China deverá importar mais produtos industrializados da agricultura brasileira

Publicado em 02/05/2015 11:43
na Folha de S. Paulo

O comércio Brasil-China não vai recuperar o dinamismo que teve nos anos de boom das commodities e de recordes de crescimento do PIB chinês. Por isso, os brasileiros precisam focar a atração de investimentos chineses --principalmente na área de infraestrutura.

A opinião é de Clodoaldo Hugueney, ex-embaixador do Brasil na China (2008-2013), que acaba de assumir a presidência do Conselho Empresarial Brasil-China.

Para ele, haverá vários anúncios de investimentos durante a visita ao Brasil de Li Keqiang, primeiro-ministro chinês, em maio.

O processo de urbanização da China está avançando e é prioridade do governo. Isso vai fazer com que as pessoas consumam mais produto industrializado de agricultura, carne industrializada, sucos de frutas, o que abre uma grande perspectiva para o agronegócio brasileiro.

E não só para exportação mas também para investimentos em supermercados, restaurantes. Acho que temos um espaço enorme. E a área de serviços, dentro desse processo de reformas, vai crescer bastante. O setor de serviços é muito pouco desenvolvido na China. O Brasil é competitivo em automação bancária, software especializado.

Quais áreas são mais promissoras para o Brasil na China?

Nos últimos anos, a relação Brasil-China foi sustentada pelo comércio. Minha sensação é que esse ciclo terminou, porque o superciclo das commodities foi excepcional e a China não vai mais crescer como antes. Com o Brasil em período de ajuste, também não teremos a mesma demanda por importações chinesas.

O comércio vai seguir sendo extraordinariamente importante, porque atingiu um valor muito significativo, mas a meu ver não terá o dinamismo de antes. O que pomos no lugar disso? Investimentos.

Os chineses vão acelerar o processo de investimentos no exterior, com incentivo do governo para empresas comprarem outras ou iniciarem negócios. O Brasil se beneficiou disso, entraram várias empresas chinesas aqui.

Agora esse processo vai ganhar uma dimensão maior. Não só investimentos nas áreas de recursos naturais, que é onde a China tem uma necessidade importante. Na infraestrutura, por exemplo, nós temos um deficit brutal.

Leia a íntegra da entrevista na edição da Folha de S. Paulo deste sábado (folha.com/no1623723)

 

artigo de MARCOS SAWAYA JANK:

A 'nova rota da seda' e o Brasil

É hora de reconstruir o caminho das especiarias de Marco Polo, desta vez indo do Ocidente para o Oriente

Mais de dois milênios após o seu surgimento, a grande novidade da China é o projeto da "nova rota da seda". Chamada de "One Belt, One Road" (um cinturão, uma estrada), a iniciativa foi apresentada em março pelo líder Xi Jinping no Fórum Econômico de Boao.

A China pretende redesenhar a ordem econômica e política da região criando um corredor de investimentos em infraestrutura que vai interligar as grandes cidades ao longo das antigas rotas de especiarias.

Pelo lado terrestre, a rota irá da China para a Ásia Central, a Rússia e o sul da Europa.

Pelo lado marítimo, ela ligará o Sudeste Asiático, o oceano Índico, o leste da África e o golfo Pérsico, até o canal de Suez.

Duas grandes iniciativas que somam quase US$ 100 bilhões foram lançadas: o AIIB (Banco de Investimentos e Infraestrutura da Ásia), que já atraiu 47 países interessados, apesar da forte oposição dos EUA, e o Fundo da Rota da Seda.

A rota tradicional da seda nunca chegou às Américas, mas as grandes navegações, sim. Foi em busca de novos caminhos para o Oriente que espanhóis e portugueses desembarcaram no hemisfério Ocidental. Hoje o principal excedente de especiarias do século 21 --minerais e produtos agropecuários-- está bem mais a oeste da roda da seda, e a Ásia como um todo precisa dele.

As importações chinesas de produtos agropecuários e alimentos mais do que duplicaram nos últimos cinco anos, ao passar de US$ 47 bilhões para US$ 108 bilhões por ano. Quem lidera a exportação para a China são os EUA (US$ 30 bilhões) e o Brasil (US$ 22 bilhões), seguidos de Canadá, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. A China tornou-se o primeiro mercado destino dos EUA e do Brasil, atingindo um quinto de suas exportações.

O grande problema é que a China ainda pratica uma política comercial altamente seletiva e cirúrgica, pautada pela busca da autossuficiência. Quase 70% das importações chinesas no agronegócio concentram-se em um pequeno grupo de matérias-primas básicas --grãos e fibras--, para as quais a China abre exceção e facilita a entrada de produtos com tarifas baixas. Estamos falando basicamente de soja e milho para produzir rações para animais e algodão para a indústria têxtil.

As oportunidades inexploradas entre Brasil e China são imensas, não apenas no campo do comércio mas também em investimentos, construção de parcerias estratégicas e projetos de cooperação e treinamento. Apenas no agronegócio, o vasto espaço de cooperação cobre infraestrutura e logística, biotecnologia, qualidade e sanidade dos alimentos, joint ventures e construção de cadeias produtivas integradas entre os dois países.

Menos de um ano após a visita do líder Xi Jinping, em julho passado, o Brasil recebe de 18 a 20 deste mês o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. É hora de aproveitar o bom momento das relações bilaterais para avançar concretamente na exploração das grandes oportunidades que a China e a nova rota econômica da seda podem oferecer para o Atlântico Sul.

Sete séculos depois, é hora de reconstruir o caminho das especiarias de Marco Polo com inteligência e sofisticação, desta vez indo do Ocidente para o Oriente.

Fonte: Folha de S. Paulo

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