EXCLUSIVO: Endividamento do setor cafeeiro dificulta acesso aos recursos do Funcafé

Publicado em 27/04/2010 09:30 e atualizado em 27/04/2010 16:50
O Brasil é o maior produtor de café do mundo, são produzidas 45 milhões de toneladas a cada safra. Por conta disso, quem faz os preços do café no mercado internacional é o produto brasileiro. No entanto, essa cultura – com área de 2 milhões de hectares – não vem recebendo a atenção merecida, trazendo resultados abaixo do seu potencial mesmo tendo as lavouras cafeeiras de melhor qualidade no mundo.

A colheita do café está prestes a começar no Brasil e os produtores não contam com dinheiro para isso. “Dinheiro existe, o Funcafé está aí – o café é a única cultura que tem um fundo – mas a conjuntura e a estrutura de gestão que o café tem hoje não é a melhor”, diz Carlos Melles, deputado federal Presidente da Frente Parlamentar do Café.

Segundo Melles, essa é a temporada do “produtor desesperado”, pois essa etapa da produção representa de 40 a 50% do custo de produção. Caso o cafeicultor não tenha recurso para a colheita e possa começar a pré-comercialização, as pressões de venda serão muito fortes no futuro.

O deputado explica que essa é uma safra muito grande, vendida em 18 meses, colhida em 90 dias e que sofre com uma pressão de venda muito grande. Por conta disso, é preciso que o governo compareça contribuindo em todos os elos da cadeia produtiva disponibilizando crédito para a colheita e para pré-comercialização primeiramente, e posteriormente para a diluição do estoque, o que poderia dar suporte aos preços. “Se há a diluição dos estoques, há uma melhora dos preços, porque não fica a pressão dos estoques na mão do produtor”.

A qualidade dos cafés ao redor do mundo tem diminuído. Países como a Colômbia, a Guatemala, o México, Honduras, El Salvador, entre outros tem perdido uma parcela do mercado por essa perda. O que significa que o Brasil fortalece ainda mais sua competitividade no mercado internacional. Atualmente, são necessárias 20 milhões de toneladas de café para abastecer o mercado interno e mais 32 milhões para exportação, e está sem estoque regulador. “É uma hora formidável para formular políticas, organizar a oferta e, certamente, seria a oportunidade do produtor sair desse buraco em que se encontra”, afirma Melles.

Entretanto, mesmo com essas boas oportunidades, o produtor brasileiro de café ainda tem muita dificuldade para ter acesso ao crédito do Funcafé. Isso acontece por conta da falta de garantias oferecidas, uma vez que a safra pendente é o que garante ao recurso, o que na verdade não serve, de fato, como garantia. “Há um vício estrutural que está matando a cafeicultura, e que mata qualquer segmento. E isso vem se acumulando ao longo dos anos”.

A solução para esse problema já foi analisada, mas uma alternativa ainda não foi encontrada. A cadeia produtora de café tem sofrido com esses problemas. Diante disso, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, propôs uma reunião do Conselho Deliberativo da Política de Café para que todos os membros divulguem um diagnóstico da situação e apontem possíveis soluções para cada cadeia.

A resolução geral, entretanto, será tomada em conjunto, podendo gerar harmonia entre os elos, para que entre si não dificultem os processos alheios e para que possam caminhar se ajudando.  Paralelamente, é preciso, segundo Carlos Melles, que seja estudado também um entrave de falta de renda ao cafeicultor gerado no ministério da Fazenda. “O Brasil poderia estar faturando US$1,5 bilhão na exportação de café e o consumidor brasileiro não pagaria quase nada. Hoje, o custo de produção está acima dos R$300 e o mercado está sendo praticado a US$260. É um calvário que precisa ter fim”.

Fonte: Redação NA

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