Bovespa caiu com Wall Street, mas dólar resistiu

Publicado em 25/08/2010 09:11
A fragilidade da economia americana continuou pautando a tomada de decisões nos mercados no pregão de terça-feira. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) marcou o quarto dia seguido de baixa. Perdas também foram vistas em Wall Street e nos mercado europeus. No câmbio, essa fragilidade dos Estados Unidos não prejudicou o real, que acabou subindo ante o dólar. No mercado de juros futuros, o tema continuou estimulando as apostas de juros menores no futuro.

O destaque negativo da agenda foi o indicador de vendas de imóveis usados nos EUA. A Associação Nacional de Corretores de Imóveis dos EUA mostrou que a comercialização dessa moradias desabou 27,2% em julho, maior queda já registrada e bastante superior ao recuo de 14% previsto. As vendas anualizadas somaram 3,83 milhões de unidades no mês passado, menor leitura desde maio de 1995.

Na visão dos analistas do Wells Fargo Securities, a combinação de elevados estoques e queda nas vendas indica que o preço das moradias deve voltar a cair nos próximos meses. Portanto, o setor de construção civil será prejudicado ainda mais, afetando, também, o crescimento da economia como um todo.

Atenção nesta quarta-feira à venda de imóveis novos. O consenso sugere estabilidade ao redor de 330 mil unidades na taxa anualizada.

A terça-feira também contou com o rebaixamento de nota da Irlanda, mas como o anúncio veio após o fechamento dos mercados, a reação fica para esta sessão. A Standard & Poor ' s (S & P) reduziu a nota de classificação de risco de crédito soberano de longo prazo do país, de "AA" para "AA-". O rating de curto prazo "A-1+" foi mantido. A perspectiva do rating é negativa.

"O rebaixamento reflete nossa avaliação de que o aumento do custo orçamentário para sustentação do setor financeiro irlandês vai enfraquecer ainda mais a capacidade fiscal do governo a médio prazo", disse o analista da S & P Trevor Cullinan, em comunicado.

De volta ao pregão, diante de mais um sinal de fraqueza da economia americana, as ordens de venda dominaram as bolsas de valores. Por aqui, o Ibovespa marcou o quarto pregão seguido de baixa, recuando 1,25%, para fechar aos 65.156 pontos, no menor patamar desde o dia 21 de julho (64.476 pontos). O giro financeiro se situou em R$ 4,98 bilhões.

Em Wall Street, o Dow Jones cedeu 1,32%, a 10.040 pontos, enquanto o S & P 500 se desvalorizou 1,45%, a 1.051 pontos. Já o Nasdaq teve baixa de 1,66%, a 2.123 pontos.

Na Europa, o FTSE-100, de Londres, terminou aos 5.156 pontos, com queda de 1,51%. Em Paris, o CAC-40 diminuiu 1,75%, para 3.491 pontos. E em Frankfurt, o DAX caiu 1,26%, para 5.935 pontos.

No câmbio, os negócios tiveram dois momentos distintos no pregão da terça-feira. No começo dos negócios, a formação de preço estava aliada à degradação de humor externo, mas depois de a divisa marcar as máximas do dia acima de R$ 1,78, a formação de preço descolou da instabilidade externa e assim ficou até o encerramento do pregão.

O dólar comercial fechou negociado a R$ 1,763 na compra e R$ 1,768 na venda, queda de 0,11%. Na mínima, a divisa caiu a R$ 1,763, depois de fazer máxima de R$ 1,783. O giro estimado para o interbancário somou US$ 1,9 bilhão.

Na roda de "pronto", da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM & F) o dólar apontava baixa de 0,15%, para R$ 1,7633. O volume desabou de US$ 313,25 milhões para US$ 88 milhões.

Pelo lado doméstico, o que explicou essa força do real no pregão é que mais exportadores vieram ao mercado com a puxada de preço para R$ 1,783.

Fora isso, o pano de fundo das negociações continua sendo a capitalização da Petrobras. Com a possibilidade de a operação sair até o dia 30 de setembro, conforme defendem alguns integrantes do governo e da empresa, não há estímulo para a compra de moeda, pois umas algumas dezenas de bilhões de dólares podem vir ao país participar da oferta.

No câmbio externo, o dólar também perdeu valor após novas indicações de debilidade econômica. Com a divulgação da notícia sobre a queda das vendas de casas nos EUA, o dólar passou a perder do euro, que retomou e defendeu a linha de US$ 1,26, após fazer mínima na casa de US$ 1,25.

No mercado de juros futuros, os contratos longos chegaram a ensaiar alta no pregão desta terça-feira, mas tornaram a perder prêmio de risco. Entre os contratos curtos, os preços seguiram rondando a estabilidade, conforme o mercado já consolidou as apostas de Selic inalterada em 10,75% ao ano no encontro da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom).

O estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, observa que a formação de preço continuou determinada pela piora na expectativa quanto à recuperação na atividade mundial.

Nepomuceno explica que o mercado enxerga menor atividade, menor inflação e, consequentemente, menores taxas de juros. As curvas de juros no mercado externo também apontam para baixo por essa mesma razão.

"Esse não é um movimento que acontece só no Brasil", diz o estrategista. Nepomuceno lembra que o referencial é o juro americano, que, quando cai e acena que vai ficar em baixa por muito tempo, estimula uma corrida de capital para outros mercados.

Nessa dinâmica, o Brasil é beneficiado por oferecer um juro real alto com relativa segurança, como não apresentar riscos no setor financeiro, ter um crescimento sustentado e não ter problemas de financiamento no curto e médio prazo.

Além dos DIs, mais um sinal de que a demanda pelo país segue firme vem do mercado de títulos. O Tesouro Nacional voltou a ofertar títulos com taxas decrescentes.

Ontem, foram colocadas Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B) com vencimento em 2013, com taxa média de 6,01%, contra taxa média de 6,43% da oferta do dia 10 de agosto.

Na operação, o Tesouro vendeu 2,34 milhões de NTN-Bs, com vencimento em 2013, 2015, 2020, 2030, 2040 e 2050, levantando R$ 4,53 bilhões.

Antes do ajuste final de posições na BM & F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em setembro de 2010 apontava estabilidade a 10,63%. Outubro de 2010, o mais líquido do dia, também não tinha oscilação, projetando 10,66%. E janeiro de 2011 aumentava 0,01 ponto, a 10,69%.

Entre os longos, janeiro de 2012 cedia 0,03 ponto, a 11,15%. Janeiro de 2013 caía 0,03 ponto, 11,23%. Janeiro 2014 recuava 0,07 ponto, 11,16%.

A liquidez voltou a subir depois do fraco volume de negócios um dia antes. Até as 16h10, foram negociados 1.460.630 contratos, equivalentes a R$ 134,02 bilhões (US$ 76,20 bilhões), quase quatro vezes mais do que o registrado na jornada anterior. O vencimento outubro de 2010 foi o mais negociado, com 676.710 contratos, equivalentes a R$ 66,94 bilhões (US$ 38,06 bilhões).

Fonte: Valor Econômico

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