O que está acontecendo com os custos de produção no Paraná?

Publicado em 07/01/2013 15:14 e atualizado em 08/01/2013 15:16
Por Glauber Silveira, produtor rural, engenheiro agrônomo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
A Região Sul do Brasil é sinônima de desenvolvimento e empreendedorismo rural. Os produtores gaúchos e paranaenses que de lá saíram também foram os atores determinantes para a mudança do cenário rural no Centro-Oeste do país e mais recentemente na região de fronteira agrícola do MAPITO e Oeste baiano. Entretanto, um fenômeno recente vem causando estranheza e tem acendido o debate sobre a composição e os aumentos dos custos de produção na Região Sul, especialmente no Paraná.

Em apresentações de consultores, nos levantamentos do IMEA e da própria Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná – SEAB tem sido demonstrado que os custos de produção de soja e milho 2ª safra no Paraná, vêm aos poucos ultrapassando os custos no Mato Grosso. Segundo levantamento de maio de 2013 do IMEA, para se produzir soja no Centro-Sul de Mato Grosso o produtor teria um custo de R$ 1.914,55 por hectare, enquanto que no Paraná a SEAB aponta um custo de R$ 1.954,79 por hectare.

No caso do milho 2ª Safra a diferença é ainda maior. Segundo o levantamento do IMEA para o mesmo período, na região sudeste de Mato Grosso, utilizando alta tecnologia, um produtor teria custo de R$ 1.624,24 por hectare, enquanto que no Paraná o custo seria de R$ 1.866,17. 

Um estudo muito robusto realizado pela CNA em parceria com CEPEA/USP em propriedades selecionadas também demonstrou a mesma realidade, inclusive de que os juros pagos pelos produtores rurais de grãos na Região Sul no financiamento da safra são superiores aos pagos na Região Centro-Oeste, com uma diferença entre 2% a 5%. 

É claro que surgem várias discussões, mas a principal delas é: porque um Estado com uma logística privilegiada, maior tomador de crédito oficial do governo, proximidade do principal porto de recebimento de fertilizantes, vem aos poucos se tornando o lugar mais caro para se produzir soja e milho? Como o Paraná, com um sistema cooperativista tão forte, produtores tão tecnificados, politizados e atuantes, pode ser agora confrontado com esta realidade paradoxal?

Existem muitas respostas para a pergunta, mas uma questão chave e que chama atenção é a margem líquida dos produtores naquele Estado, que é também a maior dentre as regiões produtoras de grãos do país. Logo, diante das constatações e contrariando toda a lógica do mercado - onde o que determina o preço é a relação entre oferta e demanda - fica claro que à medida que aumenta o lucro potencial dos produtores e que estes poderiam ganhar com isso, crescem os custos de produção os quais se ajustam a esse aumento.

A grande preocupação não está na viabilidade do negócio da soja e milho no Paraná, mas porque os produtores deixaram parte da sua renda com outrem. Fica claro que há a necessidade de alguém assumir um papel de defesa desses interesses comuns dos produtores de milho e soja e combater práticas abusivas e distorções de realidade. É evidente que esse movimento de aumento de preços de insumos e outros custos acompanhando a elevação das commodities agrícolas, é natural e esperado, mas nesse caso foi algo descompensado e atenta contra a competitividade do produtores paranaenses.

Como não temos uma política agrícola comprometida com os produtores rurais desse país, como não somos reconhecidos pela nossa importância para a balança comercial, para sustentação das contas públicas, para garantir alimentos baratos para a população, precisamos no unir, nos associar, lutar pelos nossos interesses, reagir e assumir posição de alerta e combate. Ou se não, quem irá defender os interesses dos produtores, quem...?

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Fonte: Aprosoja Brasil

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