Soja: Pragas consomem safra armazenada nos silos

Publicado em 23/08/2010 07:21 e atualizado em 05/03/2020 16:10
O excesso da produção de soja no país está gerando um problema no mínimo curioso. Devido ao período prolongado em que os grãos ficam armazenados, a cultura passou a ser vítima de pragas que eram mais comuns em grãos de milho, trigo, arroz, feijão, entre outros. Se antes a soja ficava no máximo três meses armazenada, hoje ela chega a ficar quase um ano. Esse detalhe fez com que insetos migrassem de outras culturas para soja. Com o ataque destas pragas, produtores, proprietários de armazéns e pesquisadores começam a temer que a qualidade do produto caia por terra, influenciando as exportações.

De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Soja, Irineu Lorini, um levantamento mostrou a presença de oito espécies de insetos que estão atacando a soja em unidades de armazenagem no Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. "Esse estudo compreendeu o período de 2008 e 2009 e foi apresentado recentemente em Brasília, durante a XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. O que evidencia o aparecimento de insetos é, principalmente, o fato de quase dobrarmos a produção de soja, passando de 80 milhões de toneladas para 140 milhões de toneladas em 10 anos. Além disso, não houve o aumento de tantos armazéns e com o excesso de tempo armazenado, fez com que estas pragas tivessem alimento o ano inteiro, se multiplicando mais rapidamente", revela.

O pesquisador conta que a preocupação maior é com o besouro da espécie Lasioderma serricorne, conhecido também como "besouro do tabaco". Ele revela que o pequeno inseto, com tamanho entre 2 a 3 milímetros, acabou se adaptando bem à soja. "Essa praga só atacava o fumo armazenado. Infelizmente ele se adaptou bem e começou a atacar a soja com certa voracidade. O potencial destrutivo é grande, ainda que sua presença na soja seja pequena. Precisamos estudar mais este besouro, uma vez que há pouco conhecimento sobre ele", lamenta.

Lorini fala também que ainda não é possível mensurar as perdas causadas pelo ataque deste besouro. "Testes em laboratórios demonstraram uma preocupação com o ataque do Lasioderma. Por enquanto, precisaremos fazer mais testes e pesquisas para poder determinar o quanto será nocivo a presença deste inseto nas unidades de armazenamento de grãos", afirma.

Outro problema relacionado ao aparecimento destes insetos na soja está com a qualidade do produto. Se não encontrarem uma saída para esta situação, o pesquisador teme que o Brasil perca espaço no cenário mundial. "Se começarmos a enviar lotes de soja de qualidade inferior para a China, nosso maior comprador, é possível que eles comecem a barrar o produto. Isso seria muito ruim para quem trabalha com a soja, pois este problema vai acarretar em perda de dinheiro e de tempo", alerta.

Segundo Lorini, por enquanto só existe um produto registrado para o controle de pragas, à base de gás fosfina. "Este material vai promover o expurgo dos insetos, contudo, vai acarretar em mais gastos também. O objetivo é fazer um trabalho de prevenção que possa reduzir o número de insetos ou, melhor ainda, garantir com que eles não apareçam. A recomendação dada pela Embrapa Soja é a de higienizar as estruturas de armazenagem, máquinas e equipamentos. Mas estamos em busca de mais caminhos para solucionar este problema", garante.

Outros grãos

Embora a presença de insetos na armazenagem da soja seja algo novo, o mesmo não se aplica para outras culturas. De acordo com o engenheiro agrônomo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/PR), Leônidas Toledo Kaminski, algumas culturas são mais vulneráveis. "Todos os grãos armazenados são suscetíveis ao ataque de pragas, entretanto no Paraná, o trigo, o milho e o feijão são os produtos nos quais se verifica maiores danos", informa. Ele conta também que outras pragas, além do besouro, costumam dar dor-de-cabeça para os armazéns. "As pragas que atacam os grãos armazenados são específicas de cada produto, sendo as principais pertencentes às ordens coleóptera (besouros) e lepidóptera (borboletas), combatidas principalmente com o expurgo. Ratos também são causadores de perdas em produtos armazenados, contra os quais são utilizados raticidas".

Assim como no caso da soja, o engenheiro agrônomo conta que é complicado saber o tamanho do prejuízo após o ataque destas pragas. "Os danos causados pelas pragas em grãos armazenados são de difícil mensuração e variam conforme a agressividade da praga, o tipo de produto e sua variedade (maior ou menor resistência), condições técnicas do armazém, tratamentos e manejo do produto, higienização das instalações, etc. As pragas, se não controladas, provocam também perdas qualitativas, reduzindo o valor comercial dos grãos", garante.

Tags:

Fonte: Paraná Online

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Argentina: Processamento de soja caiu em novembro e o mercado começa a sentir a escassez do produto
Soja fecha de lado em Chicago e sobe onde ainda há negócios no Brasil frente ao dólar alto
Soja segue ainda lateralizada na CBOT nesta tarde de 3ª, com suporte do farelo
Soja opera com estabilidade em Chicago nesta 3ª feira, acompanhando fundamentos
Soja fecha o dia com leves altas em Chicago acompanhando forte avanço do óleo
Guerra Comercial 2.0: Trégua entre EUA e China e impactos no mercado de soja; confira análises da Hedgepoint Global Markes