Desfolha acentuada e seca de ramos sinaliza baixa produção de café em 2017, por José Braz Matiello

Publicado em 18/08/2016 18:02
Por José Braz Matiello e J.E.P. Paiva e Marcelo Jordão Filho - engenheiros agrônomos da Fundação Procafé

Andando pelas principais regiões cafeeiras de arábica, no Sul de Minas, Alto Paranaíba e Mogiana-SP, pode-se ver que, agora, no pós-colheita da safra de 2016, as lavouras, em sua grande maioria, apresentam um quadro grave de desgaste nas plantas. Os cafeeiros se apresentam muito desfolhados e com seca de ponteiros nos ramos laterais, produtivos.

Os ramos se desenvolveram pouco e, assim, não apresentam boas condições para suportar a floração e a frutificação, que deve ocorrer com a retomada do período quente/chuvoso. Sem folhas e com ramos secos, as lavouras terão baixo pegamento de florada, significando baixo número de frutos por roseta e poucos nós produtivos por ramo, e, em consequência, mostram que terão baixa produtividade na próxima safra. Por isso, muitas áreas já vêm recebendo podas de esqueletamento para a recuperação das plantas e nelas resultarão produções zeradas para a safra seguinte.

Os meios de comunicação e o mercado, naturalmente, tem dado maior atenção ao efeito das geadas, as quais, felizmente, foram de nível moderado. No entanto, a verdadeira perda de produção nas lavouras para a safra de 2017 vai ser por conta desse forte estresse que os cafeeiros sofreram.

A análise das causas, que levaram ao mau estado vegetativo atual, em grande parte das lavouras, indica como fator principal a situação de safra alta, combinada com condições climáticas desfavoráveis. Primeiro foram chuvas fortes em final/início de ano. Depois seguiu um período de estresse hídrico em abril e logo um tempo frio e chuvoso no inverno. A condição dificultou a nutrição pela lavagem de adubos, depois as plantas tiveram uma maturação mais cedo, uniforme e acelerada, o que concentrou exigências de reservas da planta e promoveu maior produção de etileno, que ajudou na desfolha. As doenças, a ferrugem e outras ligadas ao período frio/chuvoso, atacaram mais fortemente, e, por fim, o frio, apesar de em grande parte não ter causado queima da folhagem das plantas, chegou a queimar ou bloquear o crescimento do último par de folhas. Com isso, está provocando o superbrotamento, com a emissão de ramos secundários, diferenciando gemas, normalmente de natureza floral, em gemas vegetativas.

Embora ainda não se possa ter um quadro definido sobre o potencial da próxima safra de café, tudo indica, pela condição atual das lavouras, que os níveis nas principais regiões produtoras ocorrerão em ciclo de baixa safra, com perdas significativas em relação à safra atual.

Fica, ainda, uma indicação de que muitas lavouras, pela sua idade, espaçamento inadequado e esgotamento da ramagem, precisam ser analisadas, visando podas de recuperação e, ainda, uma parte necessita de renovação, com novos plantios em substituição, com troca de variedades, espaçamentos etc.



Cafeeiros desfolhados e com forte seca de ponteiros de ramos são lugar comum nas lavouras, agora no pós-colheita, nas principais regiões cafeeiras. Essa condição sinaliza redução significativa de produtividade para a próxima safra.

Nos três conjuntos de fotos acima, tomadas de lavouras comerciais na região da Mogiana-SP, em Franca, pode-se ver a condição dos cafeeiros antes (em maio de 2016, esquerda) e depois (julho de 2016, dir.) da condição de clima e da colheita.

Fonte: Procafé

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