Multa do Ministério do Trabalho é mais que o dobro da receita anual de produtor acusado de trabalho análogo à escravidão no PR

Publicado em 23/11/2016 07:46 e atualizado em 23/11/2016 11:46
Um ano e meio após ser preso por acusação de trabalho análogo à escravidão, produtor de Guaíra -PR recebe multa de mais de 100 mil reais do Ministério do Trabalho
Confira a entrevista de Silvanir Rosset - Pres. Sind. Rural Guaíra - PR

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Depois de ficar preso por vários dias acusado de trabalho análogo à escravidão ao contratar paraguaios, agora se vê às voltas com uma cobrança de mais

 

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Um ano e meio depois, o produtor de mandioca Ademir Stefenon está sendo cobrado em R$105 mil por conta de uma acusação de trabalho análogo a escravidão, que ocorreu após o produtor ter contratado trabalhadores paraguaios que, trazidos por um aliciador , vieram pedir emprego em sua propriedade.

Foi reconhecido, em segunda instância no Rio Grande do Sul, que o produtor não mantinha os trabalhadores no regime, mas as cobranças sobre o produtor continuam, ao mesmo tempo em que ele alega não possuir o dinheiro necessário para o pagamento da multa. O produtor possui um faturamento anual bruto de R$50 mil a R$70 mil e acredita ter caído em uma "cilada".

O presidente do Sindicato Rural de Guaíra, Silvanir Rosset, lembra que, em um primeiro momento, a mulher e o filho do produtor foram presos por três dias pelo Ministério do Trabalho e pela Polícia Federal, o que gerou uma mobilização por parte dos outros produtores da vila para pagar a fiança, de R$20 mil reais para cada um. Após a soltura, o produtor, que na ocasião da prisão se encontrava no Mato Grosso do Sul, também foi preso por 12 dias, gerando nova mobilização por parte da vila para arrecadar o dinheiro da fiança.

Rosset conta que o produtor, que veio com 16 anos do Rio Grande do Sul, antes trabalhava com a produção leiteira, passando depois para a mandioca, que exige mão de obra manual. Ele aponta que este serviço possui deficiência de pessoas e que Ademir, que possui cerca de 16 hectares de terra, contratou os trabalhadores - dos quais dois deles fizeram a denúncia após sete dias de trabalho. Eles alegavam falta de água potável e de instalações sanitárias na propriedade, coisa que o presidente do sindicato e o próprio Ademir negam ter ocorrido, pois o produtor utiliza as mesmas instalações para atender às necessidades da família.

Neste momento, a defesa foi ouvida e agora aguarda-se uma decisão da Justiça a respeito do caso. Mas se não bastasse o processo na justiça, o produtor agora foi surpreendido por nove multas que chegaram do Ministério do Trabalho. "Há argumentos da multa que a gente não pode aceitar, como as condições de trabalho. Só tem uma fonte de água na propriedade, é uma absurdo", diz Ademir. "Eles também tinham acesso a banheiro com chuveiro elétrico e vaso sanitário".

O produtor ainda aponta que "em nenhum momento passou pela cabeça que poderia ter dado condições de escravidão para essas pessoas" e que "não tinha essa intenção em nenhum momento". "Falar em escravidão machuca. Não estavam em uma mansão, mas era um trabalho temporário e eles que vieram procurar serviço na propriedade", conta.

Ademir também está sendo acusado de introdução ilegal de estrangeiros no país. Ele aponta que o golpe foi "programado" e que ele "caiu em uma cilada", mesmo após tendo pago os trabalhadores pelo serviço, além dos encargos pelo registro de cada um. Até agora, ele gastou quase R$100 mil reais com a situação, fora os honorários que ainda deve a advogados. E com as multas recebidas recentemente, o total de gastos poderia passar dos R$200 mil reais.

Ele alega ainda ter medo de ser preso novamente. "Tem muitas coisas que tem como contestar e provar. Eles tinham que ser um pouco mais compreensíveis e ouvir os dois lados", reclama.

Por fim, ele ainda diz "não ter palavras para explicar a lição". "É um sofrimento que deixa a gente indignado. Praticamente, a região do Paraná extinguiu o plantio da mandioca, pois gerou uma péssima impressão".

Por: Aleksander Horta e Izadora Pimenta
Fonte: Notícias Agrícolas

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