China deve reduzir compras de soja, mas sem afetar vendas do Brasil

Publicado em 14/11/2018 16:24


Os próximos passos do mercado da soja deverão começar a ser definidos a partir do final deste mês e início de dezembro quando os presidente da China e dos Estados Unidos voltam a se encontrar na próxima reunião do G20. É verdade. No entanto, para o produtor brasileiro as expectativas são favoráveis. 

Em meio a projeções de que a China irá importar menos soja no ano que vem - estimativas que começaram a aparecer desde o início da guerra comercial - e da possibilidade - ou não - de um acordo entre chineses e americanos, o Brasil deverá continuar ocupando a liderança das exportações da oleaginosa e contará, ao menos, com preços equilibrados. 

Como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, com um consenso sendo definido pelos dois países, os prêmios pagos pela soja brasileira cederiam, mas Chicago volta a subir e deve passar dos US$ 10,00 por bushel. Na falta de um entendimento, os prêmios voltam a subir e se equilibram à soja americana taxada, como aconteceu neste ano. 

Na China

Nesta quarta-feira, a consultoria internacional Informa Economics estimou uma redução nas importações de soja da China para 91 milhões de toneladas, contra 94 milhões do ano comercial. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reduziu sua projeção das compras chinesas para 90 milhões de toneladas em seu último reporte mensal de oferta e demanda. 

Para Brandalizze, de fato a China poderá importar menos soja, mas reafirma: "a demanda não está diminuindo na China. Eles vão trabalhar com estoques menores - que também é de interesse deles - e voltarão a comprar mais intensamente quando se definir se haverá ou não um acordo com os EUA. A demanda chinesa está muito forte internamente". 

Além disso, explica que se eles continuassem forçando movimentos mais intensos de compra aqui no Brasil neste momento os prêmios poderiam passar dos 300 pontos - ou US$ 3,00 por bushel sobre Chicago - e agredir os negócios no país asiático, além de superar o valor do produto norte-americano que hoje está taxado em 25%. 

Neste momento, afinal, as margens de esmagamento seguem positivas na China, com boa lucratividade sendo garantida pelas indústrias esmagadoras, o que ajuda a manter a demanda. E esse ambiente se mantém com os preços da soja do Brasil - contabilizando Chicago e prêmio - ainda variando de US$ 11,00 a US$ 12,00 por bushel. 

"Acima disso, o cenário já começa a ficar negativo para os chineses", explica Brandalizze.

Desde o início da guerra comercial com os EUA, o governo chinês vem anunciando uma série de medidas que permitam que o país se torne cada vez menos dependente da soja norte-americana, incluindo a utilização de oleaginosas alternativas, o aumento da área destinada à commodity e a redução da utilização de farelo de soja na alimentação animal, entre outras ações. 

E neste ambiente, o USDA vem fazendo seguidas revisões nos números das importações chinesas de soja e, em seu relatório deste mês com a baixa de 4 milhões de toneladas, combinando as safras 2017/18 e 2018/19, a projeção é de que as compras caiam 16 milhões de toneladas. O período de comparação é de junho a novembro. 

"Isso inclui 3 milões de toneladas da temporada 2017/18 e 13 milhões da 2018/19", diz o departamento americano, como está ilustrado no gráfico abaixo. 

Estimativa para importações de soja da China desde junho - Fonte: USDA

"Uma parte desta redução se dá ao uso maior dos estoques locais, porém, a maior parte é resultado de menos proteína de soja - via farelo - na alimentação de seus rebanhos e planteis. Uma associação de produtores de alimentação animal soltou um inforamtivo, recentemente, orientando a indústria a reduzir seu percentual de proteína nas rações, o que ajudaria a diminuir a demanda por soja em grão importada", complementa o USDA.

Preços x Questão de Honra

O Brasil continua vendendo muita soja para a China e as expectativas indicam uma manutenção deste quadro. Um acordo entre chineses e os EUA só ajudaria, portanto, a definira intensidade dessa continuidade. Até lá, portanto, os brasileiros permanecem como seus principais fornecedores da oleaginosa. 

E isso se dá mesmo com a soja brasileira se mostrando mais cara neste momento, até mesmo para os chineses que têm de pagar os 25% caso queiram a soja americana. O momento, todavia, é de guerra comercial e a China nãop vai comprar soja nos Estados Unidos até que ambos cheguem a um consenso. 

Um estudo do USDA mostrou a diferença expressiva dos preços de exportação entre EUA, Brasil e Argentina mostrando a oleaginosa do Brasil como a mais cara - US$ 414,00 pot tonelada FOB no porto de Paranaguá. O valor é US$ 17,00 mais alto do que o observado em setembro. 

No mesmo intervalo, a Argentina tinha US$ 395,00 FOB, e os EUA, no Golfo, US$ 325,00 por tonelada. 

Gráfico compara os preços de exportação da soja - Fonte: USDA

Na América do Sul

Enxergando todo esse potencial, as análises sobre a produção de soja na América do Sul - não só no Brasil, mas principalmente - é de um considerável aumento da produção. Mirando o mercado chinês, os sojicultores brasileiros investiram, nesta safra 2018/19, em uma área maior de soja - que deve passar de 36,2 milhões de hectares - e uma garantia de boa produtividade. 

Em uma conferência em Guangzhou, na China, o analista-sócio da Agroconsult, André Debastiani, afirmou que "uma boa colheita no hemisfério sul deve garantir o fornecimento de soja à China", trabalhando com uma estimativa de colheita brasileira de 120 milhões de toneladas. 

A Abiove (Associação Brasileira de Óleos Vegetais) estima 120,5 milhões de toneladas e elevou, na semana passada, sua projeção para as exportações nacionais para 79 milhões de toneladas. Algumas consultorias falam em mais de 80 milhões.

Na Reuters: Exportação recorde de soja do Brasil à China pode ser ainda maior, diz secretário

Por Jake Spring

BRASÍLIA (Reuters) - O recorde de exportações de soja do Brasil à China pode aumentar ainda mais, disse um agente do Ministério da Agricultura à Reuters nesta quarta-feira, conforme a disputa comercial do país asiático com os Estados Unidos impulsiona a demanda chinesa pelo produto brasileiro.

O secretário de Relações Internacionais do Agronegócio da pasta, Odilson Ribeiro e Silva, viajou à China neste mês e disse ter esperança de que a alta demanda abrirá o mercado do país também para o farelo de soja brasileiro.

As exportações brasileiras da oleaginosa tiveram um salto depois que a China impôs uma tarifa de 25 por cento sobre a soja norte-americana em julho, em resposta às taxas de Washington sobre bilhões de dólares em produtos chineses. O Brasil embarcou quase 80 por cento das exportações de soja com destino à China neste ano, com a trading de grãos Agribrasil prevendo um recorde de 83 milhões de toneladas.

"Pode subir mais, mas a gente gostaria que não fosse só grão, que fosse farelo também", disse Silva à Reuters em entrevista.

O Brasil enviou uma lista de produtores de farelo de soja para a China autorizar a exportação no ano passado, mas é incerto se eles responderão, ele disse.

A China diminuiu o ritmo de aprovações para sementes de soja geneticamente modificada, ele disse, e não há sinais de que voltará a acelerar.

Alguns produtos transgênicos aprovados há cinco anos no Brasil ainda não foram liberados pela China, evitando a disseminação do uso e os ganhos de produtividade que eles trariam, disse Silva.

Durante a expedição comercial à China e aos Emirados Árabes Unidos, que terminou no dia 8 de novembro, surgiram questionamentos sobre se o comércio poderia sofrer no governo de Jair Bolsonaro, disse o secretário.

O presidente eleito criticou os investimentos chineses no Brasil e aborreceu muitos países muçulmanos com a sugestão de mudar a embaixada do país em Israel para Jerusalém, enquanto as suas propostas ambientais também incitam temores de que elas afetariam a percepção internacional sobre os produtos brasileiros.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, procurou reafirmar aos chineses e árabes que os agricultores apoiam Bolsonaro, que por sua vez tem respeito pelas leis e não fará nada para prejudicar o comércio brasileiro, disse Silva.

Bolsonaro poderia, na verdade, beneficiar o comércio, abrindo a economia a importações, um passo necessário para fazer com que parceiros do Brasil aceitem mais envios do país, ele disse.

O Brasil também está procurando aumentar os embarques de carne para a China, que atualmente é o principal destino das exportações de carne bovina e de frango. Uma delegação chinesa chegará ao Brasil no domingo para inspecionar unidades processadoras de bovinos e frangos, visando aprovar mais unidades para exportação ao gigante asiático, acrescentou. (Por Jake Spring). 

Brasil pode elevar em 45% produção de farelo de soja apenas ocupando capacidade ociosa das indústrias e atender demanda Chinesa

Podcast

Entrevista com Daniel Furlan Amaral - Gerente de Economia ABIOVE sobre o Farelo de Soja

 

Download

Uma missão brasileira esteve na China na última semana para ressaltar para o país asiático a importância da compra do farelo brasileiro, na expectativa de abrir um novo mercado.

Daniel Furlan, gerente de economia da ABIOVE, conversou com o Notícias Agrícolas nesta quarta-feira (14) e destacou que a viagem foi bastante produtiva e pode expor a necessidade de diversificar a pauta exportadora do complexo soja com o país asiático. Também há uma perspectiva excelente para o biodiesel.

Com isso, o Brasil pretende ter uma necessidade de esmagamento considerável para gerar um excedente exportável que seja de interesse do parceiro comercial, bem como poderá ajudar a China a continuar crescendo. Os chineses ainda não deram um indicativo claro, mas se dispuseram a retomar as conversações a respeito do assunto.

Para Amaral, há um otimismo em torno de conseguir melhorar a relação com o país asiático. Há todo um processo "complexo e longo" que começa com a habilitação de fábricas, mas há um empenho para que isso dê certo nos próximos meses. A China, além do farelo, também poderia comprar óleo vegetal.

O Brasil pode ampliar em 45% sua oferta de farelo se houver mercado disponível para receber esse produto, utilizando apenas a capacidade ociosa das indústrias que hoje é de 20 milhões de toneladas de grãos. Volume que seria suficiente para produzir 16 milhões de toneladas adicionais de farelo, que adicionadas as 36 milhões produzidas atualmente, geraria uma oferta total próxima de 50 milhões de toneladas. 

Embora a competitividade do produto argentino seja grande, o país é forte neste setor, a ABIOVE entende que há espaço para o produto brasileiro no mercado internacional, principalmente com a nova demanda chinesa.

Tags:

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Soja tem nova alta em Chicago, fica acima dos US$12/bushel, mas continuidade do movimento ainda depende do clima nos EUA
Paraguai: soja safrinha terá um dos menores rendimentos dos últimos anos, diz StoneX
Safra de soja do RS pode cair 15% por chuvas, com impacto em números do Brasil
Safra de soja do RS pode cair 15% por chuvas, com impacto em números do Brasil
Soja mantém movimento de alta e sobe mais de 1% em Chicago nesta 6ª; chuvas no RS em foco