RS e SC são estados com situação mais severa para seca na soja; chuvas ainda pontuais e insuficientes

Publicado em 26/11/2020 15:18 e atualizado em 27/11/2020 08:29

Apesar da chegada de algumas chuvas nesta quinta-feira (26), Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os estados que registram a situação mais grave trazida pelas adversidades climáticas para a produção agropecuária. Na madrugada de hoje, algumas precipitações começaram a ser observadas pelos produtores rurais, porém, sua preocupação maior se dá com os próximos meses e com volumes que precisam ser consideravelmente maiores para corrigir o severo déficit hídrico tanto gaúcho, quanto catarinense. 

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) trouxe nesta quinta alertas de tempestade para ambos os estados. "Chuva entre 20 e 30 mm/h ou até 50 mm/dia, ventos intensos (40-60 km/h), e queda de granizo. Baixo risco de corte de energia elétrica, estragos em plantações, queda de galhos de árvores e de alagamentos". 

Mais do que isso, o Inmet mostra ainda que as previsões indicam chuvas intensas até sexta-feira (27) em toda a região. Para o Rio Grande do Sul, são esperados volumes de 40 a 60 mm algumas regiões e, nas demais, de 20 a 40 mm. Para Santa Catarina, aumentam as áreas de instabilidade no estado, com previsões de acumulados de até 30 mm no leste e centro-sul. 

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De acordo com a última estimativa da Conab (Companhia Nacional, reportada no último dia 10, a safra de soja do Rio Grande do Sul deverá ser de 19,958 milhões de toneladas e a de Santa Catarina, 2,409 milhões de toneladas. Em ambos os casos, principalmente no estado catarinense, os produtores e as associações de classe acreditam que todo este potencial não deverá ser alcançado. 

E no último levantamento da PÁTRIA Agronegócios, até a última sexta-feira (20), o plantio da soja no Rio Grande do Sul já estava concluído em 35% da área, contra 53% de 2019 e 58% de média dos últimos cinco anos. Sobre Santa Catarina, 81% da área já foi semeada, em linha com os 80,5% da safra anterior e acima da média de 78% das últimas cinco temporadas. 

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RIO GRANDE DO SUL

"Até ontem, ficamos 31 dias sem chuvas. O plantio estava praticamente paralisado, alguns arriscavam plantar no seco com a esperança de que chovesse e essa madrugada tivemos 20 mm, o que vai permitir a retomada do plantio", traz o relato do presidente da Aprosoja RS, Décio Teixeira. A imagem abaixo, enviada ao Notícias por ele, mostra a temperatura nesta quarta-feira (25). 

A situação continua sendo monitorada e se acredita que, do que já foi plantado, possa haver uma necessidade de replatio da ordem de 30%. "Eu acredito que com essa chuva que deu possa recuperar. O tempo ainda é habil, espero que chova e que o plantio possa ser retomado com qualidade", diz. "Ontem tivemos um calor de 41ºC na região, diversos incêndios, áreas grandes de soja queimaram, áreas de mais de 600 hectares, tratores, plantadeiras. Uma situação muito delicada que esperamos superar. Esperamos que a partir de agora as chuvas começam a retomar a regularidade". 

Os vídeos abaixo mostram lavouras queimando em Manoel Viana/RS. Um poste de luz tombou, as faíscas, o calor intenso e mais o vento forte deram início aos incêndios. 

 

Há ainda pontos do estado em que as chuvas não chegaram, em que os produtores estão apreensivos e ansiosos para darem início aos trabalhos de campo, mas que necessitam dessa umidade. 

Ainda segundo o presidente da Aprosoja, as expectativas iniciais de que o Rio Grande do Sul pudesse colher mais de 20 milhões de toneladas de soja este ano ficaram para trás, porém, explica que com uma janela ainda boa para a semeadura no estado, é cedo para estimar perdas efetivas na safra 2020/21. 

"Mas, é evidente que já houve prejuízo. Há lavouras que foram semeadas depois de 20 setembro e que já se percebe que estão sob condição de stress. E quando chover, ela vai crescer um pouco, colocar flor e vai antecipar seu ciclo para se salvar. Por enquanto, acho muito cedo para se fazer uma avaliação e dizer que vai haver perda", reafirma Teixeira. 

Para o milho verão, as perdas já se mostram mais consolidadas nas áreas sem pivôs, e o estimado é de que já haja um prejuízo de ao menos 70%. 

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SANTA CATARINA

Santa Catarina já está contabilizando perdas consideráveis na produção agropecuária ao passo em que registra uma das mais severas estiagens da história para o estado, segundo relata o vice-presidente da FAESC (Federação de Agricultura do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri. 

"O plantio da soja está quase finalizado, há algo de germinação da soja, mas as perdas já são de pelo menos 20%. Temos uma seca muito severa, que atinge até mesmo a água que está no subsolo. E as previsões não são nada animadoras. No extremo oeste do estado, a situação se agrava dia após dia", explica Barbieri. 

Além da falta de chuvas e deste desgaste hídrico, as temperaturas são muito altas e as pancadas de chuva, quando chegam, muitas vezes vêm acompanhadas de granizo e rajadas de vento, o que causa problemas ainda mais sérios.

Para o milho, os danos já são mais consolidados e há lavouras com perdas de até 100%. Sentem ainda as produções de leite, tabaco, frutas e a avicultura. 

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"A Federação continua acompanhando e fazendo seu trabalho porque a seca não acabou. Estamos orientando os produtores a acionarem o seguro - o que já está acontecendo - porque não sabemos o que ainda pode acontecer. Sabemos que se trata de uma seca duradoura, complexa, cíclica", afirma o vice-presidente da FAESC.

Abaixo, fotos mostram as condições em Pinhalzinho, também no interior do estado catarinense:

Na sequência, o vídeo mostra os efeitos duros da seca no interior de Santa Catarina. 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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