Cogo descarta grandes mudanças nas áreas de soja e milho nos EUA e prevê cenário de oferta apertada

Publicado em 09/04/2021 17:40 e atualizado em 11/04/2021 16:40
Para o consultor, os americanos anteciparam muito as compras de insumos nesta safra e as margens para ampliação/troca de áreas estão bastante restritas
Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio

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Entrevista com Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio sobre o Fechamento de Mercado da Soja

 

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Os preços da soja tiveram uma semana agitada na Bolsa de Chicago, mas conseguiram acomodar suas posições e terminaram com os futuros estáveis em relação ao fechamento da última quinta-feira (1). O maio saiu de US$ 14,02 para fechar com US$ 14,03 nesta sexta-feira, subindo 0,07% e o agosto, de US$ 13,65 para US$ 13,62, com leve queda de 0,22%. 

"O maio fechando acima dos US$ 14 é um ótimo indicativo, mercado entende que não deve descer muito distante disso e os contratos mais longos se posicionando também em posições mais altas", explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio em entrevista ao Notícias Agrícolas. 

Nesta sexta, o mercado da soja na Bolsa de Chicago fechou em queda, com baixas de 10 a 12,25 pontos nos principais contratos, refletindo os novos números que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe em seu boletim mensal de oferta e demanda. 

Os estoques finais norte-americanos da oleaginosa foram mantidos, enquanto o mercado esperava uma redução, ao mesmo em que a safra brasileira e mundiais foram revisadas para cima, trazendo certa pressão às cotações. E isso se deu mesmo com as exportações dos EUA sendo corrigidas para cima, ficando em 62,05 milhões de toneladas. 

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No entanto, Cogo afirma que o relatório foi refletido, superado, e na próxima semana já serão outros os pontos de atenção. Inclusive, o melhor ritmo dos embarques de soja no Brasil deverá estar entre estes pontos. Abril e maio serão meses bastante cheios, a demanda é forte no Brasil neste momento e o país passa por seu pico de embarques da commodity para os chineses. 

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A demanda da nação asiática tem inspirado uma série de questionamentos no momento, principalmente por conta dos novos focos de Peste Suína Africana, o que acarretou em momentos de compras mais tímidas de soja e um menor ritmo de esmagamento local. As margens da indústria se mostravam bastante ajustadas, a demanda pelo derivado menos intensa e os preços do farelo recuando. 

No entanto, Cogo afirma que fábricas de rações sinalizam que a demanda permanece firmes, principalmente pelos aditivos à alimentação animal. Assim, não se trata de um cenário semelhante ao que se observou do pico mais grave da PSA no país asiático. 

Ainda sobre farelo de soja, o especialista lembra que este mercado ainda pode vir a precificar a quebra da safra argentina, que é grande e que deverá comprometer a oferta do derivado. E mais uma vez, como aconteceu no ano passado, os preços deverão subir e o Brasil deverá ocupar este espaço deixado pelo produto argentino. 

"Quando vier a notícia, de fato, da quebra na Argentina, que é uma quebra grande, isso vai pesar no farelo", explica Cogo. Nesta semana, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires voltou a reduzir sua estimativa para a safra de soja da Argentina, passando seu número de 44 para 43 milhões de toneladas. 

Na sequência, há ainda o monitoramento dos traders no clima dos Estados Unidos para este início de safra e mais as expectativas diante da área projetada para a safra 2021/22 pelo USDA no último dia 31 de março. Enquanto o mercado esperava um crescimento de mais de 8%, o departamento sinalizou um incremento de 5% e surpreendeu o mercado, além de provocar altas fortes nos preços.

Assim, a safra de soja americana estimada pelo USDA em fevereiro, durante o Outlook Forum, acaba perdendo a validade, o mercado zera o jogo e pode precificar novas estimativas, prinicipalmente quando novos dados de área forem reportados em junho.
 
"Na verdade, podemos dizer que não há ainda um número de safra para os EUA. A conta é bem simples com uma média de produtividade bem alta que os americanos podem alcançar aquele número divulgado pelo USDA em fevereiro não existe mais. E quando o mercado entender o tamanho real da safra isso vai pesar. E não creio que o mercado já tenha precificado isso", explica Carlos Cogo.

O analista explica que a surpresa virá para o mercado quando esses números começarem a ser incorporados efetivamente, principalmente porque as perspectivas - caso a área não cresça - não são muito acima daquilo que já não seria uma grande safra. E uma produção de menos de 125 milhões de toneladas já aperta ainda mais a relação de oferta e demanda mundial para a commodity. 

"E no ritmo em que os EUA estão vendendo soja e o mundo comprando soja, a situação vai ficar muito apertada", diz Cogo. 

VENDAS NO BRASIL

Os preços permanecem elevados no Brasil, motivados, principalmente, pelo dólar, que segue alto e que, na análise do especialista, não deve cair pelos fatores já conhecidos pelo mercado. E neste ano, ainda segundo Cogo, trata-se de um período onde mais produtores conseguem garantir vendas a preços mais altos. 

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"Os produtores agora não precisam ter pressa para vender. Não é preciso fazer negócio agora no spot só porque o preço é alto, e isso não é recomendável porque os prêmios estão claramente mais altos para os meses posteriores. Assim, não compensaria fazer uma venda agora", orienta.

Por: Aleksander Horta e Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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