ESPECIAL: Preços do café devem aumentar em 2012; no entanto, produtor sofre com custos e ausência de política agrícola

Publicado em 30/12/2011 08:42 e atualizado em 30/12/2011 09:19
ESPECIAL: Café - Alta contínua nos custos com mão -de -obra, tira lucro do cafeicultor brasileiro.Governo precisa dar mais atenção à cultura. Para 2012, as expectativas de uma safra recorde já estão sendo descartadas e o setor pode ver uma explosão de preços no mercado internacional.
A nona entrevista especial do Notícias Agrícolas fala da cafeicultura brasileira. Para Armando Matielli, diretor-executivo da Sincal, “2011 não foi bom para a cafeicultura, os preços melhoraram, mas ainda a níveis muito incipientes.” Matielli, justifica sua posição afirmando que “entre 1994 e 2010 o produtor teve um aumento no custo de produção de 549,5%, enquanto os preços aumentaram apenas 34%. Os preços nos anos 90 eram R$200, se corrigimos mais de 549% nos custos teríamos que estar vendendo café a R$1.100.”

Segundo ele, os preços do café continuam defasados devido aos custos com a mão-de-obra, pois 72% hoje do café produzido no Brasil encontra-se em montanha. “R$500 não é um bom preço para fazer uma safra de café por volta de dez medidas, pois a mão-de-obra custa R$180/saca, sem falar em mais 20% de mão-de-obra indireta, como os carregadores administração e etc. Adicionando ainda o valor da secagem, beneficiamento, fundo rural, sacaria e frete o custo é de R$250/saca para colocar o café na sacaria”, explica.

Matielli explica que a produção por hectare de café pode chegar até 25 sacas e o custo por hectare é de no mínimo R$3.500 com insumos (adubos e defensivos). “Este valor dividido por 25 sacas/hectare é de R$140 portanto podemos acrescentar mais R$140 ao valor de R$250 para colocar o café na pilha. Assim, gastamos R$390 por saca, sem contar despesas com maquinário, retirada do produtor, encargos financeiros e desvalorização do patrimônio. Se fizermos a conta, esse valor já passa dos R$500, portanto estamos vendendo abaixo do preço de custo.”

Segundo o entrevistado, dados recentes do IBGE apontam em média 1.86 filhos por casal no Brasil, contra 6.2 nos anos 60. Diminuição esta de natalidade que irá impactar diretamente nos custos com mão-de-obra cafeeira. “Esses trabalhadores vão para construção civil, para a indústria. Muitas regiões já não tiveram mão-de-obra para colher café esse ano.” Para ele, outro problema do setor é a margem muito alta da indústria. “Nós estamos vendendo a 0,03% e o mercado está ficando com 99,7%. O mercado tem uma margem enorme, nunca teve uma margem tão grande na mão dos comerciantes. O Brasil sempre produziu café muito barato e os grandes traders tem que saber que o Brasil já não é um país de terceiro mundo produzindo café.”

“O mercado internacional precisa entender que é preciso elevar o patamar dos preços ao produtor, pois daqui a pouco não vai ter gente para trabalhar nas lavouras. O Brasil tem 60% do mercado de café na mão e se ele parar de produzir não tem outro país que substitua a produção de arábica”, explica Matielli sobre a influencia dos mercados externos nos preços pagos ao produtor brasileiro. Para ele, “o produtor é muito honesto, modesto, muito verdadeiro e o mercado, os grandes traders são marqueteiros, e jogam com números. Eles querem comprar com melhor qualidade e menores preços. Esses números do mercado são chutados, mentirosos e sem lógica, com o único instinto de prejudicar a renda do produtor, a pátria e também os trabalhadores rurais, que são os últimos elos da cadeia e os mais pobres também.”

Para 2012, Matielli acredita em uma safra igual ou menor a safra do ano passado. “A safra do ano passado estimada pela Conab foi de 43 mil sacas, para esse ano eu acredito em uma safra menor, pois não choveu e não vai dar café. Andei na zona da mata, sul de minas, região da Mogiana e somente as lavouras irrigadas, e algumas novas deram café, as demais estão péssimas, a florada foi espetacular, mas flor não é café, as lavouras estavam debilitadas e secas.”

No entanto, a menor safra não significa maior remuneração ao produtor, pois “o café já foi vendido e os preços vão subir, mas o produtor não vai ganhar nada por que já vendeu toda sua produção”, explica Matielli. Quanto à crise econômica, ele garante que a Europa e os EUA têm um poder aquisitivo muito alto e não vão deixar de consumir café, “pelo contrário, até consomem mais na crise”.

Em 2012, se não tivermos uma política dentro do Ministério da Agricultura, vamos continuar doando café, temos que fazer uma regulagem de fluxo, pois atualmente não temos estoques dentro do Brasil. “Se der uma seca, uma geada não temos café para fornecer para os compradores, e vamos passar por amadores, pois não honramos a entrega de café, estamos praticamente com os estoques zerados. As cooperativas não sabem quanto têm de estoque e fica tudo no escuro. Quanto mais escuro para o produtor, melhor para o comprador. Essa é a lei do mercado hoje, infelizmente estamos desorganizados ao extremo e o mercado faz o que bem entende com os preços, nós devíamos ser os formadores de preço. Regulagem de fluxo é mais determinante que a lei da oferta e da procura, e temos que ter no estoque pelo menos uma safra, pois se tivermos problemas climáticos não vamos ter café nem para beber, nem pra fornecer para o mercado internacional”, conclui Matielli.
Por: Aleksander Horta e Ana Paula Pereira
Fonte: Notícias Agrícolas

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