Expansão do JBS-Friboi preocupa produtores

Publicado em 18/09/2009 07:22 e atualizado em 18/09/2009 07:55
A operação anunciada pelo grupo JBS-Friboi, que comprou o frigorífico brasileiro Bertin e o americano Pilgrim's Pride, preocupa os produtores agropecuários, que temem que a excessiva concentração de compras pela nova companhia resulte em pressão para baixar preços e influenciar o mercado. A preocupação foi manifestada ontem pelo presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cezário Ramalho da Silva, que vê na operação um movimento das empresas para retomar mercados importantes perdidos com a crise, na Europa e no Japão, e conquistar novos clientes, como a China, segundo informações do jornal O Globo.

- É uma tendência global (as fusões), mas o produtor precisa ter competência para acompanhar esse novo momento.

E governo, órgãos de defesa da concorrência e entidades de classe devem estar atentos para que esses grandes conglomerados não influenciem ou manipulem o mercado - afirmou Silva.

Segundo analistas, JBS aproveita fim da crise Desde que comprou a americana Swift Foods Company, por US$ 1,4 bilhão em maio de 2007, e se tornou o maior produtor de carne do mundo, o JBS-Friboi despertou o interesse dos concorrentes e analistas do mercado. Além de elevar a capacidade de abate para 50 mil cabeças de gado por dia, com a Swift a empresa entrou no ramo de suínos.

Na mesma época, o mercado de carne fervilhava. O grupo Bertin comprara uma planta industrial em Marabá (PA), e a Marfrig e o Minerva, dois outros grandes frigoríficos, haviam anunciado a abertura de capital. Agora, com o mundo saindo da crise, os analistas dizem que o JBS mostrou arrojo novamente ao juntar forças com o Bertin e desbancar seu maior rival, o gigante americano Tyson Foods.

Essa trajetória é ainda mais surpreendente quando se olha para a origem do grupo: um pequeno açougue na cidade de Anápolis (GO), aberto em 1953 pelo patriarca da família controladora, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro. Com a construção da vizinha Brasília, Zé Mineiro expandiu o negócio distribuindo carne aos refeitórios das construtoras da capital federal. Em 1968, comprou a primeira planta de abate, em Planaltina (DF). No ano seguinte, a Casa de Carne Mineira passou a se chamar Friboi e não parou mais de crescer por meio de aquisições.

Em 2005, o grupo passou por uma reestruturação, iniciou o processo de internacionalização com a compra da Swift argentina, e ganhou as iniciais JBS, uma homenagem ao fundador José Batista Sobrinho, que passou o comando para os filhos. Em abril de 2007, fez a abertura do capital na Bolsa.

Toda essa expansão contou com a ajuda do governo, dos fundos de pensão e principalmente do BNDESpar - o braço de investimentos em participações do BNDES, dono de 20% do capital da JBS-Friboi.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que a empresa aproveitou uma agenda de oportunidades e afirmou que considera bom que existam grandes grupos concorrentes no país. Segundo ele, a posição do banco é de sempre apoiar empresas brasileiras que tenham padrão de governança e de gestão.

Já o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, que preside o Conselho de Administração da Brasil Foods, minimizou a concorrência com a JBS-Friboi. Ele disse que o mercado é aberto e que todos os dias aparecem concorrentes, que são sempre bem-vindos.

Empresa já foi acusada por cartel

Martha Beck

BRASÍLIA. O grupo JBSFriboi, maior processador de carnes do mundo, já foi alvo de investigação das autoridades de defesa da concorrência.

Em 2007, a empresa assinou um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) depois que foi acusada de formação de cartel. Para não ser condenada pelo conselho, a empresa concordou em pagar uma multa de quase R$ 14 milhões.

A denúncia fora apresentada pela Confederação da Agricultura e Pecuária Brasil (CNA), que alegava que diversos donos de frigoríficos haviam se organizado para uniformizar os critérios de compra de gado.

A operação de compra da Bertin e da Pilgrim's Pride terá de ser analisada pelo sistema brasileiro de defesa da concorrência, que além do Cade envolve as secretarias de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, e de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda.

A partir do anúncio da fusão, as empresas têm 15 dias para notificar o sistema sobre as condições da operação.

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Fonte: O Globo

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