China desvaloriza o yuan pela 2ª vez em dois dias

Publicado em 12/08/2015 05:12
Novo corte frente ao dólar é de 1,62%, de acordo com a agência oficial chinesa. Para FMI, nova política cambial é bem-vinda. Mas Carlos Langoni (ex-BC) diz que o real estará mais fraco.. (Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia)

PEQUIM - A China reduziu nesta quarta-feira (horário local) em 1,62% a taxa de referência do yuan frente ao dólar, pela segunda vez em dois dias, informou a agência oficial Xinhua. Na terça-feira, a autoridade monetária chinesa cortou a taxa referencial diária em 1,9%, proporcionando a maior queda do yuan em um único dia desde 1994.

O Banco do Povo (o BC da China) fixa uma taxa de referência a cada dia, a partir da qual o yuan está autorizado a flutuar em uma margem de 2% para cima ou para baixo. Esta taxa de referência da divisa chinesa frente ao dólar passou de 6,2298 yuans na terça-feira para 6,3306 nesta quarta, informou a agência.

FMI DIZ QUE NOVA POLÍTICA CAMBIAL É BEM-VINDA

A decisão do Banco do Povo, o banco central chinês, de mudar o mecanismo que estabelece a referência diária para o yuan "parece ser uma medida bem-vinda", pois deve dar às forças do mercado um papel maior na determinação da taxa de câmbio, afirmou na manhã desta quarta-feira (horário de Pequim) o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Uma maior flexibilidade cambial é importante para a China, à medida que o país se empenha em das às forças do mercado um papel decisivo na economia e se integra mais rapidamente nos mercados financeiros globais.

"Acreditamos que a China pode, e deve, ter como objetivo alcançar um sistema cambial efetivamente flutuante dentro de dois ou três anos" afirmou um porta-voz do FMI em nota.

Sobre a possibilidade de o FMI incluir o yuan em seus Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), cuja cesta de moedas está sob revisão, o porta-voz afirmou qiue "a mudança anunciada (pela China) não tem qualquer implicação direta nos critérios utilizados para determinar a composição da cesta. Ainda assim, uma taxa de câmbio mais voltada para o mercado facilitaria as operações com SDR no caso de o yuan ser incluído na cesta de moedas."

 

Na FOLHA: BC da China volta a promover forte desvalorização do yuan

O Banco Popular da China voltou a diminuir nesta quarta-feira (12), dessa vez em 1,62%, a taxa de câmbio de referência do yuan com relação ao dólar, após anunciar na terça uma reforma no sistema cambial que já implicou uma desvalorização de quase 2%.

O banco central chinês, que a cada dia estabelece uma taxa de câmbio de referência e permite que oscile até um máximo de 2% em relação a esse preço médio, justificou em comunicado sua decisão pela baixa cotação da moeda na véspera.

O novo mecanismo de fixação do tipo de câmbio do yuan obriga que a paridade central (o nome que as autoridades chinesas dão ao valor de referência diário fixado pelo Banco Popular) siga a evolução de seu preço real no mercado.

"A taxa de câmbio no fechamento de 11 de agosto foi de 6,3231 yuans por dólar, desvalorizando-se 1,5% sobre a paridade central" do dia, assinalou o banco central chinês em seu comunicado.

Dessa forma, o Banco Popular situou hoje a taxa de câmbio de referência do yuan com o dólar em 6,3306, frente aos 6,2298 de terça-feira, o que representa um rebaixamento de 1,62%.

O banco central chinês definiu esta variação como "normal" e assegurou que "reflete não só a melhora da orientação rumo ao mercado, mas o papel-chave que desempenham a demanda e a oferta do mercado na formação da taxa de câmbio".

O emissor chinês também antecipou mais oscilações da taxa de câmbio que fixa a cada dia no curto prazo.

"Depois do anúncio da melhora da cotação de terça-feira, levará certo tempo para que os atores do mercado se ajustem à cotação e às práticas de troca, assim como para explorar e encontrar o preço de equilíbrio no mercado de divisas", comentou o banco central chinês.

O regulador afirmou esperar que, "após um curto período de adaptação", as oscilações do yuan convergirão "em uma área razoavelmente estável".

A reforma do sistema cambial chinês do terça-feira foi apresentada pelas autoridades chinesas como um movimento para dar um maior protagonismo às forças do mercado na hora de fixar a taxa de câmbio do iuane, que segue estando controlada por Pequim através da paridade.

Esta medida foi anunciada uma semana depois que o Fundo Monetário Internacional (FMI) propôs adiar a inclusão do yuan na cesta de divisas que formam sua moeda interna, chamada Direitos Especiais de Saque (SDR, sigla em inglês), para o que se requer ter sido qualificada pela instituição como de "uso livre".

No entanto, durante o fim de semana também foram divulgados os dados do comércio exterior da China em julho, que mostraram uma queda de 8,3% das vendas ao exterior do gigante asiático, razão pela qual alguns analistas veem na desvalorização do yuan um movimento para ajudar às empresas do país a exportar.

Os exportadores chineses se veem beneficiados pela desvalorização do yuan, já que barateia seus produtos e faz com que sejam mais vendidos no exterior. 


Desvalorização do yuan tornará real ainda mais fraco e dificultará saída da crise, diz ex-presidente do BC  

Segundo Carlos Langoni, medida representa importante mudança de estratégia na economia chinesa

RIO - A maior desvalorização da moeda chinesa em 20 anos, promovida nesta terça-feira pelo Banco do Povo (banco central do país), pegou de surpresa um mundo em crise. Para o Brasil, o momento não poderia ser menos oportuno, segundo Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central. De acordo com o economista, o real vai perder ainda mais valor e a esperança de que as exportações poderiam aliviar a desaceleração brasileira ficará mais distante. Leia abaixo a entrevista com o especialista.

Por que a desvalorização do yuan é um evento tão importante?

Porque ela significa uma inversão na estratégia chinesa. Até então, o governo chinês caminhava para realizar a transição de um modelo de crescimento econômico baseado em exportações e investimento para um modelo sustentado em consumo interno. Para isso, a política do BC chinês era, na verdade, promover um processo gradual de valorização do yuan, de modo a refletir seus elevados níveis de superávit comercial e de reservas internacionais. Quando Pequim realiza o inverso disso, uma desvalorização de sua moeda, isso significa que o governo está proporcionando um estímulo às exportações. Há, portanto, uma interrupção na transição de modelos de crescimento e isso é muito surpreendente.

Por que o Banco do Povo (banco central chinês) tomou essa decisão?

Ela é um reflexo do processo de desaceleração da economia chinesa, que parece estar ocorrendo de forma muito mais acelerada do que o esperado pelo governo. É uma medida de curto prazo para tentar evitar que sua economia cresça abaixo dos 7%, que é sua meta oficial. O Banco do Povo afirmou que se trata de uma decisão única, que não faz parte de um processo continuado, mas é muito difícil dizer se ele vai conseguir manter a taxa nesse patamar no futuro.

Qual é o impacto sobre a economia mundial?

Tudo o que acontece na China é extremamente importante para países exportadores de commodities como o Brasil. Para a economia mundial e sobretudo para nações emergentes, é fundamental que a China obtenha sucesso em seu plano de realizar um “pouso suave” de sua economia, isto é, reduzir o crescimento de forma gradual e previsível. Isso porque, uma vez que é um fato que a China crescerá menos, é imprescindível que isso se dê sem sobressaltos. Mas a desvalorização do yuan indica que o BC de lá nutre o temor cada vez mais forte de que, em vez de um “pouso suave”, sua economia faça uma “aterrissagem forçada”. Trata-se de uma medida que mostra que a economia chinesa tem fragilidades sobre as quais talvez não estivéssemos tão a par, e isso ameaça a recuperação da economia mundial. Na verdade, o mundo precisa hoje de ter a China mantendo sua demanda pelas exportações globais. O que a China está fazendo é justamente o contrário.

E para o Brasil, o que isso representa?

Para o Brasil, é muito ruim pois representa mais um fator externo preocupante. No cenário de estresse em que nós vivemos, isso não podia acontecer em momento menos oportuno. O primeiro efeito é aumentar o viés de desvalorização do real. Esse processo havia um componente econômico, que são os déficits público e de conta corrente, e um componente político. Justamente agora que uma trégua política estava se desenhando, acontece isso! Isso tornará mais difícil para o Brasil promover os ajustes internos de que precisa.

Teremos impacto, então, em nosso Produto Interno Bruto (PIB)?

Certamente, esse acontecimento não ajudará o nosso PIB. Se tínhamos a esperança de que as exportações iriam aliviar nossa situação, isso ficará mais difícil. Apesar de, em teoria, um câmbio desvalorizado ajudar as exportações, a medida chinesa reduz a demanda, anulando esse efeito.

Por que o real tende a perder valor com a desvalorização do yuan?

As exportações brasileiras são dominadas por commodities, cujo principal destino no mundo é a China. Daí, existe uma correlação direta entre os preços desses produtos, o comportamento das exportações e a taxa de câmbio. Com o yuan mais fraco, fica mais caro para os chineses comprarem os nossos produtos, reduzindo assim a demanda por nossas exportações. Com a menor procura, o preço das commodities, que já está baixo, se mantém pressionado. A consequência lógica é que a entrada de dólares por meio da exportação de produtos ficará mais difícil, o que valoriza o dólar e deprecia o real.

Mas uma desvalorização de menos de 2% no yuan é capaz de provocar esses efeitos?

Se para nós a magnitude se assemelha à de uma minidesvalorização, para os padrões chineses isso é praticamente uma maxidesvalorização. É muito relevante para eles. Mas o mais importante não é a magnitude do movimento e, sim, a reversão brusca da tendência de valorização do yuan. Como é provável que os EUA aumentarão seus juros em setembro, o dólar ganhará mais força e o mercado vai pressionar o BC chinês por mais desvalorizações. O sinal foi dado e provavelmente as moedas de países asiáticos, como Coreia do Sul, Tailândia e Vietnã, vão ser obrigadas a se desvalorizar.

Isso seria um retorno da chamada “guerra cambial”, que vimos há poucos anos?

É preciso aguardar para saber se entraremos em uma guerra cambial de verdade. Como eu disse, é certo que países com perfil parecido com o da China, como os emergentes asiáticos, todos eles vão ser obrigados a desvalorizar suas moedas para não serem engolidos por ela. Isso pode levar mais países a fazer o mesmo para se tornarem mais competitivos, com o argumento de que o câmbio chinês está artificial, e até a uma retórica global de caráter protecionista. Só que isso é um jogo de “perde-perde”. O mundo precisa hoje de mais comércio, não de protecionismo.

‘No cenário de estresse em que nós vivemos, isso não podia acontecer em momento menos oportuno’ - Simone Marinho / Arquivo O Globo

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Em VEJA: No ‘downgrade que foi um upgrade’, Bolsa dispara, dólar cai (GERALDO SAMOR)

Numa vitória inesperada para o Governo, a agência Moody’s cortou a nota de crédito brasileira mas manteve o País com o precioso grau de investimento, detonando um rali de alívio na Bolsa, juros e câmbio.

A nota que a Moody’s dá ao Brasil está agora no mesmo patamar daquela dada pela agência Standard & Poor’s, que no mês passado colocou a nota do País em perspectiva negativa.

A notícia, que saiu quando a Bovespa estava em seu leilão de fechamento, fez o índice futuro disparar 1.000 pontos em 10 minutos, para 49.700 pontos.

No chamado mercado ‘after hours’, o dólar futuro com vencimento no final de agosto caiu de R$3,525 para R$3,495, e a curva de juros — que afeta o custo do dinheiro que irriga a economia — viu suas taxas caírem para todos os vencimentos.

No mercado, a decisão da Moody’s está sendo chamada de “o downgrade que foi um upgrade,” porque muitos analistas e investidores esperavam que a agência rebaixasse a nota brasileira dois degraus — o que seria atípico mas em linha com o sentimento negativo do mercado. Isto teria feito o Brasil perder o grau de investimento, o selo de qualidade do qual investidores internacionais dependem para poder comprar títulos do País no mercado global.

A Moody’s não apenas cortou a nota menos do que o esperado, mas deu outro presente à equipe econômica liderada por Joaquim Levy: afirmou que a perspectiva da nota brasileira é ‘estável’, o que afasta a possibilidade de outro corte nos próximos seis a nove meses.

A notícia retira da sala um elefante monstruoso: a perspectiva de que o Brasil perderia o grau de investimento e veria o custo de financiamento da República subir ainda mais, depois de anos de desconstrução do tripé que garantiu a estabilidade monetária no pós-Real: regime de metas de inflação, superávit fiscal primário e câmbio flutuante.

Para quem acredita em ‘second chances’, o Brasil hoje teve a dele.

Resta saber se o Governo e o Congresso saberão aproveitá-la.

Por Geraldo Samor

Fonte: Reuters + FOLHA + O Globo + VEJA

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