O criador vai mandar: previsão aponta boi a R$ 375 em 2026 e oferta cada vez mais curta
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O Notícias Agrícolas apresenta mais um especial para analisar a pecuária brasileira em 2025 e projetar os cenários que os pecuaristas devem esperar em 2026. Para este debate, dois convidados essenciais: Carlito Guimarães, pecuarista reconhecido nacionalmente, e Ronaty Makuko, consultor de mercado da Pátria Agronegócios.
Direto do Mato Grosso, Carlito abriu a conversa reforçando um ponto que carrega há décadas: na pecuária, não existem concorrentes. “Meu vizinho não é meu concorrente. Meu vizinho é meu companheiro”, disse. Para ele, o único verdadeiro conflito está na relação com a indústria, que, segundo suas palavras, têm pressionado o produtor mais do que deveria. “Não sei por que, se acabar com o pecuarista, vão comprar boi onde?”, questionou.
O avanço do preço do bezerro, atualmente entre R$ 15 e R$ 15,50 o quilo, acendeu um debate sobre o ritmo de valorização da reposição. Ronaty Makuko, que atua com recria no Pará, questionou a viabilidade de manter a recria de machos diante da disparada do bezerro frente ao boi gordo. A resposta de Carlito Guimarães foi objetiva: no curto e médio prazo, a fêmea oferece melhor retorno econômico. Segundo ele, o bezerro nesse patamar “já é bom negócio” e deve avançar para R$ 17, enquanto a bezerra pode alcançar R$ 500. “O boi vai acompanhar — mas o boi sempre vai atrás”, disse. Para Carlito, a sustentação dos preços depende diretamente da postura do produtor. “Quem põe preço é o criador. Se ele bambeia, o boi cai.”
Ao projetar o cenário de 2025, Carlito destacou surpresa com o volume elevado de abate de fêmeas observado ao longo do ano, ponto que deve prolongar a escassez de oferta no sistema produtivo. Em sua avaliação, o movimento empurra para frente a janela de preços mais altos, inicialmente prevista para 2026, agora com possibilidade de se estender até 2027. A retomada da retenção de novilhas, já perceptível no fim de 2025, surge como o primeiro indício de virada de ciclo e de recomposição gradual dos plantéis.
Ronaty chamou atenção para o crescente descolamento entre os indicadores de mercado e o preço efetivamente pago pela indústria. Segundo ele, frigoríficos têm remunerado entre 3% e 4% acima do indicador em diversas praças, mas esses valores não aparecem nas referências utilizadas pelo setor. Como cerca de 80% do gado abatido no segundo semestre é negociado via boi a termo, apenas uma fatia reduzida, aproximadamente 20%, influencia os indicadores, distorcendo a leitura de preço e prejudicando especialmente o pecuarista médio, que depende de informação confiável para firmar negócio.
Carlito, por sua vez, reforçou as críticas ao modelo atual do boi a termo, destacando o desequilíbrio estrutural entre poucos frigoríficos e muitos produtores. Para ele, essa assimetria limita a possibilidade de negociação justa. Ainda assim, acredita que o cenário deve mudar com a redução da oferta. “Com a falta de mercadoria, quem vai mandar é o criador. A hora que o criador pegar a rédea, ninguém mais manda”, afirmou.
O debate também avançou para o cenário internacional. Mesmo com o fim da taxação dos Estados Unidos, a arroba na B3 não respondeu como esperado, segundo Carlito. Ronaty acrescentou que, no comparativo global, a carne brasileira permanece altamente competitiva: enquanto o boi nacional subiu pouco no último ano, o australiano avançou de US$ 55 para US$ 86. Carlito resumiu a lógica dessa competitividade com uma pergunta direta: “Se a China não comprar aqui, vai comprar de onde?”
Ao final, ambos convergiram na mesma leitura: 2026 marca o início de um período de oferta mais enxuta, reposição mais disputada e tendência de preços firmes. Um ambiente em que o criador tende a recuperar protagonismo, desde que esteja informado, unido e consciente do momento do ciclo.
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