Bolsonaro diz que problema do Brasil é classe política e que tem gente que não quer "apenas conversar"

Publicado em 20/05/2019 14:45

Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que a classe política é o grande problema que impede o Brasil de dar certo, acrescentando que algumas pessoas querem mais do que apenas conversar, em declaração que pode desagradar parlamentares no início de uma semana crucial para o governo no Congresso.

Bolsonaro criticou a classe política, na qual se incluiu, em discurso a empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) dias após ter compartilhado um texto anônimo que classifica o país como "ingovernável fora de conchavos".

Ao afirmar que Câmara dos Deputados e Senado devem colocar em votação projetos que considerarem melhores do que aqueles enviados pelo Executivo, o presidente afirmou: "O que eu mais quero é conversar, mas sei que tem gente que não é apenas conversar".

Bolsonaro também afirmou que "não há briga entre Poderes, o que há é uma grande fofoca", que por vezes inviabiliza e atrasa o Brasil.

"É um país maravilhoso que tem tudo para dar certo. Mas o grande problema é a nossa classe política. Somos nós, Witzel, somos nós, Crivella, sou eu Jair Bolsonaro, é o Parlamento, em grande parte, é a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa. Nós temos que mudar isso", afirmou o presidente, ao lado do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e do prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (PRB).

Segundo Bolsonaro, a maior contribuição que os governantes e parlamentares podem dar aos empresários é "não atrapalhar" diante do que chamou de enorme burocracia e das dificuldades existentes no país.

As declarações do presidente sobre a classe política vêm num momento em que o governo coleciona derrotas no Congresso e no início de uma semana decisiva, em que o Planalto precisará conquistar votos no Parlamento para impedir que medidas provisórias importantes percam validade.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Bolsonaro também aproveitou o discurso aos empresários para destacar a importância da aprovação da reforma da Previdência, que disse ser "salgada para alguns", mas que combaterá privilégios.

"Não podemos desenvolver muita coisa por falta de recursos. Por isso precisamos da reforma da Previdência", afirmou. "Não dá para continuar mais o Brasil com essa tremenda carga nas suas costas. Se não fizermos isso, em 2022, 2023, no máximo 2024, vai faltar recursos para pagar quem está na ativa", disse.

No entanto, apesar da importância destacada pelo presidente, a tramitação do projeto tem preocupado os investidores, que consideram haver uma falta de articulação política do governo para fazer o projeto avançar.

Em um novo sinal de problemas na interação do governo com o Congresso, o presidente da comissão especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), disse também nesta segunda-feira que o governo não consegue construir maioria para liderar o processo, mas que o país não pode ficar refém disso e o Congresso vai fazer a reforma andar independentemente do governo.

Ramos já havia afirmado na semana passada que a Câmara dos Deputados irá assumir a dianteira das negociações e produzirá um novo texto, a partir de emendas apresentadas e da proposta original.

Questionado se Bolsonaro apoia a intenção do Congresso de apresentar um novo texto para a reforma da Previdência, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, reiterou que o presidente considera a proposta enviada pelo governo como a melhor, mas que está aberto a negociações com o Congresso.

"A proposta que o presidente identifica como a melhor proposta é aquela que ele já elevou ao Congresso Nacional. Não obstante, ele se coloca parceiro nesse processo de discussão e de avaliação para juntos, Congresso e Poder Executivo, darmos um andamento àquilo que vai tirar o Brasil de um precipício que muito rapidamente se aproxima", disse.

Governo não tem maioria para reforma da Previdência, diz presidente de comissão especial

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a proposta de reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), disse nesta segunda-feira que o governo do presidente Jair Bolsonaro é incapaz de formar uma maioria para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma.

Ele disse, no entanto, que o país não pode ficar refém dessa situação e que o Congresso vai liderar o processo da reforma, apontada como crucial para o equilíbrio das contas públicas.

“Nós temos que isolar os problemas com a postura do governo e fazer o que tem que ser feito para o Brasil, que é fazer a reforma da Previdência andar. Independente do governo, vamos fazer a reforma andar”, disse Ramos à Reuters.

O deputado estimou que a PEC da reforma não tem o apoio de mais de 200 deputados, bem abaixo dos 308 votos necessários para ser aprovada em dois turnos de votação na Casa e ser encaminhada para análise no Senado. Ele apontou a precária relação de Bolsonaro com o Congresso como culpada.

“Eu acho que as demonstrações dele (Bolsonaro) desde que ele era parlamentar, e agora são reafirmadas, são de desprezo à democracia. Agora precisamos isolar essa atitude antidemocrática e de pouco respeito às instituições e não deixar que o país paralise por conta dessa postura”, afirmou o deputado.

As declarações de Ramos vêm pouco depois de Bolsonaro afirmar em discurso na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) que o problema do Brasil é a classe política.

Leia mais: Bolsonaro ainda não decidiu se irá a manifestação a favor do governo no domingo, diz porta-voz

Após apontar classe política como problema, Bolsonaro muda tom e diz valorizar Parlamento

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - Depois de dizer, mais cedo nesta segunda-feira, que a classe política é o grande problema que impede o Brasil de dar certo, o presidente Jair Bolsonaro mudou o tom e disse que valoriza o Parlamento e que os deputados e senadores terão a palavra final sobre o texto da reforma da Previdência.

Em discurso na Federação das Indústria do Rio de Janeiro no início da tarde, Bolsonaro criticou a classe política, na qual se incluiu, acrescentando que algumas pessoas querem mais do que apenas conversar, em declaração que pode desagradar parlamentares no início de uma semana crucial para o governo no Congresso.

Ao afirmar que Câmara dos Deputados e Senado devem colocar em votação projetos que considerarem melhores do que aqueles enviados pelo Executivo, o presidente afirmou: "O que eu mais quero é conversar, mas sei que tem gente que não é apenas conversar".

No Rio, o presidente também afirmou que "não há briga entre Poderes, o que há é uma grande fofoca", que por vezes inviabiliza e atrasa o Brasil.

"É um país maravilhoso que tem tudo para dar certo. Mas o grande problema é a nossa classe política. Somos nós, Witzel, somos nós, Crivella, sou eu Jair Bolsonaro, é o Parlamento, em grande parte, é a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa. Nós temos que mudar isso", afirmou o presidente, ao lado do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e do prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (PRB).

Já no final da tarde, ao falar durante a apresentação da nova campanha em defesa da reforma da Previdência em Brasília, Bolsonaro disse que valoriza o Parlamento.

"Nos valorizamos, sim, o Parlamento brasileiro, que é quem vai dar a palavra final nesta questão da Previdência, tão rejeitada ao longo dos últimos anos", disse o presidente. "Se aprovarmos a reforma, o Brasil sairá dessa estagnação rumo à sonhada prosperidade. Isso passa por todos vocês parlamentares, sem exceção."

O aceno aos congressistas --com agradecimentos aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP)-- vem depois de uma semana em que o clima com o Congresso chegou em um dos seus piores momentos, agravado pelo texto copiado das redes sociais e distribuído na sexta por Bolsonaro a algumas listas de contatos em que um autor anônimo dizia que o Brasil é ingovernável sem se apelar para "conchavos".

As declarações do presidente sobre a classe política vêm num momento em que o governo coleciona derrotas no Congresso e no início de uma semana decisiva, em que o Planalto precisará conquistar votos no Parlamento para impedir que medidas provisórias importantes percam validade.

Perguntado sobre a responsabilidade que o presidente jogou para o Congresso durante o discurso na Firjan, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, afirmou que, na sua opinião, a responsabilidade sobre as votações é do Congresso.

"Na minha opinião, sempre foi do Congresso. Ou vão fugir da responsabilidade? Óbvio que a responsabilidade é deles", afirmou.

 

DESEJO POR POUCAS MUDANÇAS

No discurso que fez em Brasília, o presidente afirmou que não recebe mais parlamentares por falta de agenda, mas que quer continuar conversando com o maior número possível deles para resolver "possíveis equívocos" e melhorias possam ser feitas juntos na reforma da Previdência.

"Se bem que pretendemos que nossa reforma saia de lá com menor número possível de emendas aprovadas", disse.

No discurso aos empresários no Rio, ele destacou a importância da aprovação da reforma, que disse ser "salgada para alguns", mas que combaterá privilégios.

"Não podemos desenvolver muita coisa por falta de recursos. Por isso precisamos da reforma da Previdência", afirmou. "Não dá para continuar mais o Brasil com essa tremenda carga nas suas costas. Se não fizermos isso, em 2022, 2023, no máximo 2024, vai faltar recursos para pagar quem está na ativa", disse.

No entanto, apesar da importância destacada pelo presidente, a tramitação do projeto tem preocupado os investidores, que consideram haver uma falta de articulação política do governo para fazer o projeto avançar.

Em um novo sinal de problemas na interação do governo com o Congresso, o presidente da comissão especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), disse também nesta segunda-feira que o governo não consegue construir maioria para liderar o processo, mas que o país não pode ficar refém disso e o Congresso vai fazer a reforma andar independentemente do governo.

Ramos já havia afirmado na semana passada que a Câmara dos Deputados irá assumir a dianteira das negociações e produzirá um novo texto, a partir de emendas apresentadas e da proposta original.

Questionado se Bolsonaro apoia a intenção do Congresso de apresentar um novo texto para a reforma da Previdência, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, reiterou que o presidente considera a proposta enviada pelo governo como a melhor, mas que está aberto a negociações com o Congresso.

"A proposta que o presidente identifica como a melhor proposta é aquela que ele já elevou ao Congresso Nacional. Não obstante, ele se coloca parceiro nesse processo de discussão e de avaliação para juntos, Congresso e Poder Executivo, darmos um andamento àquilo que vai tirar o Brasil de um precipício que muito rapidamente se aproxima", disse.

Fonte: Reuters

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