Menor oferta de gado e exportações elevadas sustentam expectativa de preços mais firmes em 2026

Publicado em 23/12/2025 08:08 e atualizado em 23/12/2025 09:19
A produção brasileira de carne bovina deve registrar retração de 5% a 6% no próximo ano

A pecuária bovina brasileira deve entrar  em 2026 em um momento de ajustes estruturais, com a oferta de animais em retração após um ano de abate intensos de fêmeas. O ciclo de descarte, iniciado em 2023, aumentou o número de vacas na participação dos abates, impactando diretamente a produção de bezerros e a disponibilidade de gado para engorda. 

Segundo projeções do RaboResearch, a produção brasileira de carne bovina deve registrar retração de 5% a 6% em 2026, totalizando cerca de 10,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça. 

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima queda de 4,5% na produção em 2026 em comparação a 2025. “|A redução decorre tanto da menor oferta de machos e fêmeas quanto do movimento de recomposição do rebanho, à medida que os pecuaristas começam a reter animais para manutenção do plantel”, informou a CNA.

Em 2025 , os abates de bovinos aumentaram 5,6% até o terceiro trimestre, enquanto a produção de carne cresceu 3,8% conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A participação de fêmeas nos abates foi de 49,9%, contribuindo para a expansão do volume total de carne, que deve alcançar 12,02 milhões de toneladas no ano, segundo a CNA, alta de 1,7% em relação a 2024.

No cenário global, a oferta também deve ser limitada já que principais produtores como Estados Unidos, Austrália, Argentina e União Europeia apresentam restrições no rebanho para abate, com previsão de queda de 5% na produção mundial de carne bovina em 2026, conforme o Rabobank destacou.

No primeiro semestre, o mercado enfrentou pressões negativas nas referências devido ao aumento da oferta de vacas e novilhas para abate, bem como ao anúncio de tarifas adicionais à carne bovina brasileira pelos Estados Unidos. A recuperação começou no segundo semestre, quando o volume de animais terminados diminuiu e a demanda externa se manteve firme.

De acordo com o Cepea, o aumento do volume de animais confinados e a maior participação das vendas via contratos alteraram a dinâmica de comercialização no setor. “Com parte relevante da oferta já negociada antecipadamente, os frigoríficos reduziram as compras no mercado spot durante o segundo semestre do ano, movimento que contribuiu para uma leve elevação das cotações”, reportou o Cepea.

Ao longo de 2025, a taxa de ocupação de confinamentos permaneceu elevada, com crescimento de 18,5% em outubro de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. O baixo custo relativo da ração e dos animais de reposição favoreceu a rentabilidade dos sistemas intensivos, mantendo a oferta de gado terminado em níveis adequados no curto prazo.

Na média do ano, a arroba do boi gordo subiu 22,4% em relação a 2024, segundo o indicador Cepea, com destaque para a segunda metade do ano, quando a entressafra e a menor oferta de animais terminados sustentaram os preços.

Em outubro de 2025, os contratos futuros para fevereiro de 2026 registraram preços acima de R$ 330 a arroba, sinalizando expectativa de alta de até 10% frente ao mercado físico. No entanto, a tendência de recuperação dependerá da evolução das condições externas, como a possibilidade de novas tarifas pela China e a manutenção das restrições de importação pelos Estados Unidos.

Preços do boi gordo entra em 2026 com viés de alta

A partir do segundo trimestre de 2026, a tendência é de maior recuperação dos preços, impulsionada pelo ajuste na oferta. A expectativa é de redução no percentual de fêmeas no total abatido, após um período prolongado de descarte elevado. Além disso, o volume de gado terminado deve ficar ligeiramente abaixo do registrado em 2025, contribuindo para um ambiente de preços mais sustentados.

Apesar do viés positivo, o mercado acompanha com atenção os riscos no cenário internacional. A eventual aplicação de novas tarifas pela China e a manutenção das tarifas de importação dos Estados Unidos podem exercer pressão negativa sobre as cotações do boi gordo, especialmente se houver impacto relevante sobre o ritmo das exportações brasileiras.

Outro ponto de atenção está no consumo doméstico,  que com  a expectativa de preços mais elevados para a carne bovina tende a favorecer a competitividade de proteínas mais baratas, como frango e suíno. “Esse movimento pode interromper a sequência de recuperação do consumo per capita de carne bovina no Brasil, iniciada em 2023, reforçando o papel da renda e dos preços relativos na decisão do consumidor”, destacou a CNA.

A evolução tecnológica da pecuária de corte brasileira ajuda a explicar parte da dinâmica atual do mercado. Ganhos em genética, nutrição e manejo permitiram o prolongamento da fase de maior oferta de fêmeas, inicialmente esperada para se encerrar em 2025. Esse avanço, embora positivo do ponto de vista produtivo, adiou o ajuste mais rápido da oferta e tornou o ciclo pecuário mais complexo.

Para 2026, o setor caminha para um cenário de preços mais firmes, porém marcado por maior volatilidade e dependência do ambiente externo. Planejamento, gestão de risco e acompanhamento atento dos mercados interno e internacional devem ser determinantes para a tomada de decisão de produtores e agentes da cadeia ao longo do próximo ano.

De acordo com a projeção do Banco Holandês, o consumo de carne bovina per capita pode ter uma redução de 8 a 9%, na qual deve ficar próxima de 30 kg por habitante ao ano. “A recuperação do consumo observada desde 2023 deve perder força em 2026. A queda na oferta e a valorização da arroba devem limitar o acesso da população à carne bovina, especialmente em um contexto de poder de compra ainda fragilizado”, informou. 

Por outro lado, eventos como a  Copa do Mundo de Futebol e a eleição presidencial devem favorecer, temporariamente, o poder de compra de parte da população, o que pode ser um fator de sustentação dos preços da carne bovina no mercado doméstico.

“No caso, tratamos como disponibilidade interna e não necessariamente como consumo, pois entendemos que são duas coisas diferentes - o consumo está relacionado à renda e alguns outros fatores”, destacou o Rabobank. 

A CNA ainda informou que medidas como a redução do Imposto de Renda também podem contribuir para manter o giro da carne bovina no mercado interno, ainda que sem alterar estruturalmente o cenário de consumo.

Com a valorização da carne bovina, proteínas mais acessíveis, como frango e carne suína, devem ampliar sua competitividade e ganhar espaço no carrinho do consumidor. Assim, embora a menor oferta e a demanda firme sustentem os preços da carne bovina, o consumo doméstico em 2026 deve ocorrer em um ambiente mais restritivo, com limites claros impostos pela renda e pelos preços relativos das proteínas.

Demanda externa sustenta recordes da carne bovina brasileira

A demanda internacional segue como o principal motor de sustentação da pecuária brasileira. As exportações de carne bovina registraram crescimento expressivo em 2025, reforçando o papel estratégico do mercado externo na formação de preços e no equilíbrio da oferta doméstica.

Dados do Rabobank mostram que o ritmo de exportação permaneceu acelerado ao longo do ano. Até setembro de 2025, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de carne bovina, volume recorde tanto para o mês quanto para o acumulado do período. Na comparação anual, o crescimento foi de 16% em volume e expressivos 35% em receita, refletindo preços internacionais mais firmes e forte demanda.

A China seguiu como principal destino, concentrando 47% das compras brasileiras no período. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com 219 mil toneladas embarcadas. Apesar do avanço ainda significativo, alta acumulada de 49% frente ao ano anterior, os embarques para o mercado americano já mostram sinais de desaceleração nos últimos dois meses, pressionados pela imposição de tarifas adicionais que chegaram a 76,4%.

A elevada concentração das exportações em poucos mercados acende um sinal de alerta para o setor. China e Estados Unidos, juntos, respondem por mais de 59% da receita obtida com as vendas externas de carne bovina brasileira. Qualquer mudança nas políticas comerciais, tarifárias e sanitárias desses países pode gerar impactos relevantes sobre os volumes exportados e os preços internos.

No caso chinês, embora o país ainda opere com estoques considerados confortáveis, a forte aceitação da carne brasileira segue como um fator de sustentação da demanda. A migração do consumidor chinês para cortes mais acessíveis favorece o produto brasileiro, que se mantém altamente competitivo em preço, mesmo em um cenário de crescimento econômico mais moderado.

O ambiente geopolítico também adiciona incertezas, já que a disputa comercial entre Estados Unidos e China pode se intensificar após as eleições americanas, abrindo espaço para novas tarifas ou restrições. Esse contexto exige cautela dos exportadores brasileiros, sobretudo diante da dependência desses dois mercados.

A diversificação de destinos tem avançado, com maior presença em países como México, Rússia, Egito e Filipinas. No entanto, esses mercados ainda não são suficientes para compensar eventuais perdas relevantes em China ou Estados Unidos. Por outro lado, a possibilidade de negociação de tarifas reduzidas ou ampliação das cotas de exportação para o Brasil nos EUA poderia mitigar parte dos impactos negativos e abrir novas oportunidades.

Outro ponto de atenção envolve o ambiente regulatório. O anúncio do adiamento das investigações de salvaguarda da China sobre importações de carne bovina pode resultar na criação de cotas ou novas limitações. Além disso, fatores como investigações sanitárias, casos pontuais de resíduos de fluazuron em cargas brasileiras, conflitos geopolíticos e novas movimentações tarifárias seguem no radar do mercado.

Acordo Mercosul com UE e possível abertura do Japão criam novas oportunidades para a carne bovina brasileira

Entre os principais pontos de atenção para o próximo ano está a implementação do regulamento europeu sobre produtos livres de desmatamento (EUDR) e as negociações para a abertura do mercado japonês à proteína brasileira.

Com a EUDR, que passa a regulamentar a entrada de carne bovina no bloco europeu com base em critérios relacionados ao desmatamento — seja ele legal ou ilegal —, traz desafios importantes para o setor. As indefinições em torno das exigências operacionais, técnicas e econômicas ainda geram incertezas, sobretudo para produtores e exportadores. No entanto, esse novo marco regulatório também pode criar oportunidades.

Na avaliação de agentes do mercado, o período de adaptação às regras do EUDR tende a abrir espaço para que mais pecuaristas se adequem às exigências de rastreabilidade e conformidade ambiental, especialmente pequenos e médios produtores.

Há expectativas de que o mercado japonês habilite a carne bovina brasileira já no curto prazo, a possível abertura do Japão é vista como um movimento relevante, tanto pela dimensão do mercado quanto pelo perfil do consumidor, que valoriza segurança sanitária, qualidade e regularidade no fornecimento.

A entrada da carne bovina brasileira nesse destino ampliaria a diversificação de mercados e reduziria a dependência de poucos compradores, reforçando a resiliência do setor exportador.

Segundo avaliações do Cepea, o segundo semestre de 2026 pode apresentar um cenário climático distinto. Há indicativos de que as chuvas voltem a se concentrar de forma mais regular no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com a possível ocorrência do fenômeno El Niño. Caso esse quadro se confirme, as condições de pastagem tendem a melhorar, favorecendo a produção de forragem e a terminação dos animais na segunda metade do ano.

A alternância entre La Niña e a possível transição para El Niño reforça a necessidade de atenção redobrada à gestão da propriedade. Estratégias como ajuste de lotação, uso de suplementação estratégica, integração com confinamento e planejamento forrageiro ganham ainda mais importância em um ano marcado por elevada incerteza climática.

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Por: Andressa Simão | Instagram @apautadodia
Fonte: Notícias Agrícolas

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