojicultor brasileiro segue mais retraído neste momento, com mais de 90% da safra 2019/20 comercializada e superando os 40% quando se trata da temporada 2020/21. As novas operações que são efetivadas, entretanto, estão acontecendo em maior volume no interior do país, onde a indústria processadora de soja disputa a pouca oferta ainda disponível não somente com a exportação, mas entre si. 

O Brasil deverá encerrar 2020 quase sem estoques e o mercado vai buscando garantir sua matéria-prima. E o atual cenário, inclusive, já sinaliza que a tendência altista para os preços da soja brasileira se estende até 2021, pelo menos até a chegada da nova safra nacional, segundo analisou o pesquisador do Cepea, Lucilio Alves, em uma entrevista nesta semana ao Notícias Agrícolas. 

>> Tendência de alta para os preços da soja continua para 2021 até chegada de nova safra do Brasil

E o que reforça esta tendência e também intensifica a disputa pela soja remanescente do Brasil é a força que  vem não só do grão, mas também dos derivados, e momento é forte para a remuneração tanto do farelo, quanto do óleo. E tendência é positiva também para ambos os mercados.

Em algumas das praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas, as cotações acumularam altas de mais de 3% na semana. Destaque para Sorriso/MT, onde o preço passou de R$ 100,00 para R$ 104,40 por saca, com alta de 4,4%; Ponta Grossa/PR de R$ 112,00 para R$ 116, subindo 3,57% e São Gabriel do Oeste/MS de R$ 106,00 para R$ 110,00, com ganho de 3,77%. 

A escassez de produto no Brasil chamou a atenção ainda, nos últimos dias, para a disparada das importações brasileiras de soja. O Brasil importou nos primeiros oito dias úteis de julho um total de 45,7 mil toneladas de soja, de acordo com os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) nesta segunda-feira (13) e supera largamente todo o volume de todo o mês de julho de 2019, quando foram 12,7 mil. 

Veja:

>> Brasil importa mais que o triplo de soja nos primeiros 8 dias úteis de julho do que em todo mesmo mês de 2019

>> Exportações de soja do Paraguai para o Brasil superam 400 mil t no 1º semestre de 2020

Para o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, as compras brasileiras este ano poderiam alcançar cerca de 1 milhão de toneladas. "Está se confirmando um sentimento que já vínhamos trabalhando em nossas análises", diz. "Seria um total de compras inédito, mas é possível que esse número seja alcançado. Claro que as indústrias ainda têm um certo estoque. O país não esmagou tudo isso, não exportou tudo isso, mas o grande fator para ter pouca soja disponível foi a exportação", completa. 

MERCADO EM CHICAGO

Na Bolsa de Chicago, os futuros da oleaginosa subiram mais de 2% entre os contratos mais negociados, e o mercado continua buscando retomar o patamar dos US$ 9,00 por bushel. O agosto acumulou uma alta de 2,75% desde a última segunda-feira (13), passando de US$ 8,74 para US$ 8,98 por bsuhel, enquanto o novembro foi de US$ 8,75 a US$ 8,95, subindo 2,29%. 

Mais 126 mil toneladas de soja foram vendidas pelos EUA nesta sexta-feira (17), de acordo com um reporte diário do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) há pouco. Com esse volume, o total das vendas reportadas nesta semana passa de 1,4 milhão de toneladas. 

O informe mostra que são 'destinos não revelados', enquanto o mercado segue especulando que trata-se de mais uma compra feita pela China no mercado norte-americano. 

Assim, daqui em diante, o foco deverá se voltar para o andamento das vendas da safra 2020/21, já que, sazonalmente, a chegada da oferta da nova temporada pressiona os preços na Bolsa de Chicago, o que não deverá ser diferente. Todavia, a demanda pela soja norte-americana, principalmente por parte da China, deverá se intensificar no último trimestre do ano. 

"Como comprador, é uma oportunidade para que você tem para conseguir compre soja mais barata, e a China quer deixar para comprar tudo o que precisa próximo da safra dos Estados Unidos. O que é interessante sobre as exportações desta semana é de que este não seria o momento para comprar soja, mas a China está comprando um volume consideravelmente nos EUA, o que mostra que ela quer soja e, principalmente, quer para entrega depois da safra", diz o consultor americano Aaron Edwards, da Roach Ag Marketing. 

E embora o mercado internacional se foque bastante no andamento dos negócios com soja e milho nos EUA neste momento, a questão central, como afirma o consultor da Roach Ag Marketing, são as condições climáticas no Corn Belt. E as chuvas deste final de semana serão determinantes para o caminho dos preços dos grãos em Chicago na próxima semana. 

"Estamos em um período do ano em que chuvas são críticas e que começam a ser esparsas. Chuvas generalizadas, que beneficiam todas as lavouras são menos frequentes. É um risco normal da lavoura, e esse risco é precificado, geralmente, um pouco antes, mas não é fora do comum termos oscilações ainda em julho como estamos vendo ou podemos ver", diz o analista. 

Saiba mais:

>> Soja: Demanda mais forte da China nos EUA no último trimestre pode amenizar pressão da chegada da nova safra americana

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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